Já assistiu o melhor filme de 2021, segundo a Academia de Cinema do Oscar? No Ritmo do Coração desbancou grandes nomes do audiovisual e levou três estatuetas da maior premiação do cinema.
O filme, que conta a história da única ouvinte em uma família de deficientes auditivos, traz reflexões interessantes sobre a condição de vida de pessoas surdas, além dos desafios que a família inteira pode enfrentar. No texto a seguir, separamos todos os pontos do longa que podem formar seu repertório sociocultural para as redações dos vestibulares. Confira:
Atenção: esse texto contém spoilers.
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O que é repertório sociocultural da redação?
O repertório sociocultural é o uso de conceitos e conhecimentos de campos variados para defender um argumento. Na proposta de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele faz parte da competência dois de avaliação.
Nessa competência, a banca avalia se o candidato conseguiu “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.”
Um bom repertório sociocultural pode trazer referências a acontecimentos históricos, conceitos filosóficos, citações a obras do cinema e da música, literatura e muito mais.
No Ritmo do Coração: o filme
Dirigido e roteirizado por Siân Heder, No Ritmo do Coração conta a história de Ruby Rossi (Emilia Jones), uma adolescente de 17 anos, que é conhecida na cidade em que mora por ser a única pessoa ouvinte em uma família com os pais e o irmão que são surdos.
Mesmo sendo a filha mais nova, Ruby sempre precisou ser muito independente para defender sua família do preconceito, ajudar no trabalho com a pesca e ser a intérprete dos três para qualquer assunto.
Quando Ruby entra para o coral da escola em que estuda e descobre que tem a oportunidade de conseguir uma bolsa de estudos na Universidade de Berklee para cursar Música, ela fica dividida entre deixar sua família, que, na sua visão, sempre foi dependente dela, ou seguir seu sonho com a música.
Agora que você já está por dentro do enredo, vamos conhecer os pontos da história que podem render bons repertórios para diversos temas de propostas de redação.
Capacitismo
A família Rossi leva uma vida comum como qualquer outra, mas mesmo assim é descredibilizada pelo fato de três dos quatro membros serem surdos.
O pai e o irmão da protagonista Ruby, Frank (Troy Kotsur) e Leo Rossi (Daniel Durant), respectivamente, são pescadores e vendem seus peixes para um empresa distribuidora que se aproveita da condição não ouvinte deles para pagar menos do que paga a outros pescadores, que não possuem deficiência auditiva.
A falta de credibilidade na capacidade de uma vida social sobre a família é tanta, que o sentimento de incapacidade por falta da audição é muito presente em Jackie Rossi (Marlee Matlin), a matriarca, que reforça sempre que pode que Ruby não deveria deixar de ser intérprete deles para ir à faculdade em outra cidade.
Por causa disso, Ruby também se sente responsável pela família e decide desistir do curso de Música quando seu pai e irmão são proibidos pelas autoridades de trabalhar sem uma pessoa ouvinte no barco de pesca.
Os desafios da família Rossi podem ser usados como repertório em redações como a do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2007, “O desafio de se conviver com a diferença”. Isso fica evidente em uma discussão de Leo e Ruby, quando o rapaz diz “Você tem medo que nós [a família] pareçamos idiotas. Eles [pessoas ouvintes] que aprendam a lidar com surdos!”.
Já no tema da redação de 2017 do Enem, “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, No Ritmo do Coração pode ajudar na reflexão de que, assim como o ambiente educacional, o restante da estrutura social não é pensada para pessoas surdas.
Exploração de pequenos produtores
A empresa que compra os peixes da família Rossi se aproveita da deficiência auditiva para pagar menos a eles, mas também se aproveita dos pescadores ouvintes, comprando suas produções por valores muito abaixo do mercado, fazendo com que as famílias de todos os trabalhadores mal consigam se sustentar.
Tudo muda quando Leo decide que a família deveria abandonar a empresa e vender os peixes direto para os consumidores finais. Os Rossi começam então a convidar outros pescadores a participar e constroem uma cooperativa.
Em 2013, o Exame Nacional do Ensino Médio Para Pessoas Privadas de Liberdade e Jovens Sob Medida Socioeducativa (Enem PPL) propôs o tema “Cooperativismo como alternativa social”, na redação. O longa-metragem traz um grande exemplo de trabalho cooperativo que resolveu os problemas financeiros de várias famílias e extinguiu a exploração do trabalho.
Bullying
Se você se deparar com uma proposta de redação sobre bullying, No Ritmo do Coração também pode complementar seus argumentos. Isso porque, além da vida com os parentes, Ruby vive sua vida adolescente no Ensino Médio e é alvo de bullying por outros alunos.
Por ter nascido em uma família que não se comunica de forma oral, a protagonista desenvolveu dificuldades de fala e esse foi um dos motivos pelos quais ela era alvo de humilhação.
A deficiência da sua família também vira assunto quando seus pais a buscam na escola com o som do carro em um volume alto e quando Miles (Ferdia Walsh-Peelo) vai até a casa de Ruby ensaiar para o concerto de outono, ouve Jackie e Frankie — que não tinham noção do barulho que faziam — tendo relações sexuais e espalha para colegas de escola.
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Curiosidade sobre No Ritmo do Coração
O filme, produzido pela Apple TV e ganhador de três categorias — Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante — da maior premiação do cinema mundial, o Oscar, foi o primeiro filme produzido por um serviço de streaming a ser considerado o melhor filme pela Academia de Cinema.
No Ritmo do Coração também levou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, já que a história é derivada do drama francês “A Família Bélier”, e ainda na premiação, Troy Kotsur consagrou-se como o primeiro surdo a vencer o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante.
Outro fato interessante, é que Marlee Matlin, a atriz que interpreta Jackie Rossi, foi a primeira pessoa surda a concorrer a um Oscar e vencer a categoria Melhor Atriz com o filme “Filhos do Silêncio”, de 1986.
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