Com o final do governo Campos Sales, o quarto da chamada República Velha, o paulista Rodrigues Alves assume a Presidência da República, em 15 de novembro de 1902.
Naquele contexto, o cenário da capital federal era preenchido tanto por ricos casarões dos barões do café e da burguesia comercial quanto por velhos cortiços, casebres onde viviam amontoadas famílias pobres de imigrantes, ex-escravos e brasileiros vindos de várias partes do país.
A população saltara de aproximadamente 275 mil pessoas em 1872 para mais de 691 mil em 1900, o que trazia consequências na dinâmica das relações sociais da cidade.
A urbanização vinha para ficar, mas cidades como Rio de Janeiro e São Paulo nem de longe se encaixavam no inalcançável padrão dos centros urbanos europeus.
Em meados do século XIX, o imperador francês Napoleão III encarregou o barão Georges-Eugène Haussmann de promover uma grande reforma urbana em Paris, tarefa que se estendeu por 20 anos.
Milhares de prédios históricos foram demolidos para dar lugar a 34 mil novas construções em estilo neoclássico; ruas irregulares foram substituídas por amplos bulevares; sistemas de iluminação e esgoto foram instalados.
A capital francesa se tornava o modelo civilizacional do mundo, símbolo de um período conhecido como A Belle Époque – em francês, bela época.
Tomando como base a experiência parisiense, o governo Rodrigues Alves (1902-1904) formou uma equipe voltada à promoção de três grandes metas: modernizar a região portuária, sanear a cidade e realizar uma reforma urbana.
Com isso, o período em que esteve no poder ficou conhecido como Regeneração. Para aplicar seu projeto de modernização, o presidente delegou os engenheiros Laura Muller e Pereira Passos, e o médico sanitarista Oswaldo Cruz.
Nomeado prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos deu início a uma política que ficou conhecida como “bota-abaixo”: cortiços foram destruídos para dar lugar a largas avenidas, com majestosos edifícios, belos jardins e praças arborizadas.
Nesse processo de embelezamento da cidade, nossa “Belle Époque”, a população empobrecida que habitava o centro foi expulsa de suas casas, sendo obrigada a se instalar nas periferias da cidade. Com isso, as favelas ganhavam a paisagem dos entornos do Rio de Janeiro, onde os trabalhadores viviam em péssimas condições de vida.
Enquanto o prefeito Pereira Passos se encarregava da modernização da região central, uma reforma sanitária também foi aplicada na cidade pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz.
A medida se fazia extremamente necessária, afinal a população carioca era alvo de constantes surtos de doenças epidêmicas, em especial a febre amarela, a varíola (apelidada na época de “bexiga”) e a peste bubônica.
Para se ter uma ideia, somente no ano de 1904 mais de 4 mil pessoas morreram em decorrência da varíola. Contrariando a tese vigente de que a febre amarela era transmitida através do contato com secreções de doentes, Oswaldo Cruz defendeu que o transmissor da moléstia era, na verdade, um mosquito.
Com isso, deu início ao combate do vetor da doença pelas casas, jardins e ruas do Rio de Janeiro, buscando exterminar os focos de insetos por meio de suas brigadas sanitárias. Também incentivou a população a matar os ratos que encontrassem, afinal era sabido que estavam relacionados com a disseminação da peste bubônica.
A cidade era higienizada, mas os métodos empregados não eram lá muito amigáveis, afinal essas brigadas “mata-mosquito” costumavam ser acompanhadas de forças policiais, que não raro forçavam a população a receber os agentes de saúde pública.
O prefeito Pereira Passos, em sua ânsia para modernizar a capital, implantou outras medidas que afetaram drasticamente o cotidiano das populações mais pobres.
Proibiu-se a existência de vacas leiteiras ou cães vadios pelas ruas, a mendicância, o cultivo de hortas, a criação de porcos e a venda de bilhetes de loteria por ambulantes.
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A Revolta da Vacina
Em outubro de 1904, o Congresso aprovou um projeto que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola. Panfletos e jornais passaram a denunciar a medida como autoritária, e a insatisfação contra o governo foi alimentada por monarquistas e florianistas.
Para as camadas baixas da população, o projeto era uma medida que violava seus direitos, afinal ele permitia que agentes de saúde entrassem nas residências para vacinar compulsoriamente seus habitantes – inclusive mulheres desacompanhadas de seus maridos.
Entre os dias 11 e 16, populares foram para as ruas acompanhados de comerciantes, operários, estudantes e militares para protestar contra o governo, enfrentando a polícia com barricadas e incendiando bondes.
Um dos nomes políticos que tentou encabeçar os insurgentes foi Lauro Sodré, candidato florianista derrotado por Prudente de Morais na eleição de 1897.
Ele chegou a insuflar os militares para tomarem o Palácio do Catete, mas foram detidos por tropas do governo. Para conter os revoltosos, batalhões de Minas e São Paulo foram enviados para a capital.
O governo suspendeu a obrigatoriedade da vacina, mas também promoveu uma dura repressão aos rebeldes. Quinhentos participantes da Revolta da Vacina foram deportados, outros mil presos, e trinta foram mortos.
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