Pré-história brasileira: características e modos de vida 

Pré-história brasileira: características e modos de vida 

A pré-história brasileira é considerada, pelos historiadores, como o período anterior à chegada dos europeus no território, por isso também pode ser chamada de era pré-cabralina. É marcada pela presença dos povos originários, como os indígenas e suas formas de cultura, organização política e social. 

Sítios arqueológicos apontam que o espaço geográfico que hoje pertence à nação brasileira foi habitado há cerca de 12 mil anos. Então, muitas transformações, evoluções e civilizações ocorreram ao longo da pré-história brasileira. Continue lendo para conhecer mais sobre esse período histórico. 

Pré-história brasileira e suas origens

A chegada dos povos originários

Atualmente, as proposições mais aceitas pela ciência sugerem que a humanidade iniciou-se no continente africano e, a partir disso, as outras regiões da Terra foram povoadas. Então, todos os grupos e civilizações da pré-história brasileira são descendentes africanos. 

Inicialmente, nos primórdios da pré-história, a espécie humana não tinha habilidades suficientes para se estabelecer em um só ambiente, então era necessário mover-se a cada vez que os recursos naturais de uma região se esgotassem. 

Por exemplo, se todos os frutos de uma árvore fossem devorados, não existiam técnicas para preservar o alimento, então, era necessário esperar a próxima estação frutífera para comer novamente aquele conteúdo. Assim, os povos eram nômades e se espalharam ao redor do planeta. 

O domínio sobre o fogo e os conhecimentos sobre caça, coleta, pesca e, principalmente, agricultura, foram cruciais para que os povos humanos se fixassem em uma única região, sem tantas mudanças ao longo do tempo — acredita-se que a maior parte dos sítios arqueológicos encontrados no Brasil são desse contexto de fixação dos povos após aquisição de novas capacidades.

Vestígios arqueológicos da pré-história brasileira

O Brasil é um país com importantes riquezas arqueológicas, que conferem um panorama histórico não somente a respeito dessa região, como também de outras partes da América que estão próximas geograficamente.

Em termos cronológicos, um dos vestígios arqueológicos mais antigos encontrados na região data de mais de 40 mil anos atrás. São ferramentas rudimentares que apontam a existência de civilizações com algumas habilidades manuais para a sobrevivência, bem como tinham o domínio sobre o fogo. 

Aponta-se que, por muitos anos, o território brasileiro foi ocupado por povos caçadores e coletores, que estavam espalhados pelo espaço, ao explorar as riquezas naturais dos diferentes biomas. 

As pinturas rupestres encontradas no Nordeste, com destaque para os materiais encontrados nas cavernas do Piauí, hoje preservadas pelo Parque Nacional da Serra da Capivara, são um marco desses povos caçadores-coletores da pré-história brasileira. 

As atividades empenhadas pelos homens há milhares de anos foram aprimoradas e utilizadas por civilizações mais novas. Acredita-se que o uso de arco e flecha teve início há mais de 20 mil anos, em uma tradição conhecida como “homens de umbu”, grupos caçadores que habitavam as regiões que hoje correspondem ao Rio Grande do Sul (Brasil), à Argentina e ao Uruguai.

O famoso fóssil de “Luzia”, um crânio encontrado na região de Minas Gerais, é muito antigo, com mais de 10 mil anos de existência — inclusive, assume a posição de fóssil mais antigo encontrado nas Américas. 

Em um tempo histórico mais recente, cerca de 6 mil anos atrás, existiram os povos litorâneos, aos quais se atribui a construção dos sambaquis. Eles dependiam majoritariamente do mar para sua alimentação, com peixes, moluscos e crustáceos que garantiam sua sobrevivência. 

Os restos alimentares, como conchas e outras partes dos animais eram descartados em locais específicos, que formam estruturas que hoje são denominadas sambaquis. Esses vestígios arqueológicos apontam que os povos de sambaqui eram sedentários, ou seja, se estabeleceram em uma região por longos períodos de tempo. 

Povos agricultores

Na evolução da espécie humana, então, a habilidade mais relevante para a fixação do homem no território era a agricultura. Nesse sentido, os indígenas são os mais notados na pré-história brasileira, com as técnicas de manejo da terra, sementes e plantas, puderam criar tribos e grupos para a sobrevivência em uma mesma região.

Quando um povo se concentrava em um mesmo espaço geográfico, as oportunidades para o nascimento das civilizações eram mais concretas: há um grupo de pessoas reunidas, há necessidade de organizar a vida e as tarefas, os recursos precisam ser partilhados e assim sucessivamente. 

Nesse contexto é que nascem as tribos indígenas, com organização religiosa e social, divisão de tarefas, costumes, culinária típica, linguagens específicas, crenças e até mesmo com técnicas medicinais para sobreviver às diferentes lesões ou doenças que pudessem surgir. 

O termo pré-história brasileira

Atualmente, o termo “pré-história” é questionado em diversos contextos, porque ele foi criado a partir de um contexto eurocêntrico. O argumento daqueles que se opõem à nomenclatura é que, nessa conformação, transmite-se a ideia de que a História só teria iniciado a partir do crescimento de uma população europeia e da escrita.

Entretanto, atualmente, entende-se que o valor histórico de um povo vai além de sua capacidade de escrita e não diz respeito a um único estilo de vida ou estilo de civilização. 

Diante disso, é preferível denominar a pré-história brasileira de “período pré-cabralino”. Assim, preserva-se a identidade, cultura, rituais e valores dos povos originários, entre indígenas, afrodescendentes e outras etnias que construíram vivências diversas no território, antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral.

+ Veja também: Arte indígena na pré-história: como era e fatores históricos

Questão de vestibular sobre a pré-história brasileira

Fuvest 2022

pré-história brasileira - Luzia
Cópia do busto de Luzia encontrada na USP Duda Teixeira/VEJA
Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/museu-nacional-abrigava-fossil-luzia-esqueleto-mais- antigo-das-americas/.
Acesso em 12 set. 2021.

Nos últimos anos, novas descobertas arqueológicas, como o esqueleto de Luzia em Minas Gerais, têm servido de provas convincentes para

A) indicar que a ocupação da América é mais antiga do que se supunha e que houve várias ondas migratórias de origens diversas.
B) constatar que a migração pelo Estreito de Bering é o mais antigo deslocamento de grupos humanos que resultou na ocupação do continente americano.
C) concluir que a ocupação do continente Americano é relativamente recente, não sendo anterior a cerca de cinco mil anos atrás.
D) interpretar que a vida dos grupos humanos durante o Pleistoceno era marcada pelo sedentarismo, agricultura e sociedades altamente hierarquizadas.
E) demonstrar que as culturas humanas do Holoceno eram nômades, compostas por caçadores-coletores e marcadas por um sensível crescimento demográfico.

Resposta

Esta é uma questão sobre a ocupação do continente americano durante o período pré-histórico. Em outras palavras, trata das teorias sobre a chegada dos primeiros grupos humanos à América. Sobre isso, há três grandes teorias mais aceitas pelos pesquisadores: a teoria de Clóvis, que destaca a migração de grupos asiáticos pelo estreito de Bering para a América de Norte, entre 15 mil e 12 mil anos atrás; a teoria das navegações pelo Oceano Pacífico, vindas da Oceania para a América do Sul, cerca de 14 mil anos atrás; e a hipótese do pesquisadores brasileiro Walter Neves, de que é provável que houve mais de um migração para a América, vindas de lugares diferentes, com populações diversas para variados pontos do continente. Por seu turno, o esqueleto de Luzia é o fóssil humano mais antigo encontrado em território brasileiro. Foi encontrado em Minas Gerais, na região de Lagoa Santa. Um grupo de arqueólogos brasileiros e franceses foi responsável pela descoberta, em 1975. Contudo, não época não foi possível datar a ossada. Walter Neves obteve a resposta anos depois, demonstrando que Luzia tinha vivido a 11.500 anos atrás, muito mais tempo do que imaginava-se, o que elucida que a ocupação humana na América é mais antiga do que era proposto.

As alternativas que citam os períodos geológicos estão erradas porque:

  • O Pleistoceno é o período geológico abarcado entre 1,8 milhão e 12 mil anos atrás. Nessa época ocorreram as glaciações e o clima era mais frio e seco. Havia fauna abundante, o que possibilitava a caça de pequeno e médio porte. Nessa época, a América também era habitada pela megafauna, composta por grandes animais, como a famosa preguiça-gigante. Nas culturas humanas dessa época, os grupos eram nômades e mais ou menos coesos. Eles reuniam um número pequeno de membros, refugiando-se em cavernas e abrigos sob rochas no topo de colinas ou perto de rios quando necessário. Sítios arqueológicos contendo vestígios desse período, no Brasil, estão localizados em Minas Gerais, Goiás, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte; e 
  • O Holoceno é o período geológico demarcado entre 12 mil anos atrás até hoje. Costumamos dividi-lo em duas fases, a pré-cerâmica (12 mil-5 mil anos atrás) e a ceramista (a partir de 5 mil anos atrás). O principal critério dessa divisão é a presença da produção cerâmica, considerada uma evolução tecnológica muito relevante. De qualquer forma, todo o Holoceno é caracterizado pelo domínio da agricultura, o que possibilitou o crescimento da população. Além disso, esses fatores fizeram com que alguns grupos se tornassem sedentários, isto é, fixassem-se nos locais para manter e armazenar a produção agrícola. Esta nova forma de organização social acarretou em mudanças nas atividades econômicas e no nível tecnológico desses grupos. Luzia parece ser de um momento de transição entre as culturas do Pleistoceno e do Holoceno, pois, apesar de ser datada deste último, os demais vestígios encontrados com ela sugerem que ela fazia parte de um grupo nômade. No entanto, não é improvável que modos de vida do Pleistoceno tenham persistido durante o Holoceno em alguns grupos e regiões.

    Alternativa correta: A. 

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