Medicina na América Latina: como funciona e quais são os principais países para ingressar no curso

Medicina na América Latina: como funciona e quais são os principais países para ingressar no curso

Muitos brasileiros resolvem fazer Medicina nos países da América Latina, para fugir da concorrência e dos preços no Brasil, mas há dificuldades; confira cenários e veja como funciona

Medicina é a graduação mais disputada do País e isso faz com que vejamos disputas com mais de 100 candidatos por vaga em algumas das principais universidades brasileiras, o que é um número enorme, comparado com a maioria dos outros cursos.

A Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, tem cursos da graduação em três cidades diferentes: São Paulo, Ribeirão Preto e Bauru, com 117,7, 86,6 e 78,2 em concorrência por cada vaga, respectivamente.

Mas, se aqui no Brasil os vestibulares existem e são super concorridos para Medicina, essa não é a realidade de alguns dos nossos vizinhos e, por conta disso, há uma invasão de brasileiros nas universidades que possuem o curso em muitos lugares da América Latina.

O Portal Estratégia Vestibulares listou os motivos que levam brasileiros a fazer Medicina no exterior, os principais países da América Latina para estudar a graduação, e porque alguns outros lugares não possuem essa opção tão facilitada. Vamos lá?

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Motivos para estudar Medicina fora do país

Com a alta concorrência nas universidades públicas, entrar em um curso de Medicina é cada vez mais difícil e isso fez com que, em contrapartida, as universidades privadas aumentassem o valor e a dificuldade de acesso dos seus cursos.

Isso causou uma bolha nos valores do curso de Medicina do país, que são muito caros e inacessíveis para a grande maioria da população. Soma-se a isso o fato de que o curso é integral e tem pelo menos seis anos de duração, com dedicação total. 

Por conta disso, podemos presumir que fazer o curso e trabalhar ao mesmo tempo é praticamente impossível, o que torna a Medicina ainda mais inacessível. Isso faz com que os estudantes optem por freelas variados, ou buscar opções mais baratas e acessíveis. E é aí que entram países como Bolívia, Paraguai, Venezuela, Argentina e até mesmo países mais distantes como o México e Cuba.

Revalida: o que é e como funciona

Para exercer a profissão no Brasil com um diploma estrangeiro, é necessário conquistar a aprovação em uma prova chamada de Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Ensino Superior Estrangeira (Revalida)

O principal exame é feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), assim como o Enem e qualquer brasileiro ou estrangeiro pode fazer a prova, desde que esteja no Brasil de forma legal. A primeira fase da prova do Inep é realizada em algumas capitais brasileiras, sendo dividida em duas etapas, realizadas no mesmo dia, e contém etapa discursiva e objetiva. Já a segunda fase envolve prova de habilidades clínicas.

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Mas existem outras provas de revalidação de diplomas, realizadas por instituições nacionais como a USP, UFMT, Uepa e outras, com expedição de diploma pela instituição que organiza a prova.

Há um levantamento realizado pela Faculdade de Medicina da USP e pela Associação Médica Brasileira (AMB) que listou as faculdades estrangeiras que tiveram profissionais que prestaram a prova do Revalida em 2023. 

O estudo revelou que a Bolívia é o país com maior número de estudantes que prestam a prova, seguidos de perto por Paraguai e por países como Argentina, Cuba, Venezuela e Rússia.

Uma das características das provas de revalidação é a dificuldade que elas têm, justificadas pelas instituições por conta do grau de excelência exercido nas principais instituições do Brasil em comparação a maioria das faculdades com alto número de brasileiros.

Dos países citados acima, a Argentina é a que possui menor índice de reprovação na prova, e mesmo assim 64,4% dos estudantes foram reprovados em 2023. A Venezuela e a Bolívia são líderes no quesito com 94,6% e 93,5% de reprovação, respectivamente.

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Países da América Latina para cursar Medicina

Confira, abaixo, alguns países da América Latina que se tornaram destinos de estudantes de Medicina brasileiros e os principais motivos que os levaram até esses locais.

Bolívia

Com mais de três mil médicos inscritos no Revalida (prova que habilita o profissional com diploma estrangeiro a trabalhar no Brasil), o país é o que mais atrai brasileiros em seus cursos de Medicina.

Dentre as facilidades estão a fácil admissão dos estudantes no país, o fato de não precisar prestar uma prova para ingressar nas instituições públicas e o baixo custo de vida e dos cursos particulares.

Para se ter uma ideia, os trâmites para estudar Medicina na Bolívia incluem somente a comprovação da formação anterior, ou seja, o Ensino Médio, e documentos pessoais, já que o visto de residência é feito de forma fácil e rápida.

O alto número de brasileiros já faz com que cidades fronteiriças criem cursos de Medicina, facilitando ainda mais o acesso ao curso. Com isso, prefeituras de cidades brasileiras estão desenvolvendo parcerias com instituições bolivianas para que haja interação desses estudantes com os serviços médicos locais.

Paraguai

O segundo país com maior número de revalidandos em 2023 é o Paraguai, com mais de 2,7 mil médicos. Assim como na Bolívia, os custos de vida e do curso são baixos e não há a necessidade de realizar prova para ingressar nas graduações.

Mas, diferentemente da Bolívia, as vagas não são ilimitadas, o que faz com que a ordem de matrícula seja priorizada. Além disso, algumas instituições exigem que os alunos passem por um curso de nivelamento, para comprovar capacidades intelectuais básicas ao longo de um período de tempo.

As principais universidades em números de brasileiros no Paraguai estão nas cidades fronteiriças de Ciudad Del Este (fronteira com Foz do Iguaçu/PR) e Pedro Juan Caballero (fronteira com Ponta Porã/MS), além da capital paraguaia Assunção.

Argentina

A Argentina é um país que atrai muitos brasileiros para fazer Medicina em seu território, ainda que o atual governo Milei tenha endurecido as regras, com crescimento em mais de cinco vezes no número de alunos — de 4.000 para mais de 20 mil — de 2015 até 2022, segundo levantamento do governo argentino. 

Por lá também não há a necessidade de se fazer vestibular, mas os trâmites burocráticos são maiores do que nos países citados acima. Em muitas instituições é necessário apresentar um certificado de proficiência em espanhol, por exemplo. O valor das mensalidades em instituições privadas também é um atrativo, somado ao baixo custo de vida.

Além disso, instituições como a Universidade de Buenos Aires (UBA), tida como a melhor do país, realiza provas orais, o que dificulta um pouco mais a vida dos estudantes brasileiros. Ainda assim, mais de 12% dos alunos de Medicina na Argentina são brasileiros, número que vai a 31% em instituições privadas.

Cuba

A ilha caribenha também é um dos destinos mais procurados por brasileiros que desejam estudar Medicina no exterior, já que 300 médicos prestaram o Revalida em 2023. O processo de admissão é diferente dos citados e possuem bolsas oferecidas pelo governo cubano como uma das opções. Para se ter bolsa, todavia, o estudante não pode ter mais do que 25 anos no seu ingresso.

O processo seletivo exige vínculo com algum movimento social ou partido político, já que o governo cubano vê na admissão de estrangeiros uma oportunidade de formar jovens de baixa renda que não conseguiriam fazer Medicina em seus países. É preciso também realizar uma entrevista na embaixada cubana, fazer uma redação, um teste psicotécnico e demonstrar o desejo de retornar ao seu país de origem para trabalhar com saúde básica.

Há um curso de nivelamento nos primeiros meses, que também tem o objetivo de oferecer aulas de espanhol para não fluentes, revisar matérias e introduzir o método de ensino da ilha. Estima-se que há estudantes de mais de 100 países fazendo o curso nas instituições locais.

Outros países vizinhos

A Venezuela também tem alto número de alunos que prestaram o Revalida, mas há também um alto número de refugiados do país no Brasil, o que pode ter inflacionado os médicos revalidandos vindos de lá.

Universidades de outros locais próximos também apresentam brasileiros, mas as dificuldades de ingresso afastam tal migração. No Chile, por exemplo, há universidades listadas como as melhores da América Latina, mas o país exige que os estudantes passem nos vestibulares locais e as mensalidades em instituições privadas são altas.

Já no Uruguai há um alto número de aprovação no Revalida e não há vestibular por lá, mas o estudante precisa comprovar residência no país por pelo menos três anos antes de se matricular.

A Colômbia é um país que pode se tornar um atrativo para estudantes brasileiros de Medicina nos próximos anos. Há movimentações entre o governo dos dois países para fomentar a educação entre eles, os valores não são altos, mas há vestibular e é necessário fazer uma entrevista presencial no consulado colombiano para concessão de visto de estudante.

Há também aprovados no Revalida Inep provenientes de instituições peruanas e equatorianas, mas ambos os países contam com vestibulares e trâmites legais parecidos com os colombianos, citados acima.

Principais universidades da América Latina

Segundo ranking QS World, divulgado em 2024, essas são as dez melhores universidades da América Latina, considerando todos os cursos:

  • Universidade de Buenos Aires (UBA): 71º;
  • Universidade de São Paulo (USP): 92º;
  • Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC): 93º;
  • Universidade Autônoma do México (Unam): 94º;
  • Universidade do Chile: 139º;
  • Universidade de los Andes (Colômbia): 179º;
  • Tecnológico de Monterrey: 185º;
  • Universidade Nacional da Colômbia: 219º;
  • Universidade Estadual de Campinas (Unicamp): 232º; e
  • Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): 304º.

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