Gilberto Freyre foi um sociólogo, antropólogo, historiador e ensaísta brasileiro, considerado um dos maiores intelectuais do século XX no Brasil.
Conhecido por sua interpretação da formação da sociedade brasileira, especialmente por meio da obra Casa-Grande & Senzala (1933), Freyre destacou o papel da cultura portuguesa, indígena e africana na construção da identidade nacional.
Apesar de sua importância para os estudos sociais e culturais, ele possui algumas ideias controversas, principalmente sobre o processo de miscigenação no Brasil. Gilberto Freyre acreditava que a mistura entre brancos, negros e indígenas havia gerado uma convivência racial mais harmoniosa no país, chegando a afirmar que o Brasil era a democracia racial mais avançada do mundo.
No entanto, essa visão foi amplamente criticada por outros intelectuais, como o sociólogo Florestan Fernandes, que a considerava um mito, e até uma construção ideológica que mascarava as desigualdades profundas herdadas do sistema escravocrata.
Florestan argumentava que, mesmo após a abolição da escravidão, os negros continuaram excluídos das oportunidades sociais e econômicas, e que o país nunca promoveu uma verdadeira inclusão racial.
O Portal EV listou sete citações de Gilberto Freyre que podem ser usadas nas redações dos vestibulares e do Enem. Confira abaixo e aumente seu repertório sociocultural!
+ 7 citações de Florestan Fernandes para usar na redação
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Quem foi Gilberto Freyre?
Gilberto Freyre nasceu em 1900, em Recife, no Pernambuco, e teve uma formação acadêmica marcada pelo contato com a cultura anglo-saxã. Ele estudou nos Estados Unidos, onde se formou em Ciências Sociais na Universidade de Columbia, sob influência do pensamento culturalista.
Sua obra mais conhecida é Casa-Grande & Senzala (1933), publicada em 1933, na qual defende que a formação da sociedade brasileira se deu a partir da miscigenação entre portugueses, indígenas e africanos.
Ele afirmava que a herança cultural dos povos colonizados teve papel central na constituição da identidade brasileira, e que, apesar das violências da escravidão e do colonialismo, resultou em uma cultura singular, rica e híbrida.
Sua análise também está presente em Sobrados e Mucambos (1936), onde explora a transição do Brasil rural e patriarcal para um país urbano e mais moderno, além de Ordem e Progresso (1957), em que discute a vida política brasileira no século XIX.
Outro livro importante de sua produção é Assombrações do Recife Velho (1955) no qual o autor recupera lembranças e memórias de sua infância e juventude, misturando elementos de realidade, fantasia e tradição oral.
Além de sua contribuição intelectual, Gilberto Freyre também teve breve atuação política. Foi eleito deputado federal por Pernambuco em 1946 e participou da Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição de 1946, no contexto do fim do Estado Novo.
Freyre foi pioneiro ao rejeitar teorias raciais deterministas e destacar a importância da herança africana e indígena na construção do Brasil. Porém, algumas de suas ideias são alvo de críticas, já que suavizam os efeitos da escravidão e das desigualdades raciais no Brasil.
O sociólogo faleceu em 1987, deixando um legado intelectual duradouro, sendo considerado, até hoje, um autor fundamental para os estudos sobre cultura e identidade no Brasil.
1 – “O saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas, copiosas, transbordem do indivíduo, e se espraiem, estancando a sede dos outros.” – em discurso “Adeus ao Colégio”, novembro de 1917
Ao comparar o saber a um rio de águas doces e abundantes, Freyre sugere que o verdadeiro conhecimento não deve ficar retido em uma única pessoa, mas sim transbordar, ou seja, ser compartilhado de forma generosa com os outros.
Essa citação é útil em redações que abordam temas como educação, democratização do conhecimento, papel social do educador, ciência e inclusão.
2 – “Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades.” – em discurso “Adeus ao Colégio”, novembro de 1917
Esta citação é continuação da ideia anterior, na qual o sociólogo destaca que o conhecimento, por si só, não basta, ele precisa estar a serviço da sociedade. Para ele, não adianta acumular informações ou títulos acadêmicos se isso não contribuir para melhorar a vida das pessoas, reduzir desigualdades, promover justiça ou ampliar o bem comum.
3 – “A culinária é uma das maiores expressões do comportamento humano, do saber humano,da criatividade humana, muito do saber humano está naquilo que você come.”
Essa frase de Gilberto Freyre revela sua valorização da cultura cotidiana como fonte legítima de conhecimento e identidade. Ele reconhece a alimentação não apenas como uma necessidade biológica, mas como uma manifestação rica de cultura, história e convivência.
4 – “Em nenhuma parte do Brasil a formação da família processou-se tão aristocraticamente como entre canaviais.”
Essa citação está relacionada à sua análise histórica e sociológica da formação da sociedade brasileira, especialmente no contexto do Nordeste açucareiro, tema central em Casa-Grande & Senzala.
Nas regiões produtoras de açúcar, especialmente em Pernambuco e arredores, as famílias senhoriais reproduziam um modelo aristocrático de organização social, patriarcal, hierárquico e rígido, inspirado na nobreza europeia. Os grandes proprietários das plantações de cana-de-açúcar, donos das casas-grandes, exerciam um poder quase absoluto sobre todos os que viviam em seus domínios.
5 – “É tão raro o homem de uma só época como raro é hoje o homem de uma só cultura ou de uma só raça, ou como parece vir sendo, o indivíduo de um só sexo.” – em Imaginário da Brasilidade em Gilberto Freyre, de João de Deus Vieira Barros
Nesta citação, Freyre desafia a ideia de que o ser humano pode ser compreendido a partir de categorias fixas e estáveis. Para ele, cada indivíduo é fruto de múltiplas influências, sejam elas históricas, culturais, étnicas e até de gênero.
Ele acredita que vivemos atravessados por diferentes tempos, ou seja, mesmo vivendo em um mundo moderno, mantemos hábitos, costumes ou valores que vêm de tempos “antigos”, além de convivermos com diversas culturas.
6 – “O Brasil é a mais avançada democracia racial do mundo.”
Esta frase atribuída a Gilberto Freyre expressa uma visão que foi muito influente no século XX, mas que também carrega contradição.
Freyre, ao estudar a formação da sociedade brasileira, especialmente em Casa-Grande & Senzala, valorizou a miscigenação e o convívio entre diferentes grupos étnicos como um elemento singular do Brasil. Para ele, aqui teria se desenvolvido uma convivência mais harmoniosa entre brancos, negros e indígenas do que em países marcadamente segregacionistas, como os Estados Unidos.
No entanto, essa ideia de “democracia racial” vem sendo amplamente questionada por estudiosos contemporâneos e por movimentos sociais, já que, na prática, o Brasil apresenta profundas desigualdades raciais. A população negra e parda segue sendo a mais afetada pela pobreza, pelo desemprego, pela violência policial e pelo racismo estrutural.
Vale lembrar também que, apesar da cultura brasileira ser produto da miscigenação e da influência de diversos povos, a maioria dos relacionamentos entre brancos e indígenas, ou brancos e negros, eram fruto de estupro e dominação. Essa miscigenação, muitas vezes exaltada como sinal de harmonia, ocorreu em contextos marcados pela violência, pela escravidão e pela desigualdade de poder.
Mulheres negras e indígenas foram historicamente objetificadas e violentadas por senhores brancos, e seus filhos, embora miscigenados, continuavam inseridos em estruturas sociais profundamente hierárquicas e racistas.
Portanto, é fundamental reconhecer que a mistura de raças no Brasil não apagou as marcas da opressão, ao contrário, ela se deu dentro de um sistema que perpetuou privilégios para alguns e marginalização para outros.
7 – “Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente e espelhinho no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós.” – em Casa-Grande e Senzala (1933)
Essa passagem de Casa-Grande & Senzala revela como Gilberto Freyre valorizava a contribuição feminina, especialmente das mulheres indígenas, na formação da cultura brasileira.
Ele reconhece o papel das mulheres indígenas como transmissoras de saberes fundamentais ligados ao cotidiano, à alimentação, ao cuidado com o corpo e à higiene. Elementos como o banho frequente, o uso de loções e espelhos, e até mesmo alimentos típicos como o milho e o caju, são apresentados como heranças culturais deixadas por essas mulheres.
No entanto, embora a citação tenha um tom de valorização, ela também pode ser lida criticamente, pois Freyre recorre a uma idealização da figura da mulher indígena como símbolo de fertilidade, domesticidade e sensualidade, ignorando muitas vezes o contexto de violência e submissão em que essas relações ocorreram.
A romantização da figura da “avó indígena” pode apagar o fato de que muitas dessas mulheres foram forçadas a se relacionar com colonizadores e inseridas em estruturas sociais de dominação.
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