A pandemia de Covid-19 fez com que o tema ‘doenças contagiosas’ se tornasse ainda mais falado mundo afora. A varíola dos macacos — como vem sendo chamada — é um dos casos que mais geraram comentários nos últimos dias, já que ela ainda se espalha e o nome remete a uma enfermidade tida como erradicada há mais de 50 anos no Brasil.
Casos de varíola dos macacos foram relatados em diversos países europeus e também na América Latina, inclusive no Brasil. Autoridades de saúde de todo o mundo se reúnem para discutir o problema e levantar soluções rápidas, para que o número de contaminados não siga crescendo.
O Estratégia Vestibulares convocou as professoras de Biologia Carol Negrin e Bruna Klassa para debaterem o tema em vídeo no YouTube, além de mostrarem como essa e outras doenças podem cair nos vestibulares brasileiros. Confira abaixo mais sobre o assunto.
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O que é varíola?
A varíola é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma doença de sério risco, inclusive com capacidade de levar pacientes a óbito. Ela é viral (Orthopoxvirus Variolae) e foi erradicada nos anos 80, após campanha de vacinação global.
O diagnóstico da doença, quando feito no início, aumenta consideravelmente as chances de cura, mas ela causava a morte de 30% dos infectados, além de deixar sequelas como cegueira e bolhas características por todo o corpo na maioria dos sobreviventes.
Dentre os sintomas estão febre, dores musculares e de garganta, fadiga e pústulas cutâneas, ou seja, bolhas de pus, que deixam marcas. Sua transmissão é feita por inalação de gotículas respiratórias e o auge da possibilidade de contágio se dá durante os primeiros sete a dez dias após o aparecimento das erupções na pele.
O que é e como surgiu a varíola dos macacos?
A varíola dos macacos é uma zoonose silvestre que infecta macacos, mas pode contaminar humanos. A doença é causada por um Orthopoxvirus, assim como a varíola comum. A contaminação geralmente ocorre em regiões florestais da África Central e Ocidental.
A professora Carol Negrin explica como a doença chega em humanos. “Quando transmitida a seres humanos a via de transmissão é o contato com um animal silvestre que apresentava esse vírus, como macacos, roedores ou outros”.
Sua descoberta foi feita em 1958, quando houve um surto de uma doença semelhante à varíola em colônias de macacos mantidos para pesquisas. Já a primeira contaminação humana foi detectada em 1970, na República Democrática do Congo.
O primeiro caso do surto atual foi identificado na Inglaterra, em um homem que apresentou lesões na pele e foi transferido para um centro especializado em doenças infecciosas. Após a certeza de que era varíola dos macacos, outros casos já haviam se desenvolvido.
Porque ela se chama varíola dos macacos?
O nome varíola dos macacos é dado justamente por ser uma zoonose descoberta e existente em primatas. O nome é uma generalização, já que a doença não é exclusiva dos macacos, e isso é comum na Biologia, como explica Carol.
“Roedores e alguns animais silvestres acabam apresentando essa forma de varíola. Esse nome acontece porque foi descoberto ao estudar, em laboratório, um macaco adoecido”.
Quais os sintomas notados até agora?
Os sintomas são parecidos com o da varíola comum e incluem febre, dores musculares e nas costas, inchaço nos linfonodos, exaustão e dor de cabeça. Já as lesões na pele — marca da doença — se formam primeiro no rosto e depois no restante do corpo, inclusive nas genitais.
Assim como em sua versão tida como humana, as lesões formam uma crosta que depois cai, mas que deixa marcas aparentes. Vale ressaltar que o inchaço nos linfonodos não é um sintoma comum na varíola comum.
Como ocorre o contágio?
Com transmissão comunitária — quando há indivíduos infectados que não transitaram pelo local tido como de origem, ou seja, contaminado por terceiros — o surto de 2022 da doença ainda não tem a confirmação da OMS sobre como a infecção vem se espalhando.
A principal suspeita, entretanto, é que seja por gotículas expelidas por um humano ou animal infectado, ou mesmo pelo contato direto com as lesões na pele. Essa possibilidade é a mais levantada já que tanto a varíola comum, quanto a dos macacos tinham essas formas de contágio. Mas tudo está sendo investigado com calma e cuidado pelas autoridades sanitárias.
Carol comenta o assunto e pede tranquilidade. “Será que ele mudou em alguma coisa para que humanos consigam transmitir? Até agora não tem nenhuma informação sobre isso. Não é hora de se desesperar porque ainda precisamos de esclarecimentos”.
Mutabilidade e transmissibilidade
Existem duas cepas do vírus que causam a doença e ambas sofrem mutações a uma taxa mais lenta do que vírus de RNA, influenza e coronavírus. Isso significa que é improvável que o vírus da varíola dos macacos tenha sofrido mutações repentinas que possam trazer preocupações ainda maiores.
Desde que o vírus foi descoberto, essa é a primeira vez que há cadeias de transmissão sem ligações epidemiológicas conhecidas com regiões da África Central ou Ocidental. A partir disso, especialistas consideram a probabilidade de transmissão entre humanos sem contato próximo muito baixa. Mas, estudos estão sendo feitos para sanar dúvidas que permeiam o surto.
Bruna Klassa explica que a varíola dos macacos “é pouco contagiosa”, e por isso não se deve ter pânico. “Se [o contágio] fosse apenas por algumas gotículas, espalharia rápido, mas se eu tenho que entrar em contato com uma grande quantidade de secreção, eu estou diminuindo a chance disso ocorrer”.
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Existe vacina para a varíola dos macacos?
A campanha de vacinação feita nas décadas de 70 e 80 se mostrou capaz de proteger também contra a varíola dos macacos, portanto, a resposta é sim, há uma vacina. Entretanto, as campanhas de vacinação para varíola foram descontinuadas no Brasil em 1971, quando o país foi considerado livre da contaminação.
“O vírus tem a sua semelhança, então apesar de não ser específica para a varíola dos macacos, essa vacina poderia então ser utilizada e ter alguma eficácia, já que a vacina da varíola tem eficácia de 85%”, explica Carol.
Como os laboratórios detectam a doença?
O processo de detecção do DNA do vírus da varíola dos macacos é feito a partir das lesões na pele, por meio de uma reação em cadeia da polimerase — técnica da Biologia usada para ampliar cópias de DNA e ver suas reações — em tempo real. Esse cenário já é comum em laboratórios ao redor do mundo e pode diferenciar inclusive qual das duas cepas do vírus é a que contaminou o indivíduo examinado.
Como prevenir?
Viajantes e residentes de países endêmicos devem evitar o contato com animais doentes, além de não manusear ou comer caça selvagem. Para evitar o contágio de pessoa para pessoa, deve-se evitar o contato com infectados, além de não usar objetos de pessoas contaminadas e com lesões cutâneas. A higienização das mãos também é importante, e deve ser feita com água e sabão ou álcool gel.
Doença endêmica: o que é?
Uma doença endêmica é quando a enfermidade é notada com certa incidência em um espaço limitado, seja um estado, país ou região climática. Ou seja, ela permanece provocando novos casos, mas sua manifestação é restrita a uma determinada área geográfica, chamada de faixa endêmica.
Um exemplo de doença endêmica da América do Sul é a Dengue, que não ocorre na Europa, por exemplo. Além disso, ela não é transmissível de humanos para humanos, o que dificulta a existência de casos em outros continentes.
Como tratar a varíola dos macacos?
Existem alguns medicamentos que têm eficácia comprovada contra o vírus da varíola dos macacos, mas cuidados maiores estão sendo tomados com esse novo surto.
Como há a possibilidade de ter ocorrido uma mutação que aumenta a transmissibilidade ou até mesmo capacidade de reprodução do vírus, não é possível cravar que os medicamentos existentes tenham atuação semelhante ao que era visto anteriormente.
Como a varíola dos macacos e outras doenças podem aparecer no seu vestibular?
Assuntos como a varíola dos macacos podem aparecer em diversas abordagens relacionadas à Biologia, foco da aula das professoras Bruna e Carol, mas também à Geografia, História, Química e até mesmo à Matemática.
“As bancas podem utilizar como cenários, então eu venho aqui e coloco na prova de vocês. E a gente faz muito isso nos simulados para treinar. Vamos cobrar um negócio que vocês já sabem, que está bem estabelecido, mas utilizamos o tema”.
Como exemplos, as professoras mencionaram questões como:
- Assim como essa doença é viral, cite outras doenças virais…
- Cite doenças que também tenham transmissões por gotículas inaladas…
- Descreva o mecanismo de infecção viral numa célula…
- Descreva o mecanismo de ação de uma vacina ativa e de uma vacina passiva…
Ou seja, há o potencial de uso da varíola dos macacos como pano de fundo para questões diversas de assuntos comuns em vestibulares, como vacina ativa e passiva, transmissibilidade de doenças, características presentes em vírus e sintomas comuns.
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