Os poetas clássicos buscavam a beleza das poesias não somente pela temática ou conteúdo dos textos, mas também por sua forma, disposição estética, sonoridade e um processo rigoroso de construção visual. Para isso, duas ferramentas essenciais eram a escansão e a métrica poemática.
Com elas, é possível construir versos que possuam exatamente o mesmo número de sílabas poéticas. Assim, as estrofes ficam quase que alinhadas visualmente, ao mesmo tempo em que a sonoridade adquire um ritmo único, harmônico.
Neste texto, você encontra informações sobre processo de metrificação e escansão, além de aprender conceitos essenciais para esse estudo, como as sílabas poéticas. Depois, veja um exemplo de poesia escrita com essas técnicas e a resolução de uma questão de vestibulares sobre o assunto. Leia mais.
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O que é escansão?
Basicamente, a escansão é o processo de contar as sílabas poéticas de um texto. A escansão é realizada por versos e, geralmente, os autores definem previamente quantas sílabas querem construir em cada linha do poema.
É uma ferramenta útil, também, quando o poeta decide escrever um texto de forma fixa, como os sonetos e as odes. Nos sonetos, por exemplo, é preconizado que haja duas estrofes com quatro versos cada (quartetos) e duas estrofes com três versos cada (tercetos). Além disso, é necessário que cada um desses versos sejam decassílabos, ou seja, apresentem dez sílabas poéticas.
“Quando da bela vista e doce riso
Tomando estão meus olhos mantimento,
Tão enlevado sinto o pensamento,
Que me faz ver na terra o Paraíso.
Tanto do bem humano estou diviso,
Que qualquer outro bem julgo por vento;
Assi que, em caso tal, segundo sento,
Assaz de pouco faz quem perde o siso.
Em vos louvar, Senhora, não me fundo,
Porque quem vossas cousas claro sente,
Sentirá que não pode conhecê-las.
Que de tanta estranheza sois ao mundo,
Que não é de estranhar, Dama excelente,
Que quem vos fez fizesse céu e estrelas.”
Escansão: sílabas poéticas
A escansão é realizada a partir da contagem de sílabas poéticas e, isso deve ser levado em consideração para a montagem dos versos. Afinal, o conceito de sílabas poéticas é consideravelmente diferente das sílabas gramaticais, que geralmente são ensinadas no processo de alfabetização.
Na escansão, há um objetivo maior de construir uma sonoridade harmônica para os versos. Então, a musicalidade e a forma como as palavras se unem entre si do ponto de vista auditivo são muito importantes.
Por isso, as sílabas poéticas são definidas conforme o som de cada palavra. Para realizar a escansão, inclusive, é necessário estar à par dos conhecimentos de fonemas e sílabas tônicas, porque são muito explorados no fazer poemático.
Como fazer a escansão?
Uma vez que o processo de escansão é baseado na sonoridade das palavras e como elas se relacionam entre si, a melhor forma de aplicar essa técnica é emitindo sons. Ou seja, ao escandir um verso, fale-o em voz alta.
Por exemplo, duas vogais podem formar uma única sílaba poética, mesmo que estejam em palavras diferentes. Isso acontece porque a sonoridade delas é a mesma, então não há um novo movimento sonoro para o desenvolvimento do verso.
Na frase “ele não sabe o que estou fazendo”, o som da vogal “e” é contínuo entre as palavras “que” e a palavra “estou”. Na escansão dessa frase, eles apareceriam juntos como sílabas poéticas.
No caso dos ditongos, que são definidos gramaticalmente, eles sempre formam uma única sílaba poética. Por fim, é necessário lembrar que a contagem de sílabas poéticas de um verso acaba na sua sílaba tônica. Ou seja, não importa quantas sílabas venham após a tônica da última palavra!
“As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.”
O poema acima, “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, é uma leitura clássica em Língua Portuguesa. No primeiro verso, a última palavra (“assinalados”) é uma paroxítona, com a sílaba tônica “la” e esse é o limite da escansão.
Depois, é preciso pronunciar as partes do texto para construir a sonoridade e separar as sílabas. Note que, entre uma palavra e outra pode existir uma vogal final + vogal inicial que permita a união sonora, então, basicamente o escandir do primeiro verso será:
As / ar / mas / e os/ ba / rões / as / si / na / la / dos
Para finalizar o processo, contamos cada sílaba separada desde a primeira até a tônica da última palavra, nesse caso, são 10 sílabas poéticas. Note que, em geral, a divisão será feita com base na gramática, mas as peculiaridades da escansão devem ser levadas em consideração, sempre. Por exemplo em “e os”, uma vez que a sequência de vogais propiciou um som contínuo (tente falar o verso em voz alta em casa) e eles não separados.
Classificações na escansão
Uma vez que é possível contar o número de sílabas poéticas de um verso, também foi criada uma classificação e nomenclatura para as estruturas mais usadas. Em geral, os versos decassílabos são os mais famosos, com um total de 10 sílabas poéticas.
1 sílaba poética | Monossílabo |
2 sílabas poéticas | Dissílabo |
3 sílabas poéticas | Trissílabo |
4 sílabas poéticas | Quadrissílabo |
5 sílabas poéticas | Pentassílabo (também chamado de Redondilha Menor) |
6 sílabas poéticas | Hexassílabo |
7 sílabas poéticas | Heptassílabo (também chamado de Redondilha Menor) |
8 sílabas poéticas | Octossílabo |
9 sílabas poéticas | Eneassílabo |
10 sílabas poéticas | Decassílabo |
11 sílabas poéticas | Hendecassílabo |
12 sílabas poéticas | Dodecassílabo |
De 13 sílabas poéticas em diante | Bárbaro |
Existem, ainda, poemas que evitam a metrificação e a escansão. São as chamadas poesias em versos brancos, em que a preocupação do autor se afasta da questão padronizada, para adicionar mais liberdade em seus escritos. Foi um estilo muito utilizado durante o Modernismo no Brasil.
Questão de vestibulares
Unesp/2011
Com base na letra da toada Boiadeiro, de Armando Cavalcante (1914-1964) e Klecius Caldas (1919-2002):
Boiadeiro
De manhãzinha, quando eu sigo pela estrada
Minha boiada pra invernada eu vou levar:
São dez cabeças; é muito pouco, é quase nada
Mas não tem outras mais bonitas no lugar.
5 Vai boiadeiro, que o dia já vem
Leva o teu gado e vai pensando no teu bem.
De tardezinha, quando eu venho pela estrada,
A fiarada tá todinha a me esperar
São dez filinho, é muito pouco, é quase nada,
10 Mas não tem outros mais bonitos no lugar.
Vai boiadeiro, que a tarde já vem
Leva o teu gado e vai pensando no teu bem
E quando chego na cancela da morada,
Minha Rosinha vem correndo me abraçar.
15 É pequenina, é miudinha, é quase nada
Mas não tem outra mais bonita no lugar.
Vai boiadeiro, que a noite já vem,
Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem!
(Armando Cavalcante e Klecius Caldas. Boiadeiro. In: Beth Cançado. Aquarela brasileira, vol. I. Brasília: Editora Corte Ltda., 1994. p. 59.)
A toada Boiadeiro, de Armando Cavalcante e Klecius Caldas, notabilizada pela interpretação de Luiz Gonzaga em 1950, tem sua letra elaborada em versos de doze e de dez sílabas métricas. Observe com atenção os seguintes versos na letra da toada:
I. Vai boiadeiro, que o dia já vem,
II. A fiarada tá todinha a me esperar;
III. Vai boiadeiro, que a tarde já vem
IV. É pequenina, é miudinha, é quase nada
Dos versos indicados, os que apresentam dez sílabas métricas são apenas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) I, II e III.
e) II, III e IV
Alternativa correta: B
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