Carta de Pero Vaz de Caminha: importância, função e características

Carta de Pero Vaz de Caminha: importância, função e características

Símbolo do Quinhentismo e marco da literatura de informação, a Carta de Pero Vaz de Caminha registra o primeiro contato dos portugueses com o Brasil; entenda a importância histórica e literária desse primeiro documento brasileiro

A “Carta de Pero Vaz de Caminha” é considerada o primeiro documento do Brasil e o grande símbolo do Quinhentismo e da literatura de informação

No contexto dos vestibulares, é fundamental compreender a relevância desse registro para a história e literatura brasileira, além de desenvolver a habilidade de interpretá-la para acertar questões de literatura que exigem uma leitura crítica e o conhecimento do contexto em que está inserida.

Por isso, o Portal Estratégia Vestibulares preparou este artigo para você entender melhor sobre a Carta de Pero Vaz de Caminha, sua relevância e principais características. Confira!

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Introdução à carta de Pero Vaz de Caminha

A  “Carta a el- Rei Dom Manoel sobre o achamento do Brasil”, foi escrita por Pero Vaz de Caminha, o escrivão-mor da frota de Pedro Álvares Cabral. Ela começou a ser escrita à bordo e foi endereçada ao rei de Portugal, D. Manoel I, em 1⁰ de maio de 1500, diretamente da região de Porto Seguro, Bahia, onde a esquadra fez escala durante dez dias.

Em seguida, foi enviada para Lisboa em uma das naus, sob o comando do navegador português Gaspar de Lemos, um dos comandantes da frota de Cabral.

Contudo, a carta do achamento do Brasil não chegou ao conhecimento do público geral de imediato. Apenas no século XVIII, o estadista, ministro e guarda-mor da Torre do Tombo, José de Seabra da Silva (1732-1813), localizou o manuscrito e fez uma cópia.

Ainda no mesmo século, o filósofo e historiador espanhol Juan Bautista Muñoz (1745–1799) encontrou, nos arquivos da antiga Torre do Tombo, em Lisboa, as 27 páginas originais da carta e reconheceu de imediato a importância histórica do achado, como o primeiro registro escrito da história do Brasil. A primeira publicação do documento no país ocorreu em 1817, na obra Corografia Brasílica, do padre Manuel Aires de Casal

Significado histórico e literário da carta

A carta, além de sua importância histórica, por ser considerada a “certidão de nascimento” do Brasil e permitir o estudo de diversos aspectos daquele período, também possui um notável valor literário. 

Isso porque a carta de Pero Vaz é um relato de viagem, produção literária que se tornou frequente ao longo do século XVI, devido às várias expedições enviadas às terras brasileiras. 

Então, esses registros narravam os fatos de um modo semelhante a uma crônica de viagem e fazem parte da chamada “literatura de informação” do Quinhentismo, sendo a Carta de Caminha considerada um marco literário brasileiro.

Propósito e função da carta

Nesse sentido, essa carta funcionava como um relatório oficial acerca das terras encontradas e tinha por objetivo informar o rei de forma detalhada sobre:

  • As primeiras impressões do lugar e do povo nativo;
  • Os aspectos geográficos, como o clima e a vegetação; 
  • O potencial agrícola e presença de metais preciosos; e 
  • Apresentar a colônia de modo positivo para gerar interesse na Coroa.

Dessa forma, a carta continha um conteúdo valioso, capaz de fornecer subsídios para futuras ações de colonização pela Coroa.

Conteúdo principal e características da carta

Conteúdo da carta de Pero Vaz de Caminha

A leitura da carta revela o encantamento dos europeus diante da chegada ao território que mais tarde seria conhecido como Brasil. O documento apresenta uma rica narração cronológica dos acontecimentos, iniciando pela aproximação e chegada da frota à costa. 

Em seguida, Caminha descreve de forma detalhada a paisagem, o clima, a fauna, a flora e a abundância de recursos naturais.

O escrivão também relata o primeiro contato com os povos indígenas, registrando minuciosamente suas características físicas, adornos, costumes e as tentativas de interação com os portugueses. Nesse contexto, ele enfatiza a receptividade e a curiosidade dos nativos, o que se confirma no episódio da missa celebrada no local.

Esse momento é narrado como sendo de convivência pacífica, no qual os indígenas assistem de forma respeitosa e acolhedora. Tal comportamento é interpretado por Caminha como um sinal do potencial de conversão ao catolicismo, visto que um dos objetivos centrais das expedições enviadas por Dom Manuel I era a difusão da fé católica. Leia o fragmento da carta que aborda isso:

“E, quando levantaram a Deus, que nos pusemos em joelhos, eles se puseram todos assim como nós estávamos, com as mãos levantadas e em tal maneira assossegados, que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção. Estiveram assim connosco até acabada a comunhão.”

O autor finaliza a carta apresentando ao rei suas impressões gerais sobre a terra, ressaltando a fertilidade do solo e a abundância de recursos hídricos, bem como a importância de consolidar a posse portuguesa e promover a evangelização dos habitantes.

Portanto, o escrivão constrói uma imagem idealizada da terra brasileira e de seus habitantes, retratando-a como um “paraíso tropical” a ser desbravado pelos europeus.

Características da linguagem e estilo

Por se tratar de um documento destinado a um monarca, o texto apresenta aspectos linguísticos e de estilo importantes:

  • Reverência ao monarca, Dom Manuel I;
  • Linguagem formal clara e com vocabulário preciso;
  • Ortografia e sintaxe arcaicas, marcas do português do século XVI;
  • Predomínio da função referencial, cujo foco é informar com objetividade a realidade observada;
  • Riqueza descritiva;
  • Uso de comparações e analogias para aproximar elementos desconhecidos da realidade europeia; e
  • Traços de subjetividade do ponto de vista europeu, apesar do tom informativo objetivo.

O indígena na visão europeia

Como já foi citado, a descrição do povo nativo é um dos principais pontos da carta. Nesse viés, nos escritos de Pero Vaz, os indígenas são retratados como pessoas de corpo nu que, apesar disso, demonstram uma aparente inocência e ausência de malícia. 

Além disso, os seus adereços, gostos alimentares e outros costumes também são vistos com certo fascínio e estranheza. Para ficar claro, leia os trechos a seguir:

“[…] Andam nus, nem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. Traziam ambos os beiços de baixo furados e metido por eles um osso branco de comprimento duma mão travessa e de grossura dum fuso d’algodão e agudo na ponta como furador. […]”

“Deram-lhes ali de comer pão e pescado cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados; não quiseram comer daquilo quase nada. E alguma cousa, se a provavam, lançavam-na logo fora. Trouveram-lhes vinho por uma taça, mal lhe puseram a boca e não gostaram dele nada nem o quiseram mais. Trouveramlhes água por uma albarrada; tomou cada um deles um bocado dela e não beberam; somente lavaram as bocas e lançaram fora. […]”

Logo, a partir desses fragmentos, é possível perceber que, no primeiro contato, os portugueses naturalmente construíram uma imagem dos indígenas marcada por dois eixos principais: a exotização dos costumes e a leitura moral a partir de parâmetros europeus.

A descrição da terra na carta

Outro ponto muito destacado na carta é a natureza da “Ilha de Vera Cruz”. Assim, a terra recém-descoberta é retratada como um paraíso tropical, de beleza exuberante e solo fértil, repleto de recursos, apesar de não terem sido encontrados metais preciosos naquele momento.

Essa descrição cria uma imagem idealizada e reforça a percepção de abundância e riqueza, a qual traduz o potencial de exploração econômica e o interesse da Coroa portuguesa em iniciar a colonização.

Leia um trecho em que o território é exaltado:

“Esta terra, senhor, (…) será tamanha que haverá nela bem 20 ou 25 léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Doiro e Minho (…) Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”.

Perceba que para a imagem do que é o Brasil ficar mais vívida, o autor recorre à comparação com as regiões portuguesas do Douro e do Minho, conhecidas por sua produtividade agrícola,  traduzindo a experiência sensorial e a fertilidade da nova terra para algo mais familiar ao rei.

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Questão de vestibular sobre a Carta de Pero Vaz de Caminha

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Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. 

E que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calecute, bastaria. Quando mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé. 

E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza do que nesta vossa terra vi. E, se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, que o desejo que tinha, de Vos tudo dizer, mo fez assim pôr pelo miúdo. 

(Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha) 

A partir da leitura do trecho, assinale a alternativa CORRETA:

a) A conclusão de Pero Vaz de Caminha sobre a terra descoberta pelos navegadores portugueses é de sua grande valia enquanto entreposto. 
b) A Carta de Pero de Caminha foi encomendada por José de Anchieta, que viria para a terra descoberta santificar os índios.
c) Carta dá ênfase maior ao grande trunfo de Portugal, que era a navegação a Calecute.
d) Caminha pede perdão por, ao escrever com tantas minúcias, ter faltado com a verdade. 
e) O registro de Pero Vaz de Caminha, ao vislumbrar a possibilidade de salvar almas na terra descoberta, destaca a fé católica da monarquia portuguesa. 

    Resposta:

    No trecho, Caminha afirma que “o melhor fruto” da nova terra seria “salvar esta gente”, ou seja, converter os povos indígenas ao catolicismo. Assim, ele reforça que essa deveria ser a “principal semente” lançada pelo rei, evidenciando o papel central da expansão da fé católica no projeto colonial português.

    Alternativa correta: E.

    + Veja também: Pré-história brasileira: características e modos de vida
    Capitanias hereditárias e governo geral: administração no período colonial

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