Literatura brasileira: panorama histórico das principais escolas

Literatura brasileira: panorama histórico das principais escolas

A Literatura brasileira inicia-se com o descobrimento do país, quando cartas feitas por portugueses descreviam o território, depois disso, outras escolas literárias foram se desenvolvendo, seja por motivos religiosos, históricos e até mesmo políticos. 

Veja, neste texto, uma abordagem geral do fazer literário brasileiro, com seus principais autores e contextos históricos.

Quinhentismo: o início da literatura brasileira

A literatura brasileira começa a ser contada a partir da chegada dos portugueses. O escrivão da caravana de Pedro Álvares Cabral era Pero Vaz Caminha, responsável por descrever as terras e povos encontrados nessa região, em uma carta que foi enviada às autoridades portuguesas. Veja, a seguir, um trecho desse escrito, que carrega uma visão eurocêntrica sobre o povo indígena:

“Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador.”

Como esse processo ocorreu durante os anos 1500, o movimento literário foi chamado de quinhentismo. Embora tenha sido escrita em território brasileiro, essas produções são de autorias portuguesas, ou seja, são obras sobre o Brasil e não obras do Brasil.

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Barroco

Durante a Era Colonial, um novo tipo de arte e literatura surgiu no contexto brasileiro. Dessa vez, as obras literárias incluíam sermões religiosos, como os do Padre Antônio Vieira, que já apareceram nas provas da Unicamp. Outro autor famoso da época foi Gregório de Matos, também conhecido como “boca do inferno”, já que ele possuía características irônicas e satíricas muito marcadas. 

O barroco no Brasil também abrange esculturas religiosas, em que o principal artista foi Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que trabalhava com muita habilidade a pedra sabão. 

Arcadismo

A próxima escola da literatura brasileira, na escala temporal, é conhecida como arcadismo ou neoclassicismo. Seus atributos mais marcantes são a valorização da vida campestre, como o pastoreio de animais e o ambiente rural. Além disso, os textos mostram a vida como um momento passageiro da existência, como se tudo fosse efêmero e o tempo corresse rapidamente, veja um exemplo:

“Sobre as nossas cabeças,
sem que o possam deter, o tempo corre;
e para nós o tempo, que se passa,
também, Marília, morre.”

Marília de Dirceu ー parte I da Lira XIV de Tomás Antônio Gonzaga

Para associar tais características, autores como Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa utilizaram também os deuses gregos como parte da escrita desenvolvida, a exemplo do nome grego “Marília” no poema acima — essa apreciação pela antiguidade clássica é a responsável pela nomeação “neoclassicismo”.

Romantismo

O romantismo é a primeira escola literária em que a produção é considerada puramente brasileira, ou seja, em todos os movimentos citados até aqui, havia forte influência portuguesa — situação que se relaciona, principalmente, com a marcante relação colonial entre Brasil e Portugal.

Os autores românticos podem ser divididos em três principais grupos:

  • Indianistas, que reforçaram o sentimento nacionalista, com valorização da figura dos indígenas e belezas naturais do Brasil, como José de Alencar e Gonçalves Dias;
  • Ultrarromânticos, que traziam muita subjetividade e melancolia em suas obras, com um sentimentalismo exagerado. O principal representante do movimento é Casimiro de Abreu, além do marcante poeta Álvares de Azevedo; e 
  • Condoreiros, os quais se engajam nas causas sociais com maior vigor, como o “poeta dos escravos”, Castro Alves.

Realismo 

O realismo é um movimento literário que se opõe diretamente aos padrões de hipervalorização imposto pela escola romântica. Os autores realistas traziam mais objetividade para suas obras, de maneira que grande parte de seus escritos focam no cotidiano humano, com fortes críticas às elites. 

O exemplo mais famoso da corrente é o livro Memória Póstumas de Brás Cubas, que traz uma visão da elite como hipócrita, arrogante, irônica e presunçosa. Outra obra marcante da época é o livro O Ateneu, de Raul Pompéia, que traz uma visão diferente sobre o ambiente escolar, cheio de nuances da realidade conflitante dos adolescentes, como o bullying, a paixão repentina e até mesmo o contato com a sexualidade.

+ Veja também: O Cortiço e História: fatos sobre a obra de Aluísio de Azevedo

Naturalismo 

O naturalismo aparece depois do realismo como uma intensificação do movimento que aborda o cotidiano da forma como ele é. No caso dos escritores naturalistas, esse retrato é trazido por meio de uma linguagem mais coloquial, por vezes vulgar.

A principal obra dessa corrente literária, no contexto brasileiro, é o livro O Cortiço de Aluísio Azevedo. O texto literário se passa no subúrbio carioca e traz uma sensualidade libertina, conflitos violentos e sensações sinestésicas como ambientes barulhentos, com odores esquisitos e atmosfera úmida.

+ Veja também: O Cortiço e História: fatos sobre a obra de Aluísio de Azevedo

Parnasianismo

O parnasianismo está situado em um contexto histórico paralelo ao naturalismo e ao realismo, porém sua proposta teórica parte de uma ideia completamente diferente do que acontecia nas outras escolas literárias. Os parnasianos se dedicaram à perfeição formal e estética de seus textos, deixando de lado a realidade cotidiana e os conflitos sociais, econômicos ou políticos que se passavam no mundo.

Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia estão entre os autores mais citados do parnasianismo brasileiro. Esse ideal de “arte pela arte”, sem mais preocupações ideológicas, ficou muito marcado no poema que traz a descrição de um Vaso Chinês (Alberto de Oliveira), veja:

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;


Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

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Simbolismo

Os autores simbolistas valorizavam, principalmente, a imaginação e os sonhos, como uma fuga da realidade massante das últimas décadas. Entende-se que suas obras são um escapismo e uma busca por uma liberdade, ainda que fosse somente no campo artístico. Os autores mais reconhecidos da época são Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Sousa. 

A transcendência é outra característica do simbolismo, aliada à uma mistura entre os cinco sentidos, tato, paladar, olfato, audição e visão. Versos como “a luz tem cheiro” ou “Oh sonora audição colorida do aroma!” demonstram essa característica.

Pré-modernismo

O período que sucede o simbolismo é considerado uma transição para o movimento modernista. Pouco a pouco os autores foram se despindo do academicismo, da linguagem formal e do classicismo padrão. Abria-se espaço para obras mais coloquiais, com temas mais livres e maior liberdade artística para cada escritor.

Temas regionais, sociais e políticos ganhavam ainda mais destaque nas produções literárias da época. Os principais autores são Monteiro Lobato, Lima Barreto, Graça Aranha e Euclides da Cunha. Veja um trecho do livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, em que o escritor destaca as condições degradantes que a terra nordestina está sujeita:

“E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem dono.

Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias torturantes; a atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo; a nudez da flora; e nas ocasiões em que os estios se ligam sem a intermitência das chuvas — o espasmo assombrador da seca.”

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Modernismo

Com as inovações e quebra de formalidades próprias do pré-modernismo, diversos artistas se reuniram para apresentar obras literárias, pinturas e músicas que fugiam do padrão acadêmico e elitista, bem aceito pela sociedade intelectual da época. O momento em que as obras modernistas foram mostradas ao público brasileiro ficou conhecido como a Semana de Arte Moderna de 1922.

Os autores dessa escola literária buscavam maior coloquialidade, valorização da cultura brasileira, apresentação de características bruscas e grotescas dos personagens, possibilidade de autonomia do artista em colocar o que desejasse em sua obra, com espontaneidade e irreverência. Entre eles podemos destacar Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Graça Aranha e outros. 

Veja, a seguir, o trecho de um poema modernista de Oswald Andrade, em que o autor associa a linguagem a um conteúdo histórico, por meio de figuras de linguagem irônicas e duplo sentido:

Erro de português 

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!

Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

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Pós-modernismo

Depois do aparecimento do modernismo e manifestações artísticas de diferentes tipos, o fazer literário assume novas características. A nova fase da literatura brasileira é, então, chamada de Pós-modernismo, que nasce em 1945, em meio ao fim da segunda guerra mundial.

Nesse contexto, os autores marcavam suas obras com o sentimento de ruptura e fragmentação próprios de uma sociedade pós-guerra. Os paradoxos, a linguagem desconectada da realidade, uma narrativa vazia, fluxo de pensamentos desconexos descritos no papel são parte desse momento literário. 

Como estudar literatura para o vestibular?

Agora que você já reconheceu um panorama histórico da evolução da literatura brasileira ao longo do tempo, é importante que você dedique um tempo dos seus estudos para conhecer mais profundamente cada uma das escolas literárias citadas.

Como você pode perceber, o contexto social e temporal de uma corrente artística está intimamente relacionado com a forma de fazer e interpretar as obras literárias. Por isso, o conhecimento da literatura brasileira requer uma associação multidisciplinar dos conteúdos.

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Literatura brasileira: questões

Veja, agora, duas questões sobre literatura brasileira que já apareceram no Enem:

Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema “Cárcere das almas”, de Cruz e Sousa, são:

a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas
inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano.

O poema possui rimas, o que já exclui a alternativa E. A linguagem poética utilizada não é simples, o que não torna a opção A falsa. O amor e a realidade social não são citados no texto, ou seja, as letras B e D estão incorretas.

A alternativa C, por sua vez, aborda a estética e as rimas presentes no texto, bem como a presença dos temas metafísicos, como as “almas”, o “etéreo” e a “imortalidade” — a letra C é o gabarito dessa questão do Enem.


No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Jackson, 1957.

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:

a) … o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas…
b) … era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça…
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, …
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos…
e) … o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

Note como o narrador constrói uma ideia sobre os autores românticos como aqueles que “tampam a realidade” para desenvolver uma imagem perfeita dos personagens na frase “o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas”. Assim, a alternativa que melhor responde o pedido do enunciado é a letra A.

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