Modernismo de 1930: história, características e obras

Modernismo de 1930: história, características e obras

O modernismo de 1930 é a segunda fase do movimento modernista no Brasil. É o período em que autores com visões tão inovadoras quanto a anterior, passam a escrever sobre temas novos e em uma estrutura diferente do que foi visto com os artistas de 1922. 

É uma geração artística que durou 15 anos, entre 1930 e 1945, contemplando grandes acontecimentos do cenário mundial, como a descrença com o capitalismo e a ascensão de movimentos nazifascistas ao redor do mundo. 

Continue lendo este artigo para conhecer mais sobre o contexto histórico e como ele influenciou na criação desses artistas. Veja também as características dessas obras, a temática, a estrutura e as escolhas linguísticas empregadas durante o modernismo de 1930. 

Contexto histórico do modernismo de 1930

O modernismo iniciou-se no Brasil, oficialmente, no ano de 1922, durante a famosa Semana de Arte Moderna de 22. Os artistas que se uniram e organizaram o evento propuseram que a arte brasileira, como um todo, deveria refletir a personalidade e identidade do povo. 

É importante ressaltar que a essência do modernismo, em todas as suas fases é construir uma arte que fuja dos padrões tradicionais, em que os artistas têm maior liberdade de expressão, organização e desenvolvimento de suas obras.

Então, a primeira fase é constituída por esse movimento mais nacionalista. Entretanto, o fim da década de 20 e os anos seguintes foram extremamente caóticos no cenário mundial, atingindo os países em diferentes escalas, inclusive interferindo na economia do Brasil.

Contexto no Brasil

Em termos políticos, o modernismo de 1930 está inserido, quase que completamente, no governo de Getúlio Vargas. O presidente destituiu uma antiga política econômica presente no sudeste, a Política do Café-com-leite, e então enfrentou represálias, sendo contraposto por diferentes grupos sociais. Em 1937, Vargas foi inspirado pelo fascismo que crescia ao redor do mundo e instaurou o “Estado Novo”, a fase ditatorial de seu governo. 

Contexto mundial

A Crise de 1929 é um clássico exemplo do colapso do capitalismo durante o século XX, principalmente nos Estados Unidos, diversos cidadãos vivenciaram condições de vida precárias, com fome intensa, falta de moradia e acentuação das necessidades básicas.

Esse cenário contribuiu para que o capitalismo fosse questionado entre alguns políticos e grupos sociais, afinal, essa crise demonstrou a fragilidade do sistema diante das alterações de mercado. Com isso, surgiram novas propostas político-sociais, entre elas as campanhas totalitaristas.

Ao longo dos anos, esses governos ditatoriais crescem em diversas nações da Europa, com destaque para Itália e Alemanha. Até que eclodiu-se a Segunda Guerra Mundial, em 1939, um conflito que abrangia países europeus, mas repercutiu em todos os continentes.

Características do Modernismo de 1930

Uma vez inseridos em um contexto histórico marcado pela eclosão de novas ideologias políticas, crescimento do fascismo, desenrolar de guerras, crises econômicas e sociais, os autores da Segunda Fase do Modernismo não sentiam-se confortáveis em escrever textos dissociados da realidade. 

Então, seus textos davam relevância para os eventos do mundo contemporâneos, as notícias que chamavam atenção de todos. Eram obras construídas em uma perspectiva realista, sem um idealismo ou tentativas de mascarar as obscuridades da vida e das relações humanas, especialmente no contexto social e político. 

Ao mesmo tempo, o cenário também influenciou a forma de enxergar o mundo e a si mesmo. Afinal, com tantos conflitos, guerras, fome, miséria e autoritarismo, a essência da vida humana perdeu parte do sentido para esses autores, e algumas obras destacam essa percepção. Inclusive, a questão da espiritualidade era abordada para questionar a relação entre a fé e a desesperança de observar o mundo como ele realmente é. 

Não se pode esquecer que, apesar da temática mais tensa, esses autores ainda são modernistas da década de 1930. Então, os textos eram escritos em plena liberdade estrutural, sem uma forma fixa, de forma que a linguagem utilizada era mais livre, sem a necessidade de formalidades ou padrões específicos. 

Outro ponto importante no modernismo de 1930 é que, diferentemente de seus antecessores, a maior parte dos escritores desenvolveram prosas politicamente engajadas. Inclusive, há uma tendência em abordar criar prosas regionalistas, que abordavam o contexto social de diferentes regiões do Brasil, traçando uma relação entre o ambiente em que se vive e o comportamento dos moradores. 

Exemplos de autores e obras do Modernismo de 1930 

Entre os principais nomes do modernismo de 1930, ou Segunda Fase do Modernismo são Graciliano Ramos (1892-1953), Érico Veríssimo (1905-1975), José Lins do Rego (1901-1957), Rachel de Queiroz (1910-2003), Cecília Meireles (1901-1964) e outros.

Muitos dos autores que compuseram a Primeira Fase, também construíram textos com características do Modernismo de 1930. O principal exemplo foi Carlos Drummond de Andrade, artista de referência na literatura brasileira, que contribuiu com sua arte em diferentes contextos históricos. 

Vidas Secas de Graciliano Ramos

Uma das obras mais conhecidas do Modernismo de 1930 foi “Vidas Secas”, escrita por Graciliano Ramos e publicada em 1938. O ambiente da narrativa é o sertão nordestino, em que os personagens são sertanejos e retirantes, que migram constantemente conforme a seca avança pelo sertão, em busca de encontrar condições de sobrevivência, como fuga da miséria, fome e seca vivenciados nesse cenário. Acompanhe o excerto abaixo: 

“Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.

Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinha Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinha Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinha Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.

E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silencio grande.

Ausente do companheiro, a cachorra Baleia tomou a frente do grupo. Arqueada, as costelas à mostra, corria ofegando, a língua fora da boca. E de quando em quando se detinha, esperando as pessoas, que se retardavam.

Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, a beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto.”

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