Neste mês da Consciência Negra, é importante reafirmar os motivos pelos quais esta data existe. Em um mundo ainda desigual, onde grupos historicamente oprimidos ainda estão em desvantagem, saber sobre essas estruturas é o primeiro passo para transformá-las. Por isso, separamos alguns filmes que podem te ajudar a compreender a questão racial.
As obras, brasileiras e estrangeiras, retratam temas históricos e atuais e, a partir de diversos enquadramentos, nos mostram aspectos raciais que por vezes passam despercebidos. Quando assistir, lembre-se de acompanhar a discussão e a reflexão que a obra está propondo. Vamos lá?
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O que é a Consciência Negra e por que ela é importante?
Antes de mais nada, é importante lembrar que o atual dia da Consciência Negra existe a partir da contestação de movimentos negros à ideia de abolição da escravatura “dada” pelos brancos. A questão racial, conforme apresentam alguns dos filmes, surge com a escravização, mas ganha uma nova roupagem devido à forma que a abolição é feita no Brasil.
A versão oficial dizia que a libertação dos escravizados foi feita pela benevolência da elite branca, materializada na figura da Princesa Isabel. A contestação dessa versão partia do princípio que a libertação foi conquistada pelos próprios negros, em movimentos de resistência, como os quilombos.
A data de 20 de novembro parece mais adequada do que 13 de maio, já que é o dia da morte de Zumbi dos Palmares (1655-1695), símbolo da resistência e da luta anti-escravista. O argumento é que, apesar do fim da escravidão, nunca houve reparação ou políticas de inclusão desses escravos, o que perpetuou a pobreza do povo negro e as desigualdades sociais no país.
Ou seja, a abolição de 13 de maio de 1888 não trouxe nenhum benefício à população negra e manteve uma situação de extrema desigualdade social. As leis do período perseguiam e excluíam os recém-libertos, que eram proibidos de frequentar escolas, por exemplo. As marcas culturais e de ancestralidade eram associadas a elementos demoníacos que contribuíram para o apagamento de diversas etnias.
Em entrevista à Agência do Senado, o historiador Deivison Campos, afirma que “até, praticamente, os anos 1970, a principal forma de integração social se dava através do branqueamento, ou seja, da assimilação, fosse ela cultural, fosse ela estética”.
Foi a partir desse período que estudiosos, intelectuais e militantes negros passaram a contestar essa narrativa e buscar um novo olhar sobre a história, que pudesse valorizar os personagens e feitos negros no Brasil.
Por isso, o historiador, que também é professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), afirma que o resgate da ancestralidade, cultura e tradições africanas é um dos momentos-chave da consciência negra.
“Toda a luta antirracista está baseada nessa identidade com referencialidade negra, afro-brasileira, uma coisa que antes do 20 de novembro era impensável. A partir daquele momento, as pessoas negras mais engajadas se deram conta de que deveriam negociar a sua integração plena na sociedade brasileira a partir de outro lugar, não mais a partir do branqueamento social, mas de uma identidade negra, uma nova forma de negociar a cidadania”, afirma.
A população negra no Brasil
Os dados estatísticos nos ajudam a compreender a realidade em que estamos inseridos, norteando ações, políticas públicas e formas de transformar situações de injustiça social, desigualdades e as formas de discriminação. Nesse sentido, é muito importante notar que grande parte dos problemas do presente estão relacionados a acontecimentos do passado. Os filmes sobre a questão racial ilustram essas situações.
Após 133 anos da abolição da escravidão, a população negra corresponde a 56% da população brasileira, segundo o IBGE. A maioria numérica não se reflete nos dados econômicos e sociais, que mostram que a população preta e parda segue marginalizada socialmente.
Segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo entre negros é três vezes superior do que entre pessoas brancas. Além disso, a estatística de brancos que concluem o ensino médio é de 76%, enquanto negros é de 61%. Por fim, os dados sobre o ensino superior revelam que 78,8% dos jovens de 18 a 22 anos brancos estão no ensino superior contra 55,6% entre jovens negros. Os dados são do ano de 2018.
No mercado de trabalho, os negros representam 64,2% dos desempregados e os que estão empregados recebem em média 73,9% menos do que a população branca. O salário é inferior, inclusive, na ocupação dos mesmos cargos.
Sobre a questão da violência, os dados também preocupam: de cada 100 assassinatos, 75 são cometidos contra negros e a chance de um jovem negro ser assassinado é quase três vezes maior do que um jovem branco, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Esses dados são importantes para ilustrar um cenário onde o racismo ainda persiste na sociedade e para nortear formas de combatê-lo. É para isso que existe a consciência negra.
Agora que você já tem o contexto sobre o racismo no Brasil, separamos alguns filmes que podem ajudar a compreender os detalhes que os números não falam, mas que não são menos importantes. Vamos lá?
9 filmes sobre a questão racial
Os filmes que o Estratégia Vestibulares separou sobre a questão racial retratam situações diversas, épocas e lugares distintos. Ela é apresentada em suas formas variadas, com óticas plurais. Por isso, cada obra possui uma contribuição, seja no sentido de despertar a sensibilidade para o tema ou até mesmo retratar situações específicas sobre a negritude.
1. Cidade de Deus (2002)
O filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund já é um clássico do cinema nacional. Considerado por muitos um dos melhores longas brasileiros, retrata diferentes gerações de pessoas da Cidade de Deus, favela no Rio de Janeiro. Dentre os filmes sobre a questão racial, é dos mais explícitos e diretos ao abordar as situações.
Com cenário nos anos 70, o filme é uma verdadeira aula sobre o cotidiano de lugares onde a ausência do estado abre espaço para um terra de leis próprias, comandada pela criminalidade desde a primeira infância.
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2. Madame Satã (2002)
O filme retrata a vivência urbana de gays na década de 1930, materializada na figura de João Francisco dos Santos — gay, negro e transformista que viveu nesse período. Estrelado por Lázaro Ramos, o filme é reconhecido no cinema nacional e acumula prêmios dentro e fora do país. Retratando uma história real, o filme ilustra bem uma das facetas da vivência negra que ainda é pouco explorada pelo cinema.
3 Filhas do vento (2005)
O filme conta a história de duas irmãs separadas por força do destino e que se encontram após a morte do pai, 45 anos após a separação. Sob direção de Joel Zito Araújo, o longa é estrelado por Taís Araújo e se passa no interior de Minas Gerais aborda questões sobre o racismo e os resquícios da escravidão no estado.
4. Ó paí, Ó (2007)
Estrelado por Lázaro Ramos e dirigido por Monique Gardenberg, o longa se passa em um cortiço no pelourinho, na cidade de Salvador, em época de carnaval. Retratando a alegria e efusividade da cultura baiana e afro-brasileira, o filme também é assertivo em retratar temáticas raciais e de reflexão social.
5. 12 Anos de Escravidão (2013)
Vencedor do oscar de melhor filme em 2013, o filme retrata a história de Solomon Northup, negro livre que vive com a esposa e filhos em 1841, até que é sequestrado e escravizado. O personagem passa a ser vítima de um sistema cruel e racista que constituía a sociedade estadunidense nesse período.
6. Branco sai, Preto Fica (2014)
Outro representante nacional, o filme “Branco sai, Preto fica” se passa nos anos 80 na cidade de Brasília, onde em um baile de Black Music dois homens são feridos pela polícia. O acontecimento é marcante para vida dos homens e determina uma série de acontecimentos. Misturando ficção e documentário, o filme dirigido por Adirley Queiróz expõe mecanismos raciais e sociais presentes no Brasil.
7. Infiltrado na Klan (2018)
Dirigido por Spike Lee, um dos cineastas de maior renome nos EUA, o filme conta a história do policial negro Ron Stallworth que, em 1978, consegue se infiltrar na Ku Klux Klan, seita de supremacia racial estadunidense. O policial se comunica com o grupo através de cartas, telefonemas e envia um policial branco quando vai às reuniões presenciais. O filme retrata um contexto histórico importante para os EUA e para o mundo.
8. Corra! (2018)
Garantindo a presença do gênero suspense/terror em nossa lista, Corra! é um filme dirigido por Jordan Peele que retrata a história de um casal interracial de um homem negro e uma muher branca. Quando ele vai conhecer a família dela, descobre que na verdade está em uma armadilha racista complexa e perturbadora.
9. Marighella (2019)
Gravado em 2019 e lançado em 2021, o filme conta a história do guerrilheiro Carlos Marighella, morto pela ditadura militar em 1969. Filme dirigido por Wagner Moura, tem Seu Jorge no papel do protagonista retratando a resistência contra o regime militar e uma organização revolucionária de extrema esquerda. O filme causou polêmica antes mesmo de sua estreia, sendo adiado diversas vezes e lançado neste ano.