Com certeza você já ouviu falar sobre os agrotóxicos, mas sabia que eles podem aparecer no seu vestibular? Também conhecidos como defensivos agrícolas, as substâncias são assunto para Química, Biologia e até Geografia.
Para o texto a seguir, o Portal Estratégia Vestibulares acompanhou a aula do professor Gabriel Prazeres, de Química, e da professora Priscila Lima, de Geografia, sobre os agrotóxicos e te conta tudo o que você precisa saber sobre o assunto e como ele pode aparecer nos vestibulares.
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O que são agrotóxicos?
Desde que foi sancionada, em julho de 1989, a Lei nº 7.802, conhecida como “Lei de Agrotóxicos”, determina que as definições de agrotóxicos e afins são:
- a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; e
- b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.
Classificação dos agrotóxicos
Veja a seguir os diferentes tipos de agrotóxicos existentes no mercado e para o que cada um é utilizado na agricultura:
- Fungicidas: atingem fungos;
- Herbicidas: atingem plantas;
- Inseticidas: atingem insetos;
- Fumigantes: atingem bactérias;
- Nematicidas: atingem vermes;
- Acaricidas: atingem ácaros;
- Rodenticidas: atingem roedores;
- Desfolhantes, dessecantes e reguladores de crescimento.
Revolução Verde
A “Revolução Verde” é como é conhecido o conjunto de inovações tecnológicas implementadas na agricultura mundial durante a Guerra Fria, logo após a Segunda Guerra Mundial. “Revolução Verde é nada mais, nada menos, que a aplicação da 3ª Revolução Industrial no campo”, explica a professora Priscila.
Foi nesse período em que a indústria química deixou de focar seu trabalho apenas na área bélica e começou a se preocupar com a necessidade de melhorar a produção de alimentos, devido ao aumento populacional que acontecia no pós guerra.
Consequências da Revolução Verde
O desenvolvimento de produtos agrotóxicos e maquinários para as plantações trouxe a não necessidade de áreas vastas para produção de grandes quantidades de alimentos apropriados para o consumo. Além de ter otimizado a colheita, a distribuição e barateado o cuidado com as culturas agrícolas graças ao controle de pragas e de irrigação.
Esse conjunto de fatores que deram origem à Revolução Verde é chamado pelo geógrafo Milton Santos, referência na área, como “Segunda Natureza”. Essas inovações também são responsáveis pelo desemprego no campo e êxodo rural, como também a poluição do solo e de recursos hídricos.
Efeitos à saúde
No Brasil, os agrotóxicos são classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão ligado ao Ministério da Saúde, em quatro classes de risco para a saúde. Cada uma das classes é representada por uma cor no rótulo e na bula que acompanha o produto.
Classe I | ExtremamenteTóxico | Rótulo e bula vermelhos |
Classe II | Altamente Tóxico | Rótulo e bula amarelos |
Classe III | Medianamente Tóxico | Rótulo e bula azuis |
Classe IV | Pouco Tóxico | Rótulo e bula verdes |
O Instituto Nacional do Câncer (Inca), por sua vez, separa os riscos que os agrotóxicos impõem à saúde humana em duas categorias: a de efeitos agudos e a de efeitos crônicos.
Os efeitos agudos são aqueles que aparecem em um curto período de tempo, após a manipulação do agente tóxico, como dor de cabeça, transpiração anormal, fraqueza, câimbras, tremores, irritabilidade. Além disso, nos casos agudos, os sintomas podem se manifestar em uma parte específica do corpo. Veja:
- Pele: irritação na pele, ardência, desidratação, alergias;
- Respiração: ardência do nariz e boca, tosse, coriza, dor no peito, dificuldade de respirar; e
- Boca e sistema digestivo: irritação da boca e garganta, dor de estômago, náuseas, vômitos, diarreia.
Os efeitos crônicos costumam aparecer após exposições repetidas a pequenas quantidades de agrotóxicos por um período prolongado. Os principais sintomas nessa situação são:
- Dificuldade para dormir, esquecimento, aborto, impotência, depressão, problemas respiratórios graves, alteração do funcionamento do fígado e dos rins, anormalidade da produção de hormônios da tireoide, dos ovários e da próstata, incapacidade de gerar filhos, malformação e problemas no desenvolvimento intelectual e físico das crianças.
Uso de agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer
Na mesma publicação sobre efeitos crônicos, o Inca usa uma informação publicada em 2018 pela Anvisa, para relatar que estudos apontam grupos de agrotóxicos como prováveis e possíveis carcinogênicos.
O Instituto lembra que a associação destes produtos com o desenvolvimento de câncer ainda não é exatamente precisa porque não leva em consideração a exposição dos indivíduos a outras substâncias, que não sejam os agrotóxicos, e nem fatores genéticos.
Agrotóxicos mais usados no Brasil
Segundo uma pesquisa feita em conjunto pelas universidades de Princeton (EUA), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Insper, o agrotóxico mais usado no Brasil em 2021 foi o glifosato. Ele é tipo herbicida e é usado, principalmente, no cultivo de soja transgênica.
Com uma porcentagem de 62% das vendas no último ano, a comercialização do glifosato no Brasil superou, em 2016, a soma das vendas dos sete outros pesticidas mais comercializados em território nacional, de acordo com o mesmo estudo.
O trabalho dos pesquisadores ainda revelou que o uso desse agrotóxico nas plantações levou a uma alta de 5% na mortalidade infantil em cidades das regiões Sul e Centro-Oeste que recebem água de regiões de cultivo de soja.
Veja os cinco agrotóxicos mais utilizados na agricultura brasileira, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Associação Brasileira de Defensivos Pós-Patente (Aenda), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
- Glifosato: herbicida;
- 2,4-D: herbicida;
- Mancozeb: fungicida;
- Acefato: inseticida;
- Atrazina: herbicida.
Agrotóxicos proibidos em outros países e usados no Brasil
De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de janeiro de 2019 a fevereiro de 2021, o Brasil aprovou o uso de 1.560 novos agrotóxicos. Número que representa a liberação da maior quantidade de defensivos agrícolas em mais de 20 anos.
Entre essas substâncias estão, pelo menos, 37 que já são proibidos na União Europeia (UE) e nos Estados Unidos, pela toxicidade à saúde. É o que diz a Anvisa. Já um relatório do Greenpeace, que considera os ingredientes ativos presentes nos agrotóxicos, o número cresce, 44% dos 475 agrotóxicos registrados no Brasil em 2019 têm o uso proibido na UE.
Exportação agrícola brasileira
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, publicou um estudo, em junho de 2021, que mostra o Brasil como o 4º maior produtor de grãos (arroz, cevada, soja, milho e trigo) do mundo, atrás apenas de China, Estados Unidos e Índia, respectivamente.
A mesma pesquisa evidenciou que, apesar de ocupar a quarta posição como produtor, o Brasil é o é o segundo maior exportador de grãos do mundo, com 19% do mercado internacional.
Dados de 2021 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que o setor agrícola nacional fechou o ano com saldo positivo de US$105,1 bilhões, 19,8% acima do verificado em 2020. O cenário representa um recorde histórico nas exportações, que atingiram US$120,6 bilhões em 2021.
PL do Veneno
Apresentado pelo então senador Blairo Maggi (PP), em março de 2002, o Projeto de Lei (PL) 6299/2002 é conhecido como PL do Veneno por propor a flexibilização da aprovação de agrotóxicos e retirar a participação do Ministério da Saúde, da Anvisa e do Ibama das decisões, deixando-as exclusivamente ao Ministério da Agricultura.
Quase 20 anos depois de ser proposto, o projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em fevereiro de 2022. Agora, ele aguarda uma votação do Senado Federal para seguir ou não para a sanção presidencial.
Também em fevereiro deste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) enviou uma nota aos senadores, na qual se posiciona contra a aprovação do PL do Veneno. No texto, o Grupo de Trabalho (GT) Agrotóxicos e Saúde da Fiocruz, diz, entre outras coisas, que a aprovação do projeto traria “danos irreparáveis aos processos de registro, monitoramento e controle de riscos e dos perigos dos agrotóxicos no Brasil”.
Além disso, a Fundação ainda alerta os riscos à saúde da população ao tirar os órgãos sanitários do processo de aprovação dos agrotóxicos: “[O PL] permite o registro de produtos mais tóxicos, como aqueles que causam câncer, problemas reprodutivos, distúrbios hormonais e para o nascimento”.
Bancada Ruralista
No início do mês de julho deste ano, senadores que integram a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) aprovaram, em sessão esvaziada, que o Projeto de Lei 6299/2002 seja votado antes do recesso de meio de ano, que começa no dia 18 de julho.
Além disso, os senadores aprovaram na mesma ocasião o PL que altera o Código Florestal para permitir a construção de reservatórios de água em áreas de preservação permanente (APPs).
Agroecologia
A agroecologia é a ciência que se contrapõe à cultura com agrotóxicos, baseada em uma perspectiva ecológica. Buscando desenvolver produções com uma dependência mínima de defensivos agrícolas e energéticos externos.
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo define os seguintes pontos como princípios da agroecologia:
- Conservar e ampliar a biodiversidade dos ecossistemas, tendo em vista o estabelecimento de numerosas interações entre solo, plantas e animais, ampliando a auto-regulação do agroecossistema da propriedade.
- Assegurar as condições de vida do solo que permitam a manutenção de sua fertilidade e o desenvolvimento saudável das plantas, por meio de práticas como:
- Cobertura permanente do solo (viva ou mülching)
- Adubação verde,
- Proteção contra os ventos,
- Práticas de conservação do solo (controle da erosão),
- Rotação de culturas,
- Consorciação de culturas,
- Cultivo em faixas, entre outras.
- Usar espécies ou variedades adaptadas às condições locais de solo e clima, minimizando exigências externas para um bom desenvolvimento da cultura.
- Assegurar uma produção sustentável das culturas sem utilizar insumos químicos que possam degradar o ambiente, fazendo uso da adubação orgânica, de produtos minerais pouco solúveis (fosfato de rocha, calcário, pó de rocha, etc) e de um manejo fitossanitário que integre as práticas culturais, mecânicas e biológicas para o controle de pragas e doenças.
- Diversificar as atividades econômicas da propriedade, buscando a integração entre elas para maximizar a utilização dos recursos endógenos e assim diminuir a aquisição de insumos externos à propriedade.
- Favorecer a autogestão da comunidade produtora respeitando sua cultura e estimulando sua dinâmica social.
Como cai no vestibular?
Depois de conhecer o panorama sobre os agrotóxicos no Brasil, chegou a hora da verdade. As substâncias podem aparecer no seu vestibular nas disciplinas de Química, Geografia e Biologia. E os professores Gabriel Prazeres, Priscila Lima e Bruna Klassa explicam de quais formas:
Química
Nesta disciplina, o assunto tende a ser abordado não pelo contexto em que está inserido no País, mas pela parte de composição química. Para o professor Gabriel Prazeres, é muito importante estar por dentro da definição do que são agrotóxicos: “No âmbito da Química, eu quero que você grave: pode ser uma substância ou uma mistura. Isso pode ser sintético ou natural, pode ser uma única fórmula ou uma combinação de fórmulas”, explica.
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Geografia
Em Geografia, é necessário pensar tanto na produção e distribuição dos alimentos cultivados com agrotóxicos, quanto na geopolítica. Isso porque, de acordo com a professor Priscila Lima, “você sempre vai ter que associar o agrotóxico ao impulso da produtividade”.
Ainda segundo ela, a popularização do uso de defensivos agrícolas nas plantações favoreceu as monoculturas: “Se eu tenho que comprar um agrotóxico específico para cada cultura, se eu produzo uma coisa só, eu compro um produto só, isso vai baratear o meu processo. Por isso, não é à toa que há uma área com grande concentração de soja e grande concentração de cana de açúcar [no Brasil]”, explica Priscila.
Já quando o assunto da prova for Revolução Verde, é necessário entender as consequências — já citadas neste texto — do processo e associá-los ao contexto de fome que algumas regiões do mundo, incluindo o Brasil, ainda vivem, e saber o papel das monoculturas neste cenário.
“No mundo atual, a crise de alimentos não está associada à capacidade produtiva. A Revolução Verde abriu possibilidade para que a gente produzisse comida para todas as pessoas no mundo. E aí, nós entramos no âmbito da distribuição, que é o que faz com que ainda hoje tantas pessoas padeçam de fome.”, avalia a professora.
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Biologia
Assim como na Química, as questões de Biologia tendem a não se aprofundar tanto no contexto em que os agrotóxicos são aplicados ou debatidos. Nesta disciplina, cabe saber identificar seres vivos por seus nomes científicos e como cada tipo de agrotóxico pode afetá-lo. Entenda melhor na questão elaborada pela professora Bruna Klassa:
- Identifique o ser vivo que seria atingido por um agrotóxico fungicida:
a) Cisticercose
b) Saccharomyces cerevisiae
c) Rhizobium
d) Diatomácea
E aí, Estratégia, conseguiu responder? Se não, a resposta é a letra B. A Saccharomyces cerevisiae é uma espécie de levedura domesticada pertencente ao reino dos fungos, e os agrotóxicos fungicidas são feitos para atingir fungos.
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