Primeira Geração Romântica: contexto, características e autores

Primeira Geração Romântica: contexto, características e autores

O Romantismo, no Brasil, é dividido em três grandes fases. Essa classificação leva em conta características semelhantes, que estão permeadas por contextos históricos, sociais e políticos diferentes. Neste artigo, são abordados os principais aspectos da Primeira Geração Romântica Brasileira, com os autores e obras mais famosas. Leia agora!

Contexto histórico da Primeira Geração Romântica

A Primeira Geração Romântica Brasileira está inserida no contexto histórico ainda colonial, mas marcado pela vinda da Família Real ao Brasil, no ano de 1808. Nesse período, grandes transformações sociais foram implementadas pelo então rei de Portugal, Dom João VI.

O governante transferiu toda a Corte Portuguesa para o Brasil devido a problemas internacionais, em especial com o imperador Francês Napoleão Bonaparte. Quando chegou ao Brasil, o rei notou que seria necessário continuar sua liderança sobre Portugal, então estabeleceu o Reino Unido de Portugal e Algarves, que elevou o Brasil à condição de reino. 

Então, o pacto colonial foi progressivamente enfraquecido, ao mesmo tempo que ideias iluministas eram difundidas em todo o cenário mundial. Por exemplo, a famosa Revolução Francesa e a Independência das Treze Colônias norte-americanas eram movimentos que mostravam a força e resistência do iluminismo.

Ao mesmo tempo, com a presença dos portugueses no território brasileiro, muitos cidadãos sentiam-se ameaçados e tinham medo de voltarem aos extremos da dominação vivenciados nos séculos anteriores. 

Todo esse contexto histórico e político contribuiu para o surgimento do nacionalismo, com a valorização da identidade cultural e social do Brasil. Era o princípio da valorização dos povos nativos do território, bem como a sensação de união dos indivíduos que viviam no território. Foi um período importante para o desenvolvimento do sentimento de “nação brasileira”.

Foi nessa época que surgiram os primeiros escritos do Romantismo. Na mesma ideia desenvolvida nos cenários políticos, as obras buscavam valorizar os povos nativos e reforçar uma identidade cultural brasileira própria, afastando-se das interferências portuguesas e academicistas sobre a visão do “ser brasileiro”. 

Inclusive, a Primeira Geração do Romantismo também se relaciona com o Processo de Independência da Nação Brasileira. Toda a questão nacionalista e iluminista que permeou esse contexto foi necessária para que Dom Pedro II declara-se a independência da nação em 7 de setembro de 1822. 

+ Veja mais: Período Joanino: o que foi, transformações e importância

Características da Primeira Geração Romântica

Valorização indígena e da natureza brasileira

Uma das características mais marcantes dessa geração romântica está na eleição do indígena como um herói nacional. Diversas obras se passavam em aldeias, tribos ou tinham personagens indígenas que eram descritos de forma romantizada, com qualidades exuberantes e hiperbólicas. 

Outro tema comum era a natureza brasileira, valorizada em seus diversos aspectos, seja pelo canto dos pássaros, a cor das flores e a beleza das árvores. Nesse sentido, inclusive, muitos escritos faziam a interface entre a característica indígena e a riqueza natural do Brasil. Por exemplo, os elogios dirigidos aos índios faziam comparação com elementos belos da fauna ou flora brasileira. Veja um exemplo no texto de Iracema, de José de Alencar:

“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”

Identidade brasileira 

É importante reforçar, mais uma vez, a busca dos autores em desenvolver uma identidade nacional e cultural entre os brasileiros. Afinal, até esse momento da história literária, as obras tinham sempre influência e recortes baseados em tendências europeias e academicistas, mas esses elementos se afastavam do cotidiano e vivência dos habitantes do Brasil.

Diante dessa característica tão nacionalista, muitos materiais se referem à Primeira Geração Romântica como uma literatura Nacionalista-Indianista. Inclusive, em alguns textos é possível observar uma busca dos autores em criar uma linguagem que identificasse a brasilidade. 

Por exemplo, o uso de um vocabulário enriquecido pelos idiomas indígenas, para se referir às árvores, pássaros e outros elementos da natureza. Diversas obras são nomeadas com palavras nativas, como I-Juca Pirama de Gonçalves Dias. Veja um trecho desse poema a seguir:

“Acerva-se a lenha da vasta fogueira,
Entesa-se a corda de embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.”

Textos sobre a criação do Brasil

Em meio ao anseio de criar uma identidade firme para a nação brasileira, muitos autores desenvolveram enredos que buscavam explicar, de forma mitológica, a origem do Brasil. Geralmente, essas histórias eram construídas a partir do encontro e união entre indígenas e europeus de forma romantizada. 

Idealização da mulher

Em concordância com as descrições hiperbólicas desenvolvidas pelos autores românticos, havia uma forte tendência de idealização das personagens femininas. Seja pela descrição extremamente positiva, com elementos naturais, seja porque elas tinham uma personalidade construída para representar a feminilidade conforme os padrões da época. 

Principais autores e obras da Primeira Geração Romântica

Gonçalves de Magalhães

Domingos Gonçalves de Magalhães é uma personalidade importante para a literatura brasileira, pois é considerado o responsável por introduzir a estética romântica no território brasileiro. Então, é um grande precursor da Primeira Geração Romântica. 

Domingos, além de poeta, atuou como médico e tinha uma influência social por representar um oficial do segundo reinado brasileiro. As primeiras publicações foram na Revista de Niterói, em conjunto com Araújo Porto-Alegre (1806-1879) e Francisco de Sales Torres Homem (1812-1876) e tinham relação com sua posição social, afinal os temas eram voltados principalmente para divulgações científicas.

Em dado momento, a valorização da cultura brasileira também entrou no escopo de assuntos da Revista. Até que, em 1836, Domingos Magalhães publicou a obra considerada como primeiro exemplar do romantismo no Brasil, chamada “Suspiros Poéticos e Saudades”. 

Outras obras famosas são “O Poeta e A Inquisição” (1938), “Confederação dos Tamoios” (1856) e “Os Mistérios” (1857). 

Suspiros Poéticos e Saudades

Poema escrito de forma descritiva, em que o eu lírico está sempre contemplando e relatando suas impressões sobre os lugares em que se encontra. Em alguns momentos o texto é ambientado em Roma, em outros falando sobre a Pátria, o cristianismo e diversos assuntos comentados pelo enunciador do texto, repleto de reflexões e da busca pela beleza estética da escrita. 

Castas Virgens da Grécia, 
que os sacros bosques habitais do Pindo!

Oh Numes tão fagueiros,
que o berço me embalastes
com risos lisonjeiros,
assaz a infância minha fascinastes.

Guardai os louros vossos,
guardai-os, sim, qu’eu hoje os renuncio.
Adeus, ficções de Homero!

Deixai, deixai minha alma
em seus novos delírios engolfar-se,
sonhar co’as terras do seu pátrio Rio.

Só de suspiros coroar-me quero,
de saudades, de ramos de cipreste;
só quero suspirar, gemer só quero,
e um cântico formar co’os meus suspiros; 

assim pela aura matinal vibrado
o Anemocórdio, ao ramo pendurado,
em cada corda geme,
e a selva peja de harmonia estreme.”

José de Alencar (1829)

José Martiniano de Alencar é um dos escritores mais notáveis da literatura brasileira, especialmente na Primeira Geração Romântica. Nascido em Fortaleza, o escritor mudou-se na infância para o Sudeste e realizou o curso de Direito na cidade de São Paulo.

Além de trabalhar com a advocacia e ocupar cargos políticos, o autor teve a possibilidade de trabalhar em um veículo de imprensa importante no Rio de Janeiro. Na ocasião, exercia a função de jornalista e teve a oportunidade de escrever sobre diversos temas, o que aguçou sua paixão pela escrita. 

Sua fama iniciou-se quando, em uma das edições do jornal em que trabalhava, o Diário do Rio de Janeiro, o Alencar criticou um poema épico escrito pelo renomado romancista Gonçalves de Magalhães em um texto chamado “Cartas sobre A Confederação dos Tamoios”.

Em seu período dedicado à literatura o autor publicou diversas obras, em diferentes gêneros, como teatro, romances e poemas, além de também variar a temática dos textos. Porém, sempre mantinha o objetivo de criar uma literatura brasileira, focada em preservar e desenvolver a identidade nacional ufanista. 

Os mais famosos são: O jesuíta (1875), A viuvinha (1857), O guarani (1857), Iracema (1865), O gaúcho (1870), A pata da gazela (1870),  Guerra dos mascates – 1º e 2º volume (1871 e 1873), Til (1871), Ubirajara (1874), O sertanejo (1875) e Senhora (1875).

Algumas obras têm um teor predominantemente crítico e se referem, principalmente, às questões políticas. Entre elas está “Ao imperador: cartas políticas de Erasmo e Novas cartas políticas de Erasmo” (1865) e “Ao povo: cartas políticas de Erasmo” (1866).

O guarani

O guarani é uma obra muito representativa dessa fase do romantismo brasileiro, porque constrói especificamente a imagem do indígena como herói da nação. Além de que também aborda  o mito da formação do Brasil pela união entre brancos e índios, na história de amor dos personagens Peri e Ceci. 

“Corria o mês de março de 1603.

Era portanto um ano antes do dia em que se abriu esta história.

Havia à beira do caminho que então servia às expedições entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, um vasto pouso onde habitavam alguns colonos e índios catequizados.

Estava quase a anoitecer.

Uma tempestade seca, terrível e medonha, como as que há freqüentemente nas faldas das serranias, desabava sobre a terra. O vento mugindo açoitava as grossas árvores que vergavam os troncos seculares; o trovão ribombava no bojo das grossas nuvens desgarradas pelo céu; o relâmpago amiudava com tanta velocidade, que as florestas, os montes, toda a natureza nadava num oceano de fogo.”

Gonçalves Dias (1823-1864)

Antônio Gonçalves Dias, mais conhecido como Gonçalves Dias foi um dos mais notáveis escritores do Romantismo Brasileiro da Primeira Geração. O maranhense demonstrou seu notável talento em desenvolver poemas que expressavam os aspectos mais importantes da escola literária. 

Sua biografia representa uma parte da história brasileira: era filho de pai português e mãe brasileira, com ascendência indígena e africana. Então, Gonçalves Dias era a representação da miscigenação que formou e forma a sociedade brasileira ao longo do tempo. 

Ele estudou Direito em Portugal, na Universidade de Coimbra, e foi professor no Colégio Dom Pedro II, criado durante o Período Regencial do Brasil. Também trabalhou em cargos públicos e políticos, mas seus feitos mais relevantes estão no campo literário, em que além de poeta, também era teatrólogo.

As obras mais conhecidas do autor são Canção do Exílio (1846), I-Juca Pirama (1852), Os Timbiras (1857) e Primeiros Cantos (1846). Sua trajetória encerrou-se em um naufrágio no ano de novembro de 1864. 

Canção do exílio

Como poema, a Canção do exílio é outro texto emblemático para  a Primeira Geração Romântica. Afinal, representa claramente a exaltação nacionalista (e ufanista) do território brasileiro e seus diversos aspectos. É uma de cinco estrofes em que o eu-lírico está fora do Brasil e sente saudades da região, lembrando de maneira idealizada cada detalhe daqui. 

“Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.”

+ Veja também: Saiba quais são os tipos de questões sobre obras literárias obrigatórias

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Questão sobre Primeira Geração Romântica no Brasil

Enem 2020 

Leito de folhas verdes
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d’alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.

DIAS, G. Antologia poética. Rio de Janeiro: Agir, 1979 (fragmento).

Na perspectiva do Romantismo, a representação feminina espelha concepções expressas no poema pela

a) reprodução de estereótipos sociais e de gênero.

b) presença de traços marcadores de nacionalidade.

c) sublimação do desejo por meio da espiritualização.

d) correlação feita entre estados emocionais e natureza.

e) mudança de paradigmas relacionados à sensibilidade.

Cuidado: embora Gonçalves Dias seja um poeta da primeira geração romântica brasileira na lírica que, como um todo, tendeu a ser indianista e nacionalista, esse trecho é um exemplo de poema lírico (sentimental).

No texto, o amor é viabilizado por elementos naturais: céu, lua, estrelas, brisa, flor, sol e vegetação. Tudo que é natural é responsável por dar vida ao amor.

Gabarito: alternativa D. 

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