África no vestibular: conheça o passado e o presente do continente

África no vestibular: conheça o passado e o presente do continente

A África é o berço da humanidade e um tema cada vez mais cobrado no vestibular. Para saber tudo sobre o continente, confira esta matéria.

Terceiro maior em área, com mais de 30 milhões de km², e o segundo mais populoso, com mais de um bilhão de habitantes, o continente africano foi por muito tempo associado à pobreza, doenças e vida selvagem. Esses estereótipos logo vão embora quando temos um olhar mais atento à história do continente, marcada pela dominação europeia colonial e, posteriormente, imperialista. A África cai no vestibular dessa forma: complexa como é.

É sempre importante lembrar que África trata-se de um continente composto por 54 países, mais de mil línguas nativas vivas, inúmeros sistemas de crenças e configurações sociais, políticas e econômicas distintas. Portanto, se você ainda confunde esse enorme continente com um só país ou não sabe muito bem sobre todos esses assuntos, calma que vamos contar tudo pra você.

Pensando nisso, os professores do Estratégia Vestibulares Marco Túlio e Priscila Lima prepararam uma aula com os principais pontos da história, geografia e geopolítica do continente que é o berço da humanidade. Se você perdeu a aula, não se preocupe: ela continua disponível para acesso. E você pode sempre conferir este conteúdo aqui no blog da coruja.  

Características geográficas da África

Banhado pelos oceanos Atlântico e Índico, que se encontram no Cabo da Boa Esperança ao Sul, o continente africano também é banhado pelo Mar Mediterrâneo, que o separa da Europa ao Norte e pelo Mar Vermelho e Canal de Suez a Nordeste, separando-o da Ásia. 

A África é dividida em cinco regiões principais, com diversos biomas e ricas características naturais. A composição de clima Mediterrâneo no extremo norte e extremo sul, com dois desertos intermediários e o centro com florestas tropicais faz do continente, segundo os professores, ser conhecido como climaticamente “espelhado”, pois o clima se repete.

A professora Priscila Lima explica que “Um quarto do que pensamos de território na África é deserto, mas o continente africano não se resume a ele. Nós vamos ter composições equatoriais que se assemelham à Floresta Amazônica”. 

O continente encontra-se numa região extremamente estratégica devido aos seus recursos naturais, rotas comerciais e presença de combustíveis fósseis, como o petróleo. Confira as características geográficas das regiões da África e fique esperto para não errar no vestibular.

África Setentrional

Localizada no Norte do continente, abriga países como Argélia, Egito, Líbia, Marrocos, Sudão e Tunísia. Nessa região há a exploração de minérios voltados para a exportação e com uma pequena agricultura cultivada na região do Rio Nilo. 

Localiza-se ao norte do Deserto do Saara e próxima ao Mediterrâneo. Por isso, o clima no sul dos países é desértico e ao norte é mais úmido. Grande parte da população é de origem árabe e não possui a pele retinta, possuindo cultura semelhante ao Oriente Médio.  

Paisagem de Aït benhaddou, cidade do Marrocos. Foto: Unsplash

África Ocidental

Localizada na porção Oeste do continente, é composta pelos países Benin, Burkina, Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, São Tomé e Príncipe, e Togo. 

São países localizados entre o Golfo da Guiné e o Deserto do Saara em região que também é chamada de Sahel e possuem o clima equatorial, com savanas e florestas úmidas. A população se concentra ao sul da região, onde a agricultura é próspera.

Parque Nacional Delta do Saloum, no Senegal. Foto: Unsplash

África Central

A região é formada pela República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Angola, Chade, Camarões e República do Congo. Essa região é banhada pelo Oceano Atlântico e por regiões montanhosas, caracterizada pelo clima úmido, florestas tropicais e savanas. 

O clima é parte do ano seco e parte do ano chuvoso, com temperaturas médias elevadas. É uma área atravessada por diversos rios e possui muitos recursos naturais. Mais a sul, o clima fica mais seco, ao encontro do Deserto do Caligari.

Miradouro da Lua, Angola. Foto: Unsplash

África Oriental

Abrange países do leste do continente como Burundi, Djibuti, Eritreia, Etiópia, Quênia, Ruanda, Ilhas de Madagascar, Seychelles, Somália, Tanzânia e Uganda. São países próximos ao Oceano Índico e são caracterizados pela formação de vulcões, lagos e montanhas. 

O clima da região é tropical, com chuva abundante em algumas regiões, umidade relativa do ar elevada e altas temperaturas. Porém a região também abriga uma parte desértica ao sul. É considerada a região mais pobre e politicamente instável do mundo.

Árvores nativas da ilha de Madagascar. Foto: Unsplash

África Meridional

A região abriga os seguintes países: África do Sul, Botswana, Comores, Lesoto, Malawi, Moçambique, Namíbia, Essuatíni, Zâmbia e Zimbábue. É caracterizada pelo clima desértico ao norte e mediterrâneo ao sul. É rica em minerais como ouro, cobre e diamante. 

A região também é forte na agricultura, produzindo insumos agrícolas como cana-de-açúcar, café e fumo. Na África do Sul encontram-se os Oceanos Atlântico e Índico. 

Paisagem Mediterrânea na África do Sul. Foto: Unsplash

Colonização da África e vestibular

O continente africano foi o primeiro a ser habitado por seres humanos, por isso é considerado o berço da humanidade. A relação dos europeus com os povos africanos datam tempos antigos, especialmente com o norte do continente devido às rotas com o Mar Mediterrâneo.

O professor Marco Túlio Explica que o contato do europeu com os povos africanos ocorreu de forma gradativa. “Para o Europeu, o continente Africano era em grande medida, durante muitos séculos, uma incógnita. Tinha uma relação dinâmica com o norte, a partir da antiguidade, mas esse conhecimento do continente só se intensifica no final do século XIX”.

No contexto do início das grandes navegações e do mercantilismo ocorre também a escravidão dos povos africanos com uma justificativa religiosa de superioridade do europeu com relação à outros povos e associação ao africano como ser inferior. Este se torna o maior movimento de imigração forçada da história da humanidade, com milhões de seres humanos escravizados e retirados de suas terras natais.

Esse processo produziu tanto o apagamento cultural desses povos, quanto uma mudança drástica na organização social e econômica dos povos que habitavam o continente. Esse processo é intensificado com o imperialismo que se intensifica a partir da década de 1860. 

África também pode ser cobrada no vestibular pelo viés da resistência dos povos africanos. Colagem: Lucas Zanetti

Imperialismo e colonialismo

O foco da aula dos professores foi a questão do imperialismo, também conhecida por colonialismo ou neocolonialismo. Afinal, este é o tema que costuma mais ser cobrado sobre a África no vestibular e, junto com o período escravagista, o principal responsável pelos problemas sociais, econômicos e políticos do continente.

O imperialismo é a divisão do continente africano pelos europeus para a exploração das empresas, que buscavam insumos e matérias-primas para a indústria. Este período durou de meados de 1870 até o período da Guerra Fria, no entanto as consequências são presentes até os dias atuais.

A divisão do continente, realizada na Conferência de Berlim de 1885, não respeitou a distribuição dos milhares de povos africanos, colocando em um mesmo território etnias rivais e conflituosas. A partir desse período, o continente todo foi reduzido à condição de colônia. 

O professor Marco Túlio explica que a partilha do continente africano se dá no contexto da nova fase da revolução industrial. Ao contrário do que possa parecer, não foi apenas uma dominação com o uso da força. Houve também dominação de influência com suborno de autoridades, financiamento e criação de grupos terroristas. 

Em alguns casos houve a preservação de hierarquias e o europeu se colocou no topo delas.“É um jogo de xadrez. Até a forma de influenciar esse continente não foi homogênea”, define a professora Priscila. 

O projeto imperialista foi justificado a partir da ideia de superioridade racial dos europeus, que estariam levando “civilização” e ajudando na “evolução” dos povos africanos. É importante lembrar que esse contexto é bastante recente, a partir do século XIX até o século XX, e os professores lembram a necessidade de abrir os olhos sobre essa questão de forma a relacionar o passado e a situação do presente.

Em alguns casos, como o Congo Belga, o território foi utilizado como território particular de empresários, com o estabelecimento de formas terríveis de exploração, como os zoológicos humanos, por exemplo. Um detalhe importante: a justificativa para a invasão foi de prestar ajuda humanitária à região. 

África no vestibular: resistência e descolonização

Os professores lembram que, durante todo o período imperialista, houve resistência por parte dos povos africanos. Essa é, inclusive, uma questão frequentemente cobrada sobre a África no vestibular. As lutas por emancipação, descolonização e resistência marcaram todos os territórios invadidos.

A prática imperialista começa a entrar em decadência a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. Um dos motivos é que colonos lutaram ao lado dos colonizadores, fortalecendo a ideia de igualdade racial. A queda do nazi-fascismo, a perda da força da Europa como potência e o surgimento dos EUA e URSS como potências mundiais mudaram os rumos geopolíticos.

A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e o princípio de autodeterminação dos povos também foram fatores importantes para que alguns países expulsassem seus colonizadores e outros que cedessem suas colônias. 

A onda de nacionalismo também atingiu os países africanos, que agora desejavam cada vez mais a independência. A ideia de união africana e do pan-africanismo também ganhou força. Muitos povos passaram a buscar na ancestralidade um resgate cultural, espiritual e religioso após o desastre colonial.

Pan-africanismo propõe a união de todos os povos africanos e tem adeptos no Brasil. Foto: reprodução/UFBA

Guerras descoloniais importantes

Os professores destacaram alguns conflitos como chave para compreender os processos de emancipação na África. Sob domínio da França, destaca-se a Guerra da Argélia (1954-1962), com a criação da Frente de Libertação Nacional (FLN). Em 1959 foi a vez do Congo se ver independente da Bélgica, porém em meio a uma Guerra Cívil e conflitos interétnicos. 

Entre as colônias britânicas, a maioria das independências foi marcada pela retirada gradual, mas mantendo a influência sobre o continente. No Quênia houve a revolta Mau-Mau, apoiada pela etnia Kikuyu e a independência veio em 1963, já a Rodésia do Sul, atual Zimbábue, teve a independência mas os descendentes brancos ficaram no poder. Houve apartheid até 1979.

Novos problemas no continente africano 

“Um belo dia a Europa diz tchau e fique aí com seus problemas, abrindo brecha para os problemas e instabilidades de hoje”. A frase usada pela professora Priscila é sobre o processo de descolonização: não houve nenhuma reparação significativa após décadas de exploração e instabilidade.

O legado desse período é o grande responsável pela miséria e instabilidade política que muitos países passam nos dias de hoje. As poucas ajudas vem de países que querem ampliar a influência e que possuem algum interesse específico.  

“Geopolítica não é amor. Esse continente é estratégico, os países que vão chegando não querem valorizar a região. Existe essa mídia que é feita por muitos países de valorização da cultura, mas por trás disso a gente sabe que tem diversos interesses econômicos”, explica a professora.

Vários países caíram em ditaduras, golpes de estado e problemas econômicos sociais e políticos que se estendem para os dias de hoje. Os professores lembram que cada um desses momentos históricos deixam marcas e cicatrizes complexas, difíceis de serem superadas.

África no vestibular: o apartheid na África do Sul

A colonização da África do Sul data do século XVII. Encontrada pelos portugueses pouco tempo antes do Brasil, o extremo sul ficou conhecido como Cabo da Boa Esperança. Com o tempo, e com as relações dos séculos de colonização “privada” de franceses, alemães e holandeses, os bôeres, a região desenvolveu um idioma próprio: o africânder.

Com a ocupação pela Grã-Bretanha em 1806, houve conflito entre britânicos e bôeres, que se deslocaram ao interior e fundaram as repúblicas de Orange e Transvaal. Em 1877 houve conflito entre eles, de forma armada, pela autonomia do território. E com a descoberta de jazidas de ouro na região, foi largamente ocupada por britânicos e bôeres.

Até que em 1931, a região consegue maior autonomia e passa a se chamar África do Sul. É mais ou menos nessa época que é implementado o regime de apartheid, onde brancos e negros viviam dividos. A maioria negra era submetida ao controle da minoria branca. A população negra também foi impedida de participar da política e de dispor de propriedades.

A questão se estende até a década de 1990, quando Nelson Mandela é libertado e passa a pregar a união da África do Sul. Na eleição para o Governo de Transição, em 1993, Mandela é eleito o primeiro presidente negro do país. Teve a árdua missão de unificação nacional e usou o rugby como uma das estratégias para isso.

Sua eleição foi vista como um símbolo de esperança de superação do racismo e dos resquícios desse regime. Porém, a estrutura econômica nunca foi alterada no país, por isso é um país desigual até os dias de hoje. O filme Invictus, com Morgan Freeman, retrata a questão.

Atualmente, o país tem laços estreitos com a China, com uma série de empresas atuando no país em uma série de setores estratégicos, sempre ligados aos interesses econômicos.

As colônias portuguesas na África

Uma outra forma que a África pode ser cobrada no vestibular é a partir da relação entre o continente e o Brasil, já que compartilhamos com alguns países a colonização portuguesa e seus legados. No ano de 1930 se inicia em Portugal a ditadura salazarista, regime de inspiração fascista chefiado por Antônio de Oliveira Salazar. 

Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe são as ex-colônias portuguesas na África e compõem o atual PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). O regime de Salazar pregava a unidade entre o povo português e africano. Foram as últimas do continente a se emanciparem, com luta armada. Em 1961 iniciou a luta em Angola e em 1964 em Moçambique.

A guerra custou caro a Portugal, que não teve outra alternativa senão ceder. Em Angola, havia três movimentos principais:

  • Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA): de caráter multirracial, marxista e pró-URSS, prevalecia a etnia quimbundo na liderança.
  • Frente Nacional para Libertação de Angola (FNLA): organização anticomunista sustentada pelos Estados Unidos e pela República Democrática do Congo. Prevalecia a etnia bacongo, do norte do país.
  • União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA): inicialmente possuía orientação maoista, porém adquiriu contornos anticomunistas. Era predominantemente composta pela etnia ovimbundu. 

Após a Revolução dos Cravos em Portugal que pôs fim à Ditadura Salazarista em 1974, o novo governo assinou a Independência do país com o Tratado de Alvor de 1975. As organizações angolanas se enfrentaram na Guerra Civil até o ano de 2002 com vitória da organização MPLA, que governa o país até os dias de hoje. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola.

Genocídio em Ruanda (1994)

Um outro acontecimento na África que pode ser cobrado no vestibular é o genocídio em Ruanda. O país foi colônia alemã e posteriormente belga. Os belgas privilegiaram a minoria étnica dos tutsis no poder para os postos de administração colonial. Já a outra etnia, hutus, foi privada e marginalizada do poder.

Em 1959 os hutsus iniciaram uma guerra civil para recuperar o poder e instalaram um governo em 1961. Muitos tutsis se exilaram em Uganda, onde organizaram a Frente Patriótica Ruandesa (FPR) para invadir o país e retomá-lo. 

As tensões entre as etnias foram aumentando com o passar dos anos e os conflitos nunca cessaram. Em 1994, o avião que transportava o presidente da Ruanda e Burundi, hutus, foi abatido e eles acusaram a FPR de promover o atentado. Após três meses de massacre e 800 mil mortos, a FPR, apoiada pelo Exército de Uganda, marchou para o país, fazendo milhões de hutus fugirem para a República Democrática do Congo.

Após assumir o poder, o movimento organizou o exército em Ruanda e invadiu o país vizinho após acusá-lo de permitir operações hutus em seu território. A questão é abordada no filme Hotel Ruanda (2004). Em 2021, o presidente da França Emmanuel Macron assumiu a responsabilidade francesa no conflito, pedindo perdão ao país.

Conflitos recentes no continente africano

Ainda hoje velhos e novos conflitos são produzidos no continente devido a instabilidades políticas, problemas socioeconômicos, disputas entre etnias e por poder. Confira abaixo as principais questões atuais da África que podem cair no vestibular.

Disputa na Somália

Localizada no Chifre da África, a Somália passa por instabilidades políticas que se agravaram em meados dos anos 1990. A região é estratégica por estar localizada na entrada do Mar Vermelho, importante rota comercial. No país, o Estado é uma instituição falida, incapaz de atuar. 

A professora Priscila explica que o atual presidente “foi eleito por uma eleição que sequer aconteceu na Somália, mas sim na Etiópia, porque não há estabilidade política nem para realizar uma eleição”.

A região foi conhecida pela ação de pirataria que realizava saques em navios e embarcações que passavam no Mar Vermelho. O filme indicado ao Oscar Capitão Phillips retrata a questão.

Um dos grupos locais é Al Shabbab, grupo ligado à Al Qaeda, que ficou forte a partir dos anos 2000. Em Setembro de 2021, aconteceu a explosão de um carro na cidade de Mogadíscio em atentado pelo grupo.

O caso de Moçambique

Porção ao norte menos desenvolvida e com mais problemas sociais. O país é rico em gás, especialmente no norte, porção também mais pobre. Estado Islâmico (DAESH) perdeu força no Oriente Médio, mas ganhou força no continente africano, e em Moçambique. 

Em outubro de 2017, 30 homens atacaram delegacias de política em Mocimboa da Praia, época em que ocorreu a infiltração de grupos terroristas ligados à extração de madeira. Em agosto de 2021, o país pediu ajuda à África do Sul e Ruanda, antigos rivais do território moçambicano. 

A questão migratória

A onda de violência, instabilidades políticas e problemas sociais graves, produzem uma onda migratória de africanos que deixam o continente. Principais pontos de partida: Mar Mediterrâneo e Marrocos com destino à Europa, principalmente Itália e Espanha. A questão migratória na África é constantemente cobrada no vestibular.

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