Prosa histórica: características dos romances históricos

Prosa histórica: características dos romances históricos

A literatura é uma arte que possibilita unir fatos reais com ficção, incluir elementos diferentes, idealizados, hiperbolizados em um contexto cotidiano. É a partir dessa característica que foram criadas as prosas históricas, obras que se situam em determinado tempo histórico, podem incluir personagens baseados em fatos reais, além de adicionar aspectos literários e subjetivos para narrar o enredo. Continue lendo e saiba mais!

O que é prosa histórica?

Um texto em prosa é aquele que está organizado em parágrafos, geralmente com o intuito de construir uma linha de raciocínio, seja para contar uma história, apresentar dados, descrever estatísticas ou explorar um assunto didático, como é o caso deste artigo. 

Já um texto histórico é aquele que traz elementos históricos em sua temática, sejam personagens, eventos, dados sobre um acontecimento, entre outros fatores que possam estar envolvidos com um período específico da história da humanidade.

Assim, uma prosa histórica é um escrito em que são abordados temas de importância para a história de um povo nação ou país, estruturado em parágrafos. Na Literatura brasileira, os principais exemplos desse tipo de livro surgiram durante o romantismo, por volta do século XIX. 

Contexto histórico da prosa histórica

A prosa histórica, também conhecida como romance histórico, iniciou-se na Europa com um autor chamado Walter Scott (1771-1832). Depois, chegou ao Brasil em um momento em que discutia-se a independência do país. 

Naquela época, o mundo estava em efervescência devido aos acontecimentos da Revolução Francesa e, nas Américas, a Independência das Treze Colônias. Então, os intelectuais brasileiros que concordavam com um ponto de vista iluminista buscavam instalar um processo de independência no território. 

Diante disso, um dos primeiros esforços levantados foi no sentido de fortalecer o sentimento de união nacional entre os brasileiros. A ideia era que as pessoas encontrassem semelhanças, pontos em comum entre si, reforçando a unicidade e elo criado simplesmente por terem nascido na mesma região.

Para isso, diversas ferramentas foram aplicadas e a literatura foi uma delas. Os textos românticos são os principais para esse processo, e a prosa histórica foi utilizada para adicionar elementos ficcionais a episódios reais e históricos do território brasileiro.

Características da prosa histórica

Nos romances e prosas históricas a principal característica, que é definidora para o tipo textual, é a presença de um fato histórico relevante, que é a base de todo o enredo. A partir disso, são traçados os personagens, que podem ser uma mistura entre personalidades reais envolvidas no fato e figuras ficcionais para a construção da narrativa. 

Muitas vezes, os autores optam por adicionar também valores éticos e morais na trama, até mesmo para reconstruir imagens a respeito de fatos históricos. A história geralmente é contada no pretérito do tempo verbal, além de que o cenário é construído para transmitir essa ideia de “antiguidade”, em concordância com a época em que ocorreu o evento histórico.

Em geral, essas obras possuem um caráter nacionalista ufanista, então busca-se sempre exaltar as características da nação em seus aspectos físicos, naturais, sociais e culturais ainda que de forma idealizada. A idealização também atinge os personagens, e muitos deles são apresentados com elementos e comportamentos heróicos. 

Principais autores e obras

José de Alencar (1829-1877)

No Brasil, um dos principais nomes da prosa histórica foi José de Alencar. Esse brilhante escritor é representante do romantismo brasileiro, especialmente da Primeira Geração. Então, suas obras estão intimamente relacionadas com a construção da identidade cultural do brasileiro, o ufanismo e a idealização do território e pessoas que aqui viviam. 

Diante disso, sua produção literária foi exuberante não somente para a prosa histórica, mas também na prosa indianista. Inclusive, em uma de suas obras mais conhecidas, Iracema, há a união de fatos históricos com a exaltação do indígena como nativo herói da nação. 

Iracema (1865)

Na obra original, o livro é intitulado “Iracema – Lenda do Ceará” e o enredo foi desenvolvido de forma a contar a história ficcional da criação do estado do Ceará. A própria indígena protagonista, Iracema, torna-se um símbolo do Ceará e tem relacionamento com um colonizador português, representando o encontro entre brancos e indígenas que é tão importante na formação do Brasil.  Inclusive, da afetividade entre Iracema e Martim (o colonizador) nasce um bebê chamado Moacir, que é considerado como “o primeiro cearense”.

Ao mesmo tempo, a palavra Iracema é um anagrama com as letras da palavra “América”, então o autor também tinha uma visão histórica em construir um enredo sobre a formação das Américas. Com isso, o romance pode ser classificado tanto como prosa indianista como também prosa histórica.  Veja um trecho da obra a seguir.

“O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil barco o filho e o cão fiel. A jandaia não quis deixar a terra onde repousava sua amiga e senhora.
O primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra da pátria. Havia aí a predestinação de uma raça?”

A Guerra dos Mascates (1873)

Outra prosa histórica de importância na Literatura brasileira é o título “A Guerra dos Mascates”, também escrito por José de Alencar. A obra se passa em meio a Guerra dos Mascates, um episódio de revolta nativista do período colonial brasileiro, no início do século XVIII. 

O texto narra o conflito entre duas figuras históricas clássicas do colonialismo brasileiro: os senhores de engenho contra os comerciantes livres portugueses, que eram chamados de mascates. A história é contada na perspectiva idealizada, com traços heroicos para a construção do enredo. Acompanhe um trecho abaixo. 

“Era João Cavalcanti naquele tempo o chefe da grande família Cavalcanti, que em Pernambuco data da fundação da colônia, e provém de troncos nobilíssimos; pela linha materna saíram da estirpe dos Coelhos e Albuquerques, flor da fidalguia portuguesa, e pela linha paterna remontam a Arnaldo Cavalcanti, que se aliou na casa dos Médicis, a mais ilustre de Florença; de cuja linhagem nasceu Filipe Cavalcanti que se passou a Pernambuco, nos primeiros tempos da povoação. De grandes posses, senhor de muitos engenhos, vivendo à lei da grandeza, com todos os regalos da vida; bravo, cortês e generoso, embora presumido de sua fidalguia; liberal até à prodigalidade, de bolsa aberta sempre para quem a ele recorria: era de razão que tivesse o capitão-mor grande séquito não só entre os moradores nobres, como na gente miúda da terra.”

Outras obras

  • As Minas de Prata, 1865 – José de Alencar;
  • O Tempo e o Vento, série literária publicada entre 1949 e 1961 – Érico Veríssimo;
  • Alfarrábios, 1873 – José de Alencar; e
  • Terras do sem fim, 1943 – Jorge Amado.

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