Gênero dramático: definição, tipos e características 

Gênero dramático: definição, tipos e características 

Da tragédia à farsa: explore os elementos do drama com exemplos de obras e autores clássicos

Os seres humanos são movidos por emoções como alegria, medo, raiva, tristeza e angústia. Nesse sentido, desde a Antiguidade, o gênero dramático tem como propósito representar essas emoções de forma artística, revelando os conflitos internos e sociais que moldam a experiência humana. 

No contexto de vestibular, o gênero dramático é frequentemente abordado nas provas de literatura, especialmente em questões que envolvem interpretação de texto, análise de personagens e compreensão de contextos históricos e sociais. 

Pensando nisso, o Portal Estratégia Vestibulares preparou este guia para você entender os principais elementos do gênero, sua estrutura, os tipos de peças e obras mais relevantes para o vestibular. Confira!

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O que é o drama?

O drama (do grego, “ação”) é um gênero literário feito para ser encenado (peças teatrais, roteiros cinematográficos e roteiros de telenovelas, por exemplo). Nesse sentido, ao contrário do gênero narrativo, o texto dramático apresenta falas dos personagens e indicações cênicas (rubricas). Assim, o drama é um misto de literatura escrita e performance teatral, visto que o texto só ganha vida no palco ou em frente às câmeras. 

Origem

O gênero dramático surgiu na Grécia Antiga e fazia parte das celebrações religiosas em honra aos deuses, especialmente Dionísio. Com o tempo, as encenações se transformaram em formas estruturadas de tragédia e comédia, cujo principal objetivo era provocar no público uma intensa resposta emocional (catarse). 

Dessa forma, a função do gênero dramático não se limitava ao entretenimento, mas envolvia também a reflexão, o questionamento e a purificação simbólica das emoções humanas.

Entre os grandes dramaturgos da Grécia Antiga, Ésquilo, Sófocles e Eurípides se destacam por suas contribuições fundamentais à tragédia e à evolução do teatro ocidental.

Estrutura do texto dramático

O texto dramático apresenta uma estrutura própria, pois não foi concebido para permanecer apenas no papel. Ele é um roteiro de espetáculo voltado à encenação teatral. Por isso, seus elementos são cuidadosamente organizados para orientar tanto os atores quanto a equipe responsável pela montagem da peça. Por isso, seus elementos são organizados dividindo-se em duas partes: estrutura externa e estrutura interna.

Estrutura externa

  • Atos: partes maiores da peça, marcadas por mudanças significativas no cenário ou no tempo da ação, e em cenas, unidades das ações dramáticas (subdivisões dentro dos atos);
  • Cenas: unidades das ações dramáticas (subdivisões dentro dos atos), marcadas pela entrada ou saída de personagens;
  • Texto principal: composto pelas falas dos personagens, seus diálogos e monólogos; e 
  • Indicações cênicas (didascálias ou rubricas): instruções do autor sobre cenário, iluminação, figurino e entonação. Elas são essenciais para descrição da cena, a fim de que a encenação fique adequada à intenção do dramaturgo. Geralmente, as rubricas aparecem em itálico ou negrito.

Estrutura interna

  • Apresentação: introdução dos personagens e da situação inicial;
  • Conflito: desenvolvimento das tensões e obstáculos que movimentam a trama; e
  • Desenlace: quando ocorre a resolução da ação dramática, encerrando o percurso dos personagens.

Elementos e características do gênero dramático

O texto dramático apresenta elementos e características específicas que contribuem para desenvolver os atos da peça. Confira:

Características essenciais do drama

O texto dramático é geralmente escrito em prosa, por oferecer maior fluidez e naturalidade à fala dos personagens, embora algumas peças utilizem versos rimados. Além disso, costuma empregar a segunda pessoa (tu/vós), pois se dirige diretamente ao interlocutor dentro da cena, reforçando a interação entre os personagens.

Elementos essenciais do drama

  • Personagens: são construídos pelas falas e ações ao longo da peça, com apoio das didascálias que ajudam a enriquecer a construção dos personagens e orientam a interpretação e o comportamento deles no palco;
  • Conflito dramático: é a tensão central da peça que move a ação e prende a atenção do público, podendo ser externa (entre personagens) ou interna (psicológica); e
  • Ação dramática: é o conjunto de eventos encenados que dá ritmo à história e conecta os acontecimentos. Seria, portanto, o equivalente ao enredo de uma narrativa. 
  • Diálogo: é a interação entre os personagens, que revelam emoções, conflitos e intenções;
  • Monólogo: ocorre quando um personagem fala sozinho no palco, expressando pensamentos ou sentimentos sem seguir uma lógica, de forma irracional;
  • Solilóquio: reflexão íntima e lógica de um personagem consigo mesmo, relevando sua consciência. Diferencia-se do monólogo, visto que não exige a presença de um ouvinte e segue uma organização lógica e racional; e
  • Aparte: comentário curto que um personagem dirige a si mesmo e, consequentemente ao público, sendo inaudível aos demais personagens. Distingue-se do monólogo, pois é mais curto e está integrado aos diálogos da cena.

Tempo e espaço na peça

No teatro, tempo e espaço não seguem as regras da realidade. Desse modo, o tempo dramático — ou seja, o tempo da história — pode ser dilatado ou comprimido em relação ao tempo real da encenação. Para isso ficar claro, uma vida inteira pode ser contada em minutos, enquanto um único instante da vida do personagem pode se estender por toda uma cena, por exemplo.

O espaço cênico, por sua vez, é alterado conforme a necessidade da narrativa, transformando-se a cada cena. As didascálias são responsáveis por orientar essa construção, enquanto a cenografia dá forma visual ao ambiente, tornando-o realista e expressivo.

Assim, tempo e espaço no teatro são ferramentas criativas que ampliam o poder da linguagem cênica e aprofundam a experiência do espectador.

Principais tipos dramáticos

Tragédia

A tragédia é considerada o primeiro gênero teatral. Ela é marcada por conflitos sérios, com personagens elevados (nobres, deuses e semideuses) como heróis e com final geralmente infeliz.

Exemplos de tragédias: 

  • Prometeu Acorrentado Ésquilo;
  • Édipo Rei – Sófocles;
  • Medeia – Eurípedes; e
  • Hamlet – Shakespeare.

Comédia

A comédia é caracterizada por um tom cômico que visa provocar o riso e, simultaneamente, criticar comportamentos sociais. Assim, suas principais características são:

  • Abordagem de temática cotidiana, com satirização da sociedade e crítica aos vícios humanos;
  • Presença de linguagem coloquial que geram identificação do público com os personagens;
  • Inicia-se com uma situação problemática, mas caminha para um desfecho feliz, reforçando o caráter leve e divertido; e
  • Presença de personagens estereotipados que representam tipos sociais e defeitos humanos.

Exemplos de comédias: 

  • O Casamento Suspeitoso – Ariano Suassuna; 
  • As Vespas – Aristófanes; e
  • Os Árbitros – Menandro.

Tragicomédia

A tragicomédia mistura elementos da tragédia e da comédia, criando uma narrativa que oscila entre momentos de tensão e sofrimento, com situações cômicas ou irônicas. As características principais são:

  • Ação trágica com desfecho feliz: embora a trama envolva conflitos sérios e momentos de tensão, o final costuma ser positivo para os personagens;
  • Temas variados: pode abordar assuntos de caráter heroico, religioso ou pastoril, refletindo diferentes aspectos da experiência humana.

Exemplos de obras tragicômicas:

  • O Mercador de Veneza – William Shakespeare;
  • O Conto de Inverno – William Shakespeare; e
  • Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela – Gil Vicente.

Auto 

O auto é um subgênero do gênero dramático que ganhou popularidade na Idade Média e no Renascimento, especialmente em Portugal e Espanha. Ele se caracteriza por ser uma peça teatral curta, geralmente com um único ato, e com forte conteúdo religioso, moral ou satírico.

Exemplos de autos: 

  • Auto da Compadecida – Ariano Suassuna; 
  • Auto da Lusitânia – Gil Vicente; e
  • Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente.

Nesse contexto, o Auto da Compadecida, por exemplo, é uma produção que mistura farsa e auto. Ela retrata a vida no sertão com humor e crítica social, com os personagens João Grilo (esperto) e Chicó (medroso) representando o povo pobre e astuto. Nessa peça, são abordados temas como, injustiça social, religiosidade popular e a esperteza como sobrevivência. Leia um trecho do auto:

“Mulher: Que é isso, João, você está em casa! Diga!
João Grilo: É que o gato que eu lhe trouxe descome dinheiro.
Mulher: Descome dinheiro?
João Grilo: Descome sim.
Mulher: Essa eu só acredito vendo!
[...]
João Grilo: (Passa a mão no traseiro do gato e tira uma prata de cinco tostões.) Está aí, cinco tostões que o gato lhe dá de presente”.

Farsa

A farsa é uma peça teatral curta e possui um teor ridículo e caricatural, com o objetivo de criticar a sociedade e seus costumes. Assim, pode-se afirmar que a farsa apresenta um humor exagerado e é marcada por:

  • Poucos personagens;
  • Foco na ação teatral, cenários, gestos e figurino e menos no diálogo e conflito;
  • Presença de tom irreverente, com situações caricaturais e absurdas da sociedade; e
  • Subversão de valores a partir do questionamento e ridicularização de normas da ordem institucional.

Exemplos:

  • A Farsa de Inês Pereira – Gil Vicente; 
  • A Farsa – Raúl Brandão;  
  • A Farsa da Boa Preguiça – Ariano Suassuna; e 
  • O Médico à Força – Molière

Outras obras relevantes para vestibulares e Enem

A seguir, leia um resumo de algumas das principais obras teatrais importantes para vestibulares e Enem:

Vestido de Noiva (Nelson Rodrigues)

Vestido de Noiva é considerada um marco da dramaturgia brasileira moderna, pois a peça rompe com a linearidade tradicional ao apresentar a narrativa em três planos simultâneos: realidade, memória e alucinação. A trama gira em torno de Alaíde, uma mulher da burguesia carioca que sofre um acidente e é levada ao hospital. Durante o processo cirúrgico, ela começa uma jornada psicológica, revisitando traumas, desejos e conflitos familiares. Assim, essa peça aborda especialmente a hipocrisia da burguesia carioca da época.

O Juiz de Paz na Roça (Martins Pena)

Uma das primeiras comédias do teatro brasileiro, ambientada na zona rural do Rio de Janeiro no século XIX. A peça retrata, com humor e linguagem coloquial, os costumes populares e a atuação de um juiz corrupto e autoritário. Ao lidar com situações absurdas, a obra expõe o abuso de poder e a precariedade da justiça, configurando uma crítica social por meio da comédia de costumes.

O Rei da Vela (Oswald de Andrade)

Essa é uma obra fundamental do teatro modernista brasileiro e mistura elementos da farsa, da comédia satírica e do teatro popular. Nesse sentido, a história gira em torno de Abelardo I, um agiota que enriquece vendendo velas para funerais, enquanto se prepara para casar com Heloísa, uma moça da aristocracia falida. A peça faz uma crítica bem-humorada e ácida ao capitalismo, à elite brasileira e à dependência do Brasil em relação a outros países.

Como analisar textos dramáticos?

Ao se deparar com um texto dramático, é importante observar tanto os elementos formais quanto os aspectos interpretativos. Veja o que considerar:

  • Identifique os elementos estruturais típicos do Drama: as falas dos personagens e as rubricas são elementos-chave para reconhecer o texto dramático;
  • Observe os tipos de fala: o texto apresenta mais diálogos ou monólogos? Há equilíbrio entre ambos? Essa análise revela o ritmo e o foco do texto dramático;
  • Classifique o gênero dramático: analise as características do texto que te ajudem a classificar o drama em tragédia, comédia, farsa ou auto; e
  • Interprete o conteúdo e a temática: qual é o assunto que está sendo tratado (amor, injustiça, poder etc.) e qual é a tensão que movimenta a história?

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