De acordo com o artigo 42 da Constituição de 1891, em caso de vacância da Presidência, o vice-presidente (na época Floriano Peixoto) só poderia sucedê-lo caso isso ocorresse após dois anos de mandato. Caso contrário, novas eleições deveriam ser convocadas.
Como o governo constitucional de Deodoro da Fonseca se iniciara em novembro de 1891, pela lei era esperado que fosse legado aos cidadãos o direito de escolha do novo mandatário da República. Contudo, não foi isso que aconteceu.
Apoiado por militares adversários do ex-presidente e por políticos de São Paulo, Floriano Peixoto ascendeu à presidência em 1891. Logo, o marechal substituiu deodoristas do governo federal e dos governos estaduais por aliados, o que o permitiu dar início a um governo forte e centralizado.
Na economia, Floriano buscou reverter os prejuízos da política de Encilhamento, proibindo as instituições bancárias de emitirem dinheiro, que passa a ser uma atribuição do governo central. Também foram adotadas medidas industrializantes, facilitando o crédito para empresários e para a importação de maquinário.
Isso criou atritos com os cafeicultores, defensores de uma política econômica voltada para a exportação de seu principal produto. Para os grupos urbanos situados na capital, o marechal baixou o preço da carne e de outros produtos básicos, além de reduzir o valor dos aluguéis e incentivar a construção de moradias populares.
Isso permitiu ao presidente desfrutar de grande prestígio no Rio de Janeiro, sendo a primeira liderança republicana a dar origem a um fenômeno político, o florianismo.
Grande parte de seus apoiadores eram membros da corrente jacobina, que manifestavam sua admiração ao presidente nos jornais e nas ruas. Para eles, Floriano era o “Salvador da República”, ou mesmo o “Robespierre brasileiro” – em referência a Revolução Francesa.
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Floriano Peixoto
A Revolução Federalista e a Revolta da Armada
Ao mesmo tempo que gozava de grande prestígio entre as classes urbanas da capital federal, Floriano Peixoto era considerado autoritário devido ao duro trato legado aos seus inimigos.
Em 1892, quando militares se organizaram para exigir o retorno de Deodoro na cidade de Niterói, o movimento não chegou a durar 24 horas, pois 13 revoltosos foram executados.
Outro a sofrer a cólera de Floriano foi José do Patrocínio, antigo abolicionista e forte crítico do governo. Acusado de conspiração devido aos seus posicionamentos, o “Tigre de Abolição” foi preso e condenado ao desterro em Cucuí, no Amazonas.
No Rio Grande do Sul, uma disputa pelo governo estadual entre elites regionais acabou ganhando grandes proporções durante o governo Floriano Peixoto.
Após a posse do presidente, em novembro de 1891, Júlio de Castilhos, que ocupava o governo do Rio Grande do Sul, foi deposto por não se posicionar favorável ao novo chefe do poder central, sendo substituído por republicanos de tendência liberal.
A crise política continuou, e outros dois presidentes de estado foram destituídos; o último deles derrubado por Júlio de Castilhos, que reassume o governo do Rio Grande do Sul. Em fevereiro de 1893, foi a vez de Gaspar Silveira Martins, chefe do Partido Federalista, insurgir-se contra o novo mandatário do estado, iniciando um movimento que ficou conhecido como Revolução Federalista.
Os maragatos e os pica-paus
Para resumir o conflito travado naquele período, podemos dividir os atores políticos em dois grupos:
- os maragatos, apelido dado aos partidários de Gaspar Silveira Martins, defendiam o parlamentarismo como sistema de governo, e a revogação da Constituição do Estado pelo fato de permitir a reeleição do presidente da província por sucessivos mandatos. Esta ala também recebeu apoio dos monarquistas gaúchos.
- os pica-paus, nome dado aos castilhistas do Partido Republicano Rio-Grandense, eram adeptos das ideias positivistas e do presidencialismo como sistema de governo, e possuíam o apoio do governo de Floriano Peixoto.
Cabe destacar que os dois grupos eram liderados por políticos favoráveis à República como forma de governo, mas divergiam quanto ao melhor sistema de governo para o país.
A disputa pelo poder entre pica-paus e maragatos descambou para uma sangrenta guerra civil, na qual se estima que 10.000 combatentes foram mortos. A grande peculiaridade deste conflito foi o largo uso da degola – chamada de “gravata-vermelha” – para a execução dos adversários: acredita-se que pelo menos 1.000 pessoas tiveram suas carótidas rasgadas a facadas.
Enquanto o solo rio-grandense era salpicado de sangue, no Rio de Janeiro o almirante Custódio José de Melo deu início a Revolta da Armada, na qual se exigia a renúncia de Floriano e a convocação de novas eleições. Os revoltosos da Marinha bombardeavam o Rio de Janeiro e Niterói, o que por vezes causava a morte de vários civis.
Com a adesão de setores monarquistas ao movimento, tanto o governo quanto jornais florianistas consideravam a Revolta da Armada uma ameaça à República.
Diante das revoltas simultâneas, Floriano Peixoto decretou estado de sítio (suspensão temporária dos direitos e garantias individuais dos cidadãos pelo Poder Executivo, diante de uma situação de grave desordem pública).
Prendeu suspeitos de conspiração contra a República, empastelou jornais e transferiu a capital momentaneamente para Petrópolis, a fim de refugiar-se dos ataques dos bombardeios.
O apoio naval dos Estados Unidos permitiu a Floriano Peixoto obter certa vantagem sobre os rebeldes da Marinha. Em novembro de 1893, Custódio encaminhou embarcações para o sul, a fim de juntar-se aos maragatos, mas estas foram torpedeadas.
A Revolução Federalista também alcançou Santa Catarina, decretando Desterro como a sede dos maragatos e marinheiros contrários ao governo central.
Com apoio dos militares e políticos daquele estado, Floriano Peixoto conseguiu prender e executar vários revoltosos, o que levou suas elites regionais a alterarem o nome da capital para Florianópolis – uma humilhação a mais para os maragatos.
A dura repressão imposta aos revoltosos fez com que Floriano se tornasse conhecido como o “Marechal de Ferro”. Derrotadas as duas revoltas, as eleições presidenciais ocorreram normalmente em março de 1894, quando o candidato dos cafeicultores paulistas, Prudente de Morais, venceu com ampla vantagem Lauro Sodré, representante dos florianistas.
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