Hoje, 16 de março, é o Dia Nacional de Conscientização Sobre as Mudanças Climáticas. Infelizmente, os efeitos do aquecimento global já são sentidos no Brasil, assim como em várias outras partes do mundo.
Pensando nisso, conversamos com o professor Saulo Takami, de Geografia, e com a professora Carol Negrin, de Biologia, sobre o que as mudanças climáticas estão causando no nosso País e como o tema pode ser abordado nos vestibulares.
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O que é aquecimento global?
Para responder essa pergunta, precisamos entender também o que é o efeito estufa. Você sabia que ele é um fenômeno natural e necessário para o planeta Terra? “O efeito estufa permite que a superfície terrestre e a atmosfera se mantenham aquecidas a ponto de permitir a vida”, explica a professora Carol Negin.
O efeito estufa é formado por uma camada de gases presentes na atmosfera terrestre, eles permitem que uma quantidade da radiação solar seja absorvida pelo planeta e traga condições para a existência da vida por aqui, enquanto o resto da luz reflete de volta ao espaço.
O aquecimento global acontece quando há uma alta no efeito estufa. Esse aumento ocorre pela ação humana no planeta, como os desmatamentos, uso de fertilizantes e queima de combustíveis fósseis, que geram um aumento na emissão de gases para a atmosfera.
Com uma camada de gases cada vez mais espessa, a luz solar não consegue refletir de volta, sendo absorvida em maior quantidade pela Terra e aumentando a temperatura do nosso planeta.
Aquecimento global no Brasil
Inundações, secas, temperaturas extremas…Não há como negar que o aquecimento global já mostra seus efeitos por aqui. Em 2015, um estudo do serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, o Met Office, apontou que o planeta já aumentou em 1,2º Celsius em sua temperatura desde a Revolução Industrial, quando a estimativa de aumento para o período era de menos de 0,85º Celsius.
O Brasil faz parte do grupo de cinco países considerados os maiores emissores de gases do efeito estufa ao lado de Estados Unidos, China, Rússia e Indonésia. E apesar da necessidade da mudança do cenário, o professor Saulo Takami explica que “Esses países assinaram o Acordo de Paris, no entanto, se estão cumprindo com a redução da emissão e se isso está sendo fiscalizado, não tem como saber”.
O Acordo de Paris foi firmado durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP21), em 2015, e unia os signatários ao compromisso de redução da emissão de gases a partir de 2020, com o objetivo de manter o aquecimento global abaixo de 2 ºC e preferencialmente em 1,5 ºC.
Já na COP26, que ocorreu em 2021, o governo brasileiro compareceu com metas ambiciosas, mas sem detalhar as formas como elas seriam aplicadas. As promessas do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, são de redução de 50% das emissões dos gases do efeito estufa até 2030 e do fim do desmatamento ilegal até 2028.
Previsões para o Brasil
No início do mês de março deste ano, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPPC) divulgou o relatório mais completo já produzido sobre as consequências das mudanças climáticas. O texto que cita, aproximadamente, 34 mil artigos científicos, passou pela revisão de mais de 300 pesquisadores ao redor do mundo e possui 3.600 páginas.
O estudo revela que algumas consequências do aquecimento global não podem mais ser evitadas, e a essa altura, já irão ocorrer, independentemente da diminuição da emissão de gases. Vamos conhecer o que é previsto para o Brasil, além de quando e se vão se concretizar.
Desigualdade social
O Brasil é um dos países mais economicamente desiguais do mundo, como apontam dados do Relatório sobre as Desigualdades Mundiais de 2021: o 1% mais rico da população detinha 48,9% da riqueza nacional, a fins de comparação, nos Estados Unidos, o 1% mais rico detém 35%. E esse é mais um dos cenários que tende a se agravar com as mudanças climáticas.
O relatório do IPCC retrata que seremos uma das nações mais economicamente atingidas pela crise. Segundo o texto, o PIB per capita do Brasil é 13,5% menor desde 1991 do que seria sem o aquecimento causado pelas atividades humanas.
Para além disso, a população mais pobre será principalmente mais afetada pelos desastres naturais, “Elas não terão condições de se mudar de uma área costeira [inundada pela alta nos oceanos] e nem de uma área mais árida”, comenta o professor Saulo.
Calor extremo
Mesmo se todos os países cumprirem o Acordo de Paris, a região da Amazônia viverá de 1 a 12 dias a cada ano com temperaturas de bulbo úmido de cerca de 32º C.
O bulbo úmido é uma combinação alta de calor e umidade, e a exposição a temperaturas acima dos 35º por mais de seis horas, tende a causar morte nos seres humanos.
Na região da floresta, essa já é uma consequência irreversível para o futuro. Entretanto, se as emissões não diminuírem, outras regiões do País também poderão sofrer com altas no bulbo úmido.
Altas nas secas e enchentes
O relatório do IPCC afirma que, se as emissões de gases se manterem como estão, as chuvas na região Nordeste diminuirão em 22%, e as secas também atingirão o sul da floresta Amazônica, o que acarretará na redução vazão na bacia do Rio Tapajós em 27% e em 53% na bacia do Araguaia-Tocantins, durante o século XXI.
Por outro lado, o estudo também aponta que as populações afetadas por enchentes no Brasil deverão dobrar ou até triplicar no mesmo período. Rondônia, Pará, Acre e Sul do Amazonas estarão entre as regiões com maiores riscos de inundações.
Agricultura e produção de alimentos
Os números do relatório apontam que com o contínuo aumento das temperaturas do planeta várias culturas serão prejudicadas. O que consequentemente acarreta em problema para abastecimento local e exportação de alimentos.
O IPCC retrata que as produções de soja podem cair em até 33%, de trigo, 21%; de arroz e de milho, 6% cada uma. Além disso, os rebanhos de corte também correm mais risco de morte e não aproveitamento da carne com as altas temperaturas.
Aquecimento global pelo mundo
O aumento da temperatura causada pela alta de gases do efeito estufa, é o responsável pelo aquecimento de oceanos, derretimento de geleiras e aumento no nível dos mares, que causam o desaparecimento de ilhas e países inteiros. Além de temperaturas extremas de frio e calor, erupções de vulcões, desaparecimento de espécies, secas e algumas outras consequências negativas para a vida na Terra.
Aumento do nível do mar
Em novembro de 2021, o governo do país insular do Oceano Pacifico, Tuvalu, que fica a cerca de 4.000 km da Austrália e do Havaí, chocou o mundo ao enviar uma mensagem à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26).
No vídeo, o ministro de Relações Internacionais do país, Simon Kofe, aparece com água até o joelho em um terreno que anos atrás era seco e afirma “Estamos afundando, mas a mesma coisa está acontecendo com todos”.
Além de perder território para o mar, a ilha já sofre com outros efeitos, como a salinização dos lençóis freáticos e a diminuição da água potável, o sal do oceano também tem penetrado as terras férteis para agricultura e matado espécies vegetais.
Infelizmente, Tuvalu não é a única nação a enfrentar esse tipo de problema e correr o risco de desaparecer. Em 1990, os Países insulares dos oceanos Pacífico, Índico e do Caribe, criaram uma a Aliança de Pequenos Países Insulares (AOSIS, na sigla em inglês), com o objetivo de atuar nas negociações sobre mudanças climáticas.
Temperaturas extremas
Em junho de 2021, durante o último verão, o oeste do Canadá atingiu a temperatura de 49,5º C. A alta temperatura causou a morte de, pelo menos, 233 pessoas, sendo idosos a maioria das vítimas.
A cidade de Vancouver, acostumada com temperaturas de até 21º durante a estação, teve termômetros marcando acima de 30º por vários dias no mesmo período. Além disso, a cidade de Lytton, a 250 km de Vancouver, bateu um recorde de calor com a temperatura de 47,9º.
Secas e incêndios
Apesar de estiagens e secas serem partes naturais de alguns períodos em regiões ao redor do mundo, esse é mais um fenômeno que aumenta de proporção graças ao aquecimento global. Isso porque, com o aumento da temperatura do ar, a evaporação da umidade de rios, lagos, do solo e das plantas também cresce e torna o solo mais quente e árido.
Um exemplo disso é a mega estiagem que assola o oeste dos Estados Unidos, e fez o país decretar, de forma inédita, falta de água no rio Colorado, afetando 40 milhões de habitantes e a agricultura da região.
Já os mais de 100 focos de incêndios registrados na Turquia entre o final do mês de julho e o início de agosto de 2021 são exemplos do que as ondas de calor e a baixa umidade do ar podem causar em áreas de vegetação.
O fogo, que começou em bosques na província de Antalya, no sul do país, rapidamente se espalhou com o vento e mais de 1,1 mil pessoas precisaram deixar suas casas, além do registro de seis mortes.
E embora a região do Mar Mediterâneo, onde está a Turquia, não seja a mais afetada pela alta nas temperaturas graças ao aquecimento global, o local terá incêndios, secas e ondas de calor agravadas, segundo o IPCC.
Desaparecimento e migração de espécies
A destruição de biomas, o derretimento de geleiras, a acidificação dos oceanos, as mudanças de temperatura e de umidade são alguns dos fatores causados pelo aquecimento global que podem contribuir para o desaparecimento e a migração forçada de várias espécies animais e vegetais.
Em seu livro ganhador do prêmio Pulitzer, A sexta extinção, a jornalista Elizabeth Kolbert traz um trecho importante sobre os riscos que o planeta corre:
“A atividade humana, o consumo de combustíveis fósseis, a acidificação dos oceanos, a contaminação, o desmatamento e as migrações forçadas ameaçam formas de vida de todos os tipos. Estima-se que um terço dos corais, dos moluscos de água doce, dos tubarões e das arraias, um quarto de todos os mamíferos, um quinto de todos os répteis e um sexto de todas as aves estão prestes a desaparecer”.
Enquanto isso, desde 2007, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPPC) já alertava que até 30% das espécies do planeta podem desaparecer se o aumento da temperatura da Terra atingir 2ºC.
A professora Carol explica que estudos identificam que, há pelo menos 40 anos, já há uma maior migração para pontos mais frios do planeta, inclusive por parte da espécie humana. E que tanto o desaparecimento quanto a migração forçada podem prejudicar ainda mais os ecossistemas.
“Um ecossistema saudável provém das interações dos seres vivos nele presentes com o meio ambiente. Por exemplo: uma ave ou um mamífero pode ser um importante dispersor de sementes de uma planta. Na falta ou redução desses animais, a população do vegetal e sua abrangência ficam comprometidas. A longo prazo, extinções podem ocorrer, já que tudo está integrado.“
Fenômenos naturais
Apesar de ambos serem eventos considerados normais no planeta, os cientistas já apontam relações do aquecimento global com a incidência desses fenômenos.
Erupções vulcânicas
No caso das erupções vulcânicas, por exemplo, o derretimento das camadas de gelo nas superfícies dos vulcões causa alívio na pressão das câmaras de magma das camadas mais profundas, o que permite um aumento na produção da rocha derretida.
A conclusão foi apresentada por pesquisadores na revista científica britânica Philosophical Transactions of the Royal Society A, e pode levar décadas ou séculos para acontecer.
Furacões
Quando o assunto são os furacões, o cenário fica mais preocupante, diferente dos vulcões, os cientistas afirmam que a relação desse fenômeno com as mudanças climáticas já ocorre.
Em 2020, a região do Atlântico Norte sofreu com 30 tempestades nomeadas. Quando a velocidade do vento nessas tempestade passa de 34 nós (62 km/h), elas são consideradas como tempestades tropicais, já quando os ventos passam de 64 nós (119 km/h), a classificação passa a ser furacões. O número é o maior da história, e quebrou o recorde do ano de 2005, com 28 tempestades registradas.
Segundo o U.S. Global Change Research Program ‘s Climate Science Special Report (Relatório Especial de Ciência Climática do Programa de Pesquisa de Mudanças Globais dos EUA, em português), de 2017, “A intensidade desses fenômenos naturais tende aumentar com o aumento da temperatura global tanto na média quanto em seus extremos, de modo que as tempestades mais violentas deverão futuramente exceder recordes históricos”.
O texto é assinado por cientistas da Fundação Nacional para a Ciência dos Estados Unidos, da NOAA (Agência Americana de Administração Oceânica e Atmosférica) e da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana).
Como o aquecimento global cai no vestibular?
Já deu para perceber que esse é um assunto que pode render bastante no vestibular, né, Estrategista? Ele pode ser abordado tanto em Ciências Humanas quanto da Natureza, por isso os professores do Estratégia trouxeram seus palpites de temas para focar na hora de estudar.
Quais são os gases do efeito estufa?
Para a professora Carol, essa é uma das questões que podem surgir durante as provas. E você já sabe a resposta? Então confira a seguir os principais:
- Vapor de água (H2O);
- Dióxido de carbono (CO2);
- Metano (CH4);
- Óxido nitroso (N2O).
Ciclo do carbono
Como você viu ali em cima, esse é um dos gases do efeito estufa, e o principal quando o assunto é aquecimento global. Por isso também é importante entender como ele age:
- Ciclo biológico: O carbono presente no ar é assimilado pelos processos de fotossíntese e quimiossíntese — por isso, as florestas são tão importantes — e volta ao ecossistema através da respiração dos seres vivos, decomposição e ações humanas.
- Ciclo geográfico: O gás deixa a atmosfera por um processo de difusão para ambientes aquáticos ou também pode ser levado pelas chuvas, e isso cria uma solução ácida que causa erosão em rochas.
Quais as atividades humanas podem ter impacto sobre as mudanças climáticas?
Para essa questão a resposta é bem ampla. Mas vale destacar as atividades mais conhecidas como grandes emissoras dos gases do efeito estufa: uso de combustíveis fósseis, desmatamento de florestas, agropecuária e processos industriais.
Quais são medidas que podem ser tomadas para que se reduza a emissão de gases estufa e seus efeitos?
Sabe aquela hora em que você precisa mandar bem em uma questão discursiva? Essa poderia ser uma delas, e por mais vasta que a resposta possa ser, o ideal é focar na resposta que você consegue justificar as medidas.
Dá uma olhada nas sugestões de medidas que o professor Saulo trouxe: “Fazer com que as pessoas comam menos carne bovina, pois o processo digestivo desse animal emite metano na atmosfera, optar por energia limpa, aumentar o transporte coletivo, reduzir as queimadas”.
Fontes de energia alternativas e que reduzem a emissão de gases estufa
As fontes de energia alternativa, como o nome sugere, surgiram para substituir aquelas mais poluentes. Alguns dos principais exemplos são a energia solar, eólica e hidráulica, para geração de energia elétrica, e os biocombustíveis, produzidos a partir de vegetais, para substituir os combustíveis fósseis.
E o professor Saulo ainda finaliza lembrando que em Geografia, o tema também pode aparecer em mais de um campo da disciplina: “Pode ser abordado fazendo amarrações entre clima, meio ambiente, urbanização e fontes de energia”.
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