Uma poesia épica é, antes de tudo, um texto estruturado em versos que possui uma temática heroica, narrando a trajetória de personagens que são considerados magníficos e com ações dignas de registro em uma obra literária. Leia este artigo e conheça as características, autores e obras principais da vertente na Literatura mundial e em Língua Portuguesa.
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O que é poesia épica?
Na literatura, em termos gerais, os textos podem ser classificados em duas grandes estruturas: poesias e prosas. A grande diferença entre eles é a organização das frases e ideias no corpo da mensagem.
As poesias são organizadas em versos, ou seja, orações mais curtas que são encadeadas em estrofes. Geralmente, são obras com maior tendência à musicalidade, ritmicidade, presença de rimas, figuras de linguagem, entre outros fatores que trazem uma beleza estética ao texto, além das nuances de conteúdo e composição.
O termo épico, por sua vez, tem relação com o latim epicus e faz referência “àquilo que é heroico”. Ou seja, é possível considerar que poesia épica é um sinônimo de poesia heroica e espera-se que essa surja como a temática predominante na obra.
Atualmente, esse tipo de texto também pode ser chamado de epopeia e, caracteristicamente, contém um personagem, que pode ser histórico, lendário e/ou mitológico, que é responsável por diversas ações honrosas, heróicas. Essas atitudes são mencionadas e valorizadas, exaltadas dentro do texto.
Características da poesia épica
Se exaltar heroísmo é a parte relevante para a poesia épica, o tópico mais importante da construção desses textos é a presença de elementos narrativos. Então a obra geralmente é descrita a partir de um narrador, que encadeia as ações em um enredo lógico e, muitas vezes, cronológico.
Para o desenvolvimento desses eventos aparecem personagens, e há sempre alguns protagonistas que são destacados heroicamente. Além deles, outras personalidades podem surgir no enredo como pano de fundo para tecer a narrativa.
Dentro do enredo, é esperado que o herói encontre dificuldades pelo caminho, que se apresentam de diferentes formas, inclusive como fenômenos da natureza que impedem o protagonista de cumprir sua missão.
É importante mencionar que a maior parte das epopeias contém uma conotação mitológica ou lendária, em que seres sobre-humanos interferem na narrativa, seja para ajudar ou para trazer mais dificuldades ao personagem principal.
Além disso, em muitas das obras, observa-se que a narrativa se constrói em torno de uma nacionalidade, povo ou civilização específica. A ideia é demonstrar que as habilidades magníficas do herói estão relacionadas com seu local de origem, como valorização da tradição regional.
Por fim, uma poesia épica acontece em um determinado tempo e espaço. Nos casos em que há uma relação lendária, por exemplo, é possível que a história aconteça “no momento do nascimento” de uma civilização, e o espaço seria o local em que essa sociedade está estabelecida. Então, os personagens lendários seriam responsáveis por, heroicamente, participar da formação desse novo grupo social.
Como é organizada uma poesia épica?
A estrutura de uma poesia épica se repete em todas as obras observadas, sendo composta de cinco partes principais. A primeira é chamada de proposição, ou prólogo, e tem o objetivo de introduzir o tema, abordando características iniciais do herói e contextualizando o tempo e espaço da narrativa.
Uma vez apresentada a temática e seus dilemas, o herói aparece rogando intervenção sobrenatural, a partir de divindades e seres mitológicos. Essa porção é conhecida como invocação e serve como embasamento para o heroísmo e vitórias do protagonista.
Então, surge um elemento típico das poesias épicas, uma dedicatória, em que o texto é oferecido em dedicação a alguém, geralmente uma ou mais figuras de relevância na sociedade em que o autor está inserido.
Só então é que a narrativa se inicia, com o encadeamento dos fatos, dos atos heroicos e obstáculos enfrentados pelo protagonista para atingir um objetivo final. E, uma vez que todo o enredo foi apresentado e descrito, a poesia é concluída por meio de um epílogo.
Exemplos de poesia épica
Odisseia de Homero
Homero foi um escritor que marcou a história da Grécia Antiga, suas obras Ilíada e Odisseia são reconhecidas mundialmente. Em Odisseia, o herói e protagonista é Odisseu, que também é conhecido como Ulisses.
Ulisses participou da famosa Guerra da Tróia, mas, em Odisseia, enfrentou diversos obstáculos para voltar para casa, em Ítaca. Esse regresso para casa demora, na narrativa, 17 anos desde o momento em que partiu. Enquanto sua esposa lutava para manter sua imagem e autoridade em sua terra de origem, esperando que o amado voltasse o quanto antes.
“Fala-me, Musa, do homem astuto que tanto vagueou,
depois que de Troia destruiu a cidadela sagrada.
Muitos foram os povos cujas cidades observou,
cujos espíritos conheceu; e foram muitos no mar
os sofrimentos por que passou para salvar a vida,
para conseguir o retorno dos companheiros a suas casas.
Mas a eles, embora o quisesse, não logrou salvar.
Não, pereceram devido à sua loucura,
insensatos, que devoraram o gado sagrado de Hipérion,
o Sol — e assim lhes negou o deus o dia do retorno.
Destas coisas fala-nos agora, ó deusa, filha de Zeus”
A Eneida de Virgílio
A Eneida é outra obra da Antiguidade Clássica, agora de um poeta romano chamado Virgílio. A região de Tróia também é cenário de destaque nessa epopeia, mas o herói em questão é um troiano chamado Enéias, descrito como um ancestral da civilização romana.
“Eu, que entoava na delgada avena
Rudes canções, e egresso das florestas,
Fiz que as vizinhas lavras contentassem
A avidez do colono, empresa grata
Aos aldeãos; de Marte ora as horríveis
Armas canto, e o varão que, lá de Tróia
Prófugo, à Itália e de Lavino às praias
Trouxe-o primeiro o fado. Em mar e em terra
Muito o agitou violenta mão suprema,
E o lembrado rancor da seva Juno;
Muito em guerras sofreu, na Ausônia quando
Funda a cidade e lhe introduz os deuses:
Donde a nação latina e albanos padres,
E os muros vêm da sublimada Roma.”
Lusíadas de Camões
A principal epopeia escrita em Língua Portuguesa, foi confeccionada pelo poeta português Luís de Camões. Sua inspiração foi retirada das obras gregas de Homero, e então, o autor narra uma história para também descrever a formação do povo português. O cenário e tempo histórico escolhido são as grandes navegações, as dificuldades e as conquistas empenhadas.
“Despois de procelosa tempestade,
Nocturna sombra e sibilante vento,
Traz a manhã serena claridade,
Esperança de porto e salvamento;
Aparta o Sol a negra escuridade,
Removendo o temor ao pensamento:
Assi no Reino forte aconteceu
Despois que o Rei Fernando faleceu.”
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