Criar uma redação nota 1000 no Enem é uma meta de muitos, mas uma realidade distante da maioria. De toda forma a redação do Exame do Ensino Médio (Enem) é um grande diferencial na nota dos candidatos ao utilizá-la para ingressar em uma instituição de ensino superior.
O Portal Estratégia Vestibulares preparou esse artigo com as principais informações para você conquistar a tão sonhada nota 1000!
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Como é a redação do Enem?
A redação do Enem segue o gênero textual dissertativo-argumentativo, ou seja, apresenta um ponto de vista por meio de argumentos.
Assim, como em outros vestibulares, o texto dissertativo-argumentativo cobrado no Enem apresenta algumas regras, são elas:
- Uso da norma-padrão da língua portuguesa;
- Presença de tese;
- Desenvolvimento argumentativo que comprove a tese; e
- proposta de intervenção
- Mínimo de oito linhas e máximo de 30 linhas;
- Não é preciso título; e
- Respeitar os direitos humanos.
Para organizar o texto no formato dissertativo-argumentativo, o candidato deve usar a seguinte estrutura:
- Introdução: apresentar o tema e o posicionamento sobre o tema proposto.
- Desenvolvimento: aprofundamento para os argumentos citados na introdução, confirmando ponto de vista do candidato
- Conclusão: propor intervenções que contribuam para a melhoria da problemática.
Além disso, a redação do Enem é avaliada por meio de cinco competências, com o objetivo tornar a avaliação da redação padronizada para todos os concorrentes. Confira o que cada uma das competências avalia:
- Competência 1: Domínio da escrito formal da Língua Portuguesa
- Competência 2: Compreender o tema e não fugir da proposta
- Competência 3: Organização das ideias
- Competência 4: Coesão e coerência
- Competência 5: Proposta de Intervenção
Para saber mais detalhes e informações de cada competência, clique abaixo
Modelos de redação nota 1000 no Enem
Para te ajudar nos estudos, o Blog do Estratégia Vestibulares buscou modelos de redações nota 1000 de 2009 a 2023, a edição mais recente da prova. Confira os exemplos de textos que alcançaram a pontuação máxima no Enem:
2009 – O indivíduo frente à ética nacional.
“O Brasil tem enfrentado, com frequência, problemas sérios e até constrangedores, como os elevados índices de violência, pobreza e corrupção – três mazelas fundamentais que servem para ilustrar uma lista bem mais longa. Porém, mesmo diante dessa triste realidade, boa parte dos brasileiros parece não se constranger – e, talvez, nem se incomodar –, preferindo fingir que nada está ocorrendo. Em um cenário marcado pela passividade, é preciso que a sociedade se posicione frente à ética nacional, de forma a honrar seus direitos e valores humanos e, assim, evitar o pior.
Na época da ditadura militar, grande parte da população vivia inconformada com a atuação de um governo opressor, afinal, com as restrições à liberdade de expressão, não era possível emitir opiniões sem medir os riscos de violentas repressões. Apesar de uma conjuntura tão desfavorável para manifestações, muitos foram os movimentos populares em busca de mudanças, mesmo com as limitações na atuação da mídia. Talvez a sensação de um Brasil melhor hoje ajude a explicar a inércia da sociedade diante da atual crise de valores na política e em todas as camadas da população.
Muitos não percebem, mas esse panorama cria um paradoxo perverso: depois de tanto sangue derramado pelo direto de expressar opiniões e participar das decisões políticas, o indivíduo se cala diante da crise moral contemporânea. Nesse contexto, protestos se transformam em lamúrias, lamentações em voz baixa, que ninguém ouve – e talvez nem queira ouvir. Ou então em piadas, “ótimo” recurso cultural para sorrir e se alienar frente à falta de uma postura virtuosa. Assim, apesar de viver em um país democrático, o brasileiro guarda seus direitos – e os dos outros – no bolso da calça, pelo menos quando tem uma para vestir.
Para que o indivíduo não se dispa de sua cidadania, é preciso honrar o sistema democrático do país. Nesse contexto, o povo deve ir às ruas, de modo pacífico, para exigir uma mudança de postura do poder público. Além disso, a mobilização deve agir na direção de quem mais necessita, ajudando, educando e oferecendo oportunidades para excluídos, que vivem à margem da vida social, abaixo da linha da humanidade. Para tudo isso, entretanto, é preciso uma mudança prévia de mentalidade, uma retomada de valores humanos esquecidos, que só será possível com a ajuda da família, das escolas e até mesmo da mídia.
Por tudo isso, fica claro que o brasileiro deve parar de negar e de rir do evidente problema ético que enfrenta. Trata-se de questões sérias, cujas soluções são difíceis e demoradas, mas não impossíveis. Se a sociedade não se mobilizar imediatamente, chegará o dia em que as piadas alienadas e alienantes resultarão, para a maioria, em risadas de hiena. E, para a minoria privilegiada, imune – ou beneficiada? – à crise ética, restarão apenas olhos marejados.”
Modelo de redação nota 1000 com tema de 2010 – O Trabalho na Construção da Dignidade Humana
“Depois de inúmeras mudanças na sociedade, vive-se, hoje, um momento em que há, por parte de muitas pessoas, uma crescente busca pela realização profissional. Para elas, a profissão, muitas vezes, pode ter um grande significado na construção de sua identidade. Há, porém, aquelas pessoas que, sem ter escolha, aceitam qualquer trabalho como forma de sobrevivência, submetendo-se, assim, à desvalorização da sua humanidade.
O Brasil é um país que vem crescendo, principalmente nas últimas décadas. Essa crescente evolução traz uma tendência trabalhadora ao povo, que, por querer acompanhar o desenvolvimento, busca, cada vez mais, melhores empregos e salários, a fim de viver mais e melhor. Observa-se, nesse contexto, que o trabalho ganhou um valor de dignificação, já que, hoje, o fato de ter um emprego gera condições para uma boa vida.
Embora se observe esse grande desenvolvimento na nação brasileira, muitos defeitos permanecem inseridos nela. Alguns deles são a concentração de terras nas mãos de poucos e a enorme desigualdade social. Ambos favorecem a existência de pessoas que são obrigadas a se submeterem a trabalhos escravos, por exemplo.
Sabendo, portanto, da importância do trabalho na vida das pessoas e dos contrastes existentes no Brasil, deve-se tomar consciência de que o governo precisa dar mais atenção aos menos favorecidos financeiramente. Projetos sociais como o Bolsa Família ajudam, mas o que deve ser feito, na verdade, é investir mais em educação, buscando, assim, erradicar a miséria e a existência do trabalho desumano. Além disso, provavelmente, uma reforma agrária contribuiria para diminuir a desigualdade social, que é uma realidade que contribui para a existência desse tipo de escravismo.”
2011 – Viver em Rede no Século XXI: os limites entre o público e o privado
“Uma característica inerente às sociedades humanas é sempre buscar novas maneiras de se comunicar: cartas, telegramas e telefonemas são apenas alguns dos vários exemplos de meios comunicativos que o homem desenvolveu com base nessa perspectiva. E, atualmente, o mais recente e talvez o mais fascinante desses meios, são as redes virtuais, consagradas pelo uso, que se tornam cada vez mais comuns.
Orkut, Twiter e Facebook são alguns exemplos das redes sociais (virtuais) mais acessadas do mundo e, convenhamos, a popularidade das mesmas se tornou tamanha que não ter uma página nessas redes é praticamente como não estar integrado ao atual mundo globalizado. Através desse novo meio as pessoas fazem amizades pelo mundo inteiro, compartilham ideias e opiniões, organizam movimentos, como os que derrubaram governos autoritários no mundo árabe e, literalmente, se mostram para a sociedade. Nesse momento é que nos convém cautela e reflexão para saber até que ponto se expor nas redes sociais representa uma vantagem.
Não saber os limites da nossa exposição nas redes virtuais pode nos custar caro e colocar em risco a integridade da nossa imagem perante a sociedade. Afinal, a partir do momento em que colocamos informações na rede, foge do nosso controle a consciência das dimensões de até onde elas podem chegar. Sendo assim, apresentar informações pessoais em tais redes pode nos tornar um tanto quanto vulneráveis moralmente.
Percebemos, portanto, que o novo fenômeno das redes sociais se revela como uma eficiente e inovadora ferramenta de comunicação da sociedade, mas que traz seus riscos e revela sua faceta perversa àqueles que não bem distinguem os limites entre as esferas públicas e privadas “jogando” na rede informações que podem prejudicar sua própria reputação e se tornar objeto para denegrir a imagem de outros, o que, sem dúvidas, é um grande problema.
Dado isso, é essencial que nessa nova era do mundo virtual, os usuários da rede tenham plena consciência de que tornar pública determinadas informações requer cuidado e, acima de tudo, bom senso, para que nem a própria imagem, nem a do próximo possa ser prejudicada. Isso poderia ser feito pelos próprios governos de cada país, e pelas próprias comunidades virtuais através das redes sociais, afinal, se essas revelaram sua eficiência e sucesso como objeto da comunicação, serão, certamente, o melhor meio para alertar os usuários a respeito dos riscos de seu uso e os cuidados necessários para tal.”
2012 – A imigração para o Brasil no século XXI
Autor: Igor Cavalcanti
“Ao ser trabalhada a questão da imigração no Brasil, muito se pensa nos acontecimentos e nos fluxo ao longo da história. No entanto, a nação brasileira constituiu-se, no século XXI, uma potência econômica em crescimento e ganhou notoriedade a partir da popularização do conceito dos BRICS, países de maior prosperidade econômica. Desse modo, pode-se dizer que os movimentos de imigração para o Brasil no século XXI são uma decorrência da sua realidade econômica e causam influências em outros campos como a cultura e a qualidade de vida.
Uma das grandes consequências culturais da imigração para o Brasil no século XXI é o enriquecimento da cultura local, que já é caracterizada pela diversidade. Tal consequência, atrelada ao conceito de convivência da sociedade, permite à nação macunaíma flexibilizar ainda mais as relações sociais, mas somente quando distante dos ideais preconceituosos. Eles, que estão presentes em grande parte dos países centrais que atuam como áreas de atração, são crescentes na realidade brasileira, o que acaba por dificultar a consolidação da face boa da imigração.
Além disso, por conta do contexto tecnológico de Revolução Informacional, as levas populacionais que se deslocam do seu país de origem tendo como o destino final o território brasileiro estão mais preparados e motivados quando comparadas aos imigrantes do passado. Com isso, o homem contemporâneo não almeja se deslocar em busca de um subemprego, e vem ao Brasil para contribuir como mais uma agente para o desenvolvimento do país. Dessa forma, os migrantes diferenciados do século atual chegam qualificados e empenhados a entrar no território como uma contribuição.
Não obstam, a política de amenidade mantida pelo país no contexto internacional garante uma boa imagem para os interessados também residentes em país tidos como desenvolvidos. Percebe-se , então, que empresas transnacionais enviam seus executivos e trabalhadores para a nação que não se envolve em constantes guerras, possui facilidades no comércio com países como China e Rússia e apresenta grandes taxas de crescimento, É vista, em consequência de tal investimento estrangeiro, uma possibilidade de absorção de novas técnicas e conhecimentos.
Subentende-se, então, que o contingente imigratório do século XXI com destino ao Brasil é um fator de grande influência nos seus diversos campos de convivência social e cultural, cabendo ao país direcionar essas possibilidades a um caminho próspero. Para isso, práticas como o investimento governamental e privado nos “teapolos” brasileiros gatarem uma formação da população nativa e a chance de inserção do imigrante na sociedade e no trabalho. Além disso, tal investimento ajuda a fortalecer o convívio entre as diversas culturas e conhecimentos, possibilitando o aprimoramento das técnicas.”
2013 – Os efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil
Autora: Bianca Hazt
“Com base nos dois signos opostos, liberdade e responsabilidade, costuma-se dizer que a liberdade de determinado indivíduo termina quando começa a sua responsabilidade. No Brasil, muitos acidentes de trânsito acontecem justamente pelo fato de as pessoas não conhecerem o ponto inicial da sua responsabilidade. Analisando tal problema e suas consequências, o governo implantou a Lei Seca. objetivando um menor número de acidentes no trânsito.
Primeiramente, deve-se entender que a medida destinada ao governo tomar já está sendo colocada em prática. Além da implantação da lei. milhares de etilômetros foram adquiridos e, de maneira geral, a fiscalização ocorre corretamente.
De acordo com uma pesquisa feita pelo IBPS, com dados do Rio de Janeiro, 97% da população aprova o uso de bafômetros na fiscalização, e com dados do DATASUS, aconteceu uma queda de 6,2% na média nacional de mortes desde a implantação da lei. Pela interpretação dos índices percebe-se que a população já está conscientizada sobre a gravidade do problema embora a média da redução das vítimas fatais ainda esteja baixa.
Conclui-se, então que a parte mais difícil já está feita: as pessoas estão conscientizadas do problema. Agora, cabe aos estados e aos municípios o desenvolvimento de medidas criativas (como a repulsão magnética implantada em um copo ao beber e dirigir no RJ) que lutem energicamente contra a embriaguez no volante, para que assim, ao contrário do que o filósofo Sartre afirmava, o inferno deixe de ser os outros, os quais não sabem usufruir da sua liberdade.E, de quebra, se possa viver em um país livre de atitudes inconsequentes.”
Modelo de redação nota 1000 com tema de 2014 – Publicidade infantil em questão no Brasil
Autor: Carlos Eduardo Lopes Marciano
“É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?
Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.
O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em questão. Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de discernimento infantil.
Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.”
2015 – A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
Autor: Amanda Carvalho Maia Castro
“A violência contra a mulher no Brasil tem apresentado aumentos significativos nas últimas décadas. De acordo com o Mapa da Violência de 2012, o número de mortes por essa causa aumentou em 230% no período de 1980 a 2010. Além da física, o balanço de 2014 relatou cerca de 48% de outros tipos de violência contra a mulher, dentre esses a psicológica. Nesse âmbito, pode-se analisar que essa problemática persiste por ter raízes históricas e ideológicas.
O Brasil ainda não conseguiu se desprender das amarras da sociedade patriarcal. Isso se dá porque, ainda no século XXI, existe uma espécie de determinismo biológico em relação às mulheres. Contrariando a célebre frase de Simone de Beauvoir “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, a cultura brasileira, em grande parte, prega que o sexo feminino tem a função social de se submeter ao masculino, independentemente de seu convívio social, capaz de construir um ser como mulher livre. Dessa forma, os comportamentos violentos contra as mulheres são naturalizados, pois estavam dentro da construção social advinda da ditadura do patriarcado. Consequentemente, a punição para este tipo de agressão é dificultada pelos traços culturais existentes, e, assim, a liberdade para o ato é aumentada.
Além disso, já há o estigma do machismo na sociedade brasileira. Isso ocorre porque a ideologia da superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino reflete no cotidiano dos brasileiros. Nesse viés, as mulheres são objetificadas e vistas apenas como fonte de prazer para o homem, e são ensinadas desde cedo a se submeterem aos mesmos e a serem recatadas. Dessa maneira, constrói-se uma cultura do medo, na qual o sexo feminino tem medo de se expressar por estar sob a constante ameaça de sofrer violência física ou psicológica de seu progenitor ou companheiro. Por conseguinte, o número de casos de violência contra a mulher reportados às autoridades é baixíssimo, inclusive os de reincidência.
Pode-se perceber, portanto, que as raízes históricas e ideológicas brasileiras dificultam a erradicação da violência contra a mulher no país. Para que essa erradicação seja possível, é necessário que as mídias deixem de utilizar sua capacidade de propagação de informação para promover a objetificação da mulher e passe a usá-la para difundir campanhas governamentais para a denúncia de agressão contra o sexo feminino. Ademais, é preciso que o Poder Legislativo crie um projeto de lei para aumentar a punição de agressores, para que seja possível diminuir a reincidência. Quem sabe, assim, o fim da violência contra a mulher deixe de ser uma utopia para o Brasil.”
2016 – Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil
Autor: Larissa Cristine Ferreira
“Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas “Memórias Póstumas” que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão: a postura de muitos brasileiros frente a intolerância religiosa é uma das faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento. Com isso, surge a problemática do preconceito religioso que persiste intrinsecamente ligado à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.
É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. Conforme Aristóteles, a poética deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa rompe essa harmonia; haja vista que, embora esteja previsto na Constituição o princípio da isonomia, no qual todos devem ser tratados igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa para externar ofensas e excluir socialmente pessoas de religiões diferentes.
Segundo pesquisas, a religião afro-brasileira é a principal vítima de discriminação, destacando-se o preconceito religioso como o principal impulsionador do problema. De acordo com Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de agr e de pensar. Ao seguir essa linha de pensamento, observa-se que a preparação do preconceito religioso se encaixa na teoria do sociólogo, uma vez que se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo. Assim, a continuação do pensamento da inferioridade religiosa, transmitido de geração a geração, funciona como base forte dessa forma de preconceito, perpetuando o problema no Brasil.
Infere-se, portanto, que a intolerância religiosa é um mal para a sociedade brasileira. Sendo assim, cabe ao Governo Federal construir delegacias especializadas em crimes de ódio contra religião, a fim de atenuar a prática do preconceito na sociedade, além de aumentar a pena para quem o praticar. Ainda cabe à escola criar palestras sobre as religiões e suas histórias, visando a informar crianças e jovens sobre as diferenças religiosas no país, diminuindo, assim, o preconceito religioso. Ademais, a sociedade deve se mobilizar em redes sociais, com o intuito de conscientizar a população sobre os males da intolerância religiosa. Assim, poder-se-á transformar o Brasil em um país desenvolvido socialmente, e criar um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.”
2017 – Os desafios da formação educacional de surdos no Brasil
Autor: Matheus Rosi
“Segundo o pensamento de Claude Lévi-Strauss, a interpretação adequada do coletivo ocorre por meio do entendimento das forças que estruturam a sociedade, como os eventos históricos e as relações sociais. Esse panorama auxilia na análise da questão dos desafios para a formação educacional dos surdos no Brasil, visto que a comunidade, historicamente, marginaliza as minorias, o que promove a falta de apoio da população e do Estado para com esse deficiente auditivo, dificultando a sua participação plena no corpo social e no cenário educativo. Diante dessa perspectiva, cabe avaliar os fatores que favorecem esse quadro, além de o papel das escolas na inserção desse sujeito.
Em primeiro plano, evidencia-se que a coletividade brasileira é estruturada por um modelo excludente imposto pelos grupos dominantes, no qual o indivíduo que não atende aos requisitos estabelecidos, branco e abastado, sofre uma periferização social. Assim, ao analisar a sociedade pela visão de Lévi-Strauss, nota-se que tal deficiente não é valorizado de forma plena, pois as suas necessidades escolares e a sua inclusão social são tidas como uma obrigação pessoal, sendo que esses deveres, na realidade, são coletivos e estatais. Por conseguinte, a formação educacional dos surdos é prejudicada pela negligência social, de modo que as escolas e os profissionais não estão capacitados adequadamente para oferecer o ensino em Libras e os demais auxílios necessários, devido a sua exclusão, já que não se enquadra no modelo social imposto.
Outro ponto relevante, nessa temática, é o conceito de modernidade líquida de Zygmunt Bauman, que explica a queda das atitudes éticas pela fluidez dos valores, a fim de atender aos interesses pessoais, aumentando o individualismo. Desse modo, o sujeito, ao estar imersos nesse panorama líquido, acaba por perpetuar a exclusão e a dificuldade de inserção educacional dos surdos, por causa da redução do olhar sobre o bem-estar dos menos favorecidos. Em vista disso, os desafios para a formação escolar de tais deficientes auditivos estão presentes na estruturação desigual e opressora da coletividade, bem como em seu viés individualista, diminuindo as oportunidades sociais e educativas dessa minoria.
Logo, medidas públicas são necessárias para alterar esse cenário. É fundamental, portanto, a criação de oficinas educativas, pelas prefeituras, visando à elucidação das massas sobre a marginalização da educação dos surdos, por meio de palestras de sociólogos que orientem a inserção social e escolar desses sujeitos. Ademais, é vital a capacitação dos professores e dos pedagogos, pelo Ministério da Educação, com o fito de instruir sobre as necessidades de tal grupo, como o ensino em Libras, utilizando cursos e métodos para acolher esses deficientes e incentivar a sua continuidade nas escolas, a fim de elevar a visualização dos surdos como membros do corpo social. A partir dessas ações, espera-se promover uma melhora das condições educacionais e sociais desse grupo.”
2018 – Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet
Autora: Carolina Mendes Pereira
“Em sua canção ‘Pela Internet’, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de informações disponibilizadas pelas plataformas digitais para seus usuários. No entanto, com o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos por empresas de aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura atual apta a moldar os hábitos e a informatividade dos usuários. Desse modo, tal manipulação do comportamento de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de enfrentamento
Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado é capaz de limitar a própria cidadania do indivíduo. Acerca disso, é pertinente trazer o discurso do filósofo Jürgen Habermas, no qual ele conceitua a ação comunicativa: esta consiste na capacidade de uma pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha melhor para a comunidade, demandando ampla informatividade prévia. Assim, sabendo que a cidadania consiste na luta pelo bem-estar social, caso os sujeitos não possuam um pleno conhecimento da realidade na qual estão inseridos e de como seu próximo pode desfrutar do bem comum – já que suas fontes de informação estão direcionadas –, eles serão incapazes de assumir plena defesa pelo coletivo. Logo, a manipulação do comportamento não pode ser aceita em nome do combate, também, ao individualismo e do zelo pelo bem grupal.
Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet vai de encontro à concepção do indivíduo pós-moderno. Isso porque, de acordo com o filósofo pós-estruturalista Stuart-Hall, o sujeito inserido na pós-modernidade é dotado de múltiplas identidades. Sendo assim, as preferências e ideias das pessoas estão em constante interação, o que pode ser limitado pela prévia seleção de informações, comerciais, produtos, entre outros. Por fim, seria negligente não notar como a tentativa de tais algoritmos de criar universos culturais adequados a um gosto de seu usuário criam uma falsa sensação de livre arbítrio e tolhe os múltiplos interesses e identidades que um sujeito poderia assumir.
Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar essa problemática. Para tanto, as instituições escolares são responsáveis pela educação digital e emancipação de seus alunos, com o intuito de deixá-los cientes dos mecanismos utilizados pelas novas tecnologias de comunicação e informação e torná-los mais críticos. Isso pode ser feito pela abordagem da temática, desde o ensino fundamental – uma vez que as gerações estão, cada vez mais cedo, imersas na realidade das novas tecnologias – , de maneira lúdica e adaptada à faixa etária, contando com a capacitação prévia dos professores acerca dos novos meios comunicativos. Por meio, também, de palestras com profissionais das áreas da informática que expliquem como os alunos poderão ampliar seu meio de informações e demonstrem como lidar com tais seletividades, haverá um caminho traçado para uma sociedade emancipada.”
2019 – Democratização do acesso ao cinema no Brasil
Autor: Daniel Gomes
O filme ‘’Cine Hollywood’’ narra a chegada da primeira sala de cinema na cidade de Crato, interior do Ceará. Na obra, os moradores do até então vilarejo nordestino têm suas vidas modificadas pela modernidade que, naquele contexto, se traduzia na exibição de obras cinematográficas. De maneira análoga à história fictícia, a questão da democratização do acesso ao cinema, no Brasil, ainda enfrenta problemas no que diz respeito à exclusão da parcela socialmente vulnerável da sociedade. Assim, é lícito afirmar que a postura do Estado em relação à cultura e a negligência de parte das empresas que trabalham com a ‘’sétima arte’’ contribuem para a perpetuação desse cenário negativo.
Em primeiro plano, evidencia-se, por parte do Estado, a ausência de políticas públicas suficientemente efetivas para democratizar o acesso ao cinema no país. Essa lógica é comprovada pelo papel passivo que o Ministério da Cultura exerce na administração do país. Instituído para se rum órgão que promova a aproximação de brasileiros a bens culturais, tal ministério ignora ações que poderiam, potencialmente, fomentar o contato de classes pouco privilegiadas ao mundo dos filmes, como a distribuição de ingressos em instituições públicas de ensino básico e passeios escolares a salas de cinema. Desse modo, o Governo atua como agente perpetuador do processo de exclusão da população mais pobre a esse tipo de entretenimento. Logo, é substancial a mudança desse quadro.
Outrossim, é imperativo pontuar que a negligência de empresas do setor – como produtoras, distribuidoras de filmes e cinemas – também colabora para a dificuldade em democratizar o acesso ao cinema no Brasil. Isso decorre, principalmente, da postura capitalista de grande parte do empresariado desse segmento, que prioriza os ganhos financeiros em detrimento do impacto cultural que o cinema pode exercer sobre uma comunidade. Nesse sentido, há, de fato, uma visão elitista advinda dos donos de salas de exibição, que muitas vezes precificam ingressos com valores acima do que classes populares podem pagar. Consequentemente, a população de baixa renda fica impedida de frequentar esses espaços.
É necessário, portanto, que medidas sejam tomadas para facilitar o acesso democrático ao cinema no país. Posto isso, o Ministério da Cultura deve, por meio de um amplo debate entre Estado, sociedade civil, Agência Nacional de Cinema (ANCINE) e profissionais da área, lançar um Plano Nacional de Democratização ao Cinema no Brasil, a fim de fazer com que o maior número possível de brasileiros possa desfrutar do universo dos filmes. Tal plano deverá focar, principalmente, em destinar certo percentual de ingressos para pessoas de baixa renda e estudantes de escolas públicas. Ademais, o Governo Federal deve também, mediante oferecimento de incentivos fiscais, incentivar os cinemas a reduzirem o custo de seus ingressos. Dessa maneira, a situação vivenciada em ‘’Cine Hollywood’’ poderá ser visualizada na realidade de mais brasileiros.”
2020 – O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira
Autora: Isabella Gadelha
“Nise da Silveira foi uma renomada psiquiatra brasileira que, indo contra a comunidade médica tradicional da sua época, lutou a favor de um tratamento humanizado para pessoas com transtornos psicológicos. No contexto nacional atual, indivíduos com patologias mentais ainda sofrem com diversos estigmas criados. Isso ocorre, pois faltam informações corretas sobre o assunto e, também, existe uma carência de representatividade desse grupo nas mídias.
Primariamente, vale ressaltar que a ignorância é uma das principais causas da criação de preconceitos contra portadores de doenças psiquiátricas. Sob essa ótica, o pintor holandês Vincent Van Gogh foi alvo de agressões físicas e psicológicas por sofrer de transtornos neurológicos e não possuir o tratamento adequado. O ocorrido com o artista pode ser presenciado no corpo social brasileiro, visto que, apesar de uma parcela significativa da população lidar com alguma patologia mental, ainda são propagadas informações incorretas sobre o tema. Esse processo fortalece a ideia de que integrantes não são capazes de conviver em sociedade, reforçando estigmas antigos e criando novos. Dessa forma, a ignorância contribui para a estigmatização desses indivíduos e prejudica o coletivo.
Ademais, a carência de representatividade nos veículos midiáticos fomenta o preconceito contra pessoas com distúrbios psicológicos. Nesse sentido, a série de televisão da emissora HBO, “Euphoria”, mostra as dificuldades de conviver com Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), ilustrado pela protagonista Rue, que possui a doença. A série é um exemplo de representação desse grupo, nas artes, falando sobre a doença de maneira responsável. Contudo, ainda é pouca a representatividade desses indivíduos em livros, filmes e séries, que quando possuem um papel, muitas vezes, são personagens secundários e não há um aprofundamento de sua história. Desse modo, esse processo agrava os esteriótipos contra essas pessoas e afeta sua autoestima, pois eles não se sentem representados.
Portanto, faz-se imprescindível que a mídia – instrumento de ampla abrangência – informe a sociedade a respeito dessas doenças e sobre como conviver com pessoas portadoras, por meio de comerciais periódicos nas redes sociais e debates televisivos, a fim de formar cidadãos informados. Paralelamente, o Estado – principal promotor da harmonia social – deve promover a representatividade de pessoas com transtornos mentais nas artes, por intermédio de incentivos monetários para produzir obras sobre o tema, com o fato de amenizar o problema. Assim, o corpo civil será mais educado e os estigmas contra indivíduos com patologias mentais não serão uma realidade do Brasil.”
2021 – Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil
Autora: Iasmin Schausse
O conceito “cidadania multiladas”, do geógrafo brasileiro Milton Santos, explicita que a democracia só é efetiva quando atinge a totalidade do corpo social. A partir dessa perspectiva, é possível observar que a realidade contemporânea brasileira se distancia desse ideal democrático , uma vez que inúmeros indivíduos ainda permanecem em uma situação de invisibilidade acarretada pela ausência do registro civil – o qual atua como uma ferramenta de garantia de acesso à cidadania no país. Desse modo, é essencial analisar os principais propulsores desse contexto hostil: o descaso governamental e a falta educacional.
Sob esse viés analítico, é importante destacar, a princípio, que a inoperância estatal é um fato preponderante para a ocorrência dessa problemática. Esse cenário decorre do fato de que, assim como pontuou o economista-americano Murray Rothbard, uma parcela dos representantes governamentais, ao se orientar por um viés individualista e visar um retorno imediato de capital político, negligencia a conservação de direitos sociais indispensáveis, como a garantia de registro civil. Em decorrência dessa indiligência do poder público, cria-se um ambiente propício para a precarização infraestrutural de locais especializados no aporte de documentação pessoal – materializada na carência de cartórios, sobretudo, em regiões mais afastadas dos centros urbanos. Logo, é notório que a omissão do Estado perpetua o deficitário acesso à cidadania.
Além disso, é válido ressaltar que a lacuna no sistema de educação potencializa essa conjuntura. Isso acontece porque, desde o século XX, com a implementação de um formato tradicionalista de ensino pelo ex-presidente Vargas, cristalizou-se um modelo educacional que negligencia o aprendizado de temas transversais, a exemplo de concepções básicas acerca da cidadania. Nessa perspectiva, com o desconhecimento por parte da população – oriundo da escassez instrutiva – sobre a relevância da garantia de direitos, há uma invisibilização da situação sofrida pelas pessoas que não possuem documentos basilares, como a certidão de nascimento. Como consequência disso, mantém-se o quadro de ausência de ações sociais efetivas no que tange à reversão desse contexto, fragilizando, com isso, a isonomia presente nas relações democráticas. Dessa forma, é imprescindível combater a falha do processo educacional, visto que marginaliza uma classe da sociedade.
É evidente, portanto, a necessidade de medidas que solucionem os desafios impostos à garantia de acesso à cidadania no Brasil. Por isso, o Ministério Público – órgão responsável pela defesa dos interesses sociais – deve, por meio de fiscalização da aplicação dos poderes estatais, pressionar o Estado no que se refere ao aporte de infraestrutura ao setor que oferta o registro civil, a fim de que a retirada desse documento seja ampliada para as diversas regiões do país. Ademais, as instituições escolares públicas e privadas devem, por intermédio de palestras, instruir os alunos acerca da importância da documentação pessoal, com o objetivo de minimizar a invisibilização desse tema, e com isso, estimular atitudes combativas à conjuntura de indivíduos sem registro. Assim, o ideal do geógrafo Milton Santos será, de fato, uma realidade no país.
2022 – Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil
Historicamente, a partir da implementação das missões jesuíticas no Brasil colonial, os povos nativos tiveram suas tradições suprimidas e o seu conhecimento acerca das peculiaridades territoriais menosprezado. Na contemporaneidade, a importância dessas populações configura um fator indispensável à compreensão da diversidade étnica do nosso país. Contudo, ainda persistem desafios à valorização dessas comunidades, o que interfere na preservação de seus saberes. Logo, urgem medidas estatais que promovam melhorias nesse cenário.
Sob esse viés, é válido destacar a fundamentabilidade dos povos tradicionais como detentores de pluralidade histórica e cultural, que proporciona a disseminação de uma vasta sabedoria na sociedade. Nesse sentido, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirma as heranças tradicionais desses grupos como constituintes do patrimônio imaterial brasileiro. Dessa forma, sabe-se que a contribuição desses indivíduos para a formação intelectual do corpo social engloba práticas de sustentabilidade, agricultura familiar e, inclusive, confere a eles uma participação efetiva na economia do país. Assim, evidencia-se a extrema relevância dessas comunidades para a manutenção de conhecimentos diferenciados, bem como para a evolução da coletividade.
Entretanto, a falta de representantes políticos eleitos para essa classe ocasiona a desvalorização das suas necessidades sociais, que não são atendidas pelos demais legisladores. Nesse contexto, a Constituição Federal assegura direitos inalienáveis a todos os cidadãos brasileiros, abordando o dever de inclusão de povos tradicionais nas decisões públicas. Desse modo, compreende-se que a existência de obstáculos para o reconhecimento da importância de populações nativas se relaciona à ineficácia na incorporação de representantes que sejam, de fato, interessados na perpetuação de saberes e técnicas ancestrais propagados para esses grupos. Sendo assim, comprova-se a ocorrência de um grave problema no âmbito coletivo, o qual impede a garantia plena dos direitos básicos dessas pessoas.
Diante do exposto, denota-se a urgência de propostas governamentais que alterem esse quadro. Portanto, cabe ao Estado – cuja função principal é a proteção dos direitos de seus cidadãos – a implantação de mudanças no sistema eleitoral, por meio da criação de cotas rígidas para a eleição de políticos oriundos de localidades nativas. Tal reestruturação terá como finalidade a valorização de povos tradicionais, reconhecendo a sua fundamentalidade na composição histórica e cultural da sociedade brasileira.
2023 – Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidados realizados pela mulher no Brasil
Autora: Heloísa Vitória Silva
Na obra “Utopia”, de Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita e em harmonia, a qual é livre de conflitos e mazelas. Todavia, fora de ficção, a realidade contemporânea está distante disso, haja vista os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher no Brasil. Por certo, a negligência governamental e a desigualdade social são fatores que favorecem esse quadro.
Percebe-se, a princípio, que o descaso estatal possui íntima relação com o revés. Nessa ótica, de acordo com o filósofo John Locke, configura-se como um rompimento do Contrato Social, já que o Estado não cumpre com sua função de garantir que todos desfrutem de seus direitos. Assim, devido à débil ação do Poder Público e à insuficiência de legislações, os impasses para acabar com a invisibilidade vivenciada por aquelas que realizam o trabalho de cuidadoras, sejam elas babás, donas de casa ou empregadas domésticas, têm crescido cada vez mais no Brasil. Dessa forma, é inadmissível que esse cenário continue a perdurar.
Ressalta-se, ademais, a situação de vulnerabilidade em que diversas cuidadoras estão inseridas como impulsionadora do problema. Nesse contexto, segundo o escritor Ariano Suassuna, o Brasil é dividido em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos. Sob esse viés, grande parte dessas mulheres vivem em condições precárias, por isso, tendem a aceitar qualquer coisa e realizam até mesmo trabalhos sem remuneração; o que faz com que as dificuldades para enfrentar essa problemática aumentem e tornem essas mulheres cada dia mais invisíveis perante o corpo social. Destarte, é imprescindível que haja mudança.
Infere-se, portanto, a necessidade de combater essa problemática no Brasil. Logo, cabe ao Governo, como Ministério do Trabalho, desenvolver leis mais rígidas e projetos sociais, por meio de petições e da criação da campanha “Cuidar também é trabalhar”, a fim de vencer os impasses enfrentados pelas cidadãs que exercem a função de cuidadoras e garantir que passem a ser enxergadas e não sofram mais com a invisibilidade e a desvalorização. Por conseguinte, uma sociedade mais próxima da que é citada em “Utopia” será consolidada.
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