“Elementos do texto” é a nomenclatura utilizada para cada estrutura que compõe um texto, que permite a construção da redação conforme a intenção, seja para argumentar, descrever, narrar ou expor uma temática.
Do ponto de vista dos estudos pré-vestibulares, conhecer as estruturas e elementos dos textos é útil tanto para a construção de textos mais coesos e coerentes quanto para a interpretação correta das leituras, conforme sua mensagem e o objetivo do autor ao escrevê-las.
Neste artigo, serão abordados os principais elementos e tipos textuais, com suas respectivas características, objetivos e exemplos de cada um. Depois veja correlação do tema com questões e propostas de redações que levam em consideração o conhecimento sobre elementos textuais. Continue lendo.
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Narração
Os textos narrativos são construídos para narrar uma história ou evento, de forma que apresenta um tempo determinado para os acontecimentos, personagens que atuam dentro do enredo, um cenário (espaço) em que se passa a narrativa.
Todos esses elementos são apresentados na redação por meio do narrador, uma voz que pode participar ou não dos eventos narrados. Assim, pode ser que a história seja contada no tempo presente, passado ou futuro, a depender da posição do narrador no espaço tempo. Por exemplo, em um texto em que o narrador conta a história de sua infância, como no livro O Ateneu, de Raul Pompeia.
“’Vais encontrar o mundo’, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. ‘Coragem para a luta.’ Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.”
Tipos de narrador
Os narradores são elementos do texto essenciais para a construção do enredo, encadeamento dos eventos em tempo e espaço, para que a mensagem seja transmitida de maneira coerente e clara. Eles podem ser classificados conforme sua posição dentro do espaço-tempo da história, como mostra a tabela a seguir.
Quanto à pessoa do discurso | Narração em primeira pessoa | Conta a história em primeira pessoa, como quem vivencia os fatos. Geralmente é o personagem da história que a conta. | Narrador-protagonista: é o personagem principal do enredo contado. |
Narrador-testemunha: são personagens que estão em ambientes em que a história se passa, então narra em primeira pessoa, geralmente falando sobre o protagonista. | |||
Narração em terceira pessoa | Narrador externo que conta a história como quem olha as ações de outras pessoas. | Narrador onisciente: não participa da história e sabe tudo o que acontece com todos os personagens, nos diferentes ambientes e tempos. Inclusive, consegue expor reflexões na mente. | |
Narrador observador: não é um personagem, mas assiste ao que acontece. Mas não são oniscientes quanto aos acontecimentos e pensamentos das personalidades. |
Descrição
Os textos descritivos são aqueles que têm a função de descrever um evento, ambiente, produto, pessoa, a depender do alvo escolhido pelo autor. Como tem a função de caracterizar, as descrições possuem muitos adjetivos ou locuções adjetivas ao longo do texto.
Em geral, o ponto de partida é a apresentação do objeto que será analisado, descrito, avaliado durante ao longo da escrita. Depois, o texto pode seguir para uma estrutura mais formal ou informal, a depender do objetivo do escritor.
Por exemplo, relatórios científicos para a descrição de espécies podem ser formais, com jargões da área biológica, estruturas bem definidas e outros elementos que conferem objetividade para o texto.
Por outro lado, a descrição pode ter uma função mais recreativa, publicitária, de maneira mais informal, como em “os cursos do Estratégia Vestibulares são completos, bem desenvolvidos, ministrados por professores especialistas e direcionados para os temas mais frequentes nos vestibulares.”
O parnasianismo foi uma escola literária, presente no Brasil, em que havia uma grande construção de textos descritivos, geralmente de utensílios e objetos do cotidiano. Geralmente era utilizada uma linguagem formal, rebuscada, associada a uma estrutura poética bem definida, com métrica e escansão silábica. Veja um exemplo do poema “Vaso Chinês”, de Alberto de Oliveira.
“Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.”
Argumentação
O gênero textual argumentativo é composto por diversos tipos de texto, que são constituídos por elementos argumentativos. Ou seja, são textos construídos para defender um posicionamento sobre um tema determinado e, para isso, são apresentados dados, estatísticas, valores e informações corroboram para essa defesa.
Nesses casos, é importante que os dados sejam conectados de forma coerente, por meio de conjunções, e de forma lógica. Assim, a argumentação apresentada deve fazer sentido dentro do texto, conforme as informações apresentadas.
Desse ponto de vista, é possível que ocorra falácia argumentativa. Quando os argumentos são dispostos de maneira lógica, porém que não conclui uma verdade factível no mundo real, como no exemplo “Guarda é uma pessoa que cuida do condomínio, a chuva é uma água que corre do céu. Portanto o guarda-chuva é uma água que guarda o condomínio”.
Diante disso, é importante atentar-se para esse tipo de construção argumentativa, tanto no momento de escrever, como para interpretação dos textos em geral. Afinal, nem sempre que um conteúdo faz sentido, trata-se de uma verdade absoluta e inquestionável.
Dissertação
As dissertações são textos argumentativos, geralmente têm uma finalidade acadêmica associada, especialmente na conclusão de cursos e etapas de graduação, como bacharel, mestrado ou doutorado.
Possuem uma estrutura em que apresenta-se o tema, problemáticas associadas a ele, além de uma tese que será defendida ao longo texto, seja para defender um dos pontos de vista apresentados, seja para demonstrar neutralidade quanto ao tema.
Para desenvolver esse texto, é importante utilizar argumentos que favoreçam o posicionamento defendido pelo autor. Esses argumentos precisam ser conectados entre si, seja para defender ou opor-se a um ponto de vista.
Esse é o gênero textual que deve ser escrito na redação do Enem, conforme o tema proposto em cada edição da prova. Abaixo, um exemplo de redação nota mil, escrita por Luís Felipe Alves Paiva de Brito, de Maceió (AL), em 2022.
“O poeta modernista Oswald de Andrade relata, em “Erro de Português”, que, sob um dia de chuva, o índio foi vestido pelo português – uma denúncia à aculturação sofrida pelos povos indígenas com a chegada dos europeus ao território brasileiro. Paralelamente, no Brasil atual, há a manutenção de práticas prejudiciais não só aos silvícolas, mas também aos demais povos e comunidades tradicionais, como os pescadores. Com efeito, atuam como desafios para a valorização desses grupos a educação deficiente acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável.
Diante desse cenário, existe a falta da promoção de um ensino eficiente sobre as populações tradicionais. Sob esse viés, as escolas, ao abordarem tais povos por meio de um ponto de vista histórico eurocêntrico, enraízam no imaginário estudantil a imagem de aborígenes cujas vivências são marcadas pela defasagem tecnológica. A exemplo disso, há o senso comum de que os indígenas são selvagens, alheios aos benefícios do mundo moderno, o que, consequentemente, gera um preconceito, manifestado em indagações como “o índio tem ‘smartphone’ e está lutando pela demarcação de terras?” – ideia essa que deslegitima a luta dos silvícolas. Entretanto, de acordo com a Teoria do Indigenato, defendida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o direito dos povos tradicionais à terra é inato, sendo anterior, até, à criação do Estado brasileiro. Dessa forma, por não ensinarem tal visão, os colégios fometam a desvalorização das comunidades tradicionais, mediante o desenvolvimento de um pensamento discriminatório nos alunos.
Além disso, outro desafio para o reconhecimento desses indivíduos é a carência do progresso sustentável. Nesse contexto, as entidades mercadológicas que atuam nas áreas ocupadas pelas populações tradicionais não necessariamente se preocupam com a sua preservação, comportamento no qual se valoriza o lucro em detrimento da harmonia entre a natureza e as comunidades em questão. À luz disso, há o exemplo do que ocorre aos pescadores, cujos rios são contaminados devido ao garimpo ilegal, extremamente comum na Região Amazônica. Por conseguinte, o povo que sobrevive a partir dessa atividade é prejudicado pelo que a Biologia chama de magnificação trófica, quando metais pesados acumulam-se nos animais de uma cadeia alimentar – provocando a morte de peixes e a infecção de humanos por mercúrio. Assim, as indústrias que usam os recursos naturais de forma irresponsável não promovem o desenvolvimento sustentável e agem de maneira nociva às sociedades tradicionais.
Portanto, é essencial que o governo mitigue os desafios supracitados. Para isso, o Ministério da Educação – órgão responsável pelo estabelecimento da grade curricular das escolas – deve educar os alunos a respeito dos empecilhos à preservação dos indígenas, por meio da inserção da matéria “Estudos Indigenistas” no ensino básico, a fim de explicar o contexto dos silvícolas e desconstruir o preconceito. Ademais, o Ministério do Desenvolvimento – pasta instituidora da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – precisa fiscalizar as atividades econômicas danosas às sociedades vulneráveis, visando à valorização de tais pessoas, mediante canais de denúncias.”
Exposição
Um texto expositivo tem a finalidade de apresentar um determinado tema, objeto, teoria ou produto para o leitor, da maneira mais clara e coesa possível. Nesse sentido, os elementos textuais utilizados devem transmitir clareza, objetividade e confiabilidade para as informações expostas.
Em geral, os textos expositivos têm a característica de “destrinchar” o assunto para emitir a maior parte de dados sobre ele, então é importante haver verbos que expressam ação direta, no tempo presente, o que confere uma sensação mais objetiva e esclarecedora para a redação. Um exemplo seria a descrição prática de uma doença, com finalidade de explicá-la de maneira sucinta, como é demonstrado a abaixo:
“A dengue é uma doença febril, que pode evoluir com quadros hemorrágicos, a depender do tipo viral envolvido e da suscetibilidade do indivíduo. Trata-se de um quadro agudo, que dura em torno de 3 a 7 dias, mas alguns sintomas como fadiga podem perdurar após o período de recuperação. A enfermidade é transmitida por meio da picada de insetos e a replicação desses animais acontece em ambiente aquático, principalmente em águas paradas’
Injunção
Por sua vez, injunções são leituras em que há o objetivo de instruir o leitor a realizar uma ação, como os manuais de instrução, tutoriais para utilização de plataformas online, instruções que que são mostradas tokens em restaurantes e lojas que já utilizam mão de obra virtual para o auto-atendimento.
A estrutura e elementos do texto injuntivo são construídos para fornecer um número de instruções que favoreça o entendimento, em uma linguagem de fácil compreensão e que realmente seja efetiva se seguidas sequencialmente.
Para isso, são utilizados principalmente os verbos no imperativo, que expressam a ideia de ordem como “pegue”, “faça”, “ligue”, “aperte”, entre outros. Muitos escritos optam, ainda, por adicionar uma sequência de instruções numeradas, para indicar que existe um passo a passo, uma ordem a ser seguida em cada etapa, o que facilita a compreensão do leitor e a execução perfeita do processo apresentado.
Os exemplos clássicos de injunção são manuais de instruções para montagem de móveis e outros objetos, receitas culinárias, explicações para ligar dispositivos eletrônicos e sobre como cada botão funciona, entre outros modelos. Veja um abaixo:
“Receita de brigadeiro de colher sem leite condensado
Ingredientes:
1 xícara de leite
1 colher de sopa de manteiga
4 colheres de sopa de chocolate em pó
Açúcar a gosto
Em uma panela adicione o leite, a manteiga e o chocolate em pó, ligue em fogo alto e mexa constantemente até levantar fervura. Depois, deixe a chama em fogo médio e continue mexendo por cerca de 20 minutos, até que o brigadeiro comece a engrossar e fique em um ponto que considere adequado. Então, desligue o fogo, transfira para um recipiente de sua preferência e coloque para esfriar na geladeira por cerca de 40 minutos. Está pronto.”
Questões sobre elementos do texto
Enem (2022)
Ela era linda. Gostava de dançar, fazia teatro em São Paulo e sonhava ser atriz em Hollywood. Tinha 13 anos quando ganhou uma câmera de vídeo — e uma irmã. As duas se tornaram suas companheiras de experimentações. Adolescente, Elena vivia a criar filminhos e se empenhava em dirigir a pequena Petra nas cenas que inventava. Era exigente com a irmã. E acreditava no potencial da menina para satisfazer seus arroubos de diretora precoce. Por cinco anos, integrou algumas das melhores companhias paulistanas de teatro e participou de preleções para filmes e trabalhos na TV. Nunca foi chamada. No início de 1990, Elena tinha 20 anos quando se mudou para Nova York para cursar artes cênicas e batalhar uma chance no mercado americano. Deslocada, ansiosa, frustrada após alguns testes de elenco malsucedidos, decepcionada com a ausência de reconhecimento e vitimada por uma depressão que se agravava com a falta de perspectivas, Elena pôs fim à vida no segundo semestre. Petra tinha 7 anos. Vinte anos depois, é ela, a irmã caçula, que volta a Nova York para percorrer os últimos passos da irmã, vasculhar seus arquivos e transformar suas memórias em imagem e poesia.
Elena é um filme sobre a irmã que parte e sobre a irmã que fica. É um filme sobre a busca, a perda, a saudade, mas também sobre o encontro, o legado, a memória. Um filme sobre a Elena de Petra e sobre a Petra de Elena, sobre o que ficou de uma na outra e, essencialmente, um filme sobre a delicadeza.
VANUCHI, C. Época, 19 out. 2012 (adaptado).
O texto é exemplar de um gênero discursivo que cumpre a função social de
A) narrar, por meio de imagem e poesia, cenas da vida das irmãs Petra e Elena.
B) descrever, por meio das memórias de Petra, a separação de duas irmãs.
C) sintetizar, por meio das principais cenas do filme, a história de Elena.
D) lançar, por meio da história de vida do autor, um filme autobiográfico.
E) avaliar, por meio de análise crítica, o filme em referência.
Resposta: O texto apresenta características de uma resenha ou crítica, pois discute o filme “Elena”, descrevendo suas temáticas, elementos narrativos e abordando aspectos como busca, perda, saudade, encontro, legado e memória. Uma resenha ou crítica tem como função social avaliar, analisar e contextualizar uma obra, e é isso que o texto está fazendo em relação ao filme.
Alternativa correta: E.
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