A contemporaneidade diz respeito a tudo aquilo que acontece no momento atual, que está em desenvolvimento. Isso significa que a literatura contemporânea é a corrente literária que está em crescimento e publicação nos dias de hoje. No Brasil, é a escola que se iniciou em meados do século XX e atravessa gerações até a presente década.
As características e autores dessa vertente literária vão de encontro com os aspectos da sociedade atual. Para te ajudar a entender melhor sobre literatura contemporânea e suas mais variadas faces e atributos, o Estratégia Vestibulares desenvolveu este artigo que resume a corrente literária no Brasil, com seus temas principais.
Esse artigo pode ser importante tanto para a interpretação e resolução de questões em provas que costumam cobrar a contemporaneidade, como o Enem, assim como pode ser base para o desenvolvimento de textos sobre a sociedade atual. Então, leia mais e se aprofunde no assunto!
Navegue pelo conteúdo
Contexto histórico da literatura contemporânea
Cenário mundial
Como foi mencionado anteriormente, a literatura contemporânea se desenvolveu a partir da metade do século XX. O contexto mundial, naquele momento, era uma sociedade que havia passado por duas grandes guerras mundiais, além da crise econômica de 1929, bem como o crescimento da Guerra Fria.
Cenário brasileiro
No Brasil, na década de 1960, o presidente JK (Juscelino Kubitschek) implantou um governo de grande popularidade, com importantes ambições políticas e econômicas. Foi ele quem criou, por exemplo, o famoso plano de desenvolvimento “50 anos em 5”, que queria trazer intensa modernização ao país em um curto período de tempo.
Um padrão observado na literatura mundial é que os textos, obras e autores refletem os acontecimentos da sociedade. Não foi diferente durante esse período: a inovação no contexto nacional se refletiu com os movimentos vanguardistas literários e plásticos, as artes musicais como o Bossa Nova, as transformações no cinema, no teatro e na televisão. Lembre-se, também, que o modernismo estava implantado desde os anos 20.
Os mandatos presidenciais foram trocados por meio das eleições até que algumas modificações na política e sociedade culminaram no golpe de 1964. Nesse momento, iniciou-se o processo de ditadura militar brasileira.
Golpe militar
Essa época ficou caracterizada por uma crescente repressão das expressões individuais e coletivas dos cidadãos. No âmbito artístico isso se refletiu em forma de censura e até mesmo repressões físicas e psicológicas. Assim, as obras de arte da literatura contemporânea tiveram que se moldar para padrões mais rígidos e cuidadosos, evitando as consequências drásticas que poderiam ser implantadas pelo governo ditatorial.
Depois de anos complicados na sociedade brasileira, as manifestações populares foram gradativamente mais libertas. Depois da Lei da Anistia, já próximo da década de 1980, muitos exilados políticos poderiam retornar ao território brasileiro.
Pouco a pouco os artistas e escritores encontraram um espaço mais acolhedor para continuar a desenvolver sua arte que nunca parou, mas que precisava estar encolhida para não ser censurada, barrada ou até mesmo culminar em represálias contra o próprio autor.
Finalmente, em 1985, o Brasil se despediu completamente dos moldes ditatoriais que regiam o Brasil desde 64 — principalmente devido às reivindicações populares por eleições diretas. Assim, o primeiro presidente eleito foi Fernando Collor de Mello.
Influência da História na literatura brasileira
Note, portanto, que a literatura contemporânea brasileira atravessa um contexto histórico denso, tanto em termos de realidade mundial, com a disputa entre Estados Unidos e União Soviética, como dentro do cenário brasileiro, com as questões políticas, ditatoriais e necessidade de manifestações.
Por isso, os autores contemporâneos apegaram-se em uma arte que mistura diversos estilos e aspectos de outras correntes literárias, para construir narrativas engajadas politicamente e socialmente, ao mesmo tempo em que são encontradas obras dissociadas dessa realidade intensa experimentada na época.
Características da literatura contemporânea
Como a literatura contemporânea atravessa diversas gerações e situações históricas, ela não pode ser uniformizada como apenas um estilo de obra. Na verdade, trata-se de uma miscelânea entre diversas escolas literárias anteriores, associada com a característica dos autores, com as vivências experimentadas durante sua trajetória, além de uma multiplicidade de temas e formas de escrita.
Em geral, são textos que transitam entre a escrita clássica formal e o enredo mais popular e coloquial. Isso traz uma diversidade de padrões para essa corrente literária, que é conhecida por ser eclética e agradar a diferentes personalidades ao longo do tempo.
As narrativas são construídas a partir de diferentes olhares, com engajamento social e abordagem de temas cotidianos. Ao mesmo tempo, podem ser encontrados poemas que trazem novas técnicas de escrita e disposição das palavras, que têm um maior distanciamento dessas manifestações do dia a dia.
Dadas as mudanças bruscas da sociedade no decorrer da escola literária, é possível observar que muitos autores focam seus poemas, contos e crônicas nos acontecimentos do hoje e do agora. As ideias de futuro e as expectativas são contidas, já que um contexto caótico traz inseguranças quanto ao amanhã.
Outro aspecto que se destaca é a intertextualidade — esse recurso linguístico já fora observado na corrente modernista, ganhou maior relevância com os autores da literatura contemporânea, padrão que se mantém até os dias atuais.
Tendências da literatura contemporânea
Além de entender a literatura contemporânea brasileira a partir de um panorama histórico e geral, é importante reconhecer quais são os diferentes estilos de escrita que podem ser encontrados nessa corrente. É como encontrar sub categorias dentro dessa escola literária.
Poesia social
Como aponta o nome, a poesia social se desenvolve no sentido de trazer questionamentos e dores da sociedade para o ambiente literário. São textos que abordam os acontecimentos nacionais e internacionais, como a própria Guerra Fria e os governos ditatoriais — nesse sentido, inclusive, foi uma das formas de expressão camuflada que se manifestava contra as censuras militares.
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
(Poesia social de Ferreira Gullar)
Concretismo
Quase que na contramão do engajamento social e político observado na poesia social, o concretismo é uma tendência contemporânea mais voltada para a questão estética. Diferentemente do academicismo, não trata-se da perfeição formal, mas justamente da falta de forma, métrica, versos e rimas definidas.
Essa tendência literária foi alvo de intensas críticas, porque estava dissociada de toda a realidade conturbada que se desenvolvia mundo afora e, principalmente, no Brasil. Afinal, o enfoque maior era o visual e não uma busca por transformações das mazelas sociais.
Dentro dessa ideia estética, uma das características principais é a possibilidade dos textos serem lidos em qualquer direção, como no caso abaixo:
SEJA O QUE FOR
QUE SEJA O QUE
FOR QUE SEJA O
QUE FOR QUE SEJA
O QUE FOR QUE
SEJA O QUE FOR
(Poesia concreta de Arnaldo Antunes)
Poesia marginal
A poesia marginal tem esse nome porque está associada a uma linguagem mais coloquial, somada a gírias, palavrões e expressões típicas de populações periféricas. É uma tendência da literatura contemporânea que se desenvolveu com pequenos textos que trazem aspectos de espontaneidade e liberdade de expressão, além de sarcasmo e ironia como figuras de linguagem.
Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?
(Poesia marginal de Ana Cristina César)
Poema processo
O poema processo é um movimento vanguardista que surgiu na década de 60, em meio à literatura contemporânea. Tem um viés estético, assim como os concretistas, mas com outros aspectos que diferem uma ideia da outra.
Aqui, os autores trazem transformações revolucionárias, o visual dos poemas era muito explorado, mas as palavras não eram a única forma de transmitir as ideias. Foram adicionados símbolos, figuras, alterações físicas no papel e outras representações visíveis para transmitir a mensagem literária — o significado das obras associa tanto o visual quanto as palavras, englobando duas grandes dimensões da arte, de forma completamente inovadora.
Prosa
A prosa da literatura contemporânea traz peculiaridades que merecem destaque, especialmente no sentido de engajamento político, cultural e social. Um grande exemplo é o livro “Quarto de Despejo: o diário de uma favela”, que é um diário escrito por Carolina Maria de Jesus, uma mulher negra que descreve as potências e dificuldades de seu cotidiano.
O livro tem grande relevância para a cultura brasileira, por trazer um panorama sobre a parte pobre da sociedade, que geralmente era desconsiderada no âmbito literário. Ao mesmo tempo, traz denúncias a respeito da desigualdade social e condições precárias, associadas com projetos políticos que marginalizam os indivíduos ao longo de suas existências.
“Preparei a refeição matinal. Cada filho prefere uma coisa. A Vera, mingau de farinha de trigo torrada. O João José, café puro. O José Carlos, leite branco. E eu, mingau de aveia.
Já que não posso dar aos meus filhos uma casa decente para residir, procuro lhe dar uma refeição condigna.
Terminaram a refeição. Lavei os utensílios. Depois fui lavar roupas. Eu não tenho homem em casa. É só eu e meus filhos. Mas eu não pretendo relaxar. O meu sonho era andar bem limpinha, usar roupas de alto preço, residir numa casa confortável, mas não é possivel. Eu não estou descontente com a profissão que exerço. Já habituei-me andar suja. Já faz oito anos que cato papel. O desgosto que tenho é residir em favela.”
(Trecho de Quarto de Despejo, Carolina Maria de Jesus)
Autores da literatura contemporânea
Acompanhe agora uma relação com o nome de grandes autores da literatura contemporânea, bem como descrições de suas obras mais famosas e fatos relevantes.
Ariano Suassuna foi um escritor nordestino nascido em 1927, que desenvolveu prosas com cunho satírico humorístico, que traz críticas sociais atreladas com elementos da cultura sertaneja, como as variações linguísticas próprias de alguns estados nordestinos. Sua obra mais conhecida foi o “Auto da Compadecida”, que tem representação cinematográfica, com os personagens João Grilo e Chicó.
Ferreira Gullar é um autor relevante da literatura contemporânea brasileira, que já foi citado neste artigo. Sua figura ganha notoriedade principalmente porque foi um dos desenvolvedores da poesia concreta.
O contista Caio Fernando Abreu foi premiado três vezes, pela qualidade de seus escritos. Seus temas eram inovadores para a época e, para escrevê-los utilizava uma linguagem simples, coloquial e fora dos padrões estéticos academicistas. Uma de suas principais obras tem um nome inusitado, inclusive, que é “Morangos Mofados”.
Cora Coralina é o pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que nasceu em 1889. Escrevia desde a adolescência, mas sua primeira publicação aconteceu apenas aos 76 anos, a famosa obra “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”.
Outros autores importantes foram Antônio Callado, Adélia Prado, Cacaso, Carlos Heitor Cony, Dalton Trevisan, Lya Luft, Millôr Fernandes, Murilo Rubião, Nélida Pinõn, Paulo Leminski e Rubem Braga.
Questões sobre literatura contemporânea
(Enem 2017) Contranarciso
Em mim
Eu vejo o outro
E outro
E outro
Enfim dezenas
Trens passando
Vagões cheios de gente
Centenas
O outro
Que há em mim
É você
Você
E você
Assim como
Eu estou em você
Eu estou nele
Em nós
E só quando
Estamos em nós
Estamos em paz
Mesmo que estejamos a sós
LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.
A busca pela identidade constitui uma faceta da tradição literária, redimensionada pelo olhar contemporâneo. No poema, essa nova dimensão revela a
a) Ausência de traços identitários.
b) Angústia com a solidão em público.
c) Valorização da descoberta do “eu” autêntico.
d) Percepção da empatia como fator de autoconhecimento.
e) Impossibilidade de vivenciar experiências de pertencimento.
Estude para as provas com a Coruja!
Todos os conteúdos desenvolvidos e publicados pelo Estratégia Vestibulares buscam ressaltar os tópicos mais importantes de um assunto, para otimizar seu tempo e dedicação nos estudos. Além disso, você aprende os temas essenciais para a realização do vestibular, ao mesmo tempo em que desenvolve um olhar crítico e social sobre as mais diversas disciplinas.
Com a mesma visão, os cursos da Coruja são construídos com aulas completas e materiais didáticos especializados para cada disciplina. Recursos que podem ser acessados facilmente por meio de diferentes plataformas e dispositivos móveis. Clique no banner e saiba mais sobre!