Em 27 de janeiro é celebrado o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, uma data para reafirmar os horrores cometidos pelos regimes nazi-fascistas no século XX e saudar a lembrança daqueles que perderam a vida nos campos de concentração e perseguições impostas pelos ideiais supremacistas.
A data é o marco da liberação do maior campo de extermínio dos nazistas, Auschwitz-Birkenau, pelos soldados da União Soviética (URSS), que libertaram 8 mil prisioneiros. No auge do regime de Hitler, cerca de 6 mil pessoas morriam por dia neste local. Ao todo, 6 milhões de judeus foram assassinados no Holocausto.
Segundo relatório de 2021 publicado pela Agência Judaica e pela Organização Sionista Mundial, atos motivados por antissemitismo — ato de intolerância religiosa contra judeus — atingiram o nível mais alto da década no ano passado com dez ocorrências diárias em todo o mundo. Metade deles acontecem na Europa e 30% nos Estados Unidos.
Dentre os incidentes citados estão vandalização em monumentos, símbolos, lápides e estátuas, seguidas de propaganda antissemita. Além dos judeus, a perseguição e assassinatos do regime nazista perseguiu ciganos, poloneses, homossexuais, negros, pessoas com deficiência, comunistas e outras comunidades religiosas, como adventistas e testemunhas de Jeová.
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Para conter o avanço dos ideais nazistas e relacionados com a opressão de outros povos, a Organização das Nações Unidas (ONU) possui um programa específico de Divulgação do Holocausto. Em 2022, o tema dos eventos é “Memória, Dignidade e Justiça”.
Para compreender melhor esse período histórico e como ele pode aparecer na sua prova do vestibular e Enem, conversamos com o professor de história do Estratégia Vestibulares, Marco Túlio.
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O que foi o Holocausto?
No contexto nazista, o Holocausto foi a perseguição e assassinato em massa de minorias consideradas racialmente inferiores aos alemães. O professor Marco Túlio explica que o dicurso antissemita pe registrado na Europa desde a Idade Média e, no contexto da alemão, considerava-se que “os judeus poderiam inibir a grandeza dos alemães por serem um povo supostamente inferior”.
O professor lembra que teorias da conspiração reforçaram, a partir de obras como “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, o enquadramento nocivo dos judeus ao afirmarem, a partir de documentos falsos e supostamente secretos, evidências de um plano de dominação dos cristãos pelos judeus.
“Na Alemanha, o nazismo e outros grupos antissemitas passaram a culpabilizar os judeus que habitavam o país de colaborar para interesses externos, o que teria culminado na derrota do país na Primeira Guerra Mundial”, explica.
Ainda que os judeus sejam os mais lembrados no contexto do Holocausto, é muito importante lembrar que outros grupos foram perseguidos e enviados para os campos de concentração a partir da ideia de superioridade racial em relação aos negros.
Sobre a perseguição a homossexuais, o professor explica que houve tolerância no período da República de Weimar (1919-1933): “passaram a ser presos após a ascensão do nazismo, na medida em que eram considerados uma ameaça às políticas raciais que suscitavam o crescimento numérico do povo alemão”.
O antissemitismo é legitimado a partir das Leis de Nuremberg, que, em nome da “proteção de sangue”, proibia os judeus de casarem e manterem relações sexuais com não judeus. Também foram proibidos de usarem as cores do Reich e terem empregadas domésticas com idade inferior a 45 anos.
Em seguida, foi aprovada a Lei de Cidadania do Reich que previa o fim dos direitos dos judeus todos aqueles que praticassem o judaísmo ou tivesse mais de 75% de sangue judeu não era mais considerado cidadão.
Motivações do Holocausto
A principal motivação do Holocausto é ideológica, baseada no preconceito e na ideia de superioridade racial dos alemães e funfamentada na teoria da conspiração dos planos dos judeus de governar o mundo.
É um extermínio que tinha motivação em si mesmo, como objetivo principal. Segundo o historiador Yehuda Bauer, a história do Holocausto só existe a partir do testemunho de seus sobreviventes, pois só eles são capazes de explicar aquilo que se passou.
Trata-se, portanto, de uma prova histórica sobre os caminhos que podem tomar sociedades que se deixam levar pelo extremismo e pelo ódio racista, religioso ou de qualquer forma de identidade e existência. E é por isso que a ONU criou, em Assembleia Geral, a data do dia 27 de janeiro.
O professor Marco Túlio pontua que como desdobramento econômico do Holocausto houve a expropriação de bens e contas pelo Estado, “além de terem sua mão de obra explorada à exaustão pelo nazismo nos campos de concentração”.
O papel da História na conscientização sobre o Holocausto
A História é uma disciplina científica, uma área do conhecimento que se propõe a investigar as relações humanas no tempo. Trata-se do estudo do tempo social, político, econômico, das trajetórias dos seres humanos e seus desenvolvimentos.
Nesse sentido, por se tratar de um dos maiores e mais recentes atos de extermínio em massa que se tem registro, é de fundamental importância que seja de conhecimento público os contextos e acontecimentos que levaram aos Holocausto.
Sabendo do apoio do povo alemão ao regime nazista e seus ideiais, sobre tudo ter sido feito às claras e noticiado por jornais da época, o professor propõe a reflexão: “Em que condições materiais e psicológicas a Alemanha se encontrava à época, a ponto de algo tão abominável ter acontecido?”
A essa indagação, somente a história é capaz de responder, até para que as atrocidades não se repitam. “Esse passado ainda está entre nós, seja na memória de suas vítimas e descendentes, seja nos discursos de ódio que se perpetuam. E História é uma ciência que oferece subsídios para esse debate, pois ao se voltar para o passado como campo de estudo fundamental, revela permanências que muitas vezes preferimos esquecer ou naturalizar”, ensina.
O professor lembra que nos dias atuais existem discursos que negam, inclusive, o Holocausto, afirmando que não se passa de uma armação dos próprios judeus para a criação do Estado de Israel (pela ONU após a Segunda Guerra Mundial).
O professor explica: “É claro que isso não possui qualquer fundamento, pois o Holocausto é um fato histórico que se comprova por meio de diversos documentos e testemunhos, incluindo de oficiais nazistas”.
Relembrar o passado é perpetuar as ideias discriminatórias?
É cada vez mais comum ao se tratar de questões históricas e que envolvem perseguições de grupos e minorias a ideia de que reforçar o que aconteceu é perpetuar as diferenças e a divisão entre as pessoas. Marco Túlio alerta: “silêncio é poder”.
O professor lembra que práticas e discursos que hierarquizam grupos dentro de uma mesma sociedade existem no presente e que o silêncio sobre isso, é manter relações de desigualdade.
“Recentemente, uma pesquisa realizada com mil pessoas nos Estados Unidos apontou um número considerável de jovens não sabe o que foi o Holocausto. Isso é algo alarmante, especialmente em um contexto em que se verifica o crescimento de casos de antissemitismo no mesmo país”, lembra o professor.
Marco lembra do chavão entre os professores de História: “quem não conhece o passado, está fadado a repetí-lo”. É preciso, portanto, que o olhar fique atento não apenas com relação aos grupos perseguidos no Holocausto, mas os que são discriminados hoje. Ele explica: “afinal de contas, crimes de ódio são uma afronta direta ao ideário democrático que a maioria das sociedades se propõem a defender”.
Ideias do passado?
Uma série de discursos foram utilizados para convencer a população de que aquela era a forma certa de resgatar uma Alemanha pura. Essa ideologia foi construída e compreender o passado com o olhar do presente pode ser um anacronismo. No entanto, por haver a experiência histórica, tem-se muito mais ferramentas para identificar processos e ideias que desestabilizam a noção de igualdade.
“Os discursos de ódio legitimam posições de poder nas sociedades, seja na época do nazismo, seja no Brasil dos dias de hoje. E se no passado ideias racialistas e teses conspiratórias se incumbiam de legitimá-los, atualmente se considera como “vitimismo” quando os mesmos grupos se mobilizavam contra o preconceito que sofrem”, explica Marco.
Como o tema pode cair nos vestibulares?
As questões que envolvem a Segunda Guerra Mundial, suas causas e consequências, costumam ser muito cobradas no Enem e na maioria dos vestibulares brasileiros devido a sua magnitude e importância histórica. “O discurso nazista que o legitimou, incluindo sua visão racista sobre a sociedade, apresenta maior incidência em provas”, aponta Marco.
No entanto, o professor lembra da importância de compreender o tema no processo de formação enquanto cidadão de forma a absorver o conteúdo em seu processo de formação e atuando como agente no combate aos discursos e práticas nocivas.
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