Reforma agrária no Brasil: contexto histórico e debate

Reforma agrária no Brasil: contexto histórico e debate

Os países que passaram por um processo de colonização com grande exploração agrícola vivenciam, em algum momento de suas histórias, um debate acerca da divisão de terras. No território brasileiro, o período de exploração portuguesa foi marcado por grandes latifúndios e esse é um dos principais tópicos quando o tema é reforma agrária no Brasil.

Neste artigo, conheça mais sobre o contexto histórico brasileiro do ponto de vista agrário, além de aprender os principais argumentos levantados nesse debate, do ponto de vista favorável e desfavorável. Ao final, veja como esse tema pode ser cobrado nos vestibulares nacionais, com exemplo de questões com resolução. 

Conceito de reforma agrária

A reforma agrária pode ser compreendida como o objetivo de um movimento político-social em favor de maior igualdade e equidade na divisão das terras em um determinado Estado. As propostas levantadas em um processo de reforma agrária alteram radicalmente as bases das sociedades, principalmente nas regiões em que a agropecuária tem um papel central.

Um exemplo clássico em que o tema é debatido é o Brasil, um dos principais agroexportadores do mundo, em que grande parte da economia depende de commodities agrícolas e atividades de agronegócio para sobreviver. Então, a questão da reforma agrária apresenta diferentes argumentos prós e contras ao processo. 

Alguns países do mundo já passaram por essa etapa de redistribuição de terras, com uma reorganização fundiária. Entre eles estão Estados Unidos das Américas, Cuba, Japão, China e Vietnã e todos viveram, em maior ou menor grau, as consequências negativas e positivas dessa decisão. 

Contexto histórico-agrário no Brasil 

Colonização

A colonização brasileira, iniciada pelos portugueses ainda no século XVI, foi marcada principalmente pela exploração de recursos naturais, como os minerais e o aproveitamento do solo para a agricultura. 

A primeira forma de exploração adotada pelos portugueses foram as capitanias hereditárias, que dividiam a colônia em 14 porções, as quais eram comandadas, cada uma, por um capitão. Essa figura deveria prestar contas de suas produções e lucratividades naquela região. 

Esse projeto não deu certo e, então, pouco a pouco, a posse de terras começou a ser dependente da influência política e econômica do indivíduo. Gradativamente, as maiores propriedades estavam sob domínio das figuras mais influentes.Diante disso, grandes latifúndios se formaram ao longo do território brasileiro, primeiramente nas regiões litorâneas e depois esse padrão se expandiu para outros pontos do país. 

Inclusive, o modelo de colonização adotado é conhecido como plantation, em que há grandes propriedades de terra (latifúndios), a plantação é de apenas um tipo de alimento (monocultura) e o destino dos produtos agrícolas é, majoritariamente, a exportação.

Século XIX

Esse padrão fundiário se manteve no Brasil durante muito tempo, até que em 1850 o tráfico negreiro foi amplamente dificultado, por intervenções cada vez mais incisivas da Inglaterra capitalista. Sabe-se que o comércio de pessoas escravizadas da África movimentou a economia do Brasil, em partes. Então, com a proibição de 1850, foi necessário criar um novo meio para o fomento econômico. 

A primeira alternativa para os grandes latifundiários era aumentar seu potencial agrícola, explorando o máximo possível de suas terras, e produzindo mais em menos tempo. Até que, ainda em 1850, foi escrita a Lei de Terras.

Essa legislação tem uma relevância para a organização fundiária do Brasil, porque a forma em que foi redigida favorecia que grandes latifundiários tivessem acesso à compra de mais e mais terras. Enquanto isso, os ex-escravizados recém libertos eram gradativamente afastados da possibilidade de possuir uma terra. 

Com isso, o Segundo Reinado foi um momento de fortalecimento do modelo latifundiário, com acentuação da desigualdade social, característica do capitalismo que se desenvolvia na região naquela época. 

Movimentos sociais para a reforma agrária

A reforma agrária é um tema de grande importância política e existem diversos posicionamentos. Independentemente de ser a favor ou contra o assunto, é necessário estar à par dos argumentos favoráveis e contrários, para que haja uma consciência crítica e cidadã. 

Durante o século XX, mesmo em meio a Ditadura Militar, camponeses brasileiros lutavam contra a concentração de terras. Alguns anos depois, após os períodos de censura mais intensa, surgiu um movimento social organizado chamado de Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST).

Os grupos favoráveis à reforma agrária no Brasil argumentam a respeito da fome, falta de moradia, desemprego e altos preços de alimentos que cercam o cotidiano brasileiro. Propõem que com a divisão fundiária, mais pessoas teriam onde plantar para sua própria subsistência e para o suprimento da população interna, assim os produtos agrícolas teriam uma função de manter a vida dessas famílias, ao mesmo tempo em que reduziria os altos preços dos alimentos e contribuiria para o crescimento da economia brasileira. 

Ao observar essas motivações, a atitude estatal mais notável em relação ao tema foi durante a redação da Constituição de 1988. Nela, foi definido um artigo que permite a reforma agrária em propriedades que sejam improdutivas. 

A partir de então, pessoas agregadas ao Movimento Sem-Terra assumiram a lei de maneira radical e passaram a ocupar propriedades paradas. Entretanto, o artigo da constituição que versa sobre o tema não delimitou critérios para determinar se uma terra é ou não produtiva. Atualmente, esse assunto ainda é um problema em diferentes pontos do país, uma vez que há um embate entre o que está escrito, entre os proprietários e entre os revolucionários. 

Por vezes, a postura assumida pelos acampamentos do MST são vistas pela imprensa e sociedade como ações ofensivas, como “invasão” e desrespeito à propriedade privada. E esse é o principal ponto defendido pelos grupos que são contrários à reforma agrária, defensores do capitalismo e meritocracia que regem a sociedade ocidental atual.

De fato, a reforma agrária no Brasil é um tópico complexo que abrange desigualdade, propriedade privada, liberdade de expressão, liberdade de posse, sobrevivência, política, economia, valores morais, éticos e também sociais.

Questão sobre reforma agrária no Brasil

Fuvest 2022

“Reforma Agrária não é mera redistribuição de terras. Trata-se de um processo amplo de mudanças que passa pelo campo político, social, técnico e econômico. Essencialmente visa a transferir a propriedade da terra de minorias latifundiárias para pequenos agricultores e trabalhadores agrícolas, objetivando o alcance de uma igualdade social maior, de melhor distribuição do poder político e de melhorias de ordem econômica”.

Gaspar, Lúcia. Reforma Agrária no Brasil. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>

De acordo com a questão agrária no Brasil, assinale a alternativa incorreta:

A) No Brasil, a estrutura fundiária é altamente concentradora. Pouca gente tem muita terra, muitos têm pouca terra e uma massa enorme de trabalhadores rurais não tem terra. Essa concentração é histórica.

B) As capitanias hereditárias deram origem ao latifúndio e, consequentemente, à desigualdade social. Desde o início da colonização, o espaço agrário brasileiro foi transformado para atender ao mercado internacional.

C) A implantação da cana-de-açúcar no Nordeste implicou a doação de sesmarias (terras para exploração, desde o século XVI até 1822). Nessa época, os poucos trabalhadores livres estavam vinculados aos engenhos.

D) Em 1850 foi estabelecida a Lei de Terras, que constituía a compra como única forma de acesso à terra. Quem já estava nela, recebia o título de proprietário, no entanto, deveria residir e produzir no solo em que se encontrava. Essa medida favoreceu especialmente os pequenos produtores que estavam interessados em desenvolver a plantation e concentrar o poder político em suas mãos.

E) No início do século XX, a economia brasileira era majoritariamente agroexportadora com uma estrutura fundiária ainda altamente concentradora, isso gerou manifestações, revoltas e pressões de trabalhadores rurais. Com a Revolução de 1930, a oligarquia rural ficou enfraquecida, gerando movimentos sociais no campo e lutas políticas dos trabalhadores rurais.

A Lei de Terras favoreceu, principalmente, os barões do café, grandes latifundiários que tinham poder de compra.

Alternativa correta: D

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