Como lidar com questões interdisciplinares no vestibular

Como lidar com questões interdisciplinares no vestibular

Veja como conhecer um assunto sob vários pontos de vista pode te ajudar a responder as temidas questões interdisciplinares existentes em alguns vestibulares do país

A maioria das perguntas de um vestibular levam em conta as matérias específicas abordadas no Ensino Médio. Mas, algumas instituições contam também com questões interdisciplinares, que faz com que os candidatos explorem diversas matérias em uma mesma resposta.

Isso faz com que a preparação para essas questões seja um pouco diferente, já que será necessário conectar os conteúdos de forma conectada e concisa. Para nos ajudar com o assunto, falamos com os professores do Estratégia Vestibulares Saulo Teruo Takami, de Geografia e Gabriel Prazeres, de Química, que vão trazer dicas e explicar o que fazer ao se deparar com uma dessas perguntas. Vamos nessa?

Como são introduzidas as questões interdisciplinares?

Algumas das principais instituições de Ensino Superior do Brasil aplicam questões interdisciplinares em seus vestibulares. É o caso da Unicamp, USP, UFSC e Uerj, por exemplo. Elas aparecem geralmente na segunda fase, exigindo também a argumentação dos candidatos, já que, na maioria dos casos, a prova é discursiva.

Na Unicamp, por exemplo, as questões interdisciplinares são vistas tanto nas Ciências Humanas, como também nas Ciências da Natureza. Dessa forma, vemos perguntas que abordam História, Geografia e Sociologia, ou mesmo Física, Química e Biologia… São muitas as possibilidades!

O que as bancas buscam quando cobram questões interdisciplinares?

Como esse tipo de pergunta não é pautada em uma matéria específica, é necessário saber jogar com o conhecimento adquirido ao longo dos anos de estudos para resolver os problemas propostos.

Gabriel Prazeres, professor de Química do EV, pontua que é necessário ter um conhecimento ativo, e não apenas memorizar os assuntos. “As bancas procuram maneiras de encontrar pessoas que consigam demonstrar o aprendizado ativo sobre os assuntos estudados e diferenciar daquela pessoa-glossário que memorizou informações”.

O professor de Geografia do Estratégia, Saulo Teruo Takami, afirma que as questões interdisciplinares também são uma opção inovadora, “para que o aluno vá além de uma questão clássica”.

“Podemos nos deparar com uma questão sobre tipos climáticos, mas hoje é mais comum abordar os tipos climáticos fazendo amarrações com desastres naturais, agricultura, tipos de vegetação… Ou seja, ao invés de cobrar apenas climatologia, acaba exigindo meio ambiente, questões agrárias e/ou biomas”, pontua Saulo, usando a própria Geografia como exemplo.

“A inteligência tem que ser diferenciada da instrução. Ser inteligente é conectar informações, gerar conclusões e ter pensamentos inovadores. Afinal de contas, para memorização de definições e fórmulas, já basta o Google”, completa Gabriel.

É preciso equilibrar as matérias ao responder uma questão interdisciplinar?

Se você é bom em História, mas não é muito eficiente em Geografia, isso significa que você está em apuros em uma questão que aborda as duas matérias? Bom, nem tudo precisa ser assim. 

Saulo explica a importância do enunciado na interpretação das questões ao falar de equilíbrio. “Uma questão discursiva pode solicitar dê dois exemplos ambientais e dois econômicos. Assim, deve existir um equilíbrio na resposta. Porém, se não estiver especificando, não vejo necessidade”.

Se a correção das questões interdisciplinares traz momentos de tensão entre os professores do Estratégia, imagine você, que tem um tempo curto para responder a cada pergunta.

“Relaxe, essa dificuldade também ocorre entre nós professores. Fica aquele empurra-empurra de questão ou o povo da biologia vem roubar as questões da Química só porque citou algum bicho vivo”, contextualiza Gabriel Prazeres.

“Se a sua banca organiza as questões em frentes, por exemplo, apresenta escrito ‘as questões de 1 a 10 são de Química’, claramente, pode priorizar a Química nessa questão. Agora se a banca da sua prova não faz essa distinção, requer muita interpretação da questão. Perceber o direcionamento da questão se está tendendo para um tipo de análise”, complementa o professor.

Entenda a interdisciplinaridade de cada questão

Todos os assuntos podem ser tratados de forma interdisciplinar. Veja um exemplo: o tornado é um fenômeno climático muito conhecido e devastador. Dentro desse tema pode surgir pontos que vão de Física, em força centrífuga, até História, abordando tornados impactantes ao longo do tempo. Tudo depende do enunciado proposto pela prova.

Gabriel explica como o cérebro interpreta e assimila os conteúdos. “O cérebro tem a capacidade de entender informações novas a cada dia, mas também tem a capacidade de deletar informações que ele julga desnecessário. Como vencer essa briga cerebral? Como reter uma informação que você e o seu cérebro sabem que é descartável (por vezes), até o dia da prova? A forma de ‘bugar’ o sistema é conectar essa informação com várias outras”.

“Se você fizer associações com outros assuntos ou macetes, é mais fácil decorar para sempre. Ao perceber um mesmo assunto de diferentes aspectos, na rede neural é como se você acessasse essa informação por vários caminhos. Quando uma informação depende de um único caminho é mais fácil de acontecer um ‘branco’ na hora da prova. Agora, quando você consegue acessar (a informação) com vários outros impulsos, esse ‘branco’ se resolve mais rapidamente”, dá a dica o professor.

A interdisciplinaridade, portanto, é um elemento que ajuda a memorizar e dominar o assunto, já que ele solidifica o processo de aprendizagem interligando informações distintas de um mesmo assunto.

Intradisciplinaridade? Como assim?

Saulo inclui também o conceito de intradisciplinaridade, como ele mesmo batizou. “Ter um pensamento interdisciplinar é fundamental na hora da prova. Se ela não for interdisciplinar, isto é, mesclar Geografia com Biologia, Química, História ou até Sociologia. Pelo menos, ela será intradisciplinar (várias temáticas da Geografia, por exemplo, dentro da mesma questão — foi assim que batizei”.

Mas calma, o professor exemplifica o raciocínio. “Em uma questão sobre industrialização é necessário ter o conhecimento sobre globalização, urbanização, comércio exterior etc. para poder responder. Em segunda fase de provas discursivas é muito difícil, pelo menos em Geografia, a questão não ser inter ou intradisciplinar”.

O que é perigoso e evitável em questões interdisciplinares

Um problema que deve ser evitado nas questões discursivas é ser prolixo. Com a possibilidade de abordar diversos pontos de vista sobre o enunciado, a interpretação da questão deve ser observada como um ponto de atenção, como comenta Saulo. “Em uma prova discursiva o aluno não pode ‘encher linguiça’, pois certamente o ponto não será contabilizado. Como eu sempre digo, responda o que foi perguntado, nada mais”. 

“Ademais, é importante tomar cuidado com os conceitos, por exemplo, em Biologia: ecossistema e bioma são muito utilizados ao passo que na Geografia é mais comum domínio morfoclimático. Então, é necessário saber responder conforme o ponto de vista dessas 2 disciplinas”, explica o professor.

Gabriel chama a atenção para os cuidados com os termos que devem ser escritos. “Lembre-se que na resposta de questões interdisciplinares discursivas seja bem específico e óbvio. Nada de inventar um termo químico novo como, por exemplo, interação de hidrogênio, nada disso, o nome é ligação de hidrogênio. Seja claro e específico com os termos que a banca espera na sua resposta discursiva. Para as questões objetivas, a interdisciplinaridade exige cuidado na conexão dos fundamentos, definições e propriedades dos assuntos”.

Um exemplo curioso usado por Gabriel, aborda a Química, a Biologia e usa como pano de fundo a gastronomia. “Eu te pergunto o que tem a ver usar leite para tirar o sabor ardente da pimenta na boca? Para responder isso, é necessário saber o que tem no leite (Química) e o que faz sentir a ardência da pimenta (Biologia). A resposta é que o leite tem gordura, que é apolar, e dissolve a substância picante que estava ‘presa’ na superfície da língua. Ao se desgrudar da língua, não se tem mais a sensação do picante”.

“Essa conexão entre os assuntos para ser feita tem que, realmente, saber sobre as duas etapas. Portanto, uma dica valiosa para o seu estudo é, para cada aula estudada, montar um resumo autoral (nenhum material de consulta, tudo fechado, só você, uma folha em branco e caneta) apontando os fundamentos principais dos estudos”, pontua o professor de Química do Estratégia.

Quer mais? Veja dicas dos professores para as questões interdisciplinares

“Como já dizia o grande filósofo: ‘tira casaco, bota casaco’ (Miyagi, Mestre), ou seja, estudar cada disciplina de maneira inicial ao avançado, sem querer tomar atalhos, se preocupando com o aprendizado integral. Não adianta eu pedir para você vincular a Química da Alimentação com o estilo de vida dos Vikings se você não souber, separadamente, esses assuntos”, explica Gabriel.

Saulo reflete também sobre como você, vestibulando, pode enxergar cada matéria. “Quando você estiver estudando, comece a pensar se o assunto não cabe em outra disciplina ou em outra temática da mesma disciplina. Por exemplo, ao ler sobre tempo geológico em Geografia, você também deve pensar em Biologia, pois também é abordado, a diferença é que a primeira vai em um sentido de formação do relevo e a segunda, evolução das espécies”, finaliza.

Interdisciplinaridade? Você também vê por aqui!

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