O folclore brasileiro é um elemento importante na formação cultural brasileira, por meio de lendas, costumes e identidade social. São muitas as manifestações do assunto em nosso cotidiano, seja em músicas tradicionais, danças, brincadeiras, festas e comidas típicas.
Portanto, é possível dizer que saber mais sobre o folclore é compreender mais o Brasil. O Estratégia Vestibulares mostra a importância do assunto, bem como suas características e como ele pode somar seu repertório sociocultural para os vestibulares que irá prestar.
O tema inclusive foi usado no vestibular UFU medicina 2021/2, que pediu um resumo que “focasse na importância e valorização do gênero de cultura de origem popular como forma de identidade de uma nação”, com dois textos de apoio.
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O que é folclore?
Folclore vem da junção das palavras de origem inglesa: folk (povo) + lore (cultura, tradição). Segundo definição da Oxford Languages, significa um “conjunto de costumes, lendas, provérbios e manifestações artísticas em geral, preservado por um povo ou grupo populacional, por meio da tradição oral; populário”.
Essas manifestações são conectadas por características gerais como ser transmitida de geração em geração, conseguir absorver fatos atuais sem perder suas particularidades, ter origem anônima e ser absorvida pela cultura popular, de preferência pela oralidade, ou seja, o boca a boca.
Quais são as principais características do folclore brasileiro?
Quando falamos de Brasil, a regionalidade também se torna um fator preponderante no folclore nacional. Suas dimensões, seus diferentes tipos de vegetações e climas, e a chegada e influência de diversos povos ao longo do tempo determinaram costumes distintos que podem variar de entre bairros, cidades e regiões.
Muitos elementos do folclore surgiram com as variadas tribos que viviam espalhadas pelo país antes da chegada dos colonizadores portugueses. Lendas que falam sobre o surgimento de comidas como açaí, mandioca e guaraná, por exemplo, remetem a histórias indígenas.
Uma outra característica do folclore brasileiro é sua pluralidade cultural, muitas vezes com união de costumes de diferentes povos. A escravidão, que provocou uma diáspora africana no continente e a chegada de povos europeus variados são eventos que alteram o cotidiano e história do Brasil.
Um exemplo bastante conhecido é a festa junina, diretamente relacionada com o cristianismo e as populações da península Ibérica (Espanha e Portugal). Mas as comidas típicas dessa festa tem origens distintas. A paçoca, por exemplo, vem do tupi e significa “esmigalhar”. Já a canjica, tem versões distintas.
A primeira, do sociólogo Gilberto Freyre, afirma que o prato nativo do termo “acanjic”, do tupi, ou seja, indígena. Já segundo o dicionarista Ney Lopes, a origem do prato vem do termo “kanzika”, que significa papa grossa de milho cozido, em quicongo, língua falada em partes da Angola e do Congo.
Essa miscigenação provoca um cenário ainda mais heterogêneo, com formações de danças novas, culinárias distintas, histórias de gerações passadas que são cruzadas e altamente mutáveis e construção de diferentes identidades culturais em um mesmo território.
Qual a importância do folclore na cultura regional do Brasil?
Quando falamos em cultura popular regional, o folclore se faz presente de inúmeras formas. O bumba meu boi, por exemplo, tem sua versão mais famosa no festival de Parintins, no Estado do Amazonas, mas tem origem no nordeste, inclusive com nomes variados em diversos lugares do País.
No sul do Brasil, danças como a catira, ou cateretê, são vistas como de origem híbrida, e tem papel importante no folclore local, com grupos de catireiros que existem há décadas.
Já o maracatu, dança de forte presença no estado do Pernambuco, tem origem negra e religiosa, servindo como homenagem para a então padroeira dos homens negros, Nossa Senhora do Rosário.
O folclore ocorre também em manifestações regionais ou municipais, como em Acupe, no recôncavo baiano. Lá existem grupos folclóricos que saem em quatro domingos consecutivos com as chamadas Caretas de Acupe — presente na imagem acima —, um desfile que surgiu nos tempos da escravidão após um dono de engenho trazer máscaras para festas, o que foi copiado pelos escravos do local.
A maior festa do mundo também é vista como um elemento do folclore nacional: o carnaval. Com origem em Veneza, como um baile de máscaras, a festa desembarcou no Brasil e ganhou elementos regionais como o samba, ou o frevo, além de diversas adaptações para desfiles e trios elétricos.
Podemos dizer, portanto, que o folclore é também um conjunto de manifestações que integram grupos específicos da população, seja pelas danças, ritmos musicais, comidas ou até mesmo personagens lendários.
Quais as principais lendas do folclore brasileiro?
Veja abaixo algumas lendas do folclore brasileiro que podem ser abordadas em vestibulares espalhados pelo País. Note que as histórias contadas representam costumes ou situações do cotidiano vistas como tabus, proibições ou temores da época.
Saci Pererê
Com origem nas tribos indígenas do sul do país, a lenda também tem influências africanas como o fato de saber lutar capoeira. Com uma perna só e gorro avermelhado que lhe concede poderes mágicos, é um protetor da floresta e conhecedor das ervas medicinais.
Iara
Conhecida também como Mãe-d’água, ela tem origem amazônica, mas sua história é conhecida em todo o Brasil. Segundo a lenda, é uma sereia que encanta homens com seu canto e beleza para matá-los afogados nas águas dos rios.
Mula-sem-cabeça
De origem Ibérica, a lenda se espalhou por toda a América Latina. Ela fala de mulheres que foram amaldiçoadas por terem envolvimento sexual com padres e se transformavam no animal, que tinha labaredas de fogo no lugar da cabeça e no rabo. Vale ressaltar que a história visa reforçar valores morais ultrapassados.
Curupira
É uma das primeiras lendas indígenas registradas pelos portugueses. Com cabelos vermelhos, pés virados para trás para confundir caçadores e força física fora do comum, usava suas características para defender a floresta de seus malfeitores.
Boto-cor-de-rosa
O boto-cor-de-rosa é a lenda de um animal que se transforma em um homem bonito e sedutor, que usava tais características para atrair mulheres e engravidá-las. Por muito tempo, a história foi usada para explicar mulheres com filhos sem pai.
Cuca
Na lenda original, é uma mulher velha, representada como uma bruxa, que captura crianças desobedientes. Apenas na versão de Monteiro Lobato ela tem traços de jacaré. Também tem origem Ibérica, onde era conhecida pelos nomes Coco ou Coca.
Veja algumas indicações de livros e filmes sobre o tema
Para ampliar o repertório sociocultural sobre o tema, separamos algumas obras que abordam o assunto. Veja abaixo:
Dicionário do folclore brasileiro — Luís da Câmara Cascudo
Sinopse: O “Dicionário do folclore brasileiro” reúne milhares de verbetes sobre as superstições, crendices, mitos, danças, lendas, práticas mágicas adotadas e vividas pelo povo brasileiro em seu cotidiano.
Aspectos do folclore brasileiro — Mário de Andrade
Sinopse: Mário de Andrade conhecia o Brasil como poucos, graças às leituras e viagens que realizou ao longo de sua vida por vários cantos do país. A obra “Aspectos do folclore brasileiro” simboliza parte do fundamental conhecimento que ele acumulou acerca do conjunto de tradições e costumes que integraram a formação do povo brasileiro. Uma obra essencial para conhecermos mais sobre a cultura de nosso país.
Folclore Brasileiro: Contos Populares do Brasil — Sílvio Romero
Sinopse: A compilação dos Contos populares do Brasil surgiu do empenho de Sílvio Romero em estudar e sistematizar cientificamente o folclore brasileiro, tendo em vista a busca de um caráter nacional com base no princípio da mestiçagem entre os elementos europeu, indígena e negro, do qual, aliás, participa o discutível processo da seleção natural. Apesar disso, ou talvez por isso mesmo, o modo como este volume está organizado prefigura, pela via da criação popular, a pergunta seminal que o seu autor repisou até o fim da vida: qual será o destino da cultura brasileira, tão forte e tão frágil perante o mundo?
Cidade Invisível (2021)
Sinopse: Após uma tragédia familiar, um homem descobre criaturas folclóricas vivendo entre os humanos e logo se dá conta de que elas são a resposta para seu passado misterioso.
A história da alimentação no Brasil (2019)
Sinopse: A série registra tradições e práticas da culinária brasileira originárias da miscigenação entre indígenas, africanos e portugueses. Baseada no livro homônimo de Luís da Câmara Cascudo de 1967, conta com depoimentos de chefs, artistas e estudiosos de diversas regiões do Brasil e de Portugal.
Sinopse: Vou te contar (2006 e 2008)
Sinopse: Um programa sobre lendas, que coloca em evidência a tradição oral como forma de manutenção e divulgação da cultura popular.
Veja questões sobre folclore no Enem
Enem 2011
Nascido em 1935, José Francisco Borges ou J. Borges, como prefere ser chamado, é um dos mais expressivos artistas populares do Brasil. Considerado por Ariano Suassuna o maior gravador popular do país, o artista foi um dos ilustradores do calendário da ONU do ano de 2002. Autodidata, J. Borges publicou seu primeiro cordel em 1964, intitulado O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina, seguido de O Verdadeiro Aviso de Frei Damião Sobre os Castigos que Vêm, cuja publicação deu início à sua carreira de gravador. Na década de 1970, artistas plásticos, intelectuais e marchands passaram a encomendar suas xilogravuras, o que levou as imagens a ganharem cada vez mais autonomia em relação ao cordel. Desde então, o itinerário do artista vem se fortalecendo pela transmissão dos conhecimentos da xilogravura às novas gerações de sua família, com quem mantém a Casa de Cultura Serra Negra, no sertão pernambucano.
A xilogravura é um meio de expressão de grande força artística e literária no Brasil, especialmente no Nordeste brasileiro, onde os artistas populares talham a madeira, transformando-a em verdadeiras obras de arte. Com total liberdade artística, hoje já conquistaram espaço entre os diversos setores culturais do país, retratando cenas
A) do seu próprio universo, revelando personagens com aparência humilde em vestes requintadas;
B) com temas de personagens do folclore popular, crenças e futilidades dos mais necessitados;
C) de conteúdo histórico e político do Nordeste brasileiro, com a intenção de valorizar as diferenças sociais;
D) das grandes cidades, com a preocupação de uma representação realista da figura humana nordestina;
E) com personagens fantasiosos, beatos e cangaceiros presentes nas crenças da população nordestina.
A alternativa A está incorreta, afinal o personagem representado na imagem é uma entidade do candomblé, Iemanjá (também chamada de Dona Janaína).
A alternativa B está incorreta, pois a representação de entidades das religiões afro-brasileiras não é uma futilidade. Devido ao teor preconceituoso da afirmação, claramente trata-se de uma alternativa incorreta.
A alternativa C está incorreta, pois a imagem de Iemanjá não possui teor histórico ou político, mas religioso e cultural.
A alternativa D está incorreta, afinal a xilogravura de J. Borges não apresenta uma figura humana, mas uma entidade do candomblé, Iemanjá, também conhecida como Sereia do Mar.
A alternativa E é a resposta. As xilogravuras abordam elementos do imaginário sertanejo, como beatos, cangaceiros, personagens fantasiosos e entidades religiosas, como é o caso de Iemanjá.
Enem 2019
A porca e os sete leitões
É um mito que está desaparecendo, pouca gente o conhece. É provável que a geração infantil atual o desconheça. (Em nossa infância em Botucatu, ouvimos falar que aparecia atrás da igreja de São Benedito no largo do Rosário.) Aparece atrás das igrejas antigas. Não faz mal a ninguém, pode-se correr para apanhá-la com seus bacorinhos que não se conseguirá. Desaparecem do lugar costumeiro da aparição, a qual só se dá à noite, depois de terem “cumprido a sina”.
Em São Luís do Paraitinga, informaram que se a gente atirar contra a porca, o tiro não acerta. Ninguém é dono dela e por muitos anos apareceu atrás da igreja de Nossa Senhora das Mercês, na cidade onde nasceu Oswaldo Cruz.
ARAÚJO, A. M. Folclore nacional I: festas, bailados, mitos e lendas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
Os mitos são importantes para a cultura porque, entre outras funções, auxiliam na composição do imaginário de um povo por meio da linguagem. Esse texto contribui com o patrimônio cultural brasileiro porque
A) preserva uma história da tradição oral;
B) confirma a veracidade dos fatos narrados;
C) identifica a origem de uma história popular;
D) apresenta as diferentes visões sobre a aparição;
E) reforça a necessidade de registro das narrativas folclóricas.
A alternativa B está incorreta, pois não há intenção do texto em atribuir veracidade ao mito da porca e os sete leitões.
A alternativa C está incorreta, porque o texto não delimita uma origem temporal ou autoria à narrativa folclórica.
A alternativa D está incorreta, pois a descrição do mito não apresenta versões que se contradizem.
A alternativa E está incorreta, pois embora se mostre curioso em relação ao mito relatado, o texto não defende o registro das narrativas folclóricas em geral.
A alternativa A está correta, afinal o texto contribui para manter vivo um elemento da tradição folclórica que se encontra em processo de desaparecimento.
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