O relativismo cultural é um aspecto sociológico em que cada cultura deve ser compreendida como única, específica e que, muitas vezes, só pode ser entendida por aqueles que estão inseridos nessa vivência.
É um conceito que evita possíveis concepções discriminatórias em relação aos costumes diferentes presentes em culturas diferentes. Com isso, é um tema de suma importância para o desenvolvimento sociológico e ético dos cidadãos, especialmente entre aqueles que possuem contato com diferentes culturas frequentemente, como por exemplo profissionais do turismo, da área da saúde, entre outros.
Neste artigo, conheça mais sobre o relativismo cultural e como esse conceito deve ser interpretado e aplicado no cotidiano. Ainda, veja uma questão sobre cultura que foi cobrada no Enem de 2021, comentada e resolvida pela professora de História do Estratégia, Alê Lopes.
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Definição de relativismo cultural
O relativismo cultural é conceito das ciências humanas e sociais, especialmente da sociologia, que trata sobre a exclusividade de cada cultura. Nessa visão, defende-se que um valor cultural só pode ser plenamente compreendido quando é interpretado pelas noções particulares daquela cultura.
A concepção do relativismo cultural aponta para uma questão importante ao observarmos e convivermos em um mundo plural e diverso culturalmente: não existe verdade absoluta, certo ou errado, incondicionais. Para os sociólogos, essas formulações são produtos da vivência cultural de cada sociedade.
Por exemplo, na cultura brasileira há o costume de banhar-se diariamente, e essa prática é suficiente em si mesma no cotidiano nacional. Entretanto, outros países e nações adotam outras práticas de higiene que só serão perfeitamente compreendidas dentro daquele contexto de vivência.
Assim, não há superioridade entre um hábito e outro, apenas diferenças culturais justificáveis dentro de um conjunto de valores que norteiam cada sociedade. Dessa forma, fica notório que o relativismo cultural é essencial para que não haja uma hierarquização das culturas.
Etnocentrismo como contraponto
A proposição de que uma civilização é mais avançada do que a outra foi uma realidade durante muito tempo da humanidade. Historicamente, a Europa foi um dos primeiros continentes a se desenvolver e, pouco a pouco, a produção intelectual, industrial, comercial, religiosa e o crescimento da população concentrou-se nesta região.
Então, com a comercialização com outras nações e a expansão conferida pelas Grandes Navegações, os europeus entraram em contato com outros povos e culturas. A vivência de cada cultura, naquele ponto histórico era completamente diferente, mas suficiente para a manutenção de cada civilização individualmente.
Porém, o olhar europeu sobre essas diferenças foi etnocêntrico. Muitos pensadores difundiram a ideia de que a Europa e as etnias provenientes daquele espaço geográfico tinham um desenvolvimento intelectual maior do que as outras sociedades.
Depois, o próprio pensador que deu origem à sociologia, Auguste Comte, criou a teoria do positivismo. Para esse autor, as sociedades possuem um estado de desenvolvimento, que parte de algo primitivo para uma civilização completamente racional, lógica e científica. Com essas proposições, ele admitia que grande parte das nações da Europa estavam no estágio de máximo evolução, enquanto outros povos estavam em uma fase mais atrasada.
Diante desse contexto em que a própria comunidade científica tinha um viés etnocêntrico, um pensador chamado Franz Boas lançou as ideias do relativismo cultural. Com essa nova concepção, a ideia de uma sociedade mais bem desenvolvida e superior à outra deixa de existir, sendo substituída por um movimento de respeito mútuo pela individualidade de cada cultura em si mesma.
Ainda, há uma oposição à ideia de progresso contínuo da sociedade, proposta pelo positivismo. Na visão relativista, as civilizações podem manter ou alterar seus padrões se isso faz sentido dentro de sua vivência, não necessariamente isso significa evolução ou involução, apenas uma escolha de cada sociedade sobre sua própria realidade.
Diversidade cultural
A diversidade cultural trata sobre as múltiplas formas de existência e interpretação da vida, com hábitos, costumes, culinária, religião, modos de vestimenta, organização familiar, hierarquia social, higiene que variam muito entre diferentes espaços geográficos.
É importante notar que a diversidade cultural é muito expressiva entre nações diferentes, especialmente quando comparamos países ocidentais e orientais, por exemplo, já que têm uma história de formação bem diferentes entre si.
Por outro lado, espaços geográficos próximos também apresentam diferenças culturais significativas. Por exemplo, dentro do Brasil existem culturas diversas conforme o Estado e, até dentro do mesmo Estado ou cidade é possível encontrar tradições diferentes.
A nação brasileira é extremamente diversificada etnicamente, assim, em um exemplo que podemos utilizar, famílias de origem italiana podem ter uma tradição culinária específica, resultado da soma entre a cozinha brasileira e a italiana. Assim, essa característica cultural não é compartilhada por todo país, mas por um grupo de pessoas.
+ Veja também: Cultural Material e Imaterial: o que é?
Relativismo cultural: tudo é aceito?
Como o relativismo cultural propõe que as culturas são auto explicáveis, a partir de um olhar “de dentro”, o tema tornou-se polêmico quando algumas práticas consideradas abomináveis aos olhos de muitas culturas são questionadas.
Por exemplo, a maior parte dos países considera que o canibalismo é uma prática criminosa, punível. Entretanto, algumas comunidades mantêm hábitos canibais, como forma de transmitir sabedoria e força entre os membros. O dilema sociológico está em aceitar essas culturas como são pelo critério do relativismo cultural ou intervir para evitar tais atos vistos como atrocidade para os povos que estão fora?
Outro modelo pode ser a Índia, na cultura do país, um nascimento do sexo feminino não é visto com bons olhos. No contexto indiano, há um valor maior quando nasce uma vida masculina e isso traz certo prestígio para a família.
No entanto, a visão ocidental atual prega que a supervalorização dos homens e desvalorização das mulheres é resultado de uma sociedade patriarcal e machista. Nesse sentido, há um impasse sobre considerar um aspecto cultural ou estimular mudanças conforme a visão externa àquela cultura.
Nesses casos, é importante avaliar como as tradições estão influenciando nas pessoas, qual a aceitação dessas práticas dentro da cultura, se há um sofrimento e como ele é interpretado dentro daquele contexto, para só então pensar em possíveis intervenções dentro dessa sociedade.
Questão sobre relativismo cultural
Enem (2021)
Famoso por ser o encantador de viúvas da cidade de Cabaceiras, na Paraíba, Zé de Sila é um contador de histórias parecido com o personagem Chicó, do Auto da Compadecida. Ele defende veementemente que a oração da avó sustentava mais a chuva. “Quando era pequeno e chovia por aqui, ajudava minha avó colocando os pratos emborcados no terreiro para diminuir o vento. Ela fazia isso e rezava para a chuva durar mais”, diz Zé de Sila.
GALDINO, V.; BARBOSA, R. C. Artistas por um dia?
João Pessoa: Editora Universitária, 2009.
Ao destacar expressões e vivências populares do cotidiano, o texto mobiliza os seguintes aspectos da diversidade regional:
A) Alianças afetivas conectadas ao ritual matrimonial.
B) Práticas místicas associadas ao patrimônio cultural.
C) Manifestações teatrais atreladas ao imaginário político.
D) Narrativas fílmicas relacionadas às intempéries climáticas.
E) Argumentações literárias interligadas às catástrofes ambientais.
Patrimônio cultural são todos aqueles bens culturais reconhecidos por um povo como marca de sua identidade. Eles podem ser materiais (construções, obras de arte, ferramentas, etc.) ou imateriais (músicas, danças, festas, receitas culinárias, histórias, rituais, etc.). Também podem ser paisagens culturais, que são espaços urbanos ou rurais nos quais a ação humana influenciou a natureza, ou patrimônio ecológico, que são as paisagens naturais que demandam proteção ambiental. Nessa lógica, os hábitos da vó de Zé de Sila, assim como as histórias que ele conta sobre eles, podem ser considerados patrimônios culturais imateriais.
Alternativa correta: B.
+ Veja também: Saiba quais são os 22 patrimônio históricos do Brasil
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