O Iluminismo, também conhecido como Esclarecimento, foi muito mais do que apenas um período histórico do século XVIII — trata-se de uma verdadeira revolução intelectual e cultural.
Inspirado pela máxima kantiana Sapere Aude! (“Ouse saber!”), o movimento representou o momento em que o ser humano passou a confiar em sua própria razão, abandonando a dependência da tradição, da fé cega e da autoridade política. Veja mais sobre o assunto no artigo a seguir do Estratégia Vestibulares.
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O grito da razão
A mudança de paradigmas de pensamento marca o nascimento da modernidade filosófica, em que o indivíduo racional e a ciência tornam-se o novo centro da organização social e do conhecimento, deixando um pouco mais de lado o tradicionalismo e a religiosidade que eram temas centrais.
O Iluminismo não significou apenas a substituição das “trevas” pela “luz”. Seu projeto de libertação racional e humana, de modo controverso, trouxe também novas formas de dominação. Ao longo do tempo, o ideal de emancipação humana deu lugar à racionalização excessiva e ao controle técnico.
A metáfora da “luz” é o símbolo central do Iluminismo. A razão humana, tida como universal e autônoma, foi considerada a ferramenta suprema para dissipar as “trevas” da ignorância e da superstição.
Os iluministas acreditavam que, por meio da razão e da investigação científica, o homem poderia compreender o mundo e transformá-lo para melhor. Esse ideal se opôs diretamente ao dogmatismo religioso, que impunha verdades absolutas, e ao absolutismo político, que concentrava o poder nos reis e monarcas, justificando sua autoridade como de origem divina.
Com o sucesso das ciências naturais, principalmente após as descobertas de Newton, surgiu a idealização de que a história humana era uma marcha progressiva e racional.

A ideia de progresso defendia que o conhecimento científico e a educação conduziriam a humanidade de um passado conturbado para um futuro de liberdade e justiça.
Essa visão linear e otimista da história se tornou um dos pilares da Modernidade e foi usada para justificar avanços tecnológicos e a expansão econômica, mesmo que, mais tarde, também tenha servido de justificativa para o colonialismo europeu, com o argumento de levar a “civilização” até outros povos.
Para os iluministas, se a razão é universal, os direitos também o são. Assim, nasceram as ideias de direitos naturais: vida, liberdade e propriedade, segundo John Locke. Tais direitos não dependem da vontade do rei ou da igreja, mas pertencem a todos os seres humanos. Locke via o Estado como resultado de um contrato social, criado para proteger esses direitos.
O pensador Jean-Jacques Rousseau, porém, ofereceu uma visão mais democrática: a liberdade verdadeira está na participação política, e a soberania reside na Vontade Geral. Esses conceitos fundamentaram o liberalismo político e inspiraram revoluções, como a francesa e a americana.
A Sociedade Moderna
Os pensamentos iluministas não se restringiram somente à filosofia, os ideais se transformaram em projetos aplicados na sociedade moderna.
Política
Para evitar que o poder político se transformasse em tirania, Montesquieu propôs, em O Espírito das Leis, a divisão dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Cada poder deveria limitar o outro, garantindo equilíbrio e liberdade. Essa estrutura institucional é, até hoje, a base das democracias modernas e das Constituições brasileiras, inclusive a de 1988.
Economia
O pensador Adam Smith, em A Riqueza das Nações, estendeu a ideia de liberdade individual para a esfera econômica. Ele defendia que o mercado funcionava de acordo com leis naturais e que o Estado deveria interferir o mínimo possível.
O interesse individual de cada pessoa, ao buscar o próprio lucro, seria guiado por uma “mão invisível” que promoveria o bem-estar coletivo. Dessa forma, o Iluminismo forneceu a base teórica para o capitalismo liberal, associando a razão à eficiência e ao progresso econômico.
Ciência
No campo científico, o Iluminismo consolidou a ascensão do método experimental e empírico. A física de Newton tornou-se o modelo do saber racional. O universo passou a ser entendido como uma máquina regida por leis matemáticas, substituindo explicações metafísicas e religiosas. O homem, pela ciência, acreditava poder dominar a natureza e construir um mundo mais previsível e controlado.
As Críticas à Modernidade Iluminista
O otimismo iluminista foi fortemente questionado no século XX, quando guerras, genocídios e crises ecológicas mostraram o lado obscuro da racionalidade moderna. A questão central foi “como o projeto da razão, criado para libertar o homem, pôde gerar tamanha destruição?”
Filósofos como Theodor Adorno e Max Horkheimer, tecendo críticas da Escola de Frankfurt, na obra Dialética do Esclarecimento, afirmaram que o Iluminismo acabou por se autodestruir. A razão, antes crítica e libertadora, transformou-se em razão instrumental, preocupada apenas com a eficiência e o controle.
Essa forma de racionalidade passou a dominar tanto a natureza quanto o próprio ser humano, reduzindo tudo a instrumentos e números. Na sociedade moderna, essa lógica se expressa na burocracia, na tecnocracia e na indústria cultural, que padronizam o pensamento e limitam a autonomia crítica.
Já filósofos como Michel Foucault foram além, questionaram a própria ideia de uma razão universal numa visão pós-estruturalista. Para eles, o Iluminismo representou a imposição de um modelo eurocêntrico de racionalidade, baseado no homem branco, europeu e proprietário.
Essa visão “universal” excluiu as vozes femininas, indígenas, africanas e populares, definindo-as como irracionais ou inferiores. A partir disso, surgiram as críticas à violência epistêmica (a dominação de um tipo de saber sobre os outros) e à forma como o discurso da civilização justificou o colonialismo, o racismo e o patriarcado.
O legado e o desafio contemporâneo
Apesar das críticas, seria um erro considerar o Iluminismo um fracasso. Muitos de seus ideais permanecem como pilares do mundo contemporâneo: os direitos humanos, a liberdade de expressão, o pensamento científico e até mesmo o ideal democrático são frutos deste projeto.
A própria crítica ao Iluminismo só é possível porque herdamos dele as ferramentas da razão e da reflexão crítica. O desafio atual não é abandonar a razão, mas redefini-la. A filosofia contemporânea busca uma razão mais autocrítica e plural, capaz de dialogar com diferentes culturas e saberes, reconhecendo seus próprios limites.
Em vez de uma razão que domina, atualmente se busca uma razão que emancipa e reconcilia o humano com a diversidade e com a natureza. O projeto iluminista, portanto, não está encerrado: continua até hoje vivo em nossa tentativa de construir uma sociedade mais justa, livre e consciente, uma sociedade que ainda ousa saber.
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