A literatura engloba diferentes tipos de texto, expressões, linguagens, temas e enredos. Afinal, há uma soma entre variados públicos, diversos autores e numerosos contextos históricos sociais. Por isso, foram criadas classificações que permitem agrupar esses escritos conforme suas semelhanças. Nesse sentido, os gêneros literários são uma forma de classificar e organizar os textos. Aprenda mais sobre eles neste artigo!
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O que é gênero literário?
Um gênero literário é um conceito da literatura em que são determinadas características, semelhanças e diferenças que precisam estar presentes em um escrito para agrupá-lo com outros textos de mesma classificação.
Montar esses conjuntos textuais permite uma maior liberdade para estudar e compreender cada escrito, a depender do gênero literário em que se encaixa. Além disso, permite elencar os elementos essenciais para a construção de uma obra em cada gênero.
A ideia da classificação textual surgiu ainda na Antiguidade Clássica, proposta pelo filósofo Aristóteles, que também fez grandes contribuições para a filosofia, ciência política, matemática, biologia e astronomia.
O primeiro gênero aristotélico é chamado de gênero lírico, e pode ser recitado e cantado ao som de instrumentos musicais, apresentações comuns na Grécia Antiga. Depois, ele descreveu os momentos em que as histórias eram narradas para contar as aventuras e desventuras de um herói em sua trajetória — é o conhecido gênero narrativo. Por fim, ele ainda anota um outro tipo textual, o gênero dramático, em que os enredos eram encenados, representados e figurados por artistas em produções teatrais, por exemplo.
Principais gêneros literários
Gênero narrativo
O gênero narrativo, como menciona o nome, é utilizado para narrar uma história. Geralmente, é escrito em formato de prosa, apresenta um espaço em que se passa a narrativa, em que estão inseridos personagens, em um determinado tempo. Essas figuras podem ser bem caracterizadas em relação à personalidade, aparência física e aspectos psicológicos e podem desenvolver diálogos e interações entre si, e assim o enredo se constrói.
O enredo nada mais é do que uma sequência de eventos que acontecem dentro da narrativa, ele pode ser construído a partir do ponto de vista de um só personagem, ou ser contato na visão de diferentes personalidades.
Diante disso, para a narração de uma história, é necessário que haja um narrador. Trata-se de uma figura que descreve o enredo, mas pode ser participante dele ou não. Alguns autores optam por desenvolver um narrador onisciente, que sabe tudo o que se passa naquele ambiente, mas não é um personagem da história. Em outros casos, o narrador é o personagem principal da história. Enquanto outros escritores preferem apresentar diferentes personagens como narradores de uma mesma cena, para enfatizar a diferença entre os pontos de vista.
O trecho a seguir é do livro Iracema, de José de Alencar, uma obra clássica do Romantismo brasileiro.
“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu ?” onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”
O narrador dessa história observa os acontecimentos e os conta, além de acrescentar uma descrição da personagem em aspectos físicos. Entretanto, esse narrador não faz parte do enredo em si.
Subgêneros narrativos
A classificação é uma das formas mais clássicas para estudar um determinado objeto. Diante disso, foi necessário criar subgêneros literários, que agrupam os textos em semelhanças ainda maiores.
Então, dentro do gênero narrativo são encontradas as epopeias, os romances, os contos, as crônicas e as fábulas. Todos eles possuem as características de uma narração, mas possuem outros fatores relevantes que possibilitam o agrupamento de subgêneros. Por exemplo, as fábulas possuem, classicamente, uma lição moral ou social que deve ser compreendida ao final da leitura.
Exemplo de fábula de Esopo:
A cigarra e a formiga
“A cigarra passou o verão cantando, enquanto a formiga juntava seus grãos. Quando chegou o inverno, a cigarra veio à casa da formiga para pedir que lhe desse o que comer. A formiga então perguntou a ela:
— E o que é que você fez durante todo o verão?
— Durante o verão, eu cantei — disse a cigarra.
E a formiga respondeu:— Muito bem, pois agora dance!”
Gênero lírico
Classicamente, o gênero lírico é composto por textos organizados em versos e estrofes, em que há uma preocupação com o ritmo, sonoridade, rimas, métrica poemática, vocabulário e outros fatores que influenciam na estética do texto.
A relação da palavra “lírico” com esse tipo de escrita é embasada no instrumento lira, muito comum na Antiguidade. Esse equipamento era tocado em acompanhamento à recitação de poesias nos palácios, algo que foi descrito por Aristóteles muitos anos atrás.
Em termos de conteúdo, os escritos líricos possuem uma tendência em descrever os sentimentos, emoções, impressões, sensações e vivências do poeta. Inclusive, a voz poemática aparece na primeira pessoa do singular, é chamada de eu lírico e possui um amplo espaço para desenvolver sua subjetividade dentro do texto.
O texto abaixo foi escrito por Olavo Bilac e pertence ao Parnasianismo brasileiro, uma escola literária com ampla preocupação pelo perfeccionismo formal, rítmico e estético.
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
(Via Láctea, 1888)
Subgêneros líricos
Assim como no gênero dramático, foi realizada uma subdivisão do gênero lírico. Os sonetos, por exemplo, possuem uma forma de escrita fixa, com duas estrofes de quatro versos (quartetos), seguidos por duas estrofes de três versos (tercetos). Abaixo, um exemplo de sonetos de Camões, um grande escritor português.
“Ah! minha Dinamene! Assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te?
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!
Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te,
que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!
Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que inda tenho por pouco o viver triste?”
Além dos sonetos, existem ainda as poesias, hodes, haicais e hinos, que são os outros subgêneros dos textos líricos .
Gênero dramático
Por fim, é possível descrever o gênero dramático, que é o conjunto de textos escritos para serem interpretados por atores e atrizes, além de permitir a adição de efeitos sonoros, montagem de cenários e figurinos, elaboração de arranjos luminosos e outros recursos teatrais para embelezar a encenação do enredo.
A escrita pode ser feita em prosa ou poesia, mas o objetivo final da interpretação deve ser preservado. Além disso, é necessário que haja personagens e possíveis interações entre eles, como diálogos, toques, abraços e expressões faciais.
Semelhantemente ao gênero narrativo, os textos dramáticos precisam acontecer em um cenário, em um determinado tempo, onde estão inseridos os personagens. Ao longo da peça, esses espaços podem ser alterados e os personagens podem aparecer em algumas cenas e em outras não.
Em determinados enredos, a passagem do tempo pode determinar o envelhecimento das personalidades e corpos. Então, pode ser relevante adicionar recursos de maquiagem, troca de atores, alteração na entonação da voz, mudanças de cenário e figurino, para garantir que os aspectos descritos no texto dramático sejam bem interpretados.
“JOÃO GRILO
Não vai benzer ? Por quê? Que é que um cachorro tem de mais?
CHICÓ
Bom, eu digo assim porque sei como esse povo é cheio de coisas, mas não é nada de mais.
Eu mesmo já tive um cavalo bento.
JOÃO GRILO
Que é isso, Chico? (Passa o dedo na garganta.) Já estou ficando por aqui com suas histórias. É sempre uma coisa toda esquisita.
Quando se pede uma explicação, vem sempre com “não sei, só sei que foi assim”.
CHICÓ
Mas se eu tive mesmo o cavalo, meu filho, o que é que eu vou fazer? Vou mentir, dizer que não tive?
JOÃO GRILO
Você vem com uma história dessas e depois se queixa porque o povo diz que você é sem confiança.
CHICÓ
Eu, sem confiança? Antônio Martinho está para dar as provas do que eu digo”
O trecho acima é do texto Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Observe que a escrita é realizada de forma diferente do habitual. Os diálogos são iniciados com o nome do personagem, para guiar o diretor e os atores para o momento correto de encenar e falar. Ao mesmo tempo, existem comandos escritos entre parênteses, como “(passar o dedo na garganta)” que são chamados de rubricas e indicam ações essenciais para os atores, descritas pelo próprio escritor.
Subgêneros dramáticos
Por fim, os subgêneros dramáticos englobam a caracterização dos enredos teatrais quanto aos aspectos de tristeza, felicidade, tragédia, comédia, religião, moralismo e sátiras. Alguns textos são predominantemente trágicos, com história e desfecho tensos.
Em outros casos, há uma mistura entre elementos de tragédia e elementos de comicidade. Então há uma satirização dos eventos tensos, o que é denominado por tragicomédia. Ainda, há teatros com conteúdo predominantemente cômico, como comédias e farsas (comédias curtas).
Por fim, os autos são textos dramáticos em que o conteúdo religioso e moral estão em destaque. Discorre-se sobre a dualidade entre bem e mal, céu e inferno, Deus e Diabo, além de trazer questões morais como o que é certo ou errado. Um exemplo clássico foi escrito por Gil Vicente no século XVI, chamado Auto da Barca do Inferno, acompanhe um excerto abaixo.
“ANJO Não vindes vós de maneira
pera entrar neste navio.
Essoutro vai mais vazio:
a cadeira entrará
e o rabo caberá
e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso,
vós e vossa senhoria,
cuidando na tirania
do pobre povo queixoso.
E porque, de generoso,
desprezastes os pequenos,
achar-vos-eis tanto menos
quanto mais fostes fumoso.
DIABO À barca, à barca, senhores!
Oh! que maré tão de prata!
Um ventozinho que mata
e valentes remadores!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano,
a la mano me veniredes”
Questão sobre gênero lírico
(Enem 2009)
Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação.
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).
Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva.
b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores.
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais.
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral.
O gênero dramático é composto por cenário, personagens, tempo que estão descritos em uma obra e devem ser respeitados. A interpretação depende de uma colaboração coletiva entre atores, diretores, estilistas, técnicos de som e iluminação, além de todos os profissionais envolvidos na produção do espetáculo.
Diante disso, a participação do ator e do seu corpo somam na comunicação teatral, em termos de vestimenta, aparência visual, posicionamento no palco, postura, expressões faciais, verbais e corporais.
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