Crise energética brasileira: veja perspectivas e como ela afeta o país
Colagem: Lucas Zanetti

Crise energética brasileira: veja perspectivas e como ela afeta o país

A sua conta de luz ficou mais cara? Saiba que isso é um dos efeitos da crise energética que o Brasil está passando. Confira mais detalhes na matéria

São várias as facetas da crise energética que o mundo vem enfrentando. No Brasil, a falta de chuvas e a consequente crise hídrica traz um cenário preocupante já para o ano de 2022. 

Na China, a falta de carvão no nordeste do país já causou apagões, e na Europa, o gás natural teve alta nos preços, movido por uma série de fatores, que vão desde a retomada econômica pós-pandemia, até mesmo a tensões no mercado.

Nossa vida hoje é estruturada a partir do uso de energia elétrica. A partir dessa dependência, o aumento no preço da luz, sentido pelos brasileiros, também impacta diretamente nos preços de praticamente todos os setores da economia.

A preocupação com o que pode acontecer nos próximos anos já movimenta cientistas da área para buscar soluções e alternativas para amenizar uma possível crise. Acompanhe abaixo mais detalhes sobre o tema e seus impactos.

Como se configura a matriz elétrica brasileira

O Brasil registrou em agosto de 2021 um crescimento na produção de energia elétrica eólica, térmica e solar, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Confira os dados da distribuição da produção energética no mês citado: 

  • Hidráulica: 50%;
  • Termelétrica: 28,8%;
  • Eólica: 16,8%;
  • Nuclear: 3%; e
  • Solar: 1,3%.

Dentre essas três maneiras de se gerar energia, a térmica é a que preocupa, já que ela é proveniente da queima de diesel e gás natural. O custo para se produzir esse tipo de energia é maior do que por hidrelétricas, mas a manobra indica uma preocupação em poupar os reservatórios de água nos próximos meses. 

Enquanto isso, outras fontes de eletricidade como eólica e solar também têm aumentado de produção no país, o que indica uma maior variedade de opções para o futuro. 

Como funcionam as bandeiras tarifárias

O sistema de bandeiras tarifárias foi implementado em 2015 e apresenta três modalidades, divididas pelas cores verde, amarela e vermelha. O objetivo é indicar de maneira fácil ao consumidor se haverá ou não acréscimo de valor na cobrança da energia elétrica. Veja as características abaixo, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel:

  • Bandeira verde: condições favoráveis de geração de energia. A tarifa não sofre nenhum acréscimo;
  • Bandeira amarela: condições de geração menos favoráveis. A tarifa sofre acréscimo de R$ 0,01874 para cada quilowatt-hora (kWh) consumidos;
  • Bandeira vermelha — Patamar 1: condições mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo de R$ 0,03971 para cada quilowatt-hora kWh consumido.
  • Bandeira vermelha — Patamar 2: condições ainda mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo de R$ 0,09492 para cada quilowatt-hora kWh consumido.

Como a crise energética afeta o Brasil atualmente

Nenhuma dessas quatro bandeiras está sendo aplicada nesse momento. Atualmente, o país está sob uma quinta bandeira, chamada de “bandeira de escassez hídrica”, criada pelo Governo Federal para vigorar entre os meses de setembro de 2021 até abril de 2022.

O valor é 49,6% maior que a última bandeira, a vermelha — patamar 2. Com isso, a taxa de energia está atualmente em R$14,20 por 100 kWh. Priscila Lima, professora de geografia do Estratégia Vestibulares, comentou na aula “Atualidades 2021: Energia” — disponível abaixo —, sobre o aumento do custo da energia elétrica.

“Quando eu falo que a energia está mais cara, não é algo tão simples em termos econômicos. Ela está associada a diversas cadeias produtivas. Então, se eu estou falando do aumento do custo da energia elétrica, eu também estou falando indiretamente do custo de produção. Os produtos ficam mais caros”.

Como são as narrativas da crise energética

Para chegarmos nesse ponto, uma série de fatores são adicionados: ausência de chuvas e uma crise hídrica que pode se agravar, a pandemia de Covid-19, que afetou seriamente o país e até mesmo as escolhas estratégicas sobre o que fazer. Um exemplo disso é pensar na resposta “quando ativar as usinas termelétricas?”

O Governo, por meio da ONS e da Aneel, defende que optou por usar as termelétricas no momento certo, também para não afetar o bolso dos brasileiros em ano de pandemia. Já estudiosos contrários afirmam que a medida foi tomada tarde demais, e que isso afeta diretamente o preço que pagamos na energia elétrica no momento.

Priscila ressalta que os interesses são diversos e que o debate não é simples. “É importante que a gente destaque que isso perpassa muitos setores. Diminuir a dependência do país na energia hidrelétrica perpassa interesses econômicos: existem grandes empresas que trabalham com isso. Perpassa interesses políticos: são obras e planejamento a longo prazo”.

Horário de verão

O horário de verão é uma medida vista como capaz de gerar economia no consumo de energia elétrica do país. Desde 2019 ele não faz mais parte do calendário brasileiro, em uma determinação do presidente Jair Bolsonaro. O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) estima que a economia da medida giraria entre 2% e 3% no início da noite.

Considerando o cenário de crise hídrica, que impacta na crise energética, qualquer ganho poderia ajudar. Priscila comenta sobre o assunto. “Com o horário de verão havia uma certa economia de energia elétrica pelo aproveitamento maior da luz solar, apesar de algumas pessoas utilizarem ar-condicionado”.

“Como cerca de 65% da matriz de energia elétrica brasileira depende das hidrelétricas, qualquer economia energética seria um ganho em uma crise hídrica, logo, o horário de verão deveria voltar”, opina.

Energia alternativa é uma saída?

Em agosto, noticiou-se o recorde de produção de energia térmica, eólica e solar no Brasil. Enquanto isso, a produção por hidrelétricas caiu e segue no menor patamar desde 2002. Mas, como falamos, o uso de termelétricas aumenta o preço da conta de luz.

A energia eólica já responde por 16,8% da demanda energética brasileira, produzindo 11.111 megawatts-médios (MWmed) por mês. Por ser intermitente, esse tipo de geração de energia é mais forte justamente no período de seca, ou seja, de julho a novembro.

Por outro lado, as usinas nucleares brasileiras Angra I e II operam com menor volume nesse mesmo período, o que é considerado um erro pela professora Priscila. “A energia nuclear não é intermitente, ou seja, não precisa parar, diminuir (a produção de energia da usina) justamente quando diminui a chuva”.

A professora cita outras possíveis fontes de energia alternativa. “A instalação de painéis solares nas casas para produção de eletricidade ou ao menos aquecer o chuveiro seria uma opção. Maior uso da biomassa na zona rural, principalmente”.

“Mais investimento governamental para implantação de estações eólicas, fotovoltaicas e até maremotriz, haja vista que o litoral do Maranhão possui uma das maiores amplitudes de marés do mundo”, pontua.

Ainda falando sobre a matriz energética, Priscila cita como ideal ter um sistema complexo com uma “maior diversificação da matriz elétrica”. “Não adianta pensar em uma fonte mágica, como acabou acontecendo no Brasil ao concentrar a maior parte da energia elétrica apenas na hidrelétrica”. 

Ela ainda aponta um problema na infraestrutura e uso das usinas termelétricas: elas também precisam de água para resfriar a estrutura. “É preciso uma diversificação inteligente, com planejamento, montando um quebra-cabeça”.

Com isso, a crise energética que enfrentamos traz desdobramentos em diversas áreas, tanto na discussão sobre fontes alternativas e renováveis, como na política por trás de cada cenário, nas escolhas estratégias do setor e em como ele impacta diretamente a todos os brasileiros.

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