A doação de sangue é um tema bastante comum em vestibulares porque reúne discussões sobre saúde pública, responsabilidade social, cidadania, desigualdades e políticas públicas.
A doação de sangue regular é essencial para salvar vidas em emergências médicas, cirurgias e tratamentos de longo prazo. Sem doadores voluntários, pacientes com câncer, vítimas de acidentes e pessoas com distúrbios sanguíneos enfrentam maiores desafios na recuperação e tratamento de suas condições.
O Brasil enfrenta dificuldades recorrentes para manter os estoques de sangue estáveis, especialmente em períodos como férias, inverno e feriados prolongados, o que o torna um assunto sempre atual.
O Portal Estratégia Vestibulares trouxe aspectos importantes sobre o assunto que podem ser usados para o desenvolvimento de repertórios socioculturais nas redações dos vestibulares e do Enem. Confira!
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Contexto histórico sobre transfusões e doações de sangue
Transfusões de sangue
As primeiras transfusões de sangue foram feitas no século XVII. Em 1665, elas ainda eram feitas como experimentos em animais e, em 1667, foram realizadas as primeiras experiências com humanos.
No entanto, as transfusões da época eram heterólogas, ou seja, eram feitas com sangue de diferentes espécies de animais. Tal procedimento foi proibido nas faculdades de Paris e Roma e na Royal Society, na Inglaterra.
Mesmo assim, as experiências continuaram e, em 1788, Pontick e Landois alcançaram bons resultados ao realizar transfusões de sangue em animais da mesma espécie, ou seja, transfusões homólogas. A primeira transfusão com sangue humano foi feita em 1818, por James Blundell, em uma mulher com hemorragia pós-parto.
Mesmo sendo considerada um sucesso, a transfusão homóloga gerava problemas de coagulação no sangue e outras reações negativas. Foi então, em 1900, que o imunologista austríco Karl Landsteiner compreendeu que o soro sanguíneo de uma pessoa poderia coagular ao ser misturado com o de outra. Essa descoberta originou o sistema de grupo sanguíneo ABO, que classifica o sangue em quatro tipos principais (A, B, AB e O).
Em 1940, a partir de experiências com o sangue de um macaco chamado Rhesus, Landsteiner e o médico Alex Wiener descobriram o fator Rh, que indica se o sangue é “positivo” ou “negativo”.
Ou seja, se ele possui ou não o fator Rh nas hemácias. Assim, foram compreendidas as compatibilidades e incompatibilidades sanguíneas que possibilitaram as futuras doações e transfusões de sangue.
Doações de sangue
O primeiro banco de sangue foi idealizado em Leningrado e construído em Barcelona no ano de 1932, durante a Guerra Civil Espanhola. Durante as guerras mundiais, a necessidade de sangue para salvar soldados feridos impulsionou a organização de programas de doação em larga escala.
Após a Segunda Guerra Mundial, os bancos de sangue começaram a ser estabelecidos em muitos países, fornecendo uma fonte constante de sangue para transfusões em situações de emergência e para tratamento médico.
No Brasil, o primeiro banco de sangue público foi criado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 1941, década em que a hemoterapia passou a ser vista como especialidade médica. Porém, a primeira transfusão de sangue em solo braisleiro foi realizada trinta anos antes, em 1910, na cidade de Salvador, na Bahia.
Dados sobre doação de sangue no Brasil
O Ministério da Saúde registrou, em 2023, que 1,6% da população brasileira é doadora de sangue, encaixando-se na recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de que cada país tenha uma população doadora de 1% a 3%.
Ainda em 2023, cerca de 3,3 milhões de bolsas de sangue foram coletadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Já em 2024, até março foram realizadas 731.734 doações.
Atualmente, o Brasil possui 32 hemocentros estaduais além de 2.097 serviços de hemoterapia regionais e municipais, responsáveis pela coleta, processamento, armazenamento e distribuição de sangue e seus elementos.
O sangue coletado pela rede pública é testado e liberado somente após ter a comprovação de segurança. Para isso, é realizada a sorologia e um teste desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), o qual reduz a janela imunológica* para HIV e hepatites C e B.
*Janela imunológica corresponde ao intervalo de tempo entre a infecção por um vírus ou patógeno e a detecção de anticorpos específicos no sangue, geralmente através de testes de diagnóstico. Durante essa janela, os testes podem não ser capazes de detectar a infecção, mesmo que a pessoa esteja infectada.
Requisitos para doação de sangue
Para doar sangue, existem requisitos básicos que devem ser cumpridos, estipulados pelo Ministério da Saúde com o objetivo de garantir a segurança do doador e do receptor.
Além de critérios básicos necessários para a doação, também existem condições que a impedem temporariamente e até mesmo definitivamente. Confira abaixo cada uma delas, segundo o Ministério da Saúde:
Critérios básicos necessários
- Ter entre 16 e 69 anos, (menores de 18 anos devem apresentar consentimento formal do responsável legal);
- A idade máxima para a primeira doação é de 60 anos;
- Apresentar documento de identidade com foto emitido por órgão oficial – físico ou digital (Carteira de Identidade, Carteira Nacional de Habilitação, Carteira de Trabalho, Passaporte, Registro Nacional de Estrangeiro, Certificado de Reservista e Carteira Profissional emitida por classe);
- Pesar no mínimo 50 kg;
- Estar descansado – ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas;
- Estar alimentado – evitar alimentos gordurosos nas 3 horas que antecedem a doação de sangue (caso seja após o almoço, aguardar 2 horas);
Impedimentos temporários
- Estar com gripe ou febre;
- Estar gestante;
- Estar amamentando bebês com menos de 12 meses;
- Ter realizado aborto nos últimos 90 dias;
- Ter realizado parto normal nos últimos 90 dias;
- Ter realizado cesária nos últimos 180 dias;
- Ter feito tatuagem ou acupuntura nos últimos 12 meses;
- Ter sido exposto à situação de risco para a AIDS (múltiplos parceiros sexuais, ter parceiros usuários de drogas);
- Ter herpes labial.
Impedimentos definitivos
- Ter tido hepatite após os 11 anos de idade;
- Ter evidência clínica ou laboratorial de doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue, como Hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas;
- Fazer o uso de drogas ilícitas injetáveis;
- Ter Doença de Parkinson.
Vale destacar que homens podem doar até quatro vezes no ano, com intervalo mínimo de 60 dias, enquanto as mulheres podem realizar três doações anuais, com intervalos de 90 dias. A condição explica-se por conta dos ciclos menstruais, que causam uma demora na reposição de ferro.
Como o tema pode aparecer nos vestibulares e no Enem
A seguir, os principais eixos temáticos que podem ser cobrados, integrando dados, história e discussões sociais relevantes.
Saúde pública e Sistema Único de Saúde (SUS)
A doação de sangue é um pilar da saúde pública brasileira. O SUS depende da reposição constante de sangue para realizar cirurgias, atendimentos de emergência, tratamentos de câncer, doenças hematológicas e acidentes graves. A necessidade contínua de estoque revela como a doação está diretamente ligada ao direito constitucional à saúde.
As redações podem pedir soluções para ampliar a doação, discutir campanhas públicas, propor estratégias de mobilização ou abordar a desigualdade no acesso aos serviços de hemoterapia.
Campanhas de conscientização e comportamento social
A baixa adesão, apenas 1,6% da população, é consequência também de fatores comportamentais. Muitas pessoas não doam por medo, desconhecimento dos requisitos ou falta de hábito. Campanhas como Junho Vermelho buscam conscientizar a população sobre a importância de doar regularmente.
Esse eixo pode aparecer em questões de Linguagens, pedindo interpretação de campanhas, cartazes ou textos publicitários, ou em redações sobre conscientização coletiva.
Políticas públicas e legislação: leis e direitos do doador de sangue
As políticas públicas sobre doação de sangue no Brasil são guiadas pelo Ministério da Saúde, que estabelece critérios para garantir a segurança de doadores e receptores, definindo requisitos como idade entre 16 e 69 anos, peso mínimo de 50 kg, repouso adequado e intervalos obrigatórios entre doações 60 dias para homens e 90 dias para mulheres, devido ao impacto dos ciclos menstruais na reposição de ferro.
Além das regras sanitárias, a legislação assegura direitos e incentivos aos doadores. O principal é a dispensa do trabalho no dia da doação, reconhecendo o caráter social desse ato.
Em alguns estados, como o Mato Grosso e São Paulo, leis locais ampliam os benefícios, garantindo meia-entrada em cinemas, teatros, shows, eventos esportivos e outras atividades culturais para doadores regulares, mediante apresentação de uma carteira oficial emitida pelo hemocentro.
Essa carteirinha, além de facilitar o acesso aos descontos, funciona como um registro de participação social, reforçando valores de solidariedade e responsabilidade coletiva.
Há também iniciativas educacionais que estimulam a doação. Algumas universidades, como a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), concedem isenção da taxa de inscrição em processos seletivos para doadores de sangue e de medula óssea, demonstrando como instituições públicas podem criar políticas de incentivo alinhadas ao interesse social.
Essas medidas mostram que a doação de sangue não depende apenas de campanhas de conscientização, mas também de políticas públicas capazes de reconhecer e estimular práticas solidárias de forma contínua e estruturada.
Homofobia institucional e restrições à doação de sangue
Ao longo do século XX e início do XXI, muitos países adotaram regras que impediam homens gays de doar sangue. Essas normas surgiram durante a epidemia de HIV/Aids nos anos 1980, quando faltavam informações científicas e prevaleciam estigmas que associavam a homossexualidade ao “grupo de risco”.
No Brasil, o Ministério da Saúde considerava que um homem o qual, em até 12 meses, mantivera relações sexuais com pessoas do mesmo sexo estava inapto temporariamente de doar sangue, sem levar em consideração sua atividade sexual ou uso de preservativos.
Em vez de avaliar comportamentos individuais, essas medidas discriminatórias e homofóbicas restringiam uma população inteira com base na orientação sexual, reforçando preconceitos e discriminando doadores saudáveis, o que dificultava ainda mais a coleta de doações de sangue.
Em 2020, a Anvisa revogou a restrição brasileira após críticas de especialistas, organizações de saúde e decisões judiciais que consideraram a regra discriminatória e sem fundamento científico.
Em 2021, foi aprovado no Senado Federal o PL 2.353/2021, que proibiu a discriminação de doadores de sangue por orientação sexual. Portanto, atualmente, no Brasil, as pessoas LGBTQIAP+ podem doar sangue.
Queda das doações de sangue em férias, feriados e inverno
Os estoques de sangue no Brasil e no mundo tendem a cair em períodos como férias escolares, feriados prolongados e inverno por motivos relacionados ao comportamento social e às condições sanitárias.
Durante as férias e feriados, muitas pessoas viajam ou mudam suas rotinas, o que reduz a frequência com que vão aos hemocentros doar. Em feriados prolongados a queda nos estoques pode chegar a 30%, segundo hemocentros como a Fundação Pró-Sangue em São Paulo.
Além disso, as festas e viagens frequentemente coincidem com um aumento da demanda por sangue, seja por acidentes nas estradas ou por maiores atendimentos hospitalares, intensificando a tensão sobre os estoques.
No inverno, a situação se agrava porque o número de doadores elegíveis costuma diminuir devido à maior circulação de infecções respiratórias (como gripe e outras viroses), que impedem temporariamente as pessoas de doar sangue.
Filmes, séries e documentários sobre doação de sangue
Sob Pressão (2017)
“Sob Pressão”, série nacional da Globoplay e estrelada por Marjorie Estiano, Ícaro Silva, Adrea Beltrão e Júlio Andrade, acompanha a rotina da equipe de emergência de um hospital público no subúrbio do Rio de Janeiro. A obra é baseada no livro de Marcio Maranhão, Sob Pressão: A Rotina de Guerra de Um Médico Brasileiro, que narra a história real do autor.
Nas estreias de algumas temporadas, foram realizadas campanhas de doação de sangue, chamadas “Corrente Sob Pressão”, que se entrelaçavam com a trama da série. Em 2024, a campanha da quinta e última temporada mobilizou mais de 120 pontos de coleta em 22 Estados do país, em parceria com 15 grupos afiliados e 5 emissoras da Globo.
Caminhos do Sangue (2019)
“Caminhos do Sangue” é um documentário realizado pela TV Uerj, em parceria com o Serviço de Hemoterapia Herbert de Souza, do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Nele, é mostrado o caminho percorrido pelo sangue desde a doação até o receptor.
Questões sobre doação de sangue
Enem (2019)

Destak, nov. 2015 (adaptado).
A imagem da caneta de tinta vermelha, associada às frases do cartaz, é utilizada na campanha para mostrar ao possível doador que
A a doação de sangue faz bem à saúde.
B a linha da vida é fina como o traço de caneta.
C a atitude de doar sangue é muito importante.
D a caneta vermelha representa a atitude do doador.
E a reserva do banco de sangue está chegando ao fim.
Resposta: A alternativa E está correta, porque a tinta vermelha, em clara referência ao sangue, está acabando, assim como o estoque de sangue dos mais diversos bancos de sangue do país, em especial o Hemocentro de Brasília, que assina a campanha, declarando que temos um déficit entre doações e usos do sangue.
Alternativa correta: E
Unichristus (2017)

O principal objetivo desse texto é
A orientar os interlocutores quanto aos procedimentos de doação de sangue.
B criticar os interlocutores que não se preocupam com a doação de sangue.
C instruir pessoas sobre como fazer a doação de medula óssea por meio da doação de sangue.
D sugerir hábitos e atitudes de doar sangue que possam melhorar a vida cotidiana dos interlocutores.
E convencer os interlocutores da importância de doar sangue e cadastrar-se para doação de medula.
Alternativa correta: E
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