O barroco foi um movimento do século XVI, que tinha grande influência da Igreja e dos movimentos intelectuais comuns à época. Nesse período, as obras de arte e as obras literárias expressam a dualidade entre materialismo e espiritualidade, racionalidade e irracionalidade, algo que também era transmitido na estrutura dos textos e cores das pinturas.
Neste artigo, você conhecerá com mais detalhes a vertente literária do Barroco, como as obras eram escritas, como os versos eram construídos nas poesias, as temáticas mais comuns e também verá uma lista com os principais autores.
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Contexto histórico do Barroco
O Barroco iniciou-se na Europa, durante o século XVI. Esse período é historicamente marcado pelo crescimento da racionalidade, associado a profundas transformações no comportamento religioso, devido a Reforma Protestante e a Contrarreforma Católica.
Alguns séculos antes, com o feudalismo, a Igreja ocupava um papel central na vida individual e coletiva da sociedade. A maior parte dos indivíduos não eram alfabetizados, recebendo as informações de forma passiva por muito tempo, o que abriu margem para diferentes formas de manipulação.
Então, um padre alemão chamado Martinho Lutero, observou as práticas religiosas e comparou-as com o que estava escrito no livro sagrado do cristianismo, a Bíblia. Intelectual e letrado, ele discordou das práticas católicas, como a venda da salvação, e decidiu se posicionar contra elas.
Com isso, iniciou-se a Reforma Prostestante, em que Lutero pregou algumas teses e posicionamentos em um importante prédio católico. A partir disso, outros focos de discordância e novas estruturas de igrejas cristãs nasceram, como as vertentes calvinistas e anglicanas.
As informações causaram um rebuliço social, porque ia contra toda a estrutura da Igreja, que existia a muitos séculos. Na época, a classe social em ascensão, a burguesia, se afeiçoou às ideias protestantes e passaram a seguí-las. Assim, pouco a pouco, a Igreja Católica perdia seus fiéis e seu domínio sobre parte da sociedade.
Como resposta, os católicos promoveram um movimento chamado de Contrarreforma. Por meio do Concílio de Trento, ficou definido que algumas publicações impressas estavam proibidas (Índice dos Livros proibidos – Index librorum prohibitorum), além de que as oposições ao catolicismo poderiam ser condenadas por meio do Tribunal do Santo Ofício.
O contexto influenciou, também, o continente americano: a Contrarreforma foi o contexto de criação da Companhia de Jesus. Ela é responsável pelos jesuítas, padres enviados aos territórios e colônias para a catequização.
Características do Barroco
Uma das principais características do Barroco é a dualidade, com pares de opostos que disputam por poder. Isso está intimamente ligado com o contexto histórico, marcado pela cisão da Igreja, questionamentos da relação entre racionalidade e espiritualidade, entre o homem e Deus, a fé e a razão.
Ou seja, é uma escola literária marcada pelo conflito de ideias, representando a angústia dos indivíduos que estavam nesse cenário de disputa de valores. Complementando esse aspecto está o culto ao contraste, muitas vezes marcado por paradoxos e enigmas que se apresentam nos textos, deixando evidente o embate de ideias e argumentos.
Para esses efeitos, os autores utilizavam figuras de linguagem como a antítese, em que duas palavras de sentidos opostos são colocados dentro do mesmo verso ou parágrafo para conferir um impacto no raciocínio e lógica do interlocutor. Ainda, eram empregadas hipérboles para intensificar esses pontos, conferindo expressividade à obra.
A perspectiva cristã e religiosa era extensa dentro das obras, inclusive, muitos autores mostravam-se insatisfeitos e angustiados com as condições de vida e ansiavam pelo paraíso bíblico.
Todos esses aspectos eram construídos com uma linguagem extremamente rebuscada, em um formato bem estabelecido poeticamente, para criar um texto considerado bonito. A maior parte deles estavam organizados em forma poética, com versos decassílabos e métrica bem construída.
Para enaltecer os textos, muitos autores utilizavam um jogo entre as palavras (cultismo) e/ou jogo com as ideias (conceptismo): a ideia é que toda a angústia fosse relatada não apenas com o conteúdo do texto, mas também com a forma da escrita.
Principais autores e obras
No Brasil, os principais autores são Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira. O primeiro, Gregório de Matos, é um escritor baiano, nascido em Salvador, importante para a Academia Brasileira de Letras. Além de seus textos literários do barroco, também ficou conhecido por textos satíricos, com críticas sociais e políticas.
Inconstância dos bens do mundo
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.”
Padre Antônio Vieira, por sua vez, é um catequista jesuíta que esteve no Brasil durante o período colonial. Durante sua estadia, discordou da postura de evangelização aos indígenas e, muitos de seus textos voltam-se para essa temática, argumentando sobre isso. Então, utilizou recursos como “jogo de ideias” para debater sobre o conteúdo, em textos com características barrocas.
“Temos juntamente hoje no Evangelho duas coisas que nunca podem andar juntas: a verdade e a mentira. E por que não podem andar juntas, por isso as temos divididas; a verdade no pregador, a mentira nos ouvintes; o pregador muito verdadeiro, o auditório muito mentiroso. Uma e outra coisa disse Cristo aos escribas e fariseus, com quem falava. O pregador muito verdadeiro: Si veritatem dico vobis; o auditório muito mentiroso: Ero similis vobis, mendax.”
Sermão da Quinta Dominga da Quaresma
Questão sobre Barroco
Faculdade de ciências médicas da Santa Casa de São Paulo/2023
Esta arte trabalha sobre uma dicotomia, quase uma dilaceração. De um lado, as determinações católicas contrarreformistas — a obrigação de tratar dos temas bíblicos e da vida de santos; a perspectiva teocêntrica, que considera Deus como o centro do mundo, o eixo da vida. De outro, as solicitações do mundo — os temas da vida real, como as conquistas, as maravilhas inventadas pelos homens, segundo a perspectiva antropocêntrica, que considera o homem a medida de todas as coisas. Daí aparecem tensões entre o divino e o humano, o tema religioso e o tema mundano, o sublime e o profano, o alto e o baixo, etc.
(Luís Augusto Fischer. Literatura brasileira: modos de usar, 2013. Adaptado.)
O texto trata da arte
a) renascentista.
b) árcade.
c) romântica.
d) simbolista.
e) barroca.
O Barroco é um movimento marcado pela presença de dualismos. A Igreja Católica estava perdendo poder na Europa por causa das reformas protestantes; por isso, sua tentativa de recuperação dessa primazia é a Contrarreforma. Nesse sentido, o Barroco nasce como uma manifestação religiosa.
Gabarito: alternativa B.
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