Ironia e sarcasmo são as bases de uma poesia satírica. São obras literárias com o objetivo de traçar as características de uma sociedade e/ou instituição e, então, criticar esses aspectos do ponto de vista político, moral e cultural. Leia este artigo e conheça mais sobre as sátiras.
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Definição de poesia satírica
Por definição, uma poesia é um texto organizado em estrofes e versos, que pode variar em termos estéticos conforme a corrente literária em questão. Mas, em geral, as poesias apresentam uma preocupação com a ritmicidade, organização, sonoridade, rimas, contagem de sílabas dentro dos verbos, entre outros elementos para transmitir beleza artística visual e auditiva ao texto.
A poesia satírica é, então, um subtipo das poesias literárias em que predomina esse teor crítico, irônico, com palavras e comentários ácidos. Há uma tendência em avaliar a sociedade, o comportamento de alguns grupos de relevância naquela civilização, como políticos e pessoas mais abastadas.
Características da poesia satírica
Tom jocoso
Os temas das poesias satíricas giram em torno da vivência e situações que acontecem rotineiramente entre as pessoas, como compras em mercados, organização política de cidades, observação de fatos famosos que ocorreram em uma determinada localidade, entre outras temáticas. Para isso, o autor tece esses eventos de maneira irônica e sarcástica e, muitas vezes, garante um tom jocoso para os textos.
Então, durante a leitura, é possível encontrar aspectos de comédia em uma poesia satírica. Afinal, as instituições e grupos sociais são retratados de modo caricato, com exagero na descrição de características negativas, associado a uma criticidade ao mesmo tempo ácida e engraçada.
Veículo literário
Antes de tudo, as poesias satíricas podem ser consideradas veículos literários em que são expostas, descritas e criticadas certas ações sociais que não agradam o autor e que, frequentemente, também são ideias compartilhadas pelo público leitor.
Ainda, é uma forma de disseminar a informação entre os interlocutores, mesmo entre aqueles que não tinham esse ponto de vista anteriormente, de forma a difundir uma nova visão sobre a organização daquela sociedade, por exemplo.
Assim, é possível compreender as poesias satíricas como forma de denunciar injustiças, dificuldades, hipocrisias e desgastes sociais para o público e também para as figuras de relevância ou instituições que estão sendo criticadas.
Nesse sentido, inclusive, o aspecto jocoso desses textos abranda o conteúdo crítico, deixando-o mais “digerível” pelos leitores, sem ser uma crítica direta, incisiva e maçante. Mas uma construção das críticas de forma que agrega o interlocutor.
Críticas diversas
Embora a maior parte das sátiras tenham um caráter de críticas negativas, como denúncias morais, ataques, desmascaramento da hipocrisia e desmoralização de certos grupos sociais, nem todas funcionam assim. Existem poesias satíricas mais brandas, que analisam e pontuam as questões relevantes em uma tonalidade menos negativa. Entretanto, esses casos são mais raros.
Trajetória da poesia satírica
A sátira, em termos de críticas ácidas, é um estilo de escrita antigo. Em diversos pontos da história é possível encontrar textos e obras que tecem análises sobre a sociedade e seus aspectos.
O exemplo mais clássico foi no primeiro movimento artístico da Europa, o Trovadorismo, há um tipo textual satírico. As cantigas de escárnio e cantigas de maldizer que tinham um objetivo de criticar algo ou alguém. Nas primeiras predominam comentários ácidos, diretos e ofensivos, inclusive citando o nome da figura criticada. Enquanto os textos de maldizer são mais brandos e emitem opinião de forma indireta e não claramente endereçada.
Poesia satírica no Brasil
No Brasil, o principal autor da poesia satírica foi Gregório de Matos Guerra, um escritor do século XVII que compôs o Barroco Brasileiro. Nascido em Salvador, na Bahia, no ano de 1636, o autor passou alguns anos de sua vida em Portugal e, quando voltou ao Brasil, tinha muitas críticas à sociedade baiana.
Com suas sátiras, o poeta ficou conhecido como “Boca do Inferno” e causou muita ira nas figuras que criticava. Mas suas obras não se restringem a esse tipo de texto, porque também escreveu materiais líricos e religiosos.
Veja, a seguir, um soneto em que o autor critica a cidade de Salvador, onde nasceu e que, no período colonial, também era a capital política da nação.
“Epigrama
Que falta nesta cidade?… Verdade.
Que mais por sua desonra?… Honra.
Falta mais que se lhe ponha?… Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste rocrócio?… Negócio.
Quem causa tal perdição?… Ambição.
E no meio desta loucura?… Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quais são seus doces objetos?… Pretos.
Tem outros bens mais maciços?… Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?… Mulatos.
Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos?… Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?… Guardas.
Quem as tem nos aposentos?… Sargentos.
Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
E que justiça a resguarda?… Bastarda.
É grátis distribuída?… Vendida.
Que tem, que a todos assusta?… Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
Que vai pela clerezia?… Simonia.
E pelos membros da Igreja?… Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?… Unha
Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.
E nos frades há manqueiras?… Freiras.
Em que ocupam os serões?… Sermões.
Não se ocupam em disputas?… Putas.”
Observe as palavras mais ácidas escolhidas pelo autor, com uma conotação de ofensa, crítica à deturpação dos valores morais e religiosos, questionamentos sobre como a justiça acontecia, entre outros elementos de criticidade, em que demonstra sua insatisfação com a “vergonhosa” cidade soteropolitana.
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