A prova de linguagens do Enem e dos grandes vestibulares não se limita à gramática ou literatura. Ela exige, acima de tudo, a interpretação de texto jornalístico e a habilidade de realizar uma leitura crítica e interdisciplinar.
Por isso, dominar a análise de notícias, reportagens e artigos de opinião é a chave para acertar questões complexas e, inclusive, aprimorar sua argumentação na redação.
Pensando nisso, o Portal do Estratégia Vestibulares preparou este guia para te ajudar a interpretar os textos jornalísticos, detalhando seus gêneros e como a linguagem utilizada impacta na transmissão da informação. Confira!
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O que é um texto jornalístico?
O texto jornalístico é um gênero textual cujo principal objetivo é a divulgação de informações atuais pelos veículos de comunicação, que pode se apresentar de forma audiovisual (televisiva), impressa ou digital (jornais e revistas).
Quais as características de um texto jornalístico?
O texto jornalístico emprega uma linguagem clara, objetiva e simples, visando ao fácil e rápido entendimento pelo leitor. Sua linguagem é predominantemente denotativa, ou seja, com foco no sentido literal e ausência de ambiguidades, para garantir a imparcialidade e a veracidade dos fatos. Estruturalmente, é marcado pelo uso da pirâmide invertida, organizando as informações mais importantes no início.
Gêneros textuais jornalísticos
O primeiro passo para interpretar notícias para o vestibular é entender que nem todo texto jornalístico é igual, pois o gênero textual jornalístico abriga diversas formas de textos (gêneros) que compartilham a função social de informar, interpretar ou opinar sobre fatos de interesse público.
Os principais gêneros textuais jornalísticos são:
- Notícia: gênero jornalístico informativo, que relata um fato atual de interesse público, de forma objetiva e imediata, resumindo as informações essenciais (o quê, quem, quando, onde) no primeiro parágrafo;
- Reportagem: gênero jornalístico interpretativo que vai além do fato. A reportagem é mais aprofundada e investigativa, podendo incluir diversas fontes, entrevistas e contexto, permitindo uma subjetividade maior na abordagem;
- Artigo de opinião: gênero jornalístico opinativo e argumentativo, cujo foco está na defesa de um ponto de vista sobre um tema relevante na atualidade. Geralmente, o autor do texto é um jornalista ou especialista no assunto;
- Crônica: gênero jornalístico subjetivo e literário que, com linguagem leve e pessoal, reflete ou narra sobre eventos e detalhes do cotidiano, frequentemente incorporando humor, poesia ou crítica social; e
- Editorial: gênero jornalístico opinativo, que expressa a posição oficial do próprio veículo de comunicação (jornal ou revista) sobre um tema. É argumentativo e reflete a ideologia da empresa sobre um tema de grande relevância.
Crônica e reportagem: importância para o vestibular
Dentre os gêneros textuais jornalísticos, a reportagem e a crônica possuem uma relevância central nas provas do Enem e dos vestibulares.
Essa proeminência se deve ao fato de a reportagem exigir interpretação de dados e fontes, enquanto a crônica demandar a identificação de subjetividade, ironia e reflexão sobre o cotidiano, algo típico de ser cobrado em questões de linguagens, por exemplo.
Para entender melhor, leia a seguir o fragmento do texto Ciao, a crônica de despedida do autor Carlos Drummond de Andrade, publicada no “Jornal do Brasil”.
Repare no discurso, na reflexão existencial do cronista e na meta-linguagem, pela qual o próprio gênero é definido pela liberdade temática e pelo abandono da formalidade jornalística:
"Há 64 anos, um adolescente fascinado por papel impresso notou que, no andar térreo do prédio onde morava, um placar exibia a cada manhã a primeira página de um jornal modestíssimo, porém jornal. Não teve dúvida. Entrou e ofereceu os seus serviços ao diretor, que era, sozinho, todo o pessoal da redação. O homem olhou-o, cético, e perguntou:
— Sobre o que pretende escrever?
— Sobre tudo. Cinema, literatura, vida urbana, moral, coisas deste mundo e de qualquer outro possível.
(...)
Crônica tem essa vantagem: não obriga ao paletó-e-gravata do editorialista, forçado a definir uma posição correta diante dos grandes problemas; não exige de quem a faz o nervosismo saltitante do repórter, responsável pela apuração do fato na hora mesma em que ele acontece; dispensa a especialização suada em economia, finanças, política nacional e internacional, esporte, religião e o mais que imaginar se possa. (...) O que lhe pedimos é uma espécie de loucura mansa, que desenvolva determinado ponto de vista não ortodoxo e não trivial e desperte em nós a inclinação para o jogo da fantasia, o absurdo e a vadiação de espírito. (...)”
Agora, leia o trecho de uma reportagem do “Jornal da Unesp”, que aborda os fatores por trás da expansão da febre Oropouche para fora da Amazônia em 2024, e perceba como a linguagem se distingue da crônica, sendo mais informativa, detalhista e formal:
“A febre Oropouche alarmou o Brasil em 2024 ao se expandir além de sua abrangência típica, limitada à Amazônia, e alcançar estados das cinco regiões do país: 22 das 27 unidades federativas já registraram pelo menos um caso confirmado em laboratório. O Espírito Santo liderou o ranking, com 6,3 mil testes positivos só no ano passado — número que equivale a 45% dos 13,8 mil casos registrados no Brasil em 2024 e 39% do total de 16,2 mil pessoas infectadas nas Américas como um todo nesse mesmo período.”
A estrutura do texto jornalístico
Quase todos os textos informativos seguem a estrutura da “pirâmide invertida” composta basicamente por:
- Manchete (título): apresenta o tema principal e gera impacto no leitor; e
- Lide (ou lead): o primeiro parágrafo, onde estão as informações mais importantes (quem fez o quê, quando, onde e porquê/como).
Veja esse exemplo de notícia publicada pelo portal “CNN Brasil”:
- Título (manchete): “Rússia aguarda resultado oficial das negociações entre EUA e Ucrânia”;
- Lead: “O Kremlin afirmou nesta segunda-feira (24) que vai aguardar o desenrolar das negociações entre os Estados Unidos e a Ucrânia sobre um possível plano de paz.”
Essa estrutura é um facilitador na interpretação do gênero jornalístico. Portanto, uma dica é sempre começar a leitura pelo lide, pois ele concentra a tese central da matéria.
Os três níveis da análise crítica de notícias
Para gabaritar questões sobre textos jornalísticos, você deve transitar por três níveis de leitura.
a) Leitura literal
É a capacidade de reconhecer informações que estão explicitamente escritas no texto. Use essa leitura especialmente para descartar as opções de múltipla escolha que cometem erros de contradição (dizem o oposto do texto) ou extrapolação (vão além do que o texto afirma).
b) Leitura inferencial
Aqui entra a sua habilidade de dedução. O autor nem sempre escreve tudo, ele apenas sugere. Logo, você precisa identificar ideias que estão subentendidas, como relações de causa e consequência, ou motivações não declaradas.
Exemplo: Se um texto diz que “O número de alunos aprovados dobrou após a mudança do método de estudo”, você pode inferir que “O método anterior era menos eficaz.”
c) Leitura crítica
Este é o nível mais avançado e é bastante cobrado em questões de alta complexidade. Você deve ir além do conteúdo e analisar a intencionalidade do emissor:
- Qual é o propósito do texto (informar, persuadir, denunciar, opinar)?
- Há tendenciosidade? A escolha das palavras e das fontes revela um posicionamento ideológico?
A partir dessas perguntas, você vai conseguir fazer uma leitura de textos jornalísticos mais aprofundada.
Ferramentas linguísticas no texto jornalístico
Para ter uma análise crítica e eficiente dos textos jornalísticos é importante que você fique atento às ferramentas de linguagem utilizadas nesses textos, pois elas moldam a percepção do leitor sobre o conteúdo informado. Essas ferramentas são, especialmente:
Conectivos (coesão e coerência)
Dentre os conectivos, as conjunções são as principais responsáveis por estabelecer a relação lógica do texto. Nesse sentido, o uso de um “mas” ou “embora” sinaliza uma oposição ou ressalva. Por outro lado, um “portanto” indica uma conclusão. Desse modo, a manipulação dessas palavras pode alterar sutilmente o sentido global da mensagem.
Para exemplificar, vamos considerar a seguinte notícia hipotética:
- “O governo anunciou um novo pacote de investimentos em infraestrutura. Ao mesmo tempo, o índice de desemprego subiu no mesmo mês, segundo dados oficiais.” → Notícia mais neutra, com pura exposição dos fatos;
- “O governo anunciou um robusto pacote de investimentos em infraestrutura, no entanto, o índice de desemprego no país subiu para 10,5% no mesmo período.” → Notícia com uso do conectivo de oposição/ressalva (com viés pessimista).
Note que o conectivo “no entanto”, de oposição, força o leitor a ver uma contradição entre a ação do governo (investimento) e o resultado econômico (aumento do desemprego). Então, ele sugere que a medida do governo foi ineficaz ou que há um problema subjacente maior que os investimentos não conseguiram resolver. Percebeu a diferença?
Adjetivos e advérbios
Os adjetivos e advérbios também carregam juízo de valor, mesmo em textos supostamente objetivos. Uma dica durante a interpretação do texto jornalístico é sublinhar esses termos. Observe o exemplo:
- “O Governo apresentou novas medidas para o sistema de aposentadorias que preveem o aumento da idade mínima de contribuição.”;
- “O Governo apresentou medidas polêmicas para o sistema de aposentadorias, as quais têm gerado grande insatisfação em sindicatos e na oposição.”
O uso de “medidas polêmicas” em vez de “medidas novas” já insere uma avaliação negativa, pré-condicionando o leitor a encarar as reformas com desconfiança ou rejeição, mesmo antes de ler seus detalhes.
Vozes verbais
O uso estratégico da voz verbal (ativa ou passiva) é crucial para atribuir ou ocultar a responsabilidade por uma ação no texto jornalístico. A voz passiva é frequentemente utilizada para dar destaque ao paciente da ação, mas pode, intencionalmente, amenizar a culpa ao omitir o agente. Observe:
- Voz passiva: “Os recursos foram desviados” → não especifica quem desviou os recursos, foca apenas na ação, amenizando a responsabilidade do agente da ação;
- Voz ativa: “O político X desviou os recursos”. → foca quem desviou os recursos, responsabilizando explicitamente o agente da ação.
Recursos argumentativos
As citações de autoridades e exemplos são fortes recursos argumentativos, que dão credibilidade e fundamentam a persuasão. Veja como isso ocorre:
- “Incêndios florestais aumentam 30% na Amazônia”;
- “Incêndios florestais aumentam 30% na Amazônia e especialista alerta para “ponto de ruptura”
Observe que no segundo caso a interpretação da autoridade sobre a gravidade do fato. Transforma um dado imparcial (“30%”) em uma crise dramática e urgente, aumentando o interesse e o alarme do leitor.
Textos jornalísticos no vestibular: o que considerar?
Para resumir tudo o que foi dito até aqui e otimizar a leitura de textos jornalístico nas provas, siga estas dicas:
- Identifique o gênero: diferencie se o texto é uma notícia, reportagem ou crônica, para saber o que esperar do texto;
- Analise a estrutura (pirâmide invertida): comece pelo primeiro parágrafo para identificar o essencial ( ) e a tese central da matéria; e
- Analise a linguagem: observe com atenção o uso de conectivos, adjetivos e a voz verbal para detectar tendenciosidade e a intencionalidade do emissor.
+ Veja também: Interpretando o texto literário: linguagem, contexto e intertextualidade
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