Quando estão com fome, muitas pessoas dizem que vão “morrer de fome”. Mas, afinal, a maior parte dos indivíduos que falam isso não vão, de fato, morrer devido à fome severa. Apesar disso, é uma expressão explorada no cotidiano, no sentido de indicar uma intensidade da fome. Esse é o conceito de hipérbole, a figura de linguagem que será estudada neste artigo.
Leia até o final e conheça mais sobre hipérbole e como ela pode ser identificada em um texto. Acompanhe o estudo com exemplos de textos e poemas que exploram essa figura de linguagem, além de ver a resolução de questões de prova sobre o tema.
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O que é figura de linguagem?
Vamos estudar a hipérbole desde seus conceitos iniciais, para consolidar o conhecimento. Para isso, é importante entender o que é uma figura da linguagem e qual a função delas dentro da Língua Portuguesa.
Uma figura de linguagem acontece quando uma expressão indica um sentido não literal, mas que é utilizada para transmitir uma ideia abstrata ou sentido figurado das palavras. É uma das principais formas de admitir diferentes significados para uma mesma palavra.
Uma figura de linguagem que pode ser estudada é a ironia. Por exemplo, imagine que começa a chover e alguém observa a precipitação da janela, então, chega uma outra pessoa para acompanhar a chuva e pergunta “está chovendo?”. A resposta pode ser “Não, está sol e seco lá fora”.
É óbvio que não está sol e seco, mas mesmo assim a resposta diz exatamente o contrário do que deveria ser dito (sim, está chovendo). Essa explicação não foi aleatória, mas intencional para criar uma ironia na situação — é um exemplo clássico de ironia.
O que é hipérbole?
Então, se uma figura de linguagem traz uma ideia e não quer dizer exatamente aquilo, como isso funciona para a hipérbole? De forma geral, a hipérbole é marcada por um exagero, uma intensidade aumentada para aquilo que está sendo dito.
É uma maneira de trazer potência para um enunciado simples. Geralmente, essas exacerbações são gritantes, que não fazem sentido real, com uma intensidade muito maior do que pode ser observado na realidade.
É como dizer “estou derretendo de calor”, quando a pessoa está visivelmente bem. No cotidiano essas frases são comuns e não são tomadas como literais, de forma que são entendidas como “estou com muitíssimo calor”.
A intensidade também pode ser entendida como generalizações muito marcadas, como dizer que “na minha faculdade, todo mundo gosta de estudar”, afinal, é impossível determinar se todas as pessoas do curso gostam de fato dos estudos.
Outros usos comuns são em relação aos números como “eu te liguei 90 vezes e você não me atendeu”. Geralmente essa frase é pronunciada por alguém que não fez essa quantidade de ligações, mas exagera intencionalmente para transmitir ideia de intensidade.
Existem as hipérboles que buscam, intencionalmente, minimizar algo ou alguma coisa. Por exemplo, “ninguém gosta de jiló”; veja que o locutor não consegue provar que nenhuma pessoa goste do legume, mas é uma frase exagerada no sentido de dizer que poucas pessoas gostam.
Em termos de classificação, a hipérbole é considerada uma figura de linguagem do pensamento, porque trabalha com alterações no campo semântico, ou seja, no significado das palavras. É comum o uso de expressões comuns na cultura, como em “se eu fizer isso, minha mãe me mata” — diz-se isso no sentido de que tomará uma bronca, mas não uma morte literal.
+ Veja as dúvidas de Língua Portuguesa respondidas pelo Estratégia Vestibulares
Hipérbole: denotação e conotação
A hipérbole pode ser entendida como uma utilização da linguagem em seu uso conotativo, fugindo das ideias literais denotativas. Veja a diferença entre esses conceitos abaixo.
Uma linguagem denotativa diz respeito aos enunciados que possuem palavras literais, como pode ser visto em revistas, materiais científicos e jornalísticos. A ideia é não trazer conceitos figurados, mas trabalhar com o significado real das palavras, como dizer que “o mar é uma das coisas mais lindas da natureza”.
No caso da conotação, observa-se justamente o contrário: uma linguagem figurada, que precisa ser entendida de forma não literal. Depende de uma associação subjetiva, que passa pelas construções sociais.
Por exemplo, com a mesma palavra “mar” usada para demarcar um corpo de água natural, é possível desenhar a expressão “ela derramou um mar de lágrimas depois de tudo que aconteceu”. Nesse caso, o termo “mar” aparece como uma hipérbole que representa a quantidade intensa de choro apresentada pelo sujeito da oração.
+ Denotação e Conotação: qual a diferença?
Hipérbole e linguagem coloquial
É importante ser cauteloso a respeito do uso das hipérboles, porque elas podem soar muito coloquiais e informais. A depender do contexto, devem ser escolhidas com cuidado ou excluídas, especialmente quando é requerida uma escrita formal.
É justamente por isso que essa figura de linguagem costuma ser encontrada em textos com conteúdo mais subjetivo, em que podem ser adicionados conteúdos figurados e a opinião mais aberta do autor.
“E se todo esse louvor não Te bastar
Cem bilhões de vezes mais eu vou cantar”
(100 Bilhões X — Kemuel)
Na letra da música acima, é possível observar uma hipérbole relativa aos números, porque afirma-se que serão cantadas “100 bilhões de vezes mais” do que o comum.
+ Linguagem culta e coloquial: diferenças e contextos de uso
Questões sobre hipérbole
(USF) Leia estes versos:
“As ondas amarguradas
Encostam a cabeça nas pedras do cais.
Até as ondas possuem
Uma pedra para descansar a cabeça.
Eu na verdade possuo
Todas as pedras que há no mundo,
Mas não descanso”.
(Murilo Mendes)
A figura de linguagem que ocorre nos versos 5 e 6 é:
a) metáfora
b) sinédoque
c) hipérbole
d) aliteração
e) anáfora
Veja como o eu lírico afirma que possui “todas as pedras que há no mundo”, um exagero intencional para demonstrar figurativamente um peso que carrega consigo. Então, é uma hipérbole, como aponta a alternativa C.
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