Etanol ou metanol: qual é a diferença?

Etanol ou metanol: qual é a diferença?

Saiba a diferença entre etanol e metanol, suas fórmulas moleculares, como são cobrados nos vestibulares e comentários dos professores do EV

Desde agosto deste ano, o Brasil já registrou 59 notificações de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas, número quase três vezes maior do que a média anual de ocorrências, que costuma girar em torno de 20 em todo o país. 

Dentre as ocorrências, 53 delas foram registradas no Estado de São Paulo, onde há uma morte confirmada e outras cinco em investigação. Pernambuco contabilizou cinco notificações, e o Distrito Federal, uma. 

Segundo autoridades de saúde e segurança, a adulteração de bebidas alcoólicas está ligada a produtores ilegais e quadrilhas. Nesses casos, o metanol, mais barato que o etanol, é adicionado de forma clandestina a destilados (como cachaça, vodka, whisky e gin falsificados) para aumentar o volume de produção e reduzir custos.

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O cenário atual mostra a importância da fiscalização sanitária, a atuação das forças policiais contra quadrilhas especializadas e a conscientização da população para evitar o consumo de bebidas de origem duvidosa.

Além disso, traz à tona algumas dúvidas: por que o metanol é tão perigoso? Como ele se diferencia do etanol, o álcool presente nas bebidas que consumimos socialmente e que também tem grande relevância como combustível no Brasil?

Neste texto, com a ajuda de Gabriel Prazeres, professor de Química do Estratégia Vestibulares, vamos explicar as diferenças entre etanol e metanol, como cada um age no corpo humano, quais riscos estão envolvidos e como esse tema pode aparecer nas questões dos vestibulares. 

Convidamos também o professor de Redação e Filosofia do EV, Fernando Andrade, para orientar como o assunto pode aparecer nas redações e como não abusar dos conceitos técnicos da Química nos textos. Fique por dentro!

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O que define uma substância ser chamada de álcool na Química?

Na Química orgânica, é chamado de álcool qualquer composto que contenha o grupo funcional hidroxila (–OH) ligado a um carbono saturado (ou seja, um carbono com ligações simples). Essa presença do –OH altera propriedades físicas e químicas da molécula (polaridade, solubilidade, reatividade). 

Os álcoois são classificados em primários, secundários ou terciários conforme o carbono que carrega o –OH esteja ligado a um, dois ou três outros carbonos. O etanol e o metanol são álcoois primários (o –OH está ligado a um carbono que tem, no máximo, ligação com outro carbono).

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O que é etanol?

O etanol (álcool etílico) é o álcool mais presente no cotidiano. É encontrado em bebidas alcoólicas, em produtos de higiene, na indústria e como biocombustível. 

Do ponto de vista químico, é um álcool de cadeia de dois carbonos. Do ponto de vista biológico, é uma substância que o organismo consegue metabolizar (embora em excesso seja tóxica).

Em termos práticos, o etanol é usado amplamente e, em doses consumidas socialmente (cerveja, vinho, destilados), provoca efeitos psicoativos e intoxicação alcoólica quando em excesso, mas seu metabolismo segue caminhos que o organismo consegue processar em condições normais.

  • Fórmula molecular do etanol: C₂H₆O
  • Fórmula estrutural estrutural do: CH₃–CH₂–OH

Etanol: exemplos de uso

  • Bebidas alcoólicas (consumo humano);
  • Biocombustível (álcool hidratado, etanol anidro);
  • Solvente em indústria e laboratórios;
  • Produtos de higiene e cosméticos (álcool etílico);
  • Antissépticos e desinfetantes.

Etanol x metabolismo humano

No fígado, o etanol é oxidado pela enzima álcool-desidrogenase (ADH) a acetaldeído, que é depois convertido pela aldeído-desidrogenase (ALDH) em ácido acético. Esse ácido entra em vias metabólicas e, em última análise, é transformado em dióxido de carbono e água. 

Como o professor de Química Gabriel Prazeres sintetiza didaticamente: “O etanol vira água e gás carbônico no corpo”. Isso ajuda a entender porque, apesar de tóxico em excesso, o etanol não gera os metabólitos extremamente nocivos produzidos pelo metanol.

O que é metanol?

O metanol (álcool metílico) é o álcool mais simples (cadeia de um carbono) e tem aplicações industriais importantes, mas não é próprio para consumo humano. Sua estrutura simples não o torna inofensivo, pelo contrário, quando metabolizado pelo organismo, forma substâncias altamente tóxicas que danificam o sistema nervoso e órgãos vitais.

O metanol é empregado como solvente, matéria-prima química e combustível em aplicações industriais. A ingestão acidental ou proposital de metanol pode causar sintomas graves e irreversíveis em doses relativamente baixas.

  • Fórmula molecular do metanol: CH₄O
  • Fórmula estrutural do metanol: CH₃–OH

Metanol: exemplos de uso

  • Solvente industrial (tintas, vernizes, desengraxantes);
  • Matéria-prima para fabricação de formaldeído e plásticos;
  • Componentes em sínteses químicas e produção de biodiesel;
  • Combustível para alguns motores e aplicações industriais.

Metanol x metabolismo humano

No fígado, o metanol também é inicialmente oxidado pela álcool-desidrogenase (ADH), porém, ao invés de gerar produtos benignos, produz formaldeído, que rapidamente é oxidado a ácido fórmico. 

Esses metabólitos são os responsáveis pelos danos, como explica o professor Prazeres: “O formaldeído é cancerígeno e causa lesões celulares. O ácido fórmico gera acidose metabólica e danos neurológicos”. É essa via metabólica que torna o metanol extremamente perigoso, mesmo em pequenas quantidades.

Diferença entre etanol e metanol

O etanol e o metanol são quimicamente próximos (ambos álcoois primários, líquidos incolores e polares), mas a diferença crucial está no que cada um gera dentro do corpo. 

O etanol é metabolizado em compostos que o organismo pode eliminar, ainda que cause intoxicação alcoólica e danos à saúde em excesso, enquanto o metanol é convertido em formaldeído e ácido fórmico, substâncias que provocam acidose, lesão celular e dano neurológico (entre eles a lesão do nervo óptico).

A semelhança física (aparência, cheiro e solubilidade) causa confusão, mas é perigosa. As bebidas adulteradas ou líquidos mal rotulados passam despercebidos,  levando a ingestão de metanol, ao invés de etanol.

Ambos são solúveis em água da mesma forma?

“Sim. Ambos são infinitamente solúveis em água, ou seja, são solúveis em qualquer proporção,” afirma o professor de Química. Essa solubilidade completa em água dificulta identificar metanol misturado em bebidas aquosas e mostra porque adulterações podem ser invisíveis sem análise laboratorial.

É possível distinguir um do outro pelo cheiro, cor ou sabor?

“Não. Ambos são líquidos incolores, de cheiro e sabor muito semelhantes. Isso torna perigosíssimo tentar identificar pelo paladar ou olfato”, alerta o prof. Prazeres.

Ele orienta que a diferenciação confiável exige testes químicos ou análise instrumental. São alguns exemplos: cromatografia, espectroscopia (IR/RMN), testes clássicos em laboratório com a oxidação com dicromato de potássio (metanol forma formaldeído mais rápido) e Reagente de Schiff (pode indicar presença de aldeído após oxidação do metanol).

Por que o metanol causa cegueira e outros danos?

Como citado anteriormente, o metanol é transformado no fígado em formaldeído e depois em ácido fórmico. Estes compostos afetam o nervo óptico, responsável por levar a informação visual ao cérebro. O ácido fórmico bloqueia a respiração celular nas células do nervo óptico e, sem respiração celular, as células ficam sem energia e morrem, levando à perda irreversível da visão. 

Como o professor Prazeres resume: “O etanol vira água e gás carbônico no corpo. O metanol vira veneno (formaldeído + ácido fórmico). Esse veneno destrói justamente o fio elétrico que leva a imagem do olho para o cérebro: o nervo óptico.”

Segundo ele, ingestões pequenas podem ser suficientes para dano visual grave: “Cerca de 10 mL de metanol puro já podem causar cegueira irreversível. Doses entre 30 e 60 mL podem levar à morte”. Portanto, mesmo pequenas contaminações, como nas bebidas adulteradas, são perigosas, já que o metabolismo acumula ácido fórmico no corpo.

Tratamento para intoxicação por metanol

O manejo da intoxicação por metanol exige atendimento médico imediato. Conforme explicado pelo professor Gabriel Prazeres, o tratamento combina duas estratégias essenciais:

1. Etanol farmacêutico: o antídoto que bloqueia

    “O grande perigo do metanol não é ele próprio, mas sim o ácido fórmico que o corpo produz a partir dele. A enzima do fígado responsável por transformar o metanol em veneno é a álcool-desidrogenase (ADH). O etanol, quando administrado, tem uma afinidade muito maior pela ADH. Ao saturar a enzima com etanol, ele a bloqueia, impedindo que ela processe o metanol.”

    Ou seja, administrar etanol, normalmente via intravenosa controlada, faz com que a enzima prefira o etanol, retardando a formação de ácido fórmico e permitindo que o metanol circule inofensivamente no sangue, dando tempo de ser removido.

    2. Hemodiálise: limpeza rápida

      “A hemodiálise funciona como um rim artificial, filtrando o sangue. Ela remove diretamente o metanol (antes que possa ser metabolizado) e, crucialmente, o ácido fórmico (o veneno que já foi formado e está atacando o nervo óptico e causando a acidose)”, explica Prazeres.


      A hemodiálise é a forma mais eficaz de limpar o sangue em casos graves, corrigir acidose metabólica e reduzir os níveis de toxinas.

      Em resumo, como explica o professor Gabriel: o etanol impede a formação do veneno, e a hemodiálise o remove. Esses procedimentos devem ser realizados em ambiente hospitalar por equipes especializadas, portanto, a suspeita de ingestão de metanol exige procura imediata por atendimento médico.

      Etanol e metanol nos vestibulares

      O tema é recorrente em provas de Química e, ocasionalmente, em Biologia. Segundo o professor Gabriel Prazeres, perguntas sobre etanol costumam abordar seu processo de produção, biocombustível, ciclo renovável, solubilidade em água, reações orgânicas de oxidação e Química Ambiental.

      Sobre metanol, os exames tendem a focar nas propriedades físicas (pontos de fusão e ebulição, solubilidade). Porém, com os recentes episódios de intoxicação, a banca também pode cobrar métodos de separação, “bem como a similaridade das propriedades físicas entre eles (metanol e etanol), como temperaturas de fusão e ebulição, solubilidades e densidades próximas”.

      Além das questões objetivas, esse conteúdo oferece bom repertório para redações. Algumas das possíveis abordagens textuais são: saúde pública (prevenção, fiscalização, campanhas educativas), riscos e consequências da adulteração de bebidas, responsabilidade social e empresarial (cadeia produtiva e controle de qualidade), e políticas públicas para reduzir intoxicações coletivas.

      Para explicar o que é saúde pública e a importância do Estado, o professor Fernando Andrade indica: “pode-se usar esse caso para comprovar o argumento curinga no Enem da ‘ausência do Estado’. Se o tema for sobre saúde pública e fizer sentido, a lógica é clara: sem fiscalização e agências regulatórias, práticas como a adição de metanol podem se tornar comuns”.

      Outra dica é demonstrar como qualquer tecnologia depende do seu uso social. “O metanol é sintetizado para uso como combustível, mas, devido à lógica de mercado, torna-se atrativo para outros fins, inclusive os ilegais”, explica o professor de Redação.

      Porém, é necessário ter em mente que o destaque da redação deve ser social, e não técnico. Para não abusar dos aspectos técnicos e químicos, o professor indica: “Você pode, com moderação, acrescentar uma informação química, como mencionar o ácido fórmico e o tipo de intoxicação celular (acidose metabólica) que ele provoca. Mas nada muito além disso. Esse repertório técnico não deve exceder umas três linhas, ou tomará espaço excessivo do seu texto — a menos, é claro, que o tema seja especificamente sobre o metanol”. Veja a ideia-base sugerida pelo professor:

      “O metanol, substância tóxica presente em bebidas adulteradas, causa cegueira e morte porque o organismo o transforma em compostos altamente ácidos que intoxicam as células.”

      Fernando ainda finalizou dando alguns possíveis temas de redação relacionados aos casos de intoxicação por metanol. Confira:

      • Os desafios do Estado no controle da qualidade e procedência de alimentos e bebidas no Brasil.
      • Como combater o uso do metanol de forma ilegal.
      • Consequências sociais e econômicas da falsificação de produtos.
      • “Dinheiro não tem cheiro”: há limite para o mundo dos negócios?
      • Saúde pública: direito universal ou custo insustentável para o Estado?
      • Tecnologia: benção ou maldição?

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