O pré-modernismo é uma fase da arte e da literatura que aconteceu no início do século XX. Marcado pela junção entre inovação e conservadorismo, os artistas desenvolveram famosas obras que marcaram a história da arte. No Brasil, os textos com temáticas nacionais são fortalecidos, abordando a seca nordestina e os subúrbios do sudeste.
Se quiser conhecer mais sobre o pré-modernismo, em qual contexto histórico ele se desenvolveu, quais as características dos textos e as principais obras, continue lendo este artigo! Ao final, ainda, acompanhe a resolução de uma questão do Enem sobre o tema.
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Contexto histórico do pré-modernismo
O pré-modernismo surgiu, aproximadamente, no ano de 1902 — bem no início do século XX. Se observarmos todo o cenário histórico, veremos que o mundo passava por grandes transformações e, no Brasil, as reformas urbanísticas estavam a todo vapor.
Estudiosos da história brasileira entendem que esse período foi marcado por um progresso excludente: os mais pobres eram excluídos dos centros urbanos para dar lugar a um luxo, que serviria de atrativo para a elite.
Nessa fase de segregação espacial, começaram a surgir os subúrbios brasileiros, marcados pela marginalização e favelização das periferias urbanas.
Inclusive, toda essa construção urbana estava relacionada com a cultura do café em São Paulo, quando esse produto agrícola favoreceu o desenvolvimento das cidades e a industrialização da região Sudeste.
Além disso, o pré-modernismo atravessa a República Velha, momento de dilemas políticos intensos no Brasil. Política do café-com-leite e muitas revoltas marcantes, como a Revolta da Vacina, Revolta dos Canudos, Revolta da Chibata, Revolta da Armada, Revolta dos Malês e outros movimentos.
Ao mesmo tempo, um novo dilema nacional ganhava palco: a seca nordestina e as repercussões desse fator para a vida dos muitos cidadãos que viviam próximo ou dentro do Polígono das Secas. Por fim, o ciclo da borracha na Amazônia também estava em grande expansão, sendo um tema importante para o contexto brasileiro da época.
Diante de todo esse panorama contraditório, muitos artistas se encontraram em uma situação paradoxal: pequenas regiões de intensa prosperidade econômica conviviam com grandes espaços com miséria e pobreza marcantes.
Foi a partir de então que os autores e artistas se posicionaram para produzir conteúdos que expusessem as diversas faces do país. A arte aparece como um elemento revelador da realidade, fugindo da idealização romântica, que passava por cima de obstáculos para enaltecer e até mesmo idolatrar a nação brasileira.
Características do pré-modernismo
A característica mais marcante do pré-modernismo, que norteou todas as ações e obras da época, é a apresentação de um Brasil real, sem máscaras.
Para isso, os autores fugiram do academicismo e da linguagem extremamente culta. Afinal, não fazia sentido manter um vocabulário rebuscado quando muitos dos brasileiros sequer tinham como se alimentar — assim, os coloquialismos começam a aparecer na literatura.
Os temas e personagens são alterados, agora a figura do imigrante, do sertanejo, do nordestino, dos suburbanos, dos funcionários públicos, dos políticos começam a ter espaço nas obras brasileiras.
Nesse sentido, inclusive, pode-se observar uma tendência ao regionalismo: textos focados apenas na região Nordeste, com dialetos e gírias próprias da localidade; ou ainda obras que abordavam a realidade citadina do Rio de Janeiro e São Paulo, com os jargões da favela, por exemplo.
Fica nítido, então, que o pré-modernismo tem obras extremamente nacionalistas, que tratam, essencialmente, sobre o Brasil e suas diferenças. Até mesmo os temas são baseados na nação, seja narrando acontecimentos históricos, abordando situações políticas, econômicas e/ou sociais.
Autores do pré-modernismo
Lima Barreto (1881-1922)
Afonso Henriques de Lima Barreto ficou conhecido apenas por seus dois últimos sobrenomes e, além de escritor, era jornalista. Talvez isso explique sua visão crítica para as questões sociais, que inspiraram suas obras mais importantes.
Seu livro mais conhecido, “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, faz críticas consideráveis à sociedade urbana do século XX. Com linguagem coloquial, o livro aborda conflitos de diferentes esferas: cultural, agrícola e política.
Além disso, o autor utiliza um sarcasmo ácido, que desconstrói os ideais românticos. Tudo isso em uma prosa descritiva que também se posiciona contra os ideais racistas, que ainda predominavam na época.
Euclides da Cunha (1866-1909)
Muito voltado para as questões humanas, Euclides da Cunha era, além de autor e jornalista, um sociólogo e historiador engajado com causas sociais diversas.
Diferentemente de Lima Barreto, Euclides da Cunha utiliza uma linguagem polida para abordar críticas sobre as atrocidades que ocorriam no Nordeste do Brasil. Em seu livro mais famoso, “Os Sertões”, o autor descreve situações horríveis que ocorreram na Revolta dos Canudos.
É um livro regionalista que trata sobre a incessante luta dos sertanejos, que lutam contra as dificuldades da própria região (com seca), mas também devem se posicionar contra investidas políticas que podem os prejudicar.
Graça Aranha (1868-1931)
Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e também membro do movimento modernista brasileiro, José Pereira da Graça Aranha constituiu marcantes obras para o pré-modernismo.
Em sua obra “Canaã”, o autor retrata a situação da imigração alemã no território capixaba, que tornou-se mais acentuada durante o fim do século XIX e começo do século XX. De caráter regionalista, a obra também é válida como documento histórico sobre o período.
Monteiro Lobato (1882-1948)
Por último, mas não menos importante, vamos tratar sobre a escrita pré-modernista do famoso escritor Monteiro Lobato — reconhecido mundialmente pelas histórias do “Sítio do Pica Pau Amarelo”.
Para além de temáticas fabulosas, o autor participou do pré-modernismo denunciando situações que ocorriam no cotidiano brasileiro. Sua obra regionalista mais famosa, “Os Urepês”, trata sobre a vida no Vale do Paraíba, que fica entre o Estado de São Paulo e o Rio de Janeiro.
O personagem mais marcante, conhecido como Jeca Tatu, transmite uma imagem do caipira que está alienado aos acontecimentos da sociedade brasileira. A obra fugiu tanto dos padrões literários, que houveram muitas críticas à forma como o cidadão foi representado, principalmente por pessoas influentes.
Questão do Enem sobre o pré-modernismo
(Enem)
O falecimento de uma criança é um dia de festa. Ressoam as violas na cabana dos pobres pais, jubilosos entre as lágrimas; referve o samba turbulento; vibram nos ares, fortes, as coplas dos desafios, enquanto, a uma banda, entre duas velas de carnaúba, coroado de flores, o anjinho exposto espelha, no último sorriso paralisado, a felicidade suprema da volta para os céus, para a felicidade eterna — que é a preocupação dominadora daquelas almas ingênuas e primitivas.
CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Edição comemorativa do 90.º ano do lançamento. Rio de Janeiro: Ediouro, 1992, p. 78.
Nessa descrição de costume regional, é empregada
a) variante linguística que retrata a fala típica do povo sertanejo.
b) a linguagem científica, por meio da qual o autor denuncia a realidade brasileira.
c) a modalidade coloquial da linguagem, ressaltando–se expressões que traduzem o falar de tipos humanos marginalizados.
d) linguagem literária, na modalidade padrão da língua, por meio da qual é mostrado o Brasil não–oficial dos caboclos e do sertão.
e) variedade linguística típica da fala doméstica, por meio de palavras e expressões que recriam, com realismo, a atmosfera familiar.
A alternativa correta é a letra D, que caracteriza o estilo de escrita de Euclides da Cunha: retratar o cotidiano brasileiro para além dos grandes centros, por meio de uma linguagem equilibrada, sem perder o realismo.
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