Décima: conceito, estrutura e uso

Décima: conceito, estrutura e uso

Você sabe o que é uma décima? Neste artigo, você entenderá sua composição, suas principais características e as origens dessa forma poética

A décima é uma forma poética de origem ibérica que se consolidou como expressão artística e popular em diversas culturas de língua espanhola e portuguesa, especialmente na América Latina

Composta por estrofes de dez versos e marcada por um rigor métrico e rítmico, ela se destaca tanto na literatura escrita quanto na tradição oral. 

Sua importância reside não apenas na beleza formal, mas também na sua função social, já que por meio dela diversos povos expressam sentimentos, crenças, críticas e memórias coletivas. 

Estudar a décima é fundamental para compreender como a poesia pode ser um instrumento de identidade, resistência e transmissão cultural ao longo dos séculos.

Continue lendo este artigo para compreender melhor como a décima se estrutura e, ao final, veja uma questão de vestibular com gabarito comentado.

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Décima: a essência da forma

Décima, quando falamos em arte poética, é uma estrofe composta de dez versos. Nela, os versos podem ser heptassilábicos (em redondilha maior) ou decassilábicos, podendo ainda aceitar outras métricas conforme a tradição e o contexto cultural. 

Trata-se de uma forma fixa da poesia que chama atenção pela combinação entre regularidade métrica, esquema de rimas e apuro estilístico.

Embora o termo “décima” possa ser usado genericamente para qualquer estrofe de dez versos, ele costuma designar mais especificamente a décima espinela, estrutura consagrada pelo poeta espanhol Vicente Espinel no século XVI.

Essa variante clássica apresenta um esquema de rimas definido (ABBAACCDDC), tornando-se um modelo amplamente adotado e adaptado em diferentes tradições poéticas — da literatura escrita à poesia oral e improvisada, como ocorre na trova, no repente e no cordel.

Origens e trajetória histórica da décima

A décima tem origem na tradição poética ibérica do século XVI, quando passou a se consolidar como uma forma fixa largamente utilizada na literatura erudita e popular. Seu formato mais conhecido, a décima espinela, foi sistematizado pelo poeta espanhol Vicente Espinel, que lhe conferiu o rigor métrico e o esquema de rimas que a tornaram um modelo recorrente nos séculos seguintes.

Ao longo do tempo, a décima ultrapassou fronteiras geográficas e passou a ser cultivada em diversas culturas hispano-americanas, assim como na tradição luso-brasileira, especialmente em manifestações orais e populares.

Poetas eruditos também adotaram essa estrutura em suas composições, como é o caso de Luís Vaz de Camões, que emprega a décima em sua célebre composição “Sôbolos rios que vão”:

Sôbolos rios que vão
por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
as lembranças de Sião
e quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
de meus olhos foi manado,
e, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado

Nesse poema, Camões retoma o tom bíblico do exílio para refletir sobre o sofrimento e a saudade, utilizando a estrutura da décima para dar ritmo, equilíbrio e solenidade ao lamento poético. Esse exemplo demonstra como a forma pode ser tanto suporte de expressão lírica refinada quanto meio de comunicação direta em contextos populares.

Da teoria à prática: criando suas próprias décimas

Compreender a estrutura da décima é o primeiro passo para se aventurar na composição dessa forma poética. Como vimos, a décima tradicional — especialmente a espinela — segue um esquema de rimas específico e, geralmente, utiliza versos heptassilábicos ou decassilábicos.

Na prática, isso significa que o poeta precisa não somente dominar o ritmo e a métrica, mas também organizar suas ideias dentro de um espaço limitado de dez versos, articulando-os de maneira coesa e expressiva. Esse exercício estimula a criatividade e o poder de síntese, por exemplo.

Para começar a criar suas próprias décimas, algumas dicas podem ajudar:

  • Escolha um tema claro, que possa ser desenvolvido em dez versos;
  • Planeje o esquema de rimas antes de escrever — isso facilita a fluidez do texto;
  • Preste atenção à métrica: conte as sílabas poéticas e ajuste o ritmo;
  • Evite repetições desnecessárias, já que o espaço é limitado; e
  • Leia em voz alta após escrever — a sonoridade é parte fundamental da décima.

Veja um exemplo que pode ser utilizado como inspiração, retirado do Romance IV ou Da donzela assassinada, de Cecília Meireles:

Sacudia o meu lencinho
para estendê-lo a secar.
Foi pelo mês de dezembro,
pelo tempo do Natal.
Tão feliz que me sentia,
vendo as nuvenzinhas no ar,
vendo o sol e vendo as flores
nos arbustos do quintal,
tendo ao longe, na varanda,
um rosto para mirar!

Com a prática, é possível dominar a estrutura e até explorar variações criativas, como o uso de vocabulário popular, figuras de linguagem ou temáticas contemporâneas. Seja no papel, na fala ou nas redes sociais, a décima continua sendo uma forma rica de expressão e exercício poético.

Questão de vestibular sobre o assunto

FACISA (2019)

Leia o trecho do poema abaixo para responder à questão.

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

(Trecho inicial de “Marília de Dirceu”, de 1792, de Tomás Antônio Gonzaga)

A partir do trecho do poema, pode-se compreender que

I. a voz que fala é de uma mulher, Marília, consoante a estética das cantigas de amigo.
II. os elementos naturais citados são bucólicos, traço comum no Arcadismo.
III. Dirceu, pseudônimo árcade do autor, inicia o poema pintando a si mesmo como pastor.

Está correto o que se afirma

A) apenas na proposição I.
B) nas proposições I e III.
C) nas proposições II e III.
D) apenas na proposição II.
E) apenas na proposição III.

Resposta:

De fato há sim elementos naturais bucólicos, que é um traço muito importante e recorrente no Arcadismo, como podemos observar no verso “Dos frios gelos, e dos sóis queimado”; É possível afirmar também que, no início do poema, Dirceu pinta a si mesmo como um pastor, como vemos em “Que viva de guardar alheio gado”, no sentido de que ele, Dirceu, tem seu próprio rebanho, tem posses e busca deixar evidente, ao longo do poema, suas qualidades. Entre elas, sua condição de pastor bem sucedido. 

Alternativa correta: C

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