Elemento central de uma narrativa, o enredo articula os acontecimentos e conduz o leitor por conflitos, tensões e desfechos. No contexto de ENEM e vestibulares, compreender sua estrutura e as particularidades dos gêneros literários é passo essencial para resolver questões interpretativas com segurança e produzir redações de qualidade.
Pensando nisso, o Estratégia Vestibulares preparou este guia para te ajudar a dominar o enredo em prosa e seus tipos, com análise das principais obras da literatura brasileira. Confira!
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O que é o enredo?
O enredo é um conjunto de fatos e ações que compõem uma história em gêneros literários como contos, romances, novelas e crônicas. Ele também é conhecido como intriga ou trama, sendo essencial para dar coerência e lógica à história, conectando personagens, tempo e espaço.
Partes do enredo
Os acontecimentos em um enredo devem estar organizados de forma lógica, a fim de criar expectativa e transmitir uma mensagem. Nesse sentido, o enredo é dividido em partes:
- Introdução (apresentação): é a parte responsável por apresentar o cenário, as personagens principais, o contexto geral (tempo e lugar) e o conflito inicial que será desenvolvido ao longo da história.
- Complicação (desenvolvimento): é a fase mais longa, em que o conflito começa a se intensificar, aumentando a tensão e desenvolvendo a trama. Aqui, os personagens enfrentam desafios que os levam ao ponto central da narrativa.
- Clímax: é o momento de maior tensão ou o ponto de virada da história. É nessa parte que o conflito atinge seu ápice, e uma decisão ou evento crucial ocorre, determinando o rumo dos acontecimentos.
- Desfecho (conclusão): ocorre após o clímax, quando a história começa a se resolver e chega-se ao desfecho da narrativa. Esse final pode ser feliz, trágico ou aberto, dependendo do estilo.
Tipos de enredo
O enredo pode ser classificado de acordo com as estruturas ou padrões narrativos que organizam uma história. Há várias classificações, mas os principais tipos de enredo serão abordados a seguir.
Enredo linear
O enredo linear é o tipo mais comum e segue uma ordem cronológica, com os acontecimentos apresentados exatamente na sequência em que ocorrem (apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho). Dessa forma, não há grandes rupturas no tempo, como retomadas de memória e eventos do passado.
Esse tipo de enredo é comum em fábulas, narrativas infantis, crônicas e, inclusive, em obras do Romantismo brasileiro. Exemplos disso são os romances “Senhora” e “O guarani”, de José de Alencar. Leia um trecho a seguir da obra “O guarani”:
“Corria o mês de março de 1603.
Era portanto um ano antes do dia em que se abriu esta história.
Havia à beira do caminho que então servia às expedições entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, um vasto pouso onde habitavam alguns colonos e índios catequizados.
(...)
Na segunda-feira, eram seis horas da manhã, quando D. Antônio de Mariz chamou seu filho.
O velho fidalgo velara uma boa parte da noite; ou escrevendo ou refletindo sobre os perigos que ameaçavam sua família. (...)”
Enredo não linear
No enredo não linear, os acontecimentos não seguem a ordem cronológica e podem, inclusive, iniciar pelo final da história. Para isso, são usados recursos, como flashbacks (retorno ao passado), antecipações (prévias do futuro) ou revelação inicial do desfecho. Nesse sentido, essa estrutura permite surpreender o leitor, gerar curiosidade e engajamento ou destacar aspectos específicos da trama.
Um grande exemplo de enredo não linear é o clássico do Realismo brasileiro: Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. A narrativa começa com a morte do protagonista, um “defunto autor”, que então reconta sua vida da infância à idade adulta, revisitando o passado de forma não cronológica. Percebe-se que essa escolha cria um efeito de quebra de expectativa capaz de prender a atenção do leitor.
Para compreender melhor, leia o trecho a seguir do livro Memórias póstumas de Brás Cubas:
“E vejam agora com que destreza; com que arte faço eu a maior transição deste livro. Vejam: o meu delírio começou em presença de Virgília; Virgília foi o meu grão pecado da juventude; não há juventude sem meninice; meninice supõe nascimento; e eis aqui como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, em que nasci. Viram? [...] Vamos ao dia 20 de outubro.”
Enredo psicológico
O enredo psicológico é altamente introspectivo, pois foca nas emoções, pensamentos e conflitos internos dos personagens, sem que necessariamente isso corresponda às ações externas. Nesse tipo de enredo, é comum serem enfatizadas memórias e sentimentos, em vez de ações concretas.
Desse modo, as principais características desse tipo de enredo são:
- Presença de narrador personagem ou onisciente;
- Tempo psicológico; e
- Ênfase na interioridade e no fluxo de consciência do personagem: reflexões, devaneios e lembranças;
Exemplos de autores brasileiros que lançaram mão desse tipo de enredo são Machado de Assis e Clarice Lispector. Para elucidar o que foi abordado, leia um trecho do conto “Bonecos de barro”, de Clarice:
“(...) Ela se amedrontava pensativa. Nada dizia, não se movia, mas interiormente sem nenhuma palavra repetia: Eu não sou nada, não tenho orgulho, tudo me pode acontecer; se quiser, me impedirá de fazer a massa de barro; (...) Era menos que uma visão, era uma sensação no corpo, um pensamento assustado sobre o que lhe permita conseguir tanto barro e água e diante de quem ela devia humilhar-se com seriedade.”
Note que essa narrativa explora a interioridade de Virgínia, sua única personagem, por meio de um monólogo interior e do fluxo de consciência.
Logo, o narrador mergulha nos pensamentos da personagem: uma mulher sensível e melancólica, cuja essência se manifesta em sua criação artística, a partir da modelagem de diversas figuras de argila.
Essas figuras são peças-chave no enredo, visto que transmitem expressões e sensações que refletem o mundo interno da personagem.
Outros elementos narrativos relacionados ao enredo
Além do enredo, que é a espinha dorsal da narrativa, outros elementos são fundamentais para a construção de um enredo em prosa. Observe a seguir:
Foco narrativo
O foco narrativo define a perspectiva da história, ou seja, estabelece o ponto de vista do qual a história está sendo contada, quem é o narrador. Esse narrador pode ser de três tipos:
- Narrador-personagem: participa da trama e narra em primeira pessoa, expressando opiniões e sentimentos. Para ficar claro, é como se você estivesse narrando a sua própria vida: ao mesmo tempo que narra os acontecimentos, participa ativamente deles;
- Narrador-observador: narra em terceira pessoa, de forma objetiva, sem envolvimento direto nos fatos; e
- Narrador-onisciente: sabe todos os detalhes dos personagens (emoções, pensamentos) e pode narrar em primeira ou terceira pessoa, além de opinar sobre os eventos.
Personagens
Os personagens são agentes da história, eles participam dos acontecimentos e realizam ações que desenvolvem a trama. Podem ser divididos em:
- Protagonistas: personagens principais, que conduzem a narrativa;
- Antagonistas: geram ou incentivam o conflito, opostos aos protagonistas; e
- Secundários: contribuem para o enredo, mas sem destaque.
Tempo e espaço
O tempo e espaço são elementos cruciais para a construção da narrativa em qualquer obra literária, cinematográfica ou artística. Eles criam o contexto, definem o ritmo e a cronologia dos eventos, como será detalhado a seguir:
Tempo
- Cronológico: os eventos acontecem em ordem natural (horas, dias, anos);
- Psicológico: é baseado nas memórias ou sentimentos do narrador ou do personagem; e
- Flashback: ocorre a retomada de lembranças do passado que se conectam com o tema principal do enredo. Exemplo: Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Espaço
É o ambiente onde a história se desenrola. Esse pode ser que pode ser físico ou social, abordando condições culturais e econômicas. Um exemplo de enredo que possui um espaço tanto físico quanto social detalhados é a obra naturalista “O cortiço”, observe um trecho a seguir:
“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.”
O enredo nos gêneros literários em prosa
Agora que você compreendeu a estrutura narrativa do enredo, importa salientar que ele varia significativamente entre os gêneros em prosa (contos, novelas, romances e crônicas), refletindo as especificidades de cada um. Atente-se às principais características a seguir:
- Conto: possui um enredo curto, focado, com poucos personagens e eventos, geralmente centrado em um único conflito ou momento marcante, com desfecho rápido e impacto emocional ou surpresa. Exemplo: “A cartomante”, de Machado de Assis.
- Novela: apresenta um enredo mais extenso que o conto, com maior desenvolvimento de personagens e tramas secundárias, porém é menos complexo que o romance, mantendo certa concisão. Exemplo: “A hora da estrela”, de Clarice Lispector.
- Romance: possui enredo amplo e complexo, com múltiplos personagens, tramas paralelas e desenvolvimento profundo de conflitos, o qual abrange longos períodos de tempo. Exemplo: “A ilustre casa de Ramires”, de Eça de Queirós.
- Crônica: enredo leve, cotidiano, muitas vezes sem conflitos intensos, mas com tom reflexivo ou humorístico e narrativa centrada em observações do dia a dia. Exemplos: crônicas de Clarice Lispector, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis.
Dicas para o vestibular
Como o enredo pode ser cobrado na prova?
Nos vestibulares, o enredo costuma aparecer em questões sobre suas partes (introdução, clímax, desfecho), estrutura (linear, não linear, psicológica) e ponto de vista narrativo. Assim, perguntar a si mesmo “quem está contando a história?” descomplica a análise do texto e pode garantir a questão.
Por fim, a análise de obras clássicas da literatura brasileira, como as de Machado de Assis, pode ajudar muito a identificar com facilidade essas características.
Aplicando o enredo em prosa na redação
Ademais, há vestibulares que exigem a redação de um texto narrativo. Desse modo, ao escrever narrativas, estruture o enredo com clareza, contextualizando a narrativa desde o princípio e definindo um conflito central envolvente que deve ser resolvido no desfecho.
Não esqueça também de usar adequadamente os elementos narrativos (personagens, tempo, espaço) para dar coerência e progressão à história. Procure praticar essas dicas na sua próxima redação, pois para ter segurança na escrita é necessário treinar bastante!
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