Há estruturas de poemas muito famosas, como os quartetos e tercetos, que comumente compõem os sonetos. Porém, pouco se fala sobre o que é um monóstico, seus tipos e a mensagem que pretendem transmitir.
Pensando nisso, o Estratégia Vestibulares preparou este guia, para você compreender o que é um monóstico e ampliar seu conhecimento literário. Confira!
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O que é monóstico?
O monóstico é uma forma poética que consiste em uma estrofe formada por um único verso. Esse tipo de composição deve expressar uma mensagem clara e impactante em apenas uma linha, usando poucas palavras.
Assim, geralmente, os autores compõem um monóstico para aumentar a importância daquilo que está sendo dito. Afinal, em um monóstico há palavras selecionadas que visam causar um impacto emocional imediato no leitor e provocar a reflexão.
Monóstico x dístico x terceto
O monóstico, o dístico e o terceto se distinguem pelo número de versos e pela maneira como transmitem suas mensagens.
- Monóstico: um único verso autossuficiente. A rima não é um elemento essencial.
- Dístico: estrofe de dois versos que geralmente têm uma rima ou são interligados de alguma forma.
- Terceto: estrofe de três versos, com ou sem rima. Geralmente, o terceto segue um esquema de rima como ABA ou AAA, sendo um tipo de estrofe comumente observada em sonetos. Há, nessa forma, a possibilidade de desenvolver mais as ideias ou emoções.
Aplicações e usos de monósticos
Os monósticos, ainda que não sejam tão conhecidos por esse nome, são utilizados em diversos gêneros literários e situações cotidianas. Isso ocorre porque essa forma permite que uma ideia complexa seja expressa de forma direta e de fácil memorização. No âmbito da poesia, eles podem ser empregados como versos isolados ou como parte de uma composição maior.
Logo, o monóstico pode aparecer de diversas formas. Conforme o poeta americano, Edward Hirsch, “Como a Antologia Grega (século X) ilustra, o monóstico pode ser um provérbio, um aforismo, um enigma, um fragmento, uma imagem.”
Exemplos:
- “O que não mata, fortalece.” (Provérbio popular)
- “O dinheiro não traz felicidade.” (Provérbio popular)
- “Ser ou não ser, eis a questão.” (William Shakespeare, Hamlet)
- “O homem é a medida de todas as coisas.” (Protágoras, filósofo grego)
O monóstico na história da literatura
Tradição grega
Tradicionalmente, na Grécia Antiga, era muito valorizada entre os poetas a arte de condensar, no mínimo de palavras, ideias e pensamentos filosóficos profundos. Para isso, eram necessárias agudeza e criatividade elevadas.
Nesse período, o monóstico era comumente utilizado em inscrições monumentais, aforismos e epigramas. Um exemplo clássico de monóstico é o “Conhece-te a ti mesmo”, inscrição no templo de Apolo em Delfos, atribuída a Sócrates.
Tradição latina
A tradição latina, especificamente a romana, também utilizou o monóstico de várias maneiras (epigramas, aforismos e máximas). O uso de monósticos era comum entre os poetas romanos como Horácio e Ovídio, que frequentemente criavam esses versos curtos como forma de ironia, crítica social ou reflexão moral. Leia o exemplo a seguir, do poeta romano Horácio:
“Carpe diem, quam minimum credula postero.”
(Aproveite o dia, confiando o mínimo possível no amanhã.)
Este famoso monóstico presente nas Odes transmite a ideia de aproveitar o presente e viver sem se preocupar excessivamente com o futuro, considerada uma das máximas da filosofia epicurista.
Literatura Ocidental Moderna
Nos tempos modernos, o monóstico continuou a ser relevante, principalmente no contexto de movimentos literários como o Modernismo, que valorizava a linguagem direta e a experimentação com formas poéticas mais condensadas.
Assim, é comum observar em poemas Modernistas frases de uma única linha que expressam ideias profundas. Um exemplo disso é o verso “És precária e veloz, Felicidade.”, do poema “Epigrama n. 2, de Cecília Meireles.
Apesar de ser um monóstico retirado de uma obra maior, esse verso consegue sintetizar a mensagem principal do poema: refletir sobre a natureza da felicidade. Leia o poema completo:
Epigrama nº 2 És precária e veloz, Felicidade. Custas a vir, e quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas. Felicidade, és coisa estranha e dolorosa. Fizeste para sempre a vida ficar triste: porque um dia se vê que as horas passam, e um tempo, despovoado e profundo, persiste. (Cecília Meireles)
Por outro lado, atribui-se a Guillaume Apollinaire, poeta surrealista, o título de precursor na produção de monósticos na tradição Ocidental Moderna. Veja, a seguir, o poema de um só verso adicionado ao seu livro “Alcools” (1913):
Chantre (canto)
“Et l'unique cordeau des trompettes marines.”
(“E a única corda das trombetas do mar.”, tradução de William Meredith.)
Tipos de monósticos
Os monósticos podem assumir diferentes formas e abordagens, dependendo do contexto e da intenção do autor. Apesar de não haver uma classificação formal para os monósticos, eles podem ser de alguns tipos principais.
Monóstico reflexivo
Utilizado para expressar uma ideia profunda ou filosófica, frequentemente com caráter introspectivo.
“Um pardal em uma tempestade de neve com uma pena no bico: isso é a Fé.” (Ralph Hodgson)
O monóstico lido utiliza uma metáfora visual para refletir sobre a fé. A ideia do pardal em uma tempestade de neve, com apenas uma pena como recurso, sugere que a fé pode parecer frágil e pequena diante das dificuldades, mas ainda assim persevera.
Monóstico moralista
Aquele que transmite uma lição ou reflexão moral. Observe o exemplo:
- “Não há ganhos sem dores.” (Benjamin Franklin)
Nota-se que esse epigrama transmite uma lição moral, enfatizando que esforços e dificuldades são necessários para alcançar conquistas.
Os provérbios, em geral, por transmitem ensinamentos em poucas palavras, também enquadram-se nessa classificação. Veja exemplos:
- “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”
- “Quem não arrisca, não petisca.”
Monóstico satírico
Consiste em usar palavras que transmitem ironia e sarcasmo para criticar alguém, refletir sobre uma situação ou comportamento humano, como as epígrafes e epigramas.
Exemplos:
“(…) não deu, não dá nem promete”
(verso de epigrama de Manuel Bandeira referindo-se a Francisco de Assis Barbosa)
O verso acima, apesar de retirado de um epigrama maior, pode ser considerado um monóstico epigramático. Ele consegue em uma única linha, fazer uma crítica bem-humorada com sentido completo.
A saber, o verso resume a personalidade de Francisco de Assis Barbosa, brincando com sua suposta falta de generosidade.
Análise e interpretação de monósticos
Para interpretar um monóstico, pode ser necessário considerar o contexto histórico, social e cultural em que foi escrito. Porém, o monóstico pode deixar lacunas a serem preenchidas pela imaginação do leitor, provocando, assim, uma reflexão pessoal sobre as palavras escolhidas.
É também importante identificar os elementos poéticos presentes, como a rima, o ritmo e as figuras de linguagem.
Por exemplo, em um monóstico de caráter reflexivo, pode-se identificar uma metáfora que amplia a compreensão da ideia expressa. Em um monóstico moralista, o uso da antítese pode ser uma estratégia interessante para ressaltar a lição contida no verso.
Exemplo:
- “Ars longa, vita brevis”
A expressão acima pode ser traduzida como “A arte é longa, mas a vida é breve”, destacando a limitação do tempo humano frente à vastidão do conhecimento e da prática. Embora frequentemente associada a Sêneca, filósofo do período Helenístico, a ideia já estava presente nos aforismos de Hipócrates.
Ao analisar esse verso, percebem-se paralelismo, que garante ritmicidade à frase, e uma clara antítese promovida pelas palavras “longa” e “breve”.
Outro exemplo:
- “It is not the length of life, but the depth.”
(“Não é a duração da vida, mas a profundidade.”, Ralph W. Emerson)
Perceba que a frase de Ralph Emerson é concisa, dispensando excessos de palavras, a fim de enfatizar a importância da qualidade de como se vive e não do tempo.
Pode-se observar alguns elementos poéticos que contribuem para torná-lo um monóstico interessante:
- A primeira parte antes da vírgula (7 sílabas) se contrapõe a uma segunda mais curta (3 sílabas), enfatizando a ideia de “duração” da primeira parte.
- O paralelismo estrutural “the length” e “the depth” reforça a antítese entre “comprimento” e “profundidade”, contrastando quantidade versus qualidade. Essas palavras, no inglês, também criam certa musicalidade.
+ Veja também: Estrofes: versos, poesia, rima e questões de vestibulares
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