Você já leu um texto ou poema em que o autor parece se contradizer? Veja, por exemplo, a frase “que seja infinito enquanto dure” — as palavras destacadas constroem uma ideia de contradição. Essa é a sensação observada na antítese que, nada mais é do que uma figura de linguagem.
Acompanhe este artigo para entender melhor como funcionam as antíteses, o que as caracteriza, exemplos de usos, comparação entre os atributos de um paradoxo e de uma antítese. Além de tudo isso, tenha acesso gratuito ao gabarito e resolução de questões de vestibulares sobre esse assunto.
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O que é antítese?
A antítese é considerada uma figura de linguagem de pensamento, que une duas ideias de sentidos opostos para desenvolver uma mensagem poética, lógica, dissertativa, entre outras.
O próprio termo deriva do greggos “antithesis”, com um significado de oposição, contrariedade, contraste. Uma das características dessa figura de linguagem, é que seja utilizada para enfatizar um texto, transmitindo a ideia de maneira a criar reforçar um sentido ou criar uma nova.
Afinal, o que é figura de linguagem?
Figuras de linguagem são ferramentas da Língua Portuguesa presentes, principalmente, em textos poéticos e literários. Elas ajudam na construção de sentidos, podem trazer uma riqueza de detalhes interessante para as obras e, geralmente, aparecem nas diferentes correntes literárias.
O barroco, por exemplo, é uma escola literária que faz parte da Literatura Brasileira e utilizava com frequência a antítese e o paradoxo. Por meio de jogo de palavras e jogo de ideias, eles criavam contrastes das ideias para escreverem seus textos, veja:
“Vista por fora é pouco apetecida
Porque aos olhos por feia é parecida;
Porém, dentro habitada
É muito bela, muito desejada,
É como a concha tosca e deslustrosa,
Que dentro cria a pérola formosa.”
Observe como o trecho traz duas ideias que se contradizem entre si: a ilha descrita é bonita por dentro e feia por fora. A obra conduz um ideal de dualidade da vida, das visões diferentes entre si.
Outra figura de linguagem muito utilizada e recorrente nos vestibulares como Enem e Fuvest, é a ironia. Você pode pensar nela como quem diz uma coisa, mas quer dizer outra — a exemplo do que faziam os escritos do Realismo, com Machado de Assis.
A clássica frase machadiana, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis” transmite uma ideia de amor, mas surpreende pela presença do dinheiro. Por mais que traga um componente emocional, o autor reforça o materialismo da mulher, conduzindo a uma nova compreensão o que foi lido inicialmente.
Algumas outras ferramentas linguísticas podem ser mencionadas, como comparação, paradoxo, metáfora, sinestesia, hipérbole, eufemismo, metonímia, prosopopeia, personificação, onomatopeia, pleonasmo, anáfora, entre muitas opções existentes.
Exemplos e usos da antítese
Agora que você já conhece os conceitos de antítese e das figuras de linguagem, vamos desenvolver ideias a respeito dos usos de uma antítese nos textos. Entender essa ferramenta pode ser útil para a interpretação de questões, leitura de obras literárias e o desenvolvimento de redações em que as bancas cobram textos em prosa ou poéticos, como a Unicamp.
“Sou teu céu, o teu inferno a tua calma
Eu sou teu tudo, sou teu nada
Minha pequena, és minha amada
Eu sou o teu mundo, sou teu poder
Sou tua vida, sou meu eu em você”
(“Meu eu em você” — Victor e Léo)
Perceba na música da dupla Victor e Léo, duas palavras que transmitem ideias contrastantes: o céu e o inferno. Essa configuração é considerada uma antítese. O mesmo acontece com os termos “tudo” e “nada”, que são contraditórios entre si, mas parecem enfatizar o sentido da letra musical.
“Pro dia nascer feliz
O mundo inteiro acordar
E a gente dormir, dormir”
(“Pro Dia Nascer Feliz – Cazuza)
No trecho de Cazuza acima, note como os verbos “acordar” e “dormir” são diretamente antagônicos entre si. Por isso, podemos concluir que a antítese foi utilizada pelo autor para desenvolver seus dons musicais e construir a linha melódica desejada.
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”
(Ditado popular)
As palavras “mole” e “dura” são adjetivos antônimos clássicos da língua portuguesa. Ainda assim, a frase popular que versa sobre a persistência nos objetivos traz ambas juntas, constituindo uma antítese.
“As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par
Sua alma subiu ao céu
Seu corpo desceu ao mar”
(“Ismália” — Alphonsus Guimarães)
Em termos poéticos, as palavras céu e mar também podem ser consideradas opostas. No trecho apresentado, por exemplo, elas trazem devem ser interpretadas como: “céu = aquilo que está acima” e “mar = aquilo que está abaixo”. Dessa forma, este seria um grande exemplo de antítese nos poemas simbolistas.
Da mesma maneira, os verbos pretéritos “subiu” e “desceu” são diretamente opostos, representando ideias contrárias. Esse é outro modelo de antítese, completando aquilo que foi descrito anteriormente.
Diferença entre antítese e paradoxo
Embora paradoxo e antítese sejam duas figuras de linguagem com uso de palavras opostas, elas não são a mesma coisa. A principal diferença entre elas é a simultaneidade das oposições. Como assim?
Veja: no paradoxo, as ideias são opostas ao mesmo tempo, por exemplo no verso famoso de Camões, “O amor é ferida que dói e não se sente”. A dor é, por si só, algo que sentimos — não sentir e doer ao mesmo tempo é uma ideia paradoxal.
Acompanhe a música “Tiranizar”, de Caetano Veloso: “Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar”. A ideia de prender e soltar, acontecendo em conjunto torna os versos paradoxais.
Como você pôde acompanhar até aqui, a antítese é diferente, pois as ideias não se atravessam no mesmo momento. Podemos pensar em algo como “Vamos juntos nos soltar no mundo, presos um ao outro.” Embora estejamos falando da mesma mensagem transmitida por Caetano, agora as palavras opostas não conflitam entre si: os sujeitos estão soltos de outros fatores, mas juntos entre si.
Questões sobre antítese
CEFET-MG 2013
SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro de 1938.
Sobre os recursos de linguagem empregados na construção do poema, afirma-se:
I. As semelhanças sonoras entre palavras como “espalmadas” e “espanto”, “branco” e “bruma” exemplificam o uso de aliterações no texto.
II. A repetição, ao longo do poema, da expressão “de repente”, acentua a ideia do espanto trazido pela separação.
III. O uso de algumas antíteses no texto demonstra o contraste entre os momentos antes e depois da separação.
IV. No primeiro verso da segunda estrofe, a palavra “vento” metaforiza a tranquilidade anterior à separação.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.
A alternativa correta é a letra D. Vamos nos ater à explicação da afirmativa que trata sobre a antítese: as palavras destacadas são opostas e trazem uma comparação de como as coisas eram boas antes da separação, e como se tornaram ruins depois do acontecimento.
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