Guerra da Bósnia: contexto histórico, causas e consequências

Guerra da Bósnia: contexto histórico, causas e consequências

A Guerra da Bósnia foi um conflito de caráter separatista, envolvendo diferentes etnias e territórios do leste europeu, no final do século XX. As batalhas são marcadas por uma violência indiscriminada, que resultaram em massacres e genocídios. 

Guerra da Bósnia: contexto histórico 

Para fundamentar o entendimento sobre a Guerra da Bósnia, é importante conhecer alguns eventos importantes relacionados com a formação e fragmentação da Iugoslávia.

O território da Iugoslávia, na península balcânica, abrigava povos de diferentes etnias e culturas, com o fator comum de serem eslavos. Eles foram dominados por impérios, como o Áustro-Húngaro e Otomano.

localização da Bósnia e Herzegovina
Localização da Bósnia e Herzegovina
Imagem: Reprodução/Google Maps

Com a derrota dessas potências na Primeira Guerra Mundial, formou-se a primeira união entre esses povos, o “Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos”. Em 1929, eles assumiram o nome de Iugoslávia.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o território foi invadido e a libertação foi alcançada após a intervenção do militar Josip Broz Tito. O soldado revolucionário assume o governo dos povos e implanta um regime ditatorial de origem comunista.

O autoritarismo continha as divergências culturais e religiosas entre os povos iugoslavos. Com a morte de Tito, em 1980, a coesão do país se perdeu e os movimentos separatistas se fortaleceram. 

Como consequência dos nacionalismos e diferenças culturais, a partir de então, a Iugoslávia foi dividida em diferentes regiões: Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia, Eslovênia e Kosovo.

Esse processo não aconteceu de maneira uniforme, como você pode observar:

O fortalecimento da teoria de autoafirmação de cada povo com sua cultura, religião, idioma e história veio acompanhada de teorias nacionalistas e ideais separatistas. Por exemplo, croatas e eslovenos perceberam que em grande parte do tempo os sérvios possuíam mais domínio sobre as decisões, o que criou uma tensão entre os grupos. 

Os sérvios que habitavam territórios da Croácia e Eslovênia posicionavam-se contrariamente à independência desses países. 

Então, o primeiro foco de guerra se iniciou em território esloveno, na chamada Guerra dos Dez Dias. Diante dessas batalhas, a Eslovênia conseguiu se consolidar como governo independente e autônomo, iniciando o processo de separação da Iugoslávia.

Na Croácia, o conflito foi mais intenso mas o resultado foi igual. Na mesma data em que a Eslovênia alcança sua independência, os croatas também conseguem êxito em sua luta separatista. Apesar disso, outros focos de batalhas se desenvolveram com os sérvios ao longo do tempo. 

A guerra da Bósnia e as etnias

Diante do cenário da Iugoslávia, observou-se, na Bósnia, uma forte influência da autodeterminação dos povos — cada comunidade etnico-cultural possui o direito de possuir seu próprio Estado.

O grande dilema era a diversidade étnica presente no território: número significativo tanto de bosníacos, como croatas e sérvios, o que favoreceu a tensão em meio aos seus limites geográficos.

De modo semelhante, a divergência cultural e religiosa tensiona ainda mais a situação: 

  • Os bósnios, em sua maioria, seguiam os ensinamentos de Maomé e Alah — eram muçulmanos;
  • Os croatas acreditavam no cristianismo católico; enquanto
  • Os sérvios seguiam a versão ortodoxa do ensinamento cristão.

Ao mesmo tempo, cada grupo defendia seus próprios interesses. Os sérvios eram contrários à fragmentação da Iugoslávia e lutavam pela formação de uma grande nação sérvia, ou seja, eram contra o posicionamento dos bósnios — que requeriam um estado independente e autônomo.

Por fim, os croatas gostariam que a região da Bósnia fosse anexada aos territórios da Croácia, que ainda lutava por sua independência. 

Enquanto tudo acontecia, os líderes sérvios Slobodan Milosevic e Radovan Karadzic fortaleciam a rivalidade violenta entre as etnias e pregavam a não separação da Bósnia. Do lado oposto, os governantes bósnios mostravam-se empenhados na autodeterminação e autoafirmação do território bosníaco.

Então, entre os anos de 1991 e 1992, tropas sérvias foram enviadas aos arredores de Sarajevo, capital da Bósnia e, como resultado das inquietações étnicas resultaram na Guerra da Sérvia e Bósnia, que iniciou-se em abril de 1992.

Acontecimentos na Guerra da Bósnia

O cerco de Sarajevo, anteriormente citado, foi favorecido pela geografia montanhosa da região, que permitia uma maior visibilidade e controle da capital da Bósnia. Durante esse período, o exército sérvio bombardeava ativamente o território, bem como bloqueava a chegada de suprimentos na cidade.

Sarajevo - onde ocorreu o cerco da Guerra da Bósnia
Imagem: Reprodução/Google Maps

A principal marca da guerra da Bósnia foi a tentativa de limpeza étnica implantada pelos sérvios: a ideia era massacrar qualquer grupo étnico que fosse a favor da separação. 

Relatos estadunidenses apontam para a criação de covas coletivas e assassinatos feitos em massa. Grupos armados invadiam as comunidades e realizavam massacres, resultando na fuga desesperada da população — como aconteceu no vilarejo bósnio de Srebrenica, onde cerca de 8 mil pessoas foram assassinadas.

Em diversas regiões do país, atiradores de elite, também chamados de snipers, foram contratados e orientados a atirar contra quaisquer indivíduos que circulassem nas ruas. Portanto, essa guerra étnica ultrapassou os limites de batalha entre grupos sociais e atingiu o terrível patamar de genocídio.

Para além dos povos da região, os russos apoiaram as teorias sérvias e fortaleceram seu exército. Parte do aparato militar também provinha do auxílio oferecido pelo governo iugoslavo.

Diante desse cenário, os bosníacos contaram com tropas enviadas de países muçulmanos, como defesa cultural. No contexto mundial, ocorria uma pressão contrária ao posicionamento da Sérvia.

Consequências e fim da guerra

A guerra se findou quando foi assinado o Acordo de Dayton pelos sérvios, que tinham sua capital ameaçada. Assim, na cidade de Paris, em 14 de novembro de 1995 (aproximadamente 3 anos e meio depois do início da guerra), o armistício foi aceito. 

Com isso, a Bósnia-Herzegovina foi dividida em duas diferentes formas de organização: uma que estivesse sobre o domínio dos sérvios e outra para os de origem croata ou bósnia.

O principal desgaste causado pela Guerra da Bósnia foi o caráter humano: estima-se que mais de 200 mil vidas se perderam em meio às batalhas e aos massacres. Com isso, o ressentimento e a indignação se perpetuaram entre as etnias por longos períodos de tempo.

Alguns dos responsáveis pelos crimes de guerra (genocídios e carnificinas) foram condenados. A exemplo de Radovan Karadzic que foi sentenciado a 40 anos de prisão.

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