A África é um continente diverso, com imensa riqueza cultural e contribuições nos mais variados campos artísticos. As literaturas africanas em Língua Portuguesa são uma forma de conhecer, dentro da nossa linguagem nativa, características específicas da escrita africana.
Neste resumo, encontre as principais obras e autores da literatura africana, bem como os aspectos culturais, linguísticos e sociais que tendem a aparecer nessas obras. Ainda, reconheça a importância dos escritos africanos em Língua Portuguesa. Vamos lá!
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Origens da literatura africana em Língua Portuguesa
Historicamente, os continentes mais explorados pela Europa são América, Ásia e África. Diante disso, muitas regiões intercontinentais compartilham vivências semelhantes, porque tiveram uma colonização parecida.
Diante disso, a literatura africana em Língua Portuguesa só existe porque alguns países do continente também foram colonizados por Portugal. Diante disso, o português tornou-se a linguagem principal da região. Assim, a possibilidade de comunicação entre o Brasil e essas nações é facilitada, assim como o trânsito de informações culturais e científicas.
Atualmente, os países falantes da língua são Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau. Em termos históricos, eles também precisaram romper os laços coloniais, então também possuem uma cronologia de colonialismo, pré-independência e independência propriamente dita.
Características da literatura africana em Língua Portuguesa
A África é um continente diverso, com diferentes aspectos culturais distribuídos pelos países. Então, a literatura também representa essa heterogeneidade, com contextos históricos diferentes, origens coloniais variadas, origem tribal diversificada, entre outros aspectos.
Como foi mencionado, para os escritos em Língua Portuguesa, o principal fator de unificação são as semelhanças coloniais. Ao mesmo tempo, como eles foram produzidos em cinco países diferentes, as características também podem variar de acordo com a cultura de cada região.
Período colonial
No geral, as fases históricas estão intimamente ligadas aos temas de escrita. De forma que, durante a colonização, os autores africanos voltavam-se para a cultura clássica, preocupação formal e estética.
Havia elementos que incorporaram a cultura africana no contexto literário, mas com pouco enfoque. Na verdade, como os escritos foram influenciados pela cultura europeia, existem indícios de alienação cultural e nacional.
Veja também: Pacto colonial: contexto histórico e definições
Período pré-independência
Quando a população desses países começaram a notar seu poder de transformação e libertação das rédeas portuguesas, a literatura tornou-se mais nacionalistas, com discursos contra o colonialismo. É o período conhecido como pré-independência.
Historicamente, a colonização é um processo de aculturação dos povos nativos. Então, é notório que os autores dessa época também valorizavam os traços culturais únicos da cultura de cada país, como forma de reforçar e afirmar a identidade nacional, para resistir à dominação colonial.
Ao mesmo tempo, há uma busca por apresentar a realidade da forma como ela ocorria, até mesmo para expressar os eventos desagradáveis que ocorriam no continente, especialmente nos países colonizados pelos portugueses.
Período pós-independência
Depois de diferentes processos de independência nos cinco países, a literatura africana em Língua Portuguesa adentra o período de pós-independência. Agora, os escritos voltam ainda mais para a valorização africana, da identidade cultural, dos valores ancestrais, dos idiomas nativos, da linguagem oral e outros aspectos que caracterizam o “ser africano”.
Observa-se, ainda, uma abertura para a discussão de temas raciais e da diferença de gênero, com fortalecimento do feminismo. Agora, a liberdade de expressão, a possibilidade de discorrer sobre diferentes temas e experimentar novas formas de escrita toma conta da literatura africana.
Importância da literatura africana em Língua Portuguesa
A Literatura, por si só, consegue transmitir aspectos culturais e históricos com riqueza de propriedade. Quando bem estudadas e analisadas, as obras refletem as ideias que circulavam na academia e na população da época.
Então, assim como outras artes, a literatura africana reflete a ancestralidade, a transformação cultural, as lutas e dificuldades enfrentadas por um povo. Note que, diante disso, como a Língua Portuguesa está presente em cinco diferentes países, haverão características únicas em cada território, que podem ser estudadas por meio das obras produzidas ali.
Em termos históricos, o continente africano e os afro-descendentes foram severamente discriminados, especialmente devido ao eurocentrismo. Por isso, a propagação da cultura da África é relevante para reconstruir os valores africanos e criar identificação histórica para as populações originadas dessas etnias.
Ao mesmo tempo, por compartilhar a Língua Portuguesa, a literatura africana pode atingir África, América e Europa ao mesmo tempo. Ou seja, tornam-se escritos transcontinentais, que podem levar informações valiosas para diferentes partes do mundo, tornando a identidade negra mais respeitada e valorizada.
Principais autores da literatura africana
Angola | São Tomé e Príncipe | Moçambique | Guiné-Bissau | Cabo Verde |
Pepetela (1941-) | Francisco Tenreiro (1921-1963) | Mia Couto (1955-) | Abdulai Sila (1958-) | Baltasar Lopes (1907-1989) |
Manuel Rui (1941-) | Alda do Espírito Santo (1926-2010) | Paulina Chiziane (1955-) | Filinto de Barros (1942-) | Orlanda Amarílis (1924-2014) |
Oscar Ribas (1909-2004) | Conceição Lima (1961-) | Eduardo White (1963-2014) | – | Manuel Lopes (1907-2005) |
Agostinho Neto (1922-1979) | Caetano da Costa Alegre (1864-1890) | José Craveirinha (1922-2003) | – | Corsino Fortes (1933-2015) |
Principais obras da literatura africana
Abaixo você encontra um trecho de algumas obras da literatura africana em Língua Portuguesa!
“O rio Lombe brilhava na vegetação densa. Vinte vezes o tinham atravessado. Teoria, o professor, tinha escorregado numa pedra e esfolara profundamente o joelho. O Comandante dissera a Teoria para voltar à Base, acompanhado de um guerrilheiro. O professor, fazendo uma careta, respondera:
— Somos dezasseis. Ficaremos catorze.”
Mayombe (1979), de Pepetela — obra pós-independência
Flores
Ninguém
oferece flores.
A flor,
em sua fugaz existência,
já é oferenda.
Talvez, alguém,
de amor,
se ofereça em flor.
Mas só a semente
oferece flores.
Mia Couto — escritor pré e pós-independência
“Ainda esquecera a bofetada que lhe
dera um dia quando o gato comeu uma posta de peixe […] às vezes insultava,
chamava nomes feios, palavras que ela não entendia”
A última tragédia, Abdulai Sila — obra pós-independência
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Questão de vestibular
FUVEST – 2017
O Comissário apertou lhe mais a mão, querendo transmitir lhe o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo esvaía se para o solo do Mayombe, misturando se às folhas em decomposição.
[…]Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse. Os lábios já mal se moviam.
A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca se do sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem dele mistura se à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde se na massa. Tal o homem. As impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde predominante faz esbater progressivamente a claridade do tronco da amoreira gigante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o tronco da amoreira ainda se afirma, debatendo se. Tal é a vida.
[…]Os olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando o tronco já invisível do gigante que para sempre desaparecera no seu elemento verde.
Pepetela, Mayombe.
Consideradas no âmbito dos valores que são postos em jogo em Mayombe, as relações entre a árvore e a floresta, tal como concebidas e expressas no excerto, ensejam a valorização de uma conduta que corresponde à da personagem
a) João Romão, de O cortiço, observadas as relações que estabelece com a comunidade dos encortiçados.
b) Jacinto, de A cidade e as serras, tendo em vista suas práticas de beneficência junto aos pobres de Paris.
c) Fabiano, de Vidas secas, na medida em que ele se integrava na comunidade dos sertanejos, seus iguais e vizinhos.
d) Pedro Bala, de Capitães da Areia, em especial ao completar sua trajetória de politização.
e) Augusto Matraga, do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, na sua fase inicial, quando era o valentão do lugar.
Gabarito: letra D.
Da mesma forma que em Mayombe, o Comissário Político, líder dos revoltosos, evolui politicamente sob o comando do MPLA, também Pedro Bala, líder do grupo de meninos de rua, sofre a mesma evolução ao optar pela luta revolucionária.
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