Todos os tipos de discursos da Língua Portuguesa podem ser organizados e classificados a depender da mensagem que deseja ser transmitida. Nesse contexto, estrofes, versos, parágrafos, citações, sonetos e outros elementos podem ser utilizados em diferentes gêneros textuais.
As estrofes são comumente utilizadas em textos poéticos e, para a constituição estética e sonora do conteúdo, elas podem rimar entre si, é possível agrupá-las conforme o número de versos entre diversas outras organizações, que se dobram à liberdade de expressão do autor.
Neste texto, encontre informações básicas sobre estrofes, como o conceito, formas de identificar versos e estrofes, classificações e outros tópicos importantes do assunto. Todo o artigo é baseado em exemplos reais de poesias e, ao final, há uma questão de vestibular resolvida e comentada para elucidar como o tema pode ser cobrado nas provas.
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Conceito de estrofe
O conceito de estrofe pertence ao estudo das poesias, na literatura da Língua Portuguesa. Uma estrofe trata-se de um conjunto de versos que se encadeiam dentro de uma poesia ou poema. Cada texto poético pode conter uma ou mais estrofes, a depender do estilo literário do autor.
Observe, então, que a ideia de estrofe depende do conhecimento sobre os versos. Basicamente, um verso poemático é uma linha da poesia, que em geral é uma frase curta. Então, quando vários versos são agrupados em uma estrofe, é comum que tenham uma relação de sentido entre si.
O exemplo abaixo é um texto do autor português Fernando Pessoa. Note que o poema está dividido em dois grandes grupos de frases, ou seja, são duas estrofes com numerosos versos cada uma.
Ó mar salgado, quanto do teu sal (1º verso)
São lágrimas de Portugal! (2º verso)
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, (3º verso)
Quantos filhos em vão rezaram! (4º verso)
Quantas noivas ficaram por casar (5º verso)
Para que fosses nosso, ó mar! (6º verso)
Valeu a pena? Tudo vale a pena (1º verso)
Se a alma não é pequena. (2º verso)
Quem quer passar além do Bojador (3º verso)
Tem que passar além da dor. (4º verso)
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, (5º verso)
Mas nele é que espelhou o céu. (6º verso)
+ Veja também: Verso branco: o que é, exemplos e modernistas
Verso livre: definição, modernismo e exemplos
Recursos estéticos e sonoros nas estrofes
Na maior parte das vezes, os textos poéticos possuem uma preocupação especial com a visualização estética do conteúdo — para isso, as estrofes são estudadas por meio da métrica, que permite calcular o número de sílabas em cada grupo. Além disso, os poetas deleitam-se na perfeita sonoridade de seus textos, então constroem as estrofes por meio de rimas e figuras de linguagem.
Gregório de Matos foi um grande poeta do barroco brasileiro e, abaixo, está descrita uma de suas poesias sobre a Bahia. A partir dela, conheça mais sobre os recursos expressivos que dominam a escrita poética.
A cada canto um grande conselheiro,
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um frequentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.
O poema acima possui 4 estrofes, de forma que as 2 primeiras estrofes têm 4 versos — então podem ser chamadas de quartetos —, e as 2 últimas têm três versos — são denominadas tercetos.
Essa estrutura poética é muito comum em muitos autores acadêmicos da literatura, quando dois quartetos são seguidos de dois tercetos, a poesia é chamada de soneto. Assim, sonetos e outras organizações pré-determinadas são formas de organizar o texto esteticamente, o que confere um aspecto visual mais “limpo”, “claro” e estruturado para os conteúdos.
Nesse poema de Gregório de Matos, também é possível observar propriedades sonoras bem trabalhadas pelo autor. A mais chamativa dessas características é a rima, que se mantém ao longo de todas as estrofes e versos.
Na primeira e segunda estrofes, mantém-se um padrão rítmico em que o primeiro e o último verso rimam entre si (conselheiro + inteiro na primeira estrofe e olheiro + terreiro na segunda estrofe), assim como o segundo e o terceiro versos também tem sílabas semelhantes na última palavra (vinha + cozinha e vizinha + esquadrinha). Note, ainda, que as sonoridades das rimas são semelhantes entre as estrofes, o que traz uma melodia de fonemas, que se encontram entre si e dão ritmo à poesia.
Nos dois últimos grupos de versos, o autor faz a rima entre estrofes. Então, o primeiro verso da terceira estrofe rima com o primeiro verso da quarta estrofe (desavergonhados + mercados), e assim acontece com os segundos (nobres + pobres) e terceiros versos (picardia + Bahia).
Classificação de estrofes
As estrofes podem ser classificadas de acordo com a quantidade de versos que possuem, como mostra a tabela abaixo.
Número de versos | Tipo de estrofe |
1 verso | Monóstico |
2 versos | Dístico ou parelha |
3 versos | Terceto ou trístico |
4 versos | Quarteto ou quadra |
5 versos | Quintilha, quinteto ou pentástico |
6 versos | Sextilha, sexteto ou hexástico |
7 versos | Septilha, hepteto, heptástico |
8 versos | Oitava ou octástico |
9 versos | Nona |
10 versos | Décima |
11 ou mais versos | Irregular |
Do ponto de vista métrico, as estrofes podem ser classificadas em simples, compostas ou livres. De forma que:
- Estrofes simples seguem rigorosamente as regras da escansão e possuem sílabas metricamente calculadas;
- Estrofes compostas são aquelas em que o autor agrupa versos métricos e versos sem uma formalidade na contagem de sílabas; por fim
- Estrofes irregulares são constituídas por versos sem uma preocupação com a estrutura métrica, contagem silábica e outros parâmetros estético-acadêmicos da literatura.
Questões sobre estrofes
UNIFESP (2019)
Leia o poema “Sou um evadido”, do escritor português Fernando Pessoa, para responder à questão.
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte¹,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
(Obra poética, 1997.)
¹ “andar a monte”: andar fugido das autoridades.
“Rima rica” é aquela que ocorre entre palavras de classes gramaticais diferentes, a exemplo do que se verifica
A) na primeira estrofe (“nasci”/“fugi”) e na segunda estrofe (“lugar”/“cansar”).
B) na terceira estrofe (“monte”/“encontre”), apenas.
C) na segunda estrofe (“lugar”/“cansar”), apenas.
D) na primeira estrofe (“nasci”/“fugi”) e na terceira estrofe (“monte”/“encontre”).
E) na segunda estrofe (“lugar”/“cansar”) e na terceira estrofe (“monte”/“encontre”).
Resposta: Ambas as rimas são ricas, pois “lugar” é substantivo e “cansar” é verbo no infinitivo; por outro lado, “monte” é substantivo e “encontre” é verbo.
Alternativa correta: E.
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