Quando uma mensagem é escrita ou enunciada, o autor da mensagem visa, em geral, que o conteúdo seja transmitido da maneira mais clara possível ao leitor. A ideia central do conteúdo deve ser captada com facilidade pelo leitor e, para isso, é necessário que o enunciador faça uma boa correlação entre os tempos e modos verbais, entre os parágrafos e as frases.
Na Língua Portuguesa e em diversos idiomas, os verbos são palavras centrais para desenvolver frases e textos coerentes. Entretanto, não basta apenas organizar e escolher as expressões verbais corretas, é necessário também que elas estejam conjugadas no tempo e no modo correto para aquele contexto, o que facilita a compreensão lógica do texto.
Se você quer aprender mais sobre como é essa relação entre tempos e os modos dos verbos, como essa compreensão pode ajudar na escrita de redações mais claras e coerentes, continue a ler este artigo e confira conceitos, definições e diversos outros aspectos sobre o assunto, com exemplos.
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O que é a correlação de tempos e modos verbais?
A expressão “correlação de tempos e modos verbais” refere-se à maneira como os verbos estão flexionados ao longo da frase, para fazer o encadeamento lógico entre as orações que compõem o texto. Para entender esse assunto, então, é necessário compreender a essência que cada modo verbal transmite.
- O modo indicativo é o que transmite certeza, veracidade, é fatídico, real, decisivo, tem conotação objetiva;
- O modo subjuntivo expressa possibilidade, dúvida, suposição, incerteza a respeito de algo que poderia acontecer; e
- O modo imperativo serve para aplicar ordens, mandamentos, etapas, instruções para o receptor da mensagem.
No português, as conjugações de tempo para os verbos são diversas, e permite localizar o verbo no presente, passado e futuro, bem como distribuir um futuro dentro do próprio passado, entre outras complexidades próprias da língua, que tornam os textos ricos em organização cronológica.
Por exemplo, a intenção é falar sobre a possibilidade de chover no dia anterior como isso afetaria nossos planos, os modos e tempos verbais são diferentes, veja:
- Se a chuva atrapalha a ida ao parque, a possibilidade de chover impede que se vá ao parque. Se não chover, então é possível passear por lá;
- O fato de ir ou não ao parque já é uma certeza, ou a pessoa foi ao parque, ou ela não foi;
- Ainda, são dois eventos que estão no passado, por isso estarão conjugados no passado, mas em tempos diferentes do passado. Afinal, a chuva é anterior à decisão de ir ou não ao parque.
“”Se chovesse ontem, conforme as previsões meteorológicas, não iríamos ao parque. “
Veja que o verbo “chover” está conjugado no pretérito imperfeito do subjuntivo (chovesse), indicando uma possibilidade de chuva que estava disposta no passado. Por outro lado, a decisão de não ir ao parque em condições de chuva aponta que o verbo “ir” deve estar no modo indicativo, ainda que seja uma afirmação a respeito do passado, então a melhor estrutura será o futuro do pretérito (iríamos).
A imagem abaixo ajuda a compreender melhor a relação entre os diferentes tempos do passado e como isso deve ser distribuído nas frases, para tornar os textos mais coerentes e organizados cronologicamente.
Importância da correlação de tempos e modos verbais
Ao fazer a correta correspondência do tempo verbal dentro da cronologia e também adicionar o modo verbal adequado, os textos adquirem uma coerência e coesão precisas. O leitor consegue situar cada situação, possibilidade ou ordem em uma linha de tempo, para compreender como cada ação pode ter influenciado a outra, por exemplo.
Quando os verbos não estão bem definidos em tempo e modo, a escrita ou fala tendem a ficar desorganizados e abre espaço para ambiguidades e interpretações incorretas sobre o assunto, por isso é um tema importante tanto para o estudo pré-vestibular, como para a vida cotidiana, profissional e acadêmica.
Um equívoco comum é a troca de tempo verbal no modo indicativo: a diferença entre o pretérito-mais-que-perfeito do indicativo e do futuro do indicativo é o prefixo. Para indicar o verbo no pretérito-mais-que-perfeito , usa-se “-ram”, já no futuro, adiciona-se “-rão” ao radical.
A similaridade sonora entre os dois sufixos torna-se uma dificuldade para muitos falantes da Língua Portuguesa. Diante disso, é necessário analisar o contexto da frase e qual sentido ela quer transmitir, se trata-se do passado ou do futuro daquela ação. Acompanhe alguns exemplos.
“Depois que eles pegaram as flores no jardim, foram embora felizes”
Observe que a frase toda está conjugada no tempo passado, principalmente quando é observado o verbo ir, que está na forma de “foram”, o pretérito perfeito desse verbo irregular. Assim, o sufixo para o verbo pegar deve condizer com o passado, por isso utilizou-se “-ram”.
Por outro lado, se a ideia da frase centra-se no futuro, a organização seria:
“Depois eles pegarão as flores no jardim e com certeza sairão felizes”
Nesse caso, os dois verbos fazem afirmações, ou seja, estão no modo indicativo. Entretanto, o enfoque da frase está em ações futuras, por isso, o sufixo escolhido é “-ão”, que também se repete no verbo ir (sairão).
Ainda, a mesma frase pode ser escrita como uma possibilidade ou uma ordem. Nesse caso, a alteração deve focar no modo verbal, como demonstrado abaixo:
“Depois, peguem as flores e saiam”
A estrutura frasal transmite ideia de ordem, que eles devem pegar e sair, o tempo está no presente, mas o modo é o imperativo afirmativo, que expressa ordem, instruções.
Se recolher as flores for uma possibilidade, então o texto seria:
“Depois, quando eles pegarem as flores e saírem, seguiremos nosso dia”
Nesse caso, o modo subjuntivo transmite a ideia de que pegar as flores é uma possibilidade que poderá acontecer depois, no futuro, porque o verbo está conjugado nesse tempo e modo. Em sequência, utilizou-se o verbo “seguiremos” que é uma afirmação sobre a ação que será efetuada no futuro — modo indicativo e tempo futuro.
Com esses exemplos, fica evidenciado que o conhecimento sobre os tempos e modos verbais facilita transmitir a mensagem com a maior exatidão possível. Analogamente, ao ler os textos, é possível interpretá-los de maneira correta, considerando o arcabouço verbal escolhido pelo autor, como ele encadeou os verbos no tempo e na ideia transmitida.
+ Veja também: Flexão verbal: conceito, aplicação e importância
Questão sobre correlação de tempos e modos verbais
UFMS 2022
Leia os dois textos a seguir, observando o emprego das formas verbais destacadas:
i) Quando chegaram ao local indicado pelo denunciante, os policiais logo constataram que os homicídios não ocorreram ali. Diferentes linhas de investigação foram desencadeadas e, seis dias depois, o delegado responsável pelo caso vem a público para anunciar a solução do caso, com a prisão de dois suspeitos, que teriam confessado o triplo assassinato. (Notícia de jornal adaptada).
ii) “A carreira de Wendell Lira no futebol profissional não foi exatamente memorável. […] Mas o futebol, como se sabe, é um esporte de epifanias. […] Em março de 2015, numa partida do campeonato goianiense, ‘Lira ousou um giro acrobático: engendrou uma meia bicicleta e chutou a pelota, ainda no ar, lançando-a para o fundo da rede. Meses depois seria indicado para o prêmio Puskás’. Em janeiro de 2016, na Suíça, vestiria um terno pela primeira vez e, “para a surpresa de muita gente, o atacante goiano levou o prêmio”. […]
(Fonte: PUJOL, Leonardo. Wendell, o boleiro. Como nasce um campeão virtual. Piauí, ano 11, n. 128,p. 14, maio 2017.Fragmento com adaptações)
Sobre o uso de tempos e de modos verbais nos dois textos, é correto afirmar que:
A) Em i), o uso do presente, em “vem”, compromete a correlação de tempos verbais, produzindo incoerência.
B) Em ii), as duas formas no futuro do pretérito expressam fatos imaginários, em conexão com o sentido da palavra “epifanias”.
C) Em ii), o futuro do pretérito expressa, nas duas ocorrências, fatos posteriores aos relatados no período antecedente e anteriores ao momento em que o texto foi escrito.
D) As três formas verbais destacadas no primeiro período do texto i) estão no pretérito mais-que-perfeito, expressando fatos que ocorreram em um passado remoto.
E) Em i), a forma “teriam confessado” poderia ser substituída por “confessaram”, no pretérito perfeito, sem produzir alterações no sentido do texto, mantendo-se o efeito de veracidade.
Alternativa correta: C.
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