Poesia: o que é, características e exemplos

Poesia: o que é, características e exemplos

Filmes de romance são marcados de subjetividade e expressão de sentimentos. Uma das cenas mais clássicas é o pretendente declarando uma poesia para sua amada, expondo emoções, tecendo elogios e descrevendo a ouvinte com riqueza de detalhes. Essa é a representação típica de uma poesia: o eu lírico com liberdade de exprimir suas impressões e sensações. 

Poesias são repletas de valor artístico e literário, por isso são muito exploradas em questões de vestibulares. Tanto pela preocupação com a forma estética do texto, quanto pela subjetividade presente nesses escritos. 

Neste artigo, você pode aprender mais sobre as características das poesias, qual o tipo de linguagem utilizada, quais os recursos estéticos e linguísticos explorados nesse tipo de texto e muito mais. Tudo isso com exemplos clássicos criados por grandes poetas da Literatura em Língua Portuguesa. Vamos lá?

Características da poesia

Os textos poéticos estão englobados dentro do gênero lírico da literatura. São escritos que possuem lirismo, ou seja, possuem subjetividade, liberdade de expressão, aspectos emocionais, sentimentais, impressões, sensações, entre outros aspectos não objetivos. 

Escritas poéticas são descritas em versos, que se unem em estrofes. Essa organização está relacionada com a origem das poesias: os textos cantados ao som de liras em palácios. Então, além de uma estrutura que permita o canto, há uma grande preocupação com rimas, ritmo, sonoridade e a estética literária no geral.

É comum que o conteúdo das poesias não seja concreto. Diferentemente de um texto jornalístico, por exemplo, os poetas não têm um compromisso com a realidade e transmissão de informações verídicas. Então, os textos líricos podem adicionar dados imaginários, fantásticos para exprimir a mensagem — para alcançar esse objetivo, os autores utilizam a linguagem conotativa ou figurada. 

Inclusive, é comum que as poesias sejam escritas na primeira pessoa do singular. Essa “voz” que guia o texto é chamada de eu lírico. É importante mencionar que eu lírico não precisa corresponder, necessariamente, com a imagem do autor. 

Até porque, escritores como Fernando Pessoa, são especialistas em criar heterônimos para escrever em diferentes pontos de vista (com diferentes eus líricos). Abaixo, confira duas de suas criações: na primeira, Pessoa é o autor; na segunda, ele adiciona o heterônimo Alberto Caeiro como eu lírico. 

Autopsicografia

O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 

E os que leem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm. 

E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração. 

(Fernando Pessoa)

É Preciso Também não Ter Filosofia Nenhuma

Não basta abrir a janela 
Para ver os campos e o rio. 
Não é bastante não ser cego 
Para ver as árvores e as flores. 
É preciso também não ter filosofia nenhuma. 
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. 
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, 
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela. 
(Alberto Caeiro)

Tipos de poesia

As poesias podem ser classificadas conforme seu conteúdo principal e também por sua organização estrutural. Quando são voltadas para temáticas amorosas ou sobre como o eu lírico enxerga as situações em sua volta, trata-se da poesia lírica.

Em algumas situações, as poesias são utilizadas para narrar fatos épicos, com ou sem elementos fantásticos adicionados ao evento. Nesses casos, tratam-se de poesias épicas, como escreveu Camões em “Os Lusíadas”, que está demonstrado no trecho abaixo. 

Canto IV

Despois de procelosa tempestade,
Nocturna sombra e sibilante vento,
Traz a manhã serena claridade,
Esperança de porto e salvamento;
Aparta o Sol a negra escuridade,
Removendo o temor ao pensamento:
Assi no Reino forte aconteceu
Despois que o Rei Fernando faleceu.

A poesia dramática é um tipo em que uma história pode ser descrita, mas a opinião do eu lírico se soma aos fatos. De forma que há uma união entre o drama contado e a subjetividade do enunciador poético. 

Em termos estruturais, existem as poesias de versos livres. É uma classe muito explorada pelos modernistas, de forma que a preocupação com estrofes, versos, rimas e métricas perfeitas é deixada de lado. A principal função desse texto é transmitir sua mensagem, independentemente da questão estética. Veja o exemplo da poetisa brasileira Ana Cristina César:

Este livro

Meu filho. Não é automatismo. Juro. É jazz do
coração. É prosa que dá prêmio. Um tea for two
total, tilintar de verdade que você seduz,
charmeur volante, pela pista, a toda. Enfie a
carapuça.
E cante.
Puro açúcar branco e blue.

Existem também as poesias escritas em prosa. Nesse caso, o componente poético é conferido pela preocupação com a métrica, harmonia, ritmo, musicalidade e rimas. Entretanto, não existe a clássica organização em versos e estrofes.

Recursos linguísticos em poesia

Para conferir os aspectos rítmicos, essenciais para uma poesia, os autores lançam mão de recursos da Língua Portuguesa que favorecem a musicalidade. Conheça-os melhor com os tópicos a seguir.

Figuras de linguagem

Figuras de linguagem são ferramentas que permitem trazer maior expressividade para a escrita. Seja com a hipérbole, que garante um exagero para as ideias, ou com as aliterações que permitem um encadeamento das vogais dentro do verso, o que confere ritmicidade à escrita. 

Alguns poetas lançam mão de sinestesias para expressar suas sensações. Nessa figura de linguagem, há uma mistura entre as cinco vias sensoriais, como dizer que “sentiu o cheiro do gosto de chocolate”. 

Muitas outras figuras podem ser utilizadas, tanto para trazer riqueza estética, musical ou de conteúdo para a poesia. No trecho de soneto a seguir, escrito por Luís de Camões, se destaca o paradoxo, que aproxima ideias incongruentes e exprime um valor semântico ao texto.

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

Rimas e métrica

Além da linguagem muito bem selecionada para transmitir a mensagem corretamente, os autores preocupam-se com a rima e a métrica da poesia. A rima, nada mais é, que a união entre fonemas semelhantes no decorrer ou ao final de cada verso.

A métrica, por sua vez, é uma maneira de elaborar cada verso com base no número de sílabas poéticas. De maneira simplificada, alguns estudiosos indicam que é o número de vezes em que é necessário encostar os lábios para pronunciar aquele verso. 

Observe esses recursos na poesia do parnasianismo, escrita por Olavo Bilac:

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito.
Assim procedo. Minha pena
Segue essa norma.
Por te servir, Deusa Serena,
Serena Forma.

Poesia e poema: qual a diferença?

É comum que, em textos didáticos e no cotidiano, os termos “poema” e “poesia” sejam utilizados como sinônimo. Abaixo, você encontra a conceituação adequada de cada um deles, evitando confusões futuras. 

Poema

Poema é a palavra que designa todos os textos literários que estão escritos em versos, trata-se de uma estrutura textual. Eles podem ser montados conforme a vontade do autor, ou seguirem uma forma fixa, como os sonetos que possuem duas estrofes de quatro versos (quartetos), seguidas de duas estrofes de três versos (tercetos).

Poesia

As poesias, por outro lado, são produções artísticas que exprimem e evocam emoções — é uma classificação do conteúdo. Inclusive, aponta-se que o componente poético pode estar presente em pinturas, esculturas, músicas e outras manifestações da arte. 

Com essas definições esclarecidas, conclui-se que os poemas podem ser poesias, quando essas estão descritas em versos e possuem um valor subjetivo e emocional. Mas isso não significa que toda poesia é um poema, ou que todo poema é uma poesia. Afinal, nem todo texto em versos possui subjetividade, ritmo, métrica, musicalidade e outros critérios poéticos. 

+ Veja também: Literatura brasileira: panorama histórico das principais escolas

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