Elegia: definição, características e exemplos

Elegia: definição, características e exemplos

A elegia é uma forma poética marcante que atravessa épocas e estilos; descubra sua definição, sua origem e suas características com exemplos clássicos e modernos

De Ovídio a Drummond, a elegia é uma forma poética que ultrapassa épocas e movimentos literários, buscando expressar os sentimentos mais profundos do indivíduo. 

No vestibular, compreender a elegia pode ser um diferencial na análise de textos e na interpretação de questões literárias. Neste artigo do Estratégia Vestibulares, exploramos a origem, as características e os principais exemplos da elegia ao longo da história da literatura. Confira!

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O que é elegia?

A elegia (do grego, “elegeía” – “lamentação”, “canto lúgubre”) é uma construção poética que expressa sentimentos profundos de tristeza, melancolia e reflexão. Na Antiguidade grega, era considerada um gênero textual próprio e diferenciava-se da poesia lírica, pois, enquanto esta era necessariamente cantada, a elegia era apenas recitada. Atualmente, é possível enquadrá-la como um tipo de poesia lírica.

A elegia na história da literatura

Grécia Antiga

A origem da elegia remonta à Grécia Antiga, tradicionalmente associada a acontecimentos fúnebres, referindo-se tanto à morte de um indivíduo quanto de um grupo de pessoas. Nesse sentido, Calino de Éfeso (VII a.C.) é considerado um dos inventores da elegia, especialmente a elegia guerreira arcaica, cujo objetivo era destacar a honra coletiva. Há ainda outros poetas associados a essa forma poética na Grécia Antiga, como Arquíloco, Tirteu e Sólon.

Roma Antiga

Na Roma Antiga, essa poesia ganhou um novo viés, enfatizando seus afetos pessoais, conflitos e sofrimentos amorosos. Como expoentes romanos, pode-se citar Ovídio, Catulo e Virgílio, responsáveis por elevar a elegia latina. Por exemplo, no livro I de “Tristia“, Ovídio lamenta seu exílio com versos que refletem com clareza sua dor pelo distanciamento das pessoas amadas:

“(...)
Livro, saúda os locais gratos com estas letras:
Ao menos com o metro os tocarei.
Se alguém, da multidão, ali de mim se lembre,
Se alguém queira saber como eu estou,
Dirás que vivo, mas que não me sinto bem,
E que este meu viver devo a um deus.
(...)”

Além de Ovídio, Propertius e Tibulo  ficaram conhecidos como “elegíacos latinos” na época do governo de Otávio Augusto (31 – 14 a.C.). Esses poetas produziram poesias amorosas, nas quais há a figura marcante de uma mulher, construída ficcionalmente, que busca conquistar o poeta da elegia. Assim, a fronteira entre a figura do poeta real e do poeta da elegia é muitas vezes difusa. Além disso, a mulher amada parece ser a personificação da própria poesia escrita.

Elegia na literatura portuguesa

A elegia também fez-se bastante presente na literatura portuguesa, com Camões, na época Classicismo português, e Fernando Pessoa, durante o Modernismo.

  • Camões: influenciado pela tradição greco-latina, sua elegia tem tom solene, métrica rígida e temas como o sofrimento amoroso, heroísmo trágico e a religião. Um exemplo disso é a Elegia a Cristo Nosso Senhor:
“(...)
Do amor e da justiça compelida,
polos erros da gente, em mãos da gente
– como se Deus não fosse – perde a vida.
(...)”
  • Fernando Pessoa: rompe com a formalidade, adota versos livres e um tom introspectivo e filosófico. Em Tabacaria, assinada por Álvaro de Campos, a elegia dirige-se não a um ser amado, mas à identidade fragmentada e ao vazio da modernidade.

Elegia no Modernismo brasileiro

Ademais, a elegia esteve presente no Modernismo brasileiro, assumindo um tom mais reflexivo sobre a transitoriedade da vida e a angústia existencial, afastando-se das estruturas rígidas clássicas. Nesse contexto, a composição de versos lamentosos podem ser vistos em Cecília Meireles e Drummond, por exemplo:

“(...)
Mas tudo é inútil,
porque os teus ouvidos estão como conchas vazias,
e a tua narina imóvel
não recebe mais notícia
do mundo que circula no vento.
(...)”

(Cecília Meireles)

No poema acima, de Cecília Meireles, o lamento elegíaco manifesta-se em uma poesia delicada, na qual a perda  de sua avó e a efemeridade da existência são temas centrais. 

Drummond, em “Elegia 1938”, adota um viés mais crítico e irônico, lamentando a frustração  e a monotonia do mundo moderno:

“Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo. 
(...)”

Elegia no Simbolismo

Outra obra elegíaca que merece destaque é “A Elegia de Duíno” (Duineser Elegien), de Rainer Maria Rilke, o qual pertenceu ao Simbolismo e ao Modernismo. Esses estilos são evidenciados pela forma como Rilke usa a linguagem e a metáfora para expressar a subjetividade e fazer uma reflexão filosófica profunda.

Portanto, essa é uma forma poética versátil que transcende épocas e movimentos literários. Porém, uma característica em comum observada é a introspecção, a qual permite uma comunicação emocional por meio de uma linguagem rica e emotiva.

O que diferencia a elegia?

Apesar de sua semelhança com outros gêneros que remetem ao fúnebre e melancólico, como o epitáfio e o planctus, a elegia possui algumas características que a distingue. 

Diferenças entre elegia, planctus e epitáfio

  • Elegia: mais longa e reflexiva, abordando a dor e a perda com profundidade poética.
  • Epitáfio: inscrição curta em túmulos, muitas vezes com tom solene ou homenageador.
  • Planctus: lamento medieval cristão, que possui forte ligação ao luto religioso e à lamentação de figuras sagradas ou eventos trágicos. 

A influência elegíaca

As características da elegia transcendem as diversas formas de manifestações artísticas e podem aparecer em músicas populares. Na MPB, Vinicius de Moraes traduz seus sentimentos na canção “Saudade do Brasil em Portugal”:

“O sal das minhas lágrimas de amor
Criou o mar que existe entre nós dois
Para nos unir e separar
Pudesse eu te dizer
A dor que dói dentro de mim
Que mói meu coração nesta paixão
Que não tem fim
(...)”

Tipos de elegia

As elegias ao longo da história puderam ser divididas em algumas categorias principais:

  • Fúnebre: enfatiza a perda de alguém e o sentimento de luto.
  • Heroica: trata de temas bélicos e exalta feitos guerreiros.
  • Amorosa ou erótica: expressa a dor e o sofrimento causados pelo amor.
  • Filosófica ou existencialista: aborda reflexões metafísicas sobre a vida e a existência.
  • Moralista ou gnômica: destaca valores éticos e ensinamentos morais.
  • Religiosa: evidencia a fragilidade humana, expressa o sentimento de culpa pelo pecado.

Estrutura da elegia

Métrica e rima

Tradicionalmente, a elegia clássica greco-romana segue o dístico elegíaco, uma estrutura fixa composta por 2 versos com sílabas longas e breves: um hexâmetro dactílico (seis pés métricos) e um pentâmetro dactílico (cinco pés métricos), nessa ordem. Veja um exemplo de dístico elegíaco de Ovídio:
“Parve – nec invideo – sine me, liber, ibis in urbem:
ei mihi, quod domino non licet ire tuo!”

(Pequeno livro, irás sem mim – não ressinto! – à Urbe:
Ai, pois não é permitido ao teu dono!)

Quanto às rimas, essa não é uma característica predominante das elegias, pois o foco costumar estar mais na métrica, no ritmo e na expressividade.

Estrutura clássica

Na Antiguidade, o texto elegíaco costumava ser dividido duas partes principais:

  • Lamento: a primeira parte é o lamento pela perda ou pelo sofrimento. Pode ser uma lamentação pessoal ou coletiva.
  • Consolo ou reflexão: a segunda parte pode envolver uma reflexão ou consolo, seja tentando encontrar algum significado para o sofrimento ou consolo diante da dor ou da morte.

Com o tempo, a forma tornou-se mais flexível, seguindo um número indefinido de versos e estrofes. Dessa forma, para um poema ser caracterizado elegíaco, considera-se especialmente seu teor melancólico, fúnebre, nostálgico e, até mesmo, amoroso

Como analisar uma elegia?

Para analisar uma elegia, é necessária certa compreensão do contexto histórico e cultural em que foi escrita. Nesse sentido, enquanto uma elegia romana, como a “Tristiade Ovídio, reflete a dor de um exílio e o amor perdido; versos elegíacos de Cecília Meireles podem versar sobre uma perda pessoal e a efemeridade da vida. 

Recursos poéticos

Para compreender uma elegia, também deve-se considerar os seguintes recursos poéticos que podem estar presentes:

  • Métrica e rima: segue um padrão fixo ou é livre? Há rimas?
  • Recursos estilísticos: note se há uso de recursos de linguagem, como metáforas, comparações e prosopopeias para intensificar a emoção.
  • Conteúdo: repare se o texto elegíaco reflete sobre perda, efemeridade da vida e saudade.

Vamos analisar a seguir um trecho da Elegia de Camões que lamenta a morte de Dom Miguel:

“(...)
É morto D. Miguel (ah! crua espada!) 
e parte da lustrosa companhia 
que se embarcou na alegre e triste armada; 
de espingarda ardente e lança fria 
passado pelo torpe e inico braço 
que nossas altas famas injuria.
(...)”

No poema acima, podem ser notados os seguintes recursos poéticos: 

  • Métrica e rima: nota-se a presença de decassílabos (10 sílabas poéticas) em todos os versos, um metro clássico na poesia portuguesa. Quanto à rima, o poema possui um esquema de rimas sem padrão definido. Nota-se que apenas nos versos 7 a 12 há rimas alternadas inicialmente, mas não se conclui de forma simétrica.
  • Recursos estilísticos: a antítese, por exemplo, aparece em “alegre e triste armada” e “espingarda ardente e lança fria”, esse contraste enfatiza a ironia da tragédia e a brutalidade das armas. Além disso, a hipérbole em “torpe e inico braço que nossas altas famas injuria.”, ressalta a perversidade do vilão e reforça a indignação do “eu lírico” diante da situação.

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