Intertextualidade no Enem: conceito, usos e principais exemplos

Intertextualidade no Enem: conceito, usos e principais exemplos

Você já leu um texto que lembra um filme, uma música, uma frase, ou algo do tipo? Se sim, saiba que quando o autor escreve algo com base em uma obra pré-existente, ocorre um importante conceito linguístico. Essa situação é recorrente nos vestibulares e aparece nos enunciados sobre intertextualidade no Enem.

Para te ajudar com esse assunto e impulsionar seu estudo pré-vestibular, confira o resumo que o Estratégia preparou, nele você encontrará temas como: o que é intertextualidade, quais são os principais tipos e exemplificações que facilitam o entendimento.

O que é Intertextualidade?

A intertextualidade acontece quando um texto faz referência implícita ou explícita a alguma obra preexistente. Ela pode aparecer de formas variadas, conectando mensagens de diferentes gêneros textuais, de uma ou mais fontes, com citação direta ou indireta. 

Para entender melhor a intertextualização, é necessário que o leitor possua um repertório sociocultural aprimorado e uma leitura atenta. Isso porque, muitas vezes, ela aparece de maneira sutil e implícita. Assim, a compreensão perpassa por uma referência extratextual, adquirida ao longo da vida.

Por exemplo, ao escrever uma redação para o vestibular, é comum a citação de diferentes autores, especialistas, notícias e dados como argumento de autoridade. Nesse caso, ocorre uma intertextualidade entre o texto que você escreve e as informações que adicionou, tornando-se uma fusão da sua escrita com algo já produzido, incluindo ou aprimorando conteúdo ao contexto inicial. 

Tipos de Intertextualidade

Além de simplesmente citar e referenciar diferentes textos, esse ramo da interpretação e redação pode ser dividido em tipos de intertextualidade, como a citação, a paráfrase, a paródia, a epígrafe e outros.  Acompanhe nos tópicos seguintes a forma como essas classificações aparecem e fique preparado para o tema no Enem!

Citação

A citação é uma reprodução fiel e exata das palavras de outra pessoa, livro ou obra. Ela pode acontecer de forma direta ou indireta, conforme critérios definidos pelo autor. 

Essa é a forma mais comum de utilizar o argumento de autoridade na redação e ganhar pontos na redação, no critério de intertextualidade no Enem. 

Veja, na imagem abaixo, uma citação direta do ex-presidente da África do Sul e representante dos movimentos contra a opressão racial, Nelson Mandela:

Intertextualidade - citação
Fonte: Wikimedia Commons

Para uma citação indireta, seria necessário transformar a frase em um texto corrido, como no modelo:

“Por fim, acredito na luta dos negros como uma eterna busca pela liberdade, liberdade que nos foi tomada pela mentalidade eurocêntrica. Como disse Nelson Mandela: ‘a luta é a minha vida e continuarei a lutar pela liberdade até o fim dos meus dias’!”

Paráfrase

A paráfrase é a construção intertextual que cria uma nova organização das palavras e expressões, mas o sentido original é mantido. Ou seja, a forma do texto é alterada e a disposição do conteúdo é diferente, enquanto a mensagem transmitida é preservada.

Um exemplo muito conhecido é o texto “Meus Oito Anos” do poeta romântico Casimiro de Abreu:

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[…]


Posteriormente, o poeta Oswald de Andrade, um dos promotores da Semana de Arte moderna, parafraseou o romântico:

Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra!
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
[…]

Paródia

A paródia, por sua vez, cria uma intertextualidade de cunho humorístico, satírico, crítico ou irônico. Nesse caso, durante a construção do novo texto, a obra original é alterada ou até mesmo subvertida — assim, o significado e o sentido não são mantidos como acontece com os dois tipos descritos anteriormente.

Veja adiante uma comparação entre a música do cantor Luan Santana e uma paródia que satiriza a letra original:

OriginalParódia
Te dei o sol
Te dei o mar
Pra ganhar seu coração
Você é raio de saudade
Meteoro da paixão
Explosão de sentimentos
Que eu não pude acreditar
Ah! Como é bom poder te amar
Te dei arroz,
te dei feijão
Pra ganhar seu macarrão
Você é molho de salada
Suculento de limão
Fritação de batatinhas
Que eu não pude aguentar
Ah! Como é bom você jantar

Epígrafe

Esse tipo de intertextualidade é muito conhecida por leitores assíduos. A epígrafe é aquele verso que aparece antes dos capítulos de livros e são citações de outros livros, obras, filmes, músicas, entre outros. 

Ela, em geral, aparece na parte superior da página e parece uma frase solta no contexto da obra. Apesar disso, a epígrafe indica uma contextualização e comunicação entre a obra citada e o texto principal. 

Na Bíblia, é muito comum que os capítulos venham precedidos por esse tipo de intertextualidade. A imagem a seguir é um bom demonstrativo disso.

Intertextualidade - epígrafe

Além desses tipos aqui tratados, existem diversas formas de relacionar um texto ao outro. Por isso, é sempre essencial perceber as nuances que a mensagem pode trazer, interpretá-las, e associá-las aos conhecimentos gerais e cotidianos

Questão de intertextualidade no Enem

Para entender melhor e trabalhar sua interpretação, veja agora algumas questões de intertextualidade no Enem e vestibulares. Ao final, acompanhe a resolução proposta pelo Estratégia e compare com a sua resposta — essa atitude é importante para reforçar suas habilidades e pontuar suas dificuldades, não deixe de conferir!

Enem – 2009

TEXTO A

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.

[…]

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, a noite –
Mais prazer eu encontro la;
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o Sabiá.

DIAS, G. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998.

TEXTO B

Canto de regresso à Pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita
Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo.

ANDRADE, O. Cadernos de poesia do aluno Oswald. São Paulo: Círculo do Livro. s/d.

Os textos A e B, escritos em contextos históricos e culturais diversos, enfocam o mesmo motivo poético: a paisagem brasileira entrevista a distância. Analisando-os, conclui-se que:

a) o ufanismo, atitude de quem se orgulha excessivamente do país em que nasceu, é o tom de que se revestem os dois textos.
b) a exaltação da natureza é a principal característica do texto B, que valoriza a paisagem tropical realçada no texto A.
c) o texto B aborda o tema da nação, como o texto A, mas sem perder a visão crítica da realidade brasileira.
d) o texto B, em oposição ao texto A, revela distanciamento geográfico do poeta em relação à pátria.
e) ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem brasileira.

Por meio da intertextualidade, o Enem traz dois textos que versam sobre a nação brasileira de duas maneiras diferentes.

O texto A exalta a natureza brasileira, enquanto o texto B se baseia no texto anterior para implantar uma crítica à realidade do país. Por essa razão, a alternativa correta é a letra C.

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  • Checklist: veja o que mais cai no Enem por disciplina
  • Como desenvolver repertório sociocultural para a redação?
  • Exemplos de redação nota 1.000

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