Prosa indianista: características do romantismo indianista

Prosa indianista: características do romantismo indianista

A prosa indianista é uma particularidade da Primeira Geração Romântica do Brasil. São narrativas que focam no cotidiano indígena, traçado para reforçar a identidade cultural originária do país, desenvolvida por grandes autores, em que o mais famoso foi José de Alencar. Leia e conheça as características e principais aspectos desse tipo de literatura. 

O que é prosa indianista?

Na literatura, há dois tipos principais de estrutura textual: as poesias e as prosas. Nas poesias, os inscritos estão divididos em estrofes e versos, há busca pela musicalidade, ritmicidade, a estética do texto é importante, adicionam-se rimas e outras figuras de linguagem que contribuem para a beleza do texto. 

No caso da prosa, não há intencionalidade musical, os textos são divididos em grandes blocos chamados de parágrafos. Geralmente, as prosas são utilizadas para descrever informações, transmitir dados e desenvolver narrativas. Este artigo, por exemplo, é uma prosa com objetivo didático. 

Quando o tema é a “prosa indianista”, os textos possuem essa característica de história desenvolvida e narrativa que foca na cultura do Brasil indígena. Ou seja, o tema gira em torno do cotidiano das aldeias e povos indígenas, de forma que entre os personagens, sempre existem os índios de alguma região do Brasil.

Contexto histórico da prosa indianista

A prosa indianista faz parte da Primeira Geração do Romantismo brasileiro. Nessa época, havia um anseio grande pela independência do território das imposições coloniais de Portugal. Os movimentos das colônias da América do Norte e a Revolução Francesa influenciaram esse pensamento de liberdade, baseados no iluminismo.

Diante disso, muitos intelectuais e escritores românticos entendiam que era necessário estabelecer uma visão sobre o que é ser brasileiros, quais as características do território, qual a identidade cultural das pessoas que povoam a região. 

Foi assim que surgiu a ideia de adicionar a figura do indígena como uma personalidade originária do território, os primeiros povos que aqui estavam. Esses aspectos foram somados com a questão da colonização, então, muitos autores desenvolveram histórias mitológicas para explicar a formação da população brasileira. Elas tinham essa característica de unir um personagem europeu com um indígena, representando a miscigenação no território.

Características da prosa indianista

Os textos em prosa indianista, antes de tudo, são escritos românticos. Então, há uma tendência ao exagero e à idealização das características naturais do território brasileiro, dos personagens e até da fauna e flora que ocupam o Brasil.

É importante citar, inclusive, que a idealização das personalidades indígenas era tamanha a ponto de trazer aspectos europeus para a caracterização de um índio. Note que isso parte de uma visão eurocêntrica que era difundida no período colonial, em que a civilização era centrada no continente europeu, então os “melhores cidadãos” deveriam possuir as “qualidades europeias”.

Nesse sentido, o índio servia para representar todo o povo brasileiro, era a figura nacional e protagonista das prosas indianistas. A narrativa acontecia dentro de um ambiente florestal, geralmente um dos grandes biomas brasileiros, e ali dentro ocorria uma história de amor romântica, que era o foco do enredo. 

Lembre-se, também, que esses textos tinham um objetivo sutil em “reescrever” a história da nação brasileira, reconstituindo o passado histórico, marcado pelo encontro entre indígenas e europeus. As provas demonstraram esse evento de forma romantizada e idealizada, tecendo uma harmonia entre o colonizador e os nativos colonizados. 

Autores da prosa indianista

José de Alencar

O principal nome da prosa indianista brasileira foi o escritor romântico José Martiniano de Alencar, um cearense que viveu a maior parte de sua vida no Sudeste brasileiro. De formação, Alencar era advogado, mas sua carreira literária iniciou-se quando atuou como jornalista em publicações como “Diário do Rio de Janeiro”. 

O Guarani

A primeira prosa indianista publicada é datada de 1857, foi escrita por ele e é chamada “O Guarani”. Nela o autor descreve o romance entre um homem indígena, Peri, e uma mulher branca, Ceci. Essa história de amor acontece no século XVII, no período colonial brasileiro.

A história foi lançada em formato de folhetins semanais, ou seja, semana a semana novos trechos da narrativa eram liberados. A obra, como a conhecemos hoje, é resultado da união desses diversos fragmentos. 

No contexto, há uma romantização do encontro entre brancos e índios, como é esperado nesse tipo de texto. A natureza, além de idealizada, também aparece como símbolo da nacionalidade brasileira. Em termos de vivência branca, nota-se que os valores burgueses são exaltados dentro da obra. Acompanhe um trecho a seguir:

“— Estou muito zangada com Peri!

O semblante do selvagem anuviou-se.

— Tu, senhora, zangada com Peri! Por quê?

— Porque Peri é mau e ingrato; em vez de ficar perto de sua senhora, vai caçar em risco de morrer! disse a moça ressentida.

— Ceci desejou ver uma onça viva!

— Então não posso gracejar? Basta que eu deseje uma coisa para que tu corras atrás dela como um louco?

— Quando Ceci acha bonita uma flor, Peri não vai buscar? perguntou o índio.

— Vai, sim.

— Quando Ceci ouve cantar o sofrer, Peri não o vai procurar?

— Que tem isso?

— Pois Ceci desejou ver uma onça, Peri a foi buscar.”

Iracema

Outra obra de caráter indianista da Primeira Geração Romântica chama-se “Iracema”, e também foi escrita por José de Alencar. Nesse texto, o autor relata uma história de amor entre um homem europeu e uma mulher indígena, a Iracema. 

Um dos trechos da obra é o destaque para representar a idealização romântica indianista, veja: 

“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.”

Note como o escritor sempre associa as características perfeitas da personagem com a beleza exuberante da natureza em território brasileiro. Ou seja, há uma romantização tanto natural quanto dos índios. 

Ubirajara

Para completar a tríade de prosas indianistas de José de Alencar, que marcaram a Primeira Geração Romântica, deve-se citar o romance “Ubirajara”. Nessa obra, não há a marca clássica da união entre o branco e o indígena. A história narra a história do índio chamado Jaguarê que está em busca de conquistar um novo cargo hierárquico na aldeia, e para isso precisa lutar e vencer. 

Aqui, o índio é representado em seu estado “nativo”, sem as interferências da colonização. Então o autor projeta idealizações sobre o comportamento, cultura e cotidiano do indígena antes mesmo da chegada dos europeus, ressaltando características que poderiam “valorizar” a imagem do nativo perante a sociedade, como coragem, valentia e força.

“Pela margem do grande rio caminha Jaguarê, o jovem caçador. O arco pende-lhe ao ombro, esquecido e inútil. As flechas dormem no coldre da uiraçaba. Os veados saltam das moitas de ubaia e vêm retouçar na grama, zombando do caçador.
Jaguarê não vê o tímido campeiro, seus olhos buscam um inimigo capaz de resistir-lhe ao braço robusto. O rugido do jaguar abala a floresta; mas o caçador também despreza o jaguar, que já cansou de vencer.
Ele chama-se Jaguarê, o mais feroz jaguar da floresta; os outros fogem espavoridos quando de longe o pressentem. Não é esse o inimigo que procura, porém outro mais terrível para vencê-lo em combate de morte e ganhar nome de guerra”

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