Poucos gêneros poéticos carregam tanta solenidade e admiração quanto a ode. Esse gênero nasceu na Grécia antiga, ligado à música e à poesia cantada em festas e cerimônias.
Com um tom elevado, a ode serve para expressar homenagens e celebrar aquilo que merece destaque — como a coragem de um herói, a beleza da natureza ou intensidade de um sentimento.
Ao longo dos séculos, ela se reinventou: saiu dos palácios e chegou ao cotidiano, manteve o tom elevado, mas, por outro lado, abriu espaço para o íntimo, o político, o simples e o mundano.
Neste artigo que o Estratégia Vestibulares preparou, você entenderá o que é uma ode, suas origens, quais as suas características e como ela segue viva nas páginas da poesia universal.
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Qual o conceito por trás da ode?
A ode é um poema de forma fixa que, tradicionalmente, tem como propósito exaltar, louvar ou homenagear algo ou alguém. Trata-se de uma composição lírica de tom elevado, em que o poeta se dedica a celebrar — com intensidade emocional e refinamento estético — figuras humanas, acontecimentos marcantes, valores abstratos ou mesmo elementos da natureza.
Ao contrário de outras formas poéticas mais íntimas ou melancólicas, a ode projeta a palavra como um tributo, como se cada verso fosse um gesto de reverência.
Desde suas origens na Grécia Antiga, a ode carrega um caráter cerimonial, quase sagrado. Ainda que tenha evoluído ao longo do tempo, incorporando variações formais e temáticas, seu espírito permanece: a ode é a voz do poeta em postura de enaltecimento, concebendo imagens que glorificam, iluminam e eternizam.
O uso da ode na história da literatura
A trajetória da ode na literatura atravessa séculos e estilos, moldando-se aos valores e estéticas de cada época sem perder sua vocação original: a de celebrar. Seu nascimento remonta à Grécia Antiga, onde a poesia lírica florescia acompanhada de instrumentos musicais, sobretudo a lira.
As primeiras odes tinham caráter público e cerimonial, sendo compostas para exaltar deuses, heróis olímpicos e feitos gloriosos. Nesse contexto, destaca-se o poeta Píndaro, mestre da ode coral, cuja linguagem densa buscava captar a grandiosidade dos eventos e personagens homenageados.
Com o tempo, a ode foi absorvida pela cultura romana, adquirindo facetas mais intimistas e filosóficas, especialmente nas mãos de Horácio. Suas composições são reconhecidas pela regularidade formal, reflexão moral e contenção emocional, influenciando posteriormente a tradição ocidental.
É de Horácio, por exemplo, a célebre expressão “carpe diem”, que se imortalizou como um chamado à fruição do tempo.
Durante o Classicismo, no século XVI, a ode reaparece com fôlego, especialmente em Portugal com Luís de Camões, que, além de sua épica Os Lusíadas, compôs odes que mesclavam o espírito renascentista ao rigor formal herdado dos antigos.
Já no Neoclassicismo, no século XVIII, o resgate dos valores clássicos se intensifica. O português Cláudio Manuel da Costa, no Brasil colonial, demonstra como a ode se torna veículo para a contemplação racional do mundo, intercalando sentimentos de admiração com lições morais e de cunho mais filosófico.
Com o Romantismo, a ode ganha novas cores: mais subjetiva, emotiva e aberta a temas nacionais ou existenciais. Poetas como Victor Hugo, na França, e Gonçalves Dias, no Brasil, exploram a forma em tom patriótico ou sentimental. A estrutura rígida dá lugar a maior liberdade métrica, sem que se perca o tom elevado.
No Modernismo, a ode se reinventa novamente. O escritor Fernando Pessoa, por exemplo, com suas Odes de Ricardo Reis, faz uma síntese entre a tradição clássica e a reflexão moderna.
Na contemporaneidade, essa forma ainda inspira autores que, mesmo rompendo com a forma fixa, preservam sua essência: a celebração do que merece ser dito com grandiosidade. Pode-se dizer, portanto, que a ode é uma forma viva, em constante diálogo com seu tempo.
Tipos e variedades de odes
Ainda que a ode seja tradicionalmente associada à solenidade e à exaltação, sua forma e abordagem variaram significativamente ao longo dos anos, resultando em diferentes tipos que refletem não apenas estilos pessoais, mas também as transformações estéticas das diversas épocas literárias. Veja alguns exemplos a seguir.
Ode pindárica
Assim chamada em referência ao poeta Píndaro, é conhecida como uma estrutura complexa, geralmente composta por três partes: estrofe, antístrofe e epodo. Era destinada à performance com música e dança, muitas vezes para celebrar vitórias nas olimpíadas ou feitos heróicos.
Suas imagens são ricas e simbólicas, com forte apelo mitológico e moralizante. Um exemplo desse estilo pode ser observado neste trecho do poema O progresso da poesia, de Thomas Gray:
Desperta, lira eólica, desperta,
E deixe que todas as tuas cordas trêmulas sejam arrebatadas.
Das fontes harmoniosas de Helicon
Mil riachos percorrem seu progresso labiríntico:
As flores risonhas que os rodeiam,
Beba a vida e a fragrância enquanto elas fluem.
Ode horaciana
Desenvolvida por Horácio, poeta romano, essa variedade é mais regular, contida e reflexiva, com versos equilibrados e métrica mais fixa, geralmente em estrofes simétricas, como quartetos. É um poema lírico curto, escrito em estrofes de dois ou quatro versos.
Diferente do tom grandioso da ode pindárica, a horaciana valoriza a moderação, o prazer da vida simples e as virtudes estoicas. Foi amplamente retomada pelos poetas do Classicismo e do Neoclassicismo, pela clareza e racionalidade que propunha. Um exemplo desse estilo é Ode à Solidão, de Alexander Pope:
Feliz o homem cujo desejo e cuidado
Alguns acres paternos limitados,
Contente em respirar seu ar nativo,
Em seu próprio território.
Cujos rebanhos com leite, cujos campos com pão,
Cujos rebanhos lhe fornecem vestimentas,
Cujas árvores lhe dão sombra no verão,
No fogo do inverno.
Ode romântica
Com o Romantismo, surge uma versão mais subjetiva, emocional e flexível da ode. Embora ainda exaltasse sentimentos e valores, a forma se tornava mais livre, permitindo variações métricas e melódicas.
A ode romântica podia celebrar o amor, a pátria, a natureza ou o sofrimento humano, abrindo espaço para o eu lírico. Um exemplo que ilustra bem isso é o do poeta brasileiro Gonçalves Dias, cuja ode Meditação imprime um tom introspectivo e existencial:
Oh! quem me dera que a minh’alma fosse
Como a estrela do espaço a refulgir,
Clara, serena, livre, sem desgosto,
Como os céus no seu giro a se expandir!
Ode moderna e tendências contemporâneas
No Modernismo, a ode se transforma radicalmente. Em alguns casos, conserva seu caráter celebratório, mas abandona as amarras formais. O poeta Fernando Pessoa, por meio de seu heterônimo Ricardo Reis, retoma o estoicismo horaciano em uma linguagem moderna, elaborando reflexões sobre o tempo, a morte, os deuses e a transitoriedade da vida.
Suas odes mantêm certa regularidade formal, com linguagem sóbria, mas se distanciam da solenidade grandiosa ao privilegiarem o pensamento calmo, reflexivo.
Ricardo Reis celebra não heróis ou feitos históricos, mas a sabedoria do instante e a simplicidade da vida cotidiana. Em uma de suas mais conhecidas odes, escreve:
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
É possível, ainda, encontrar odes híbridas, que mesclam elementos formais da tradição com rupturas próprias da poesia experimental. Muitas vezes, mantêm-se a entonação exaltada e o vocativo característico (“Ó natureza!”, “Ó cidade!”), mas rompem com a métrica e o verso fixo, aderindo ao verso livre.
Há também odes de tom irônico ou paródico, que tensionam a tradição, como ocorre em textos do Modernismo brasileiro, a exemplo de “Ode ao burguês”, de Mário de Andrade, um poema em que a forma da ode é utilizada para criticar, não exaltar, o alvo de seu discurso:
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
Aqui, o tom irônico subverte a solenidade da ode tradicional, ao mesmo tempo em que mantém sua força enfática, mostrando como a forma pode ser reinventada com fins satíricos ou contestatórios.
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